A preocupação de Owen é mais uma vez demonstrar que o "mundo" não pode significar aqui "todo e qualquer no mundo", mas, ao invés, que deve ser entendido como "homens vivendo por todo o mundo, em todas suas partes e regiões", referindo-se especificamente ao crentes ou os eleitos em todo o mundo. [67] Há muito em jogo para ele neste versículo, pois este claramente relaciona a morte de Jesus ao “mundo”, e a falha em estabelecer seu sentido e referência aqui desafiaria diretamente sua compreensão da exclusividade da expiação. Também levantaria a questão se a Bíblia usa uma linguagem diferente de Owen, e pode falar da morte de Jesus com um referente indefinido e uma potencialidade de benefício.
Owen isola quatro características do versículo que têm influência sobre a sua correta interpretação. O intérprete deve chegar a algum entendimento da identidade dos destinatários originais das epístolas, depois, verificar o propósito do apóstolo neste ponto, e, finalmente, determinar o significado das duas expressões "(1) Cristo ser uma 'propiciação' e (2) 'o mundo todo'.” [68]
Na opinião de Owen, apesar dos destinatários não serem explicitamente identificados, é "mais do que provável" que eles sejam judeus crentes, porque
(i) João é dito ter sido especialmente um apóstolo aos judeus;
(ii) os crentes a quem escreve são ditos ter "recebidos a palavra desde o princípio", o que só pode indicar que eles são judeus,
(iii) a oposição que o apóstolo faz entre nós e o mundo, neste mesmo lugar é suficiente para manifestar a quem ele escreveu: "porque o apóstolo, sendo um crente judeu se associaria com os crentes judeus”
(iv) Como a maioria dos falsos mestres na igreja primitiva eram de origem judaica as advertências freqüentes contra os falsos mestres na epístola indicam que ela é escrita para o grupo com maior probabilidade de ser tomado por eles, crentes judeus. [69] Esta compreensão dos destinatários da carta permite a Owen interpretar 1 João 2:1-2 contra o contexto de oposição judeus-gentios
“de modo que não temos aqui uma oposição entre a salvação eficaz de todos os crentes e a redenção ineficaz de todos os outros, mas uma extensão da mesma redenção eficaz que pertencia aos crentes judeus para todos os outros crentes, ou filhos de Deus, em todo o mundo”.[70]
Esses argumentos não são particularmente convincentes.