segunda-feira, 19 de março de 2012

William Twisse – Teólogo de Westminster (1578–1646): Cristo Morreu Condicionalmente por Todos e Absolutamente Somente pelos Eleitos

1) Quando dizemos que Cristo morreu por nós, o que pretendemos dizer é que Cristo morreu para o nosso bem, e [que] um benefício resulta para nós por meio da morte de Cristo.

Agora, existem diversos benefícios que resultam para nós pela morte de Cristo, e de naturezas tão diferentes, que em relação a alguns nós não deixamos de professar que Cristo morreu por todos, e em relação a outros os próprios arminianos são muito temerosos de conceder que Ele morreu para obter tais beneficios para todos, uma vez que eles negam completamente que todos os beneficios da morte de Cristo resultem para todos.


Nós reconheçamos de bom grado que os benefícios resultam para nós pela morte de Cristo, embora não resultem para todos, a não ser para os eleitos de Deus. Agora se isto é verdade, é um curso adequado que este autor toma confundir coisas tão extremamente diferentes? E sendo isso como eu tenho dito, eu agora procedo para demonstrar dessa maneira: Nós dizemos que o perdão de pecados e a salvação das almas são benefícios adquiridos pela morte de Cristo, para serem desfrutados pelos homens. Mas como? Não absolutamente, mas condicionalmente, a saber, no caso deles crerem, e somente no caso deles crerem. Porque assim como Deus não os concede a qualquer homem adulto a menos que ele creia, assim também Cristo não mereceu que eles fossem conferidos sobre alguém a não ser sobre aqueles que crêem.

E de acordo com isso professamos que Cristo morreu por todos, isto é, obteve perdão de pecados e salvação de alma para todos. Mas como? Não absolutamente, quer eles cressem ou não, mas somente condicionalmente, a saber, atendendo a [condição] de crer em Cristo. De forma que nós, de bom grado, professamos que Cristo possuía tanto uma intenção completa para os Seus quanto o mandamento de Seu Pai para fazer uma propiciação pelos pecados do mundo todo, e por meio disso adquirir o perdão de pecados e salvação de alma para todos que crêem, e nenhum outro ser de idade adulta, de acordo com Romanos 3:24. Nós somos justificados livremente por Sua graça, por meio da redenção que está em Cristo Jesus.v25 Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue.

Mas nós dizemos também que há outros benefícios resultando para nós pela morte de Cristo, a saber, a graça da fé e do arrependimento.

Porque, assim como estes são os dons de Deus operados em nós pelo Seu Espírito Santo, assim [também] eles são operados em nós por causa de Cristo, de acordo com o que, o apóstolo, orou pelos Hebreus, ou seja, que Deus os faria perfeitos para toda boa obra, efetuando neles aquilo que é agradável à sua vista por meio de Jesus Cristo.

Agora, no tocante a esses benefícios, nós professamos de bom grado que Cristo não morreu por todos, isto é, Ele não morreu para obter a graça da fé e [do] arrependimento para todos, mas somente para os eleitos de Deus; uma vez que essas graças são concedidas por Deus de forma não condicional, para que elas não sejam dadas de acordo com as ações dos homens, mas absolutamente. E se Cristo morreu para obter essas coisas para todos absolutamente, seguir-se-ia disso que todos creriam, se arrependeriam e consequentemente seriam salvos. William Twisse, The Doctrine of the Synod of Dort and Arles Preface, pp. 15-17


2) Agora, para maior clareza da verdade disso, quando dizemos que Cristo morreu por nós, o que queremos dizer é que Cristo morreu para nosso beneficio. Agora, essess benefícios que Cristo adquiriu para nós com Sua morte, podem ser de diferentes condições. Alguns são ordenados para serem conferidos apenas condicionalmente, e outros absolutamente. E, portanto, é adequado que nós os consideremos como separados. Por exemplo, é sem dúvida (suponho) que Cristo morreu para obter perdão de pecados e salvação de almas. Mas como? Absolutamente quer os homens creiam ou não? Não. Apenas condicionalmente, a saber, que por causa de Cristo seus pecados serão perdoados e suas almas salvas, desde que eles creiam Nele.

Agora eu, de bom grado, confesso que Cristo morreu por todos no que diz respeito a adquirir esses benefícios, a saber, condicionalmente, sob a condição de sua fé, de uma tal forma que se toda e qualquer [pessoa] viesse a crer em Cristo, toda e qualquer [pessoa] obteria o perdão de seus pecados e a salvação de suas almas por causa de Cristo. William Twisse The Doctrine of the Synod of Dort and Arles3.1, pp. 143-144.

3) Porque no tocante aos beneficios do perdão de pecados e da salvação obtidas pela morte de Cristo nós dizemos que Cristo morreu para obtê-los para todos, e qualquer um. Mas como? Não absolutamente; porque então todo e qualquer seria salvo, mas condicionalmente, a saber, sob a condição de fé; de forma que toda e qualquer [pessoa] viesse a crer em Cristo, toda e qualquer [pessoa] seria salva.

E se parece que apenas um pequeno número crê e persevera na fé verdadeira, é manifesto nisso que poucos são salvos, e que embora Cristo tenha morrido para salvar todo e qualquer condicionalmente, ainda assim Ele mereceu fé por alguns poucos. Agora qual o mistério aqui e a pretensa contradição entre essas duas proposições?

4) A verdade é que nós negamos que Cristo morreu por todos, na medida em que Ele não morreu para obter a graça da fé e da regeneração para todos, mas apenas para os eleitos de Deus; e, consequentemente, ninguém, a não ser os eleitos de Deus terão tal interesse na morte de Cristo, como obter perdão de pecados e salvação; o que os próprios arminianos confessam ser uma porção somente dos crentes.

Mas sendo o perdão e a salvação benefícios merecidos por Cristo para serem conferidos não absolutamente, mas condicionalmente, a saber, sob a condição de fé, nós podemos ser ousados em dizer que Cristo, em algum sentido, morreu por toda e qualquer [pessoa], isto é, que ele morreu para obter remissão de pecados e salvação para toda e qualquer [pessoa] no caso dela crer; e como isso é verdade, assim nós podemos dizer, e o Concílio de Dort também, que quem ouve o evangelho é obrigado a crer que Cristo morreu por ele nesse sentido, a saber, para obter salvação para ele no caso dele crer. William Twisse The Doctrine of the Synod of Dort and Arles 3.3, p. 165.


7) A Suficiência da Redenção Paga


Mas para continuar, a partir do nosso Catecismo você alega que "Deus o Pai nos fez e todo o mundo", agora, a Igreja, nossa mãe, nos ensinou, que "Deus não odeia nada que Ele fez". O livro da Sabedoria diz isso de fato, mas devido a pequena autoridade que o livro tem em questões de fé da parte de Deus nosso Pai, você nos cobra com a autoridade da Igreja, nossa Mãe.

Agora você é ignorante, eu suponho, de onde a Igreja, nossa mãe, toma isso, que tem seu curso entre os papistas assim como entre nós. E você sabe que autoridade Aquino tem entre os papistas, e qual a interpretação que ele faz deste lugar, [...], eu já demonstrei de sua Suma: "Deus (diz que) ama todas as coisas, na medida em que Ele lhes deseja algo de bom ou outro, mas na medida em que Ele não deseja um certo bem para alguns, a saber, a vida eterna, Ele é dito como os odiando e os reprovando” (Aqin. em 1.9.23.art 4) . E, de fato, "Deus salva tantos os homens quanto as bestas" [Salmo 36.6] assim também o apóstolo reconhece que Ele é "o salvador de todos os homens, mas especialmente dos que crêem" (1 Tm. 4:10).

E para colocar adiante candidamente o que penso, eu não vejo motivo de controvérsia nisso, se a questão for corretamente declarada. Pois quando dizemos que Cristo morreu pela humanidade, o que queremos dizer é que Cristo morreu pelo benefício da humanidade. Agora, vamos distinguir e considerar à parte esse beneficio e logo essas contendas cessarão. Pois, se esse benefício for considerado como a remissão dos pecados e a salvação de nossas almas; esses benefícios sendo obtidos somente sob a condição de fé e arrependimento:

Por um lado, nenhum homem afirmaria que Cristo morreu para esse fim, ou seja, para obter o perdão dos pecados e a salvação para toda e qualquer [pessoa], quer eles creiam ou não. Por outro lado, ninguém negaria que Ele morreu para esse fim, [a saber], para que a salvação e a remissão dos pecados resulte para toda e qualquer [pessoa] caso elas venham a crer e se arrepender. Porque isso depende da suficiência do preço que Cristo pagou a Deus, seu Pai, para a redenção do mundo.

Mas também existem outros benefícios que Cristo mereceu por nós, como a própria graça da fé e do arrependimento. Pois todas as promessas de Deus tem o Sim e o Amém em Cristo, e entre estas promessas está "a circuncisão do coração, a cura de nossos caminhos, de nossas rebeliões" (2 Cor 1:20, Dt 30:6, Is 57:18, Os 14:4-5.). Estas promessas incluem a graça da fé e do arrependimento. Agora considere: Cristo morreu para esse fim, ou seja, para que a graça da fé e do arrependimento fossem concedidas absolutamente ou condicionalmente? Não condicionalmente, pois antes que a graça da fé, do arrependimento e da regeneração sejam recebidas, não há nada a ser encontrado no homem, a não ser obras da natureza. William Twisse, A Discovery of D. Iacksons Vanitie, (no place: no publisher, 1631), 526-527.

Fonte:  http://calvinandcalvinism.com/?p=41

7 comentários:

  1. Graça e paz, somos da igreja presbiteriana de parque americano na cidade de fortaleza/ceará / Brasil, e o blog de vcs é muito legal, e cheio de artigos interssantes, onde fica a igreja de vcs ??? vcs podem dar uma olhada no blog da gente ?
    igrejapresbiterianadeparqueamericano.blogspot.com.br e deixar algum recado pra nossa igreja ?
    estamos orando por esta ferramenta que só nos ajuda e difundir o reino dos ceus... um forte abraço e até mais

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  2. Antônio, agradeço que tenha passado por aqui. Desejo o mesmo bem para você. Irei visitar seu blog. Que Deus o abençoe ricamente!!!

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  3. Emersom,

    Sendo Twisse supralapsário, como lhe foi possível conciliar sua crença supralapsária do decreto de providenciar a salvação para os eleitos, com sua outra crença, a amyraldiana, de que Deus providenciou a salvação para todos os homens antes de eleger os seus e ignorar o resto da humanidade?

    Não havendo possibilidade de defender uma condicionalidade no supralapsariano, visto que neste o decreto de rejeitar os réprobos antecede qualquer decreto, logicamente falando, como Twisse conseguiu conciliar sua visão amyraldiana na qual o decreto de provar a salvação estende-se, condicionalmente sobre todos, com aquela crença supralapsariana cuja eleição já foi em um primeiro momento limitada?

    Cristo o abençoe

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  4. Mizael, vamos por partes

    "Sendo Twisse supralapsário",

    A extensão da expiação não depende muito da ordem dos decretos. A questão lapsária (infra, supra, etc )interfere mais na forma como se compreende o aspecto geral da expiação. Um mesmo resultado da expiação para os réprobos pode ser lido de diferentes formas por diferentes calvinistas sem que isso os force a negarem o aspecto geral em si.

    Um exemplo é a postergação do juízo para o não-eleito. Os mesmos argumentos que são levantados para Deus necessitar de uma base legal para salvar os eleitos, isto é, uma substituição penal, podem ser utilizados para demonstrar que Deus também necessita de uma base legal para não condenar imediatamente os não-eleitos. Note bem, tanto a anulação de uma sentença quanto a sua suspensão (a não-aplicação imediata) não são coisas que podem ser feitas sem ferir a justiça - uma satisfação se faz necessária.

    Tanto um supra quanto um infra podem concordar que a expiação de Cristo proporciona uma postergação de pena para os não-eleitos, mas vão, provavelmente, pensar nisso de forma diferente. A maioria dos infras diriam que isso ocorre como um demonstração de misericórdia e amor de Deus para com os não-eleitos. Já a maioria dos supras modernos diriam que isso ocorre sem qualquer consideração de favor aos não-eleitos, mas como algo que é feito pelos não-eleitos para favorecer os eleitos. É claro que é bom não generalizar.


    "como lhe foi possível conciliar sua crença supralapsária do decreto de providenciar a salvação para os eleitos, com sua outra crença, a amyraldiana, de que Deus providenciou a salvação para todos os homens antes de eleger os seus e ignorar o resto da humanidade?"

    Na verdade, no amyraldismo e nos outros tipos de universalismo hipotético existentes Deus não providenciou salvação, mas tornou possível a salvação dos não-eleitos. Não uma possibilidade para eles, mas uma possibilidade para Ele salvá-los se fosse essa a Sua vontade.

    "Não havendo possibilidade de defender uma condicionalidade no supralapsariano, visto que neste o decreto de rejeitar os réprobos antecede qualquer decreto, logicamente falando, como Twisse conseguiu conciliar sua visão amyraldiana na qual o decreto de provar a salvação estende-se, condicionalmente sobre todos, com aquela crença supralapsariana cuja eleição já foi em um primeiro momento limitada?"

    A decisão de rejeitar os réprobos não faz com que não possamos falar de uma possibilidade de salvação destes em algum sentido. Uma forma de pensarmos sobre isso é fazermos um paralelo com os ossos de Cristo. Se pensarmos nos ossos de Cristo com relação a coisa em si, isto é, a natureza dos mesmos, podemos dizer que era possível que eles fossem quebrados. Entretanto, se pensarmos neles com relação ao decreto de Deus, ou seja, no contexto no qual Deus os colocou, podemos dizer que era IMpossível que fossem quebrados.

    Quando um calvinista moderado fala de condicionais, possibilidades, etc, ele nunca está fazendo da salvação do homem algo incerto que está nas mãos do homem.

    Espero ter clarificado alguma coisa. Agradeço que tenha passado por aqui. Deus te abençoe ricamente!!!

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    1. Olá, gostaria de saber o que significa o termo infralapsária, substancialapsária e supralapsária. Obrigado e desde já a agradeço se puder me explicar.

      Sávio Freutas

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  5. Sobre essa ideia de decretos no calvinismo, recentemente vi um artigo do AOMIN (claramente calvinista de 5 pontos, mas deixa isso pra lá por ora) sobre a ordem dos decretos. Eis: http://www.aomin.org/aoblog/index.php?itemid=4216

    Entre as diversas ideias ali mostradas, fiquei um tanto curioso sobre como o homem poderia ser considerado 'pecador' logicamente antes de ter caído. Tens alguma luz sobre isso (mesmo você sendo infra, até onde sei)?

    Ass.: Credulo

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  6. "1) Quando dizemos que Cristo morreu por nós, o que pretendemos dizer é que Cristo morreu para o nosso bem, e [que] um benefício resulta para nós por meio da morte de Cristo".
    Jesus não morreu para o nosso bem. Jesus morreu para satisfazer a Justiça de Deus, quebrada no Édem por um homem, o que somente poderia ser reparado pelo sacrifício de um representante do gênero humano, nas mesmas condições de pureza que tinha Adão, antes da queda. Daí a designação de Jesus, na Bíblia, como o Segundo Adão. O que nos traz o bem gerado pela morte do Senhor Jesus é a sua ressurreição: "...ressuscitou para nossa justificação". No ensino paulino resta claro que a morte de Jesus como evento individualizado, separado da ressurreição, não salva ninguém: "...se Ele não ressuscitou é vã a nossa fé e estaríamos mortos em nossos delitos e pecados".

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