sábado, 31 de julho de 2010

Os Cânones de Dort sobre a morte de Cristo

CAPÍTULO 2

A MORTE DE CRISTO
A REDENÇÃO DO HOMEM POR MEIO DELA


1. Deus é não só supremamente misericordioso mas também supremamente justo. E como Ele se revelou em sua Palavra, sua justiça exige que nossos pecados, cometidos contra sua infinita majestade, sejam punidos nesta vida e na futura, em corpo e alma. Não podemos escapar destas punições a menos que seja cumprida a justiça de Deus. 

2. Por nós mesmos, entretanto, não podemos cumprir tal satisfação nem podemos livrar a nós mesmos da ira de Deus. Por isso Deus, em sua infinita misericórdia deu seu Filho único como nosso Fiador. Por nós, ou em nosso lugar, Ele foi feito pecado e maldição na cruz para que pudesse satisfazer a Deus por nós.

3. Esta morte do Filho de Deus é o único e perfeito sacrifício pelos pecados, de valor e dignidade infinitos, abundantemente suficiente para expiar os pecados do mundo inteiro. ¹

Dominic Bnonn Tennant: Salvação Universal ou Duplo Pagamento

Expiação Universal - Parte 5 de 6


Talvez a objeção mais comum em relação à expiação universal é o argumento do dupla condenação ou duplo pagamento, que diz: se Cristo morreu por todos, sem exceção, então ou (a) todos são salvos, ou (b) aqueles no inferno para pagaram pelos pecados que já foram pagos de uma vez na cruz. O primeiro é, obviamente, não bíblico, nem todos serão salvos (Mateus 7:13-14) e o último é claramente injusto - e não deve o Juiz de toda a terra fazer o que é justo (Gênesis 18:25)?

Desta forma, a redenção universal parece ser espetada eficazmente sobre os chifres de um dilema. Este é o mesmo argumento que eu usei na minha discussão com Darryl Burling quando nós estávamos pensando sobre a expiação. Do jeito que eu formulei isso então era como um reductio ad absurdum da visão universal:

1. A expiação de Cristo foi suficiente para salvar de todo pecado (como por expiação universal).
2. Incredulidade é um pecado (por definição).
3.Portanto, a expiação de Cristo foi suficiente para salvar de [toda] incredulidade
4. Mas os incrédulos não são salvos (doutrina bíblica padrão).
5. Portanto, a expiação de Cristo não nos salva de [tudo] incredulidade.
6. Portanto, sua expiação não é suficiente para salvar de todo pecado.

O problema dessa linha de argumentação, como reconheceu Darryl na continuação de meu artigo "Pensando mais claramente sobre a expiação”, é que ela pressupõe uma visão da expiação pecuniária – isto é, uma visão que trata a substituição penal como uma transação comercial , conforme descrito na parte 1 desta série. Além dos problemas com isso este que eu trouxe na parte 1, existem dois defeitos obviamente fatais ao pressupor essa visão com o propósito de refutar uma expiação universal:

Prosper de Aquitaine (390-455): Suficente por Todos, Eficiente pelos Eleitos

Defesa de Agostinho



1) Objeção: O Salvador não foi crucificado pela redenção do mundo inteiro.

RESPOSTA: Não há um entre os homens, cuja natureza não foi tomada por Cristo nosso Senhor, embora Ele tenha nascido em semelhança da carne pecaminosa, enquanto qualquer outro homem nasce em carne pecaminosa. Assim, o Filho de Deus, que era o próprio Deus, se tornou participante de nossa natureza mortal sem participar em seu pecado, concedendo aos homens pecadores e mortais a graça para que  aqueles que pela regeneração compartilham em Sua natividade possam ser libertados das amarras do pecado e da morte.


Assim, como não é suficiente que Jesus Cristo tivesse nascido para os homens serem renovados, porque eles devem ser renascidos Nele através do mesmo Espírito do qual Ele nasceu, também não é  suficiente que nosso Senhor Jesus Cristo fosse crucificado pelos homens para que eles fossem resgatados, porque eles devem morrer com Ele e ser enterrados com Ele no batismo. Se assim não fosse, então depois de nosso Salvador ter nascido na carne da nossa própria natureza e ter sidocrucificado por todos nós, não haveria nenhuma necessidade para nós de sermos renascidos e de sermos plantados juntamente com Ele na semelhança da sua morte. Mas como nenhum homem alcança a vida eterna sem o sacramento do batismo, aquele que não é crucificado em Cristo não pode ser salvo pela cruz de Cristo, e quem não é um membro do Corpo de Cristo não está crucificado em Cristo.

E quem não é um membro do Corpo de Cristo, não foi colocado em Cristo através da água e do Espírito Santo. Porque Cristo na fraqueza da nossa carne se submeteu a comum sorte da morte, para que pela virtude de sua morte nós fossemos feitos participantes de Sua ressurreição. Assim, embora seja correto dizer que o Salvador foi crucificado pela redenção do mundo inteiro, porque Ele verdadeiramente tomou a nossa natureza humana e porque todos os homens foram perdidos no primeiro homem, mas também pode ser dito que Ele foi crucificado apenas por aqueles que foram beneficiados pela sua morte.

sábado, 24 de julho de 2010

Martinho Lutero (1483–1546): Sermão sobre João 1:29

Eis o Cordeiro de Deus -  Parte 2 de 2

Quem puder acreditar com confiança que os pecados do mundo, incluindo os seus, foram colocados sobre os ombros de Cristo não vai ser facilmente enganado e iludido pelos espíritos cismáticos, que têm o hábito de nos citar os versos que tratam de boas obras e esmolas e dão a impressão de que boas obras limpam nossos pecados e adquirem a salvação. Um cristão pode refutar qualquer passagem que os espíritos facciosos possam apresentar sobre boas obras. Este texto cardinal ainda permanece intacto. Lê-se que eu não posso levar o meu pecado, ou render satisfação para ele, mas que Deus escolheu um sacrifício que foi abatido, assado na cruz, e comido. 


Após este Cordeiro todos os pecados foram aplacados. Um cristão não permitiria a si mesmo ser cortado à deriva disso, nem será levado de uma compreensão adequada do Evangelho. Deixe que eles ensinem ou preguem o que eles escolherem no mundo. Ele aderirá à fé simples e verdadeira e à palavras claras, a saber: "Se eu tivesse de alcançar alguma coisa por mim mesmo, então não teria sido necessário que o Filho de Deus morresse por mim.” João declara que é exclusivamente o Cordeiro, que carrega o pecado do mundo inteiro; caso contrário Ele não teria feito. Eu, também, encontrarei refúgio Nele. Você pode fazer o que quiser!

domingo, 18 de julho de 2010

Louis Berkhof (1873-1957): O Amor de Deus

b. O amor de Deus. Quando a bondade de Deus é exercida para com as Suas criaturas racionais, assume o caráter mais elevado de amor, e ainda se pode distinguir este amor de acordo com os objetos aos quais se limita. Em distinção da bondade de Deus em geral, o Seu amor pode ser definido como a perfeição de Deus pela qual Ele é movido eternamente à Sua própria comunicação. 





Desde que Deus é absolutamente bom em Si mesmo, Seu amor não pode achar completa satisfação em nenhum objeto falto de perfeição absoluta. Ele ama as Suas criaturas racionais por amor a Si mesmo, ou, para expressá-lo doutra forma, neles Ele se ama a Si mesmo, Suas virtudes, Sua obra e Seus dons. Ele nem mesmo retira completamente o Seu amor do pecador em seu estado pecaminoso atual, apesar de que o pecado deste é uma abominação para Ele, visto que, mesmo no pecador, Ele reconhece um portador da Sua imagem. Jo 3.16; Mt 5.44, 45. 

Ao mesmo tempo, Ele ama os crentes com amor especial, dado que os vê como Seus filhos espirituais em Cristo. É a estes que Ele se comunica no sentido mais rico e mais completo, com toda a plenitude da Sua graça e misericórdia. Jo 16.27; Rm 5.8; 1 Jo 3.1.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Martinho Lutero (1483–1546): Sermão sobre João 1:29

Eis o Cordeiro de Deus - Parte 1 de 2



Este é um excelente e magnífico testemunho de João sobre a introdução do novo governo e reino de Cristo. É uma declaração poderosa. As palavras são claras e lúcidas; nos dizem o que se deve pensar de Cristo. As palavras anteriores de João (Jo 1:17), "A Lei foi dada por Moisés," dificilmente podem ser chamadas de louvor de Moisés. Mas, nesta passagem João praticamente o repreende, como se estivesse dizendo:

“Vocês judeus sacrificam um cordeiro a cada Páscoa, como Moisés ordenou a vocês. Além disso, vocês matam dois cordeiros diariamente, que são sacrificados e queimados a cada manhã e à noite. É um cordeiro, esteja certo. Mas vocês judeus fazem tal demonstração dele, vocês elogiam esses sacrifícios e se gabam deles de tal forma, que vocês colocam em eclipse a glória de Deus, empurrando Deus para segundo plano, e privando o de sua honra. Comparem o verdadeiro Cordeiro com o cordeiro que a Lei de Moisés ordena que vocês matem e comam.”

Este é um cordeiro obtido de pastores. Aquele, porém, é um Cordeiro totalmente diferente; é o Cordeiro de Deus. Para o qual foi ordenado suportar nas costas os pecados do mundo. Comparado com Ele, todos os cordeiros mortos no templo, assados, e comidos não contam para nada. 

sábado, 10 de julho de 2010

Mark Driscoll: Expiação Limitada e Ilimitada

Expiação Limitada e Ilimitada


Pastor Mark Driscoll




1 João 2:2 “Ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro.”




Até agora, em nosso estudo da expiação nós examinamos como Deus nos salvou da separação de Si mesmo e da morte eterna (substituição penal); de Satã, dos demônios, do pecado e do mundo (Christus Victor); da escravidão à maldição da lei e do pecado (redenção); do doloroso sofrimento eterno (sacrifício da nova aliança); da iniqüidade (justiça imputada); da condenação, da religião e da moralidade (justificação), e da ira de Deus (Propiciação). Com tais benefícios tremendos que nos foram dados pela morte de Jesus na cruz, a questão de por quem Jesus morreu tem sido debatida ao longo da história da igreja.

Louis Berkhof (1873-1957): A Bondade de Deus

1. A BONDADE DE DEUS. Esta geralmente é tratada como uma concepção genérica, incluindo diversas variedades que se distinguem de acordo com os seus objetos. Não se deve confundir a bondade de Deus com Sua benevolência, que é um conceito mais restrito. Falamos que uma coisa é boa quando ela corresponde em todas as suas partes ao ideal. Daí, em nossa atribuição de bondade de Deus, a idéia fundamental é que Ele é, em todos os aspectos e por todos os modos, tudo aquilo que deve ser como Deus, e, portanto, corresponde perfeitamente ao ideal expresso pela palavra “Deus”. Ele é bom na acepção metafísica da palavra, é perfeição absoluta e felicidade perfeita em Si mesmo.

É neste sentido que Jesus disse ao homem de posição: “Ninguém é bom senão um só, que é Deus”, Mc 10.18; Lc 18.18, 19. Mas, desde que Deus é bom em Si mesmo, é também bom para as Suas criaturas e, portanto, pode ser chamado a fons omnium bonorum. Ele é a fonte de todo bem, e assim é apresentado de várias maneiras na Bíblia toda. O poeta canta: “Pois em ti está o manancial da vida; na tua luz vemos a luz”, Sl 36.9. Todas as boas coisas que as criaturas fruem no presente e esperam no futuro, fluem para elas deste manancial inexaurível. E não somente isso, mas Deus é também o summum bonum, o sumo bem, para todas as Suas criaturas, embora em diferentes graus e na medida em que correspondem ao propósito da sua existência. Na presente conexão, naturalmente damos ênfase à bondade ética de Deus e a seus diferentes aspectos, como determinados pela natureza dos seus objetos.


sábado, 3 de julho de 2010

Bruce Ware: A Vontade de Deus para salvação de todos os homens

 A Vontade Revelada de Deus para salvação de todos os homens


Objeção 3:  Eleição incondicional está diretamente oposta ao desejo de Deus que todos sejam salvos. Fora de seu amor universal para todos, Deus tem um desejo universal pela salvação de todos os pecadores. Ezequiel 18:23, 1 Timóteo 2:4, 2 Pedro 3:09, todos esses textos ensinam, a seu próprio modo, que Deus não deseja que o ímpio pereça, mas, pelo contrário, quer que todos sejam salvos. Uma vez que isto é ensinado nas Escrituras, simplesmente não pode ser o caso que Deus queira incondicionalmente que alguém  certamente pereça. Eleição, então, deve ser condicionada à escolha do livre-arbítrio dos seres humanos os quais rejeitam a vontade amorosa de Deus de que todos sejam salvos.


Resposta: A minha réplica deve ser muito mais breve do que essa objeção merece, mas felizmente outros tratamentos mais refinados e extensos estão disponíveis.40 O coração da resposta aqui é muito parecido com o que vimos na discussão anterior.

Sobre a questão da vontade de Deus em relação a salvação, a Bíblia representa a vontade salvífica de Deus não de uma, mas de duas maneiras. Sim, os arminianos estão corretos em apontar que essas passagens ensinam que é a vontade de Deus que todos sejam salvos. E muitos calvinistas, inclusive eu, concordarão que esses textos ensinam a vontade salvífica universal de Deus, assim como eu também estou plenamente convencido de que a Bíblia ensina o amor universal de Deus para com todas as pessoas.

Mas o ensino da Bíblia não pára por aqui. Pelo contrário, a Escritura ensina também a vontade específica e inviolável de Deus de que alguns seguramente e certamente serão salvos ao mesmo tempo que ensina o desejo de Deus pela salvação de todos.41 A vontade particular de Deus de seguramente e certamente salvar alguns (ou seja, os eleitos), permanece ao lado da vontade salvífica universal de Deus que todos sejam salvos. Como isso pode ser de ambas as maneiras? Considere apenas um par de passagens que ilustram essas "duas vontades" de Deus, e então eu vou oferecer um pequeno comentário.

Louis Berkhof (1873-1957): A Vontade de Deus para Salvação de todos os homens

b. É um chamamento bona fide (de boa fé). A vocação externa é um chamamento feito com boa fé, um chamamento feito com seriedade de intenção. Não é um convite que vai de parceria com a esperança de que não será aceito. Quando Deus Chama o pecador para que aceite a Cristo pela fé, Ele o deseja ardentemente; e quando promete aos que se arrependem e crêem a vida eterna, Sua promessa é fidedigna. Isto decorre da própria natureza de Deus, de Sua veracidade.







É blasfemo pensar que Deus pode ser acusado de equívoco e engano, que Ele diz uma coisa e quer dizer outra, que Ele argumenta fervorosamente com o pecador para que se arrependa e creia para a salvação e, ao mesmo tempo, não deseja isso em nenhum sentido da palavra. O caráter bona fide da vocação externa é comprovado pelas seguintes passagens da Escritura: Nm 23.19; Sl 81.13-16; Pv 1.24; Is 1.18-20; Ez 18.23, 32; 33.11; Mt 21.37; 2 Tm 2.13.  Os Cânones de Dort o afirmam explicitamente em III e IV, 8.