Objeção 3: Eleição incondicional está diretamente oposta ao desejo de Deus que todos sejam salvos. Fora de seu amor universal para todos, Deus tem um desejo universal pela salvação de todos os pecadores. Ezequiel 18:23, 1 Timóteo 2:4, 2 Pedro 3:09, todos esses textos ensinam, a seu próprio modo, que Deus não deseja que o ímpio pereça, mas, pelo contrário, quer que todos sejam salvos. Uma vez que isto é ensinado nas Escrituras, simplesmente não pode ser o caso que Deus queira incondicionalmente que alguém certamente pereça. Eleição, então, deve ser condicionada à escolha do livre-arbítrio dos seres humanos os quais rejeitam a vontade amorosa de Deus de que todos sejam salvos.
Resposta: A minha réplica deve ser muito mais breve do que essa objeção merece, mas felizmente outros tratamentos mais refinados e extensos estão disponíveis.40 O coração da resposta aqui é muito parecido com o que vimos na discussão anterior.
Sobre a questão da vontade de Deus em relação a salvação, a Bíblia representa a vontade salvífica de Deus não de uma, mas de duas maneiras. Sim, os arminianos estão corretos em apontar que essas passagens ensinam que é a vontade de Deus que todos sejam salvos. E muitos calvinistas, inclusive eu, concordarão que esses textos ensinam a vontade salvífica universal de Deus, assim como eu também estou plenamente convencido de que a Bíblia ensina o amor universal de Deus para com todas as pessoas.
Mas o ensino da Bíblia não pára por aqui. Pelo contrário, a Escritura ensina também a vontade específica e inviolável de Deus de que alguns seguramente e certamente serão salvos ao mesmo tempo que ensina o desejo de Deus pela salvação de todos.41 A vontade particular de Deus de seguramente e certamente salvar alguns (ou seja, os eleitos), permanece ao lado da vontade salvífica universal de Deus que todos sejam salvos. Como isso pode ser de ambas as maneiras? Considere apenas um par de passagens que ilustram essas "duas vontades" de Deus, e então eu vou oferecer um pequeno comentário.
Sobre a questão da vontade de Deus em relação a salvação, a Bíblia representa a vontade salvífica de Deus não de uma, mas de duas maneiras. Sim, os arminianos estão corretos em apontar que essas passagens ensinam que é a vontade de Deus que todos sejam salvos. E muitos calvinistas, inclusive eu, concordarão que esses textos ensinam a vontade salvífica universal de Deus, assim como eu também estou plenamente convencido de que a Bíblia ensina o amor universal de Deus para com todas as pessoas.
Mas o ensino da Bíblia não pára por aqui. Pelo contrário, a Escritura ensina também a vontade específica e inviolável de Deus de que alguns seguramente e certamente serão salvos ao mesmo tempo que ensina o desejo de Deus pela salvação de todos.41 A vontade particular de Deus de seguramente e certamente salvar alguns (ou seja, os eleitos), permanece ao lado da vontade salvífica universal de Deus que todos sejam salvos. Como isso pode ser de ambas as maneiras? Considere apenas um par de passagens que ilustram essas "duas vontades" de Deus, e então eu vou oferecer um pequeno comentário.
Primeira Timóteo 2:3-4 (HCSB) declara: “Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e venham ao conhecimento da verdade.” 2 Timóteo 2:24-26 (ACRF) diz: “E ao servo do Senhor não convém contender, mas, sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, e paciente, instruindo seus oponentes com ternura. Talvez Deus queira lhes conceder o arrependimento para que saibam a verdade. Então eles poderão voltar seus sentidos e escapar das armadilhas do diabo, em cuja vontade estão presos.” Uma característica comum a ambas as passagens é que para que as pessoas sejam salvas, elas precisam vir ao conhecimento ou saber "a verdade". No entanto, enquanto elas compartilham algo em comum, diferem na medida em que em 1 Timóteo 2:4 (ACRF) Deus "quer que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade", mas em 2 Timóteo 2:25 (HCSB), Deus deve "lhes conceder o arrependimento" para que eles "saibam a verdade" e sejam salvas.
Em outras palavras, Deus quer que todos sejam salvos, mas a não ser que Deus queira conceder o arrependimento eles não podem ser salvos. Ou ainda mais, Deus quer tanto que todos sejam salvos, e Deus quer que apenas aqueles a quem ele concede o arrependimento sejam salvos. A vontade de Deus, então, é universal e particular, desejando, no primeiro caso, que todos sejam salvos e, no segundo caso, que só alguns sejam salvos.42
Talvez dois pequenos comentários coloquem as coisas em ordem. Em primeiro lugar, se nós pudermos compreender plenamente como é que Deus pode possuir um amor universal para com todos, ao mesmo tempo que tem um amor especial pelo seu povo, ou como Deus pode possuir uma vontade universal que todos sejam salvos, juntamente com uma vontade particular que elege apenas alguns para serem salvos - se pudermos alcançar plenamente como ambas as coisas podem ser verdadeiras - mesmo assim somos compelidos às Escrituras! O ponto de vista arminiano erra sobre estas questões, não fundamentalmente por falsamente ensinar o que a Bíblia diz, mas por ensinar somente uma parte do que a Bíblia diz sem aceitar outros ensinamentos que não se encaixam facilmente com o que já tem sido aceito. Quando meias- verdades são apresentadas como verdades inteiras, deturpações e erros são inevitáveis. Temos de ter determinação para aceitar tudo o que a Escritura ensina e claramente ela ensina os dois conjuntos de verdades sobre estas questões.
Segundo, eu penso que nós podemos compreender algo de como Deus pode genuinamente desejar a salvação de todos, mas ainda assim ordenar e determinar a salvação de somente alguns.43 Nós podemos entender algo disso, porque nós experimentamos bastante a mesma realidade, na nossa experiência humana. Lembro-me de assistir a um especial da PBS há muitos anos que contou a história de uma agonizante decisão que Winston Churchill teve de tomar durante a Segunda Guerra Mundial. As mensagens de Hitler para suas tropas de linha de frente e submarinos foram enviadas a eles codificadas, e as unidades alemãs possuíam máquinas decodificadoras (chamadas de "enigmas") para ler e saber o que ele estava os instruindo.
Os cientistas aliados desenvolveram sua própria versão de tal máquina decodificadora, e eles iriam interceptar mensagens de Hitler, decodificá-las, e chamar Churchill, dizendo-lhe o que Hitler havia instruído a seus homens. Em certa ocasião, Churchill descobriu por meio do árduo trabalho de decodificação de seus cientistas que Hitler tinha planejado, em três dias, enviar um esquadrão de bombas sobre o canal Inglês para bombardear a pequena cidade de Coventry (uma fábrica de munições ficava justamente do lado de fora da cidade). Obviamente, Churchill queria dizer ao prefeito de Coventry, que a cidade deveria ser evacuada, e assim salvar o seu povo. Mas, como relatado no especial da PBS, Churchill nunca fez este apelo. Em vez disso, tal como tinha sido dito, os bombardeiros alemães sobrevoaram Coventry e bombardearam impiedosamente por toda a cidade resultando em muitas vidas inglesas perdidas e muitas propriedades destruídas. Por que Churchill não alertou a cidade? A resposta é esta: se ele tivesse avisado o prefeito da cidade de Coventry e tivesse evacuado a cidade, os alemães teriam sabido que Churchill tinha sido capaz de decodificar as instruções de Hitler. E, então, esta vantagem de coleta de informações estaria perdida. Churchill acreditava que todo o esforço de guerra estava em jogo, isto é, que ele poderia salvar Coventry, mas ele não poderia salvar essas pessoas e também ganhar a guerra. Ele escolheu, então, não salvar aqueles a quem ele poderia ter salvado - aqueles que, em um sentido, ele quis muito salvar - porque ele valorizava ainda mais fortemente o cumprimento da missão que era a vitória das forças aliadas na guerra.
É evidente que todas as ilustrações quebram em algum ponto, mas esta nos dá uma ajuda especialmente aqui: alguém pode ter tanto a vontade e a capacidade de salvar certas pessoas, e essa vontade pode ser genuína e a capacidade real. Mas ainda assim esse alguém pode também ter, ao mesmo tempo, uma vontade de não salvar essas mesmas pessoas que ele poderia ter salvo. Por que alguém não salvaria aqueles que ele pode e quer salvar? Resposta: Ele somente irá querer não salvá-los se houver valores maiores e propósitos mais elevados que só podem ser realizados ao se escolher não salvar aqueles a quem se poderia salvar, aqueles a quem, de outra forma ele deseja salvar. A Escritura nos dá alguma indicação de que este é o caso com Deus.
Considere Romanos 9:22-24 (HCSB): “E se Deus, desejando mostrar a sua ira e fazer conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os objetos de ira preparados para a destruição? E se Ele fez isso para dar a conhecer as riquezas da Sua glória sobre os objetos de misericórdia que Ele preparou de antemão para glória - sobre nós a quem também chamou, não somente dos judeus mas também dentre os gentios?” Aqui, como em toda a Escritura, a glória de Deus é o valor supremo de Deus. E assim nós, suas criaturas, devemos simplesmente nos curvar e aceitar o que Deus em sua infinita sabedoria, santidade, bondade e poder determinou que fará para a expressão maior glória ao seu nome.
Porque como tanto a ira quanto a misericórdia, tanto o julgamento merecido quanto a graça imerecida, tanto o céu quanto o inferno, foram planejados desde toda a eternidade pela perfeita mente e coração de Deus, nós devemos aceitá-los porque Deus nos disse que esta é a sua vontade última e que isso só manifestará a plenitude de sua glória incomparável. No final, devemos, em nossas próprias mentes e corações, deixar Deus ser Deus. E nós temos que honrá-lo, tanto por quem Ele é e pela exibição gloriosa de sua justa ira contra os pecadores merecedores como pano de fundo para a manifestação do esplendor de sua misericórdia, demonstrada a outras pessoas que também merecem a sua condenação, mas aos quais agora é concedida sua graciosa e gloriosa salvação em Cristo.
Bruce Ware, “Divine Election to Salvation,” in Perspectives on Election: 5 Views, ed. Chad Owen Brand, (Nashville, Tenn.: Broadman and Holman, 2006), 32-35. [Some reformatting; footnotes and values original; and underlining mine.]
[Nota: a posição de Ware sobre a extensão e natureza da satisfação de Cristo é quase a mesma, se não idêntica, ao entendimento clássico-moderado]
Credit to Tony for the find.
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40See, e.g., John Calvin, Concerning the Eternal Predestination of God, trans. and ed. J. K. S. Reid (London: J. Clarke, 1961); Jonathan Edwards, “Concerning the Decrees in General, and Election in Particular,” in The Works of Jonathan Edwards, 2 vols. (Edinburgh: Banner of Truth, 1974), 2:536–34; Jewett, Election and Predestination, 97–101; and especially, John Piper, “Are There Two Wills in God?” in Still Sovereign: Contemporary Perspectives on Election, Foreknowledge, and Grace, eds. Thomas R. Schreiner and Bruce A. Ware (Grand Rapids: Baker, 2000), 107–31. Piper’s chapter in particular is enormously helpful in thinking through both biblical texts and issues that relate to this question.
41Jewett notes that many Arminian and Lutheran theologians have also appealed to a version of the “two wills” doctrine since they all agree that God created a world in which he knew only some would be saved and others would perish. In this sense, God willed to create a world in which some people perish, but he also was willing that none perish, i.e., two wills are evident. Jewett states that following Dort (1618–1619), some “sought to resolve the problem of the divine will that all may be saved, whereas the assurance that some shall infallibly be saved reflects a consequent act of the divine will based on foreseen faith in those who accept the gospel offer” (Jewett, Election and Predestination, 98).
42For helpful discussion of several more biblical examples of the two wills of God, see Piper, “Are There Two Wills in God?” 111–19.
43See also, ibid., 122–31.
Fonte: http://calvinandcalvinism.com/?p=7294
Tradutor: Emerson Campos Pinheiro. Ao se utilizar esse texto devem ser citados a fonte e o tradutor.