quinta-feira, 3 de março de 2011

David Ponter: João Calvino e a Expiação Universal

Notas Explicativas:

1)A primeira coisa que precisa ser dita é que o leitor deve se esforçar para ler tudo destas citações antes fazer um julgamento sobre qualquer texto citado. Muitas vezes os leitores de Calvino correm apressados para generalizações. Isso se deve ao seu zelo ao ler Calvino à luz do que ele deveria pensar, deveria ter dito e deveria ter ensinado. Muitas pessoas lêem Calvino à luz das categoria teológicas do final do século 17.

Porque, hermeneuticamente, muitos dos estudantes de Calvino erram ao ler este à luz da mais recente e tardia trajetória teológica, e não como a conclusão de uma trajetória anterior, antiga e clássica . Nós não fazemos isso com relação a Zwingli, Bullinger, Musculus, Gualther, Luther, Vermigli, mas muitos são arbitrariamente insistentes em fazer exatamente isso com Calvino. Eu argumento que Calvino se posicionou na conclusão da Síntese-Medieval com a clássica soteriologia Agostinho-Prosper. Ele não foi o precursor de uma nova trajetória soteriológica como muitos afirmam.

Por exemplo, compare a linguagem e teologia de Calvino com aquelas listadas em meu site http://calvinandcalvinism.com/ na seção “Moderated Forms of “Calvinism” Documented Thus Far” especialmente a seção 'early Reformation era'. Assim, como disse anteriormente, deve-se realmente fazer um esforço de ler os documentos a seguir antes de correr para refutá-los ou para modernas fontes secundárias.

2) Com relação as fontes. Eu tenho trabalhado assumindo que as traduções são 'basicamente confiáveis'. Em alguns lugares eu tenho me esforçado para verificar as citações no original em Latim e em Francês. Para alguns dos materiais dos sermões, eu tenho escolhido usar o Old Paths publications. Isso não é porque eles afirmam ser mais acurados, mas porque suas traduções são mais estabelecidas.

Para os Sermões de Calvino em Gálatas, o número das páginas depois da barra que se segue se refere a página na Kathy Childress translation. Para outras edições dos Sermões de Calvino, eu tenho me apoiado nas edições fac-símile agora publicadas pela Banner of Truth, e em outras publicações modernas da Banner. Para as Institutas de Calvino, estou usando a tradução da Battles. Eu tenho usado os Tratados traduzidos por Henry Beverage. Para os comentários tenho usado as edições antigas agora publicadas pela Baker. O “The New Testament edition”, editado por Torrance, é realmente mais acurado, mas não tão bem recebido. Com relação a detalhes das publicações, eu tenho optado por um título curto básico de introdução já que essas obras são facilmente acessíveis.

3) A lista a seguir, eu acredito, será a mais compreensiva lista com relação a visão de Calvino sobre a extensão da expiação e redenção que está disponível online ou em harda-print. Minha abordagem metodológica tem sido ser tão original quanto eu posso em minha leitura e pesquisa.

No entanto, eu tenho cruzado referências de minha lista com a lista de Alan Clifford, Jonathan Rainbow, e outros tais como Curt Daniel. Por certo, nem sempre as citações tem “igual valor de evidência”, e algumas podem ser vulneráveis a objeções. Muitas criticas dirigidas a lista de Clifford afirmam que algumas das citações que ele fornece não provam o caso de Clifford de uma maneira “à prova-de-balas”. Então me parece que esses críticos sumariamente recusam a lista toda como irrelevante. O que me parece é que algumas vezes essas objeções assumem que todas as citações devem ter igual valor como evidência. Eu creio, no entanto, que quando cada citação é lida à luz do todo, a verdadeira posição de Calvino torna-se indiscutível para mentes honestas.

4) Eu tenho tentado ser honesto e fiel tanto quanto possível em providenciar o necessário contexto das citações. Uma acusação rotulada muitas vezes contra a lista fornecida por Clifford e os outros é que eles estão tomando Calvino fora de contexto. Em nenhuma das citações abaixo Calvino procura delimitar o sentido dos termos e frases tais como “mundo”, “todo o mundo”, “toda raça humana” para significar os eleitos ou a igreja, exceto em dois casos dos quais eu estou ciente: sua compreensão do uso de João de “todo o mundo” em 1 João 2:2, e o sentido do campo como o mundo, na parábola do joio e do trigo

Embora Calvino possa ser citado como se referindo a raça humana como uma espécie e de modo indeterminado, não há justificativa para tomar suas muitas declarações com relação aos termos como toda raça humana como se referindo a igreja ou aos eleitos. Na verdade, seria uma declaração forte insistir que nas citações a seguir, onde Calvino se refere ao 'mundo', 'todo o mundo', 'raça humana', 'toda raça humana', 'humanidade', 'toda humanidade', e assim por diante, ele intencionava a igreja ou os eleitos.

5)Eu acredito que quando o total de teologia expresso nessas citações é absorvido e compreendido, as várias estratégias evasivas frequentemente expressas pelos estudiosos de Calvino serão tidos como naturalmente impossíveis. Estou me referindo às declarações que dizem que como a extensão da expiação não era (alegadamente) debatida no tempo de Calvino, nós não podemos tirar dele uma opinião sobre a matéria. Isso é falacioso. Apenas porque uma questão não foi debatida por um dado teólogo ou grupo de teólogos, a isso não se segue que um homem não possa, realmente, ter uma opinião sobre uma matéria. Além disso, a declaração de que Calvino frequentemente falava da perspectiva do observador ingênuo (Michael White) ou do juízo da caridade ( (Rainbow) ou simplesmente expressava a amplitude da Escritura (Paul Archbald) ou que estava simplesmente sendo “maravilhosamente amplo” (Iain Murray) é insustentável para um leitor sério e honesto do material a seguir.

6)Eu devo adicionar que há algumas estratégias teológicas as quais não são mais que argumentos “implicados”. Esses argumentos são frequentemente assim: Expiação Substitutiva implica Expiação Limitada. Calvino defendia a expiação substitutiva, portanto Calvino defendia a expiação limitada (Paul Helm). Essa vinculação de argumentos ignora a questão, tomando-a como estabelecida. Porque Lutero, Zwingli, Bullinger, Musculus, Vermigli, e muitos outros do mesmo período de tempo que ele, defendiam a expiação substitutiva, mas não defendiam a expiação limitada. Esses que usam a vinculação de argumentos acima necessitam estabelecer textualmente de Calvino que ele é uma exceção. Ao contrário, o que está acontecendo é que muitos são ignorantes de que houve duas versões da expiação substitutiva. Outra vinculação de argumentos são as asserções com relação a alegadas conexões entre impetração e aplicação, e expiação e intercessão (Roger Nicole). Infelizmente, homens como Nicole, retrojectam essa construção teológica tardia para dentro de Calvino sem demonstrar seu uso nas obras de Calvino ou como operava na teologia de Calvino.

7) Concernente as citações de “sangue desperdiçado” e “redenção anulada” eu tenho optado por combiná-las dentro de uma seção. As citações de redenção anulada são mais vulneráveis às criticas porque alguém pode ser tentado a dizer que Calvino falava puramente de forma hipotética. Na minha própria opinião eu não achei persuasiva essa crítica. A suposição de Calvino me parece ser de que se nós, ou qualquer outro, por quem Cristo morreu o rejeitarmos, o beneficio da morte para o “rejeitador” é realmente e propriamente anulado.

8) Em resposta a força dessas citações, alguns estudiosos de Calvino tem alegado que quando ele falava do sofrimento de Cristo pelos pecados de todo mundo, falava simplesmente da livre oferta do evangelho (Nicole, Murray). No entanto, em muitas da citações a seguir, a oferta do evangelho não é mencionada. Ao contrário, Calvino estava diretamente expressando sua opinião concernente a natureza objetiva e extensão da expiação e dos pecados cobertos. Portanto, eu não encontro credíveis fundamentos para sua contestação. Um outro apontamento necessita ser feito: quando Calvino fala de almas miseráveis ou almas tolas, ao fazê-lo ele consistentemente se refere a incrédulos. Incapacidade para ver isso está certamente por trás da persistente confusão de Rainbow com relação a Calvino.

9) Com respeito as datas. No século 19 alguns estudiosos pensavam que Calvino inicialmente defendeu a expiação limita e redenção, e mas tarde veio a abraçar a posição da expiação e redenção universal. No século 21, algumas vezes isto é invertido no nível popular. Muitos pensam que Calvino primeiro abraçou a posição universal e, então, mais tarde abraçou a expiação particular ou limitada. A simples tabulação e cruzamento de referências das datas de publicação demonstra que essas duas declarações são inaceitáveis. Por exemplo:

Commentary on the Epistle to the Romans 1540
The Bondage and Liberation of the Will 1543
Commentary on all the Epistles of Paul 1548
Sermons on Jeremiah 1548
Sermons on Acts 1549-1551
Commentary on the Epistle to the Hebrews, and the Epistles of Peter 1551
Sermons on Micah 1550-1551
Commentary on John, Jude, and James 1551
Commentary on Isaiah 1551
Commentary on the Acts of the Apostles 1552
Concerning the Eternal Predestination of God 1553
Sermons on Psalm 1554
Commentary on Genesis 1554
Sermons on Job 1554-55
Sermons on Deuteronomy 1556-1556
Commentary on Hosea 1557
Commentary on the Psalms 1557
Sermons on Galatians 1557-1558
Sermons on Ephesians 1558
Sermons on Isaiah 53 1558
Sermons on the Deity of Christ and other Sermons Selection, 1558, 1559 and 1560
Commentary on the Twelve Minor Prophets 1559
Sermons on the Synoptic Gospels 1559
Sermons on 2 Samuel 1561-1564
Commentary on Daniel 1561
Commentary on Joshua 1562
Commentary on Exodus, Leviticus, Numbers, and Deuteronomy 1563
Commentary on Jeremiah 1563
Commentary on the Three Gospels and Commentary on St John 1563


10) O material a seguir é resultado de alguns consideráveis anos de pesquisa. Originalmente minha intenção era usar isso como uma base para um projeto de Ph.D, mas eu tenho vindo a considerar que o material precisa ser feito disponível ao público em geral. Portanto eu peço que quando for repostar ou republicar essas citações que seja dada a fonte (URL ou link), para que voltem neste site, e seja requisitado que os outros façam o mesmo.

Nota do blog: Eu optei por traduzir até mesmo as citações de Calvino que já possuem uma tradução publicada em português em respeito a escolha de fontes do autor desse material. De qualquer forma, após as as notas de David Ponter, também estarão disponíveis as citações nas versões já publicadas no Brasil. A indicação da existência de uma versão brasileira será dada na citação com o sinal “br”.


Introdução: Calvino em Definições Ocasionais e Comentários de Valor


O Sangue de Cristo Como o Preço de Nossa Salvação


"Por esse conhecimento sozinho, que a morte de Cristo estava ordenada pelo conselho eterno de Deus, termina toda ocasião para cogitações tolas e ímpias, e previne todas as ofensas as quais poderiam de outra modo ser concebidas. Por nós devemos conhecer isto, que Deus nada decreta em vão ou precipitadamente, sobre o qual segue-se que houve justa causa para que Ele tivesse que fazer Cristo sofrer. O mesmo conhecimento da providência divina é um passo para considerar a finalidade e o fruto da morte de Cristo. Por isso, por nós e pelo conselho de Deus, Ele foi entregue por nossos pecados, e seu sangue foi o preço da nossa morte". Calvin, Acts 2:23.


A Natureza da Justificação


"Certamente nada é menos razoável que remover das cerimônias somente o poder da justificação, uma vez que Paulo exclui todas as obras indefinidamente. Para o mesmo propósito é a cláusula negativa, -que Deus justifica os homens por não imputar a eles o pecado - e por essas palavras nós somos ensinados que a justiça, de acordo com Paulo, nada é mais que a remissão dos pecados; e além disso, que a remissão é gratuita, porque é imputada sem obras, a qual o próprio nome de remissão indica, porque o credor que é pago não perdoa, mas sim aquele que espontaneamente cancela o débito por meio de simples bondade".Romans 4:6 [br].


Quem é Nosso Próximo


"Porque se nós recordarmos que o homem é feito à imagem de Deus, nós devemos considerar nosso próximo como sendo santo e sagrado, de uma tal maneira que é impossível abusar dele sem abusar da imagem de Deus a qual está nele." Truth for All Time, (Banner of Truth, 1998, trans., by Stuart Olyott), 18-19,

"Além disso, deve ser observado que, na segunda passagem, eles são ordenados a amar os estrangeiros e os forasteiros como a si mesmos. Por isso parece que o nome de “próximo” não é confinado a nossos parentes, ou a outras pessoas como aquelas com quem nós temos alguma conexão, mas estende-se a toda raça humana; como Cristo demonstra na pessoa do Samaritano, que tem compaixão de um homem desconhecido, e realizou para ele os deveres de humanidade negligenciados por um judeu, e até mesmo por um letiva (Lucas 10:30)". Calvin, Leviticus 19:33.


Como Nosso Próximo Perece


"Todos tem que pensar que Deus não nos julga e que nós não experimentamos sua punição, a não ser que nós ofendamos a Ele. Ele nos convida sempre tão gentilmente ao arrependimento, mas nossos corações são duros. Nós não queremos ir até Ele, e tem sido um longo tempo desde que nós temos individualmente agitado nosso próximo, ou melhor, insistido com ele para vir até Deus.

Conseqüentemente nós somos tão insensíveis que nós não sentimos a mão de Deus sobre nós para nos corrigir. Nós vemos nesta passagem o aborrecimento dos judeus em ir aliviar o tormento de seus vizinhos. Não há quem não ajude aqueles em necessidade por causa de sua saúde física. Quanto a nós, nós não nos movemos mesmo quando vemos nossos vizinhos perecerem no corpo ou na alma. Nós não levantaríamos um dedo.

Seu sentimento de fraternidade não existe entre nós hoje, e vem do fato de que não há gratidão nem no pequeno nem no grande. O pequeno pode sofrer os males, mas se você olhar para sua vontade má e sua perversidade, você perceberá que eles estão repletos de fraudes, truques, e decepções. Se eles pudessem seriam lobos raivosos. Quanto aos grandes, pensam que o pobre existe para ser pisado por eles. Sua disposição para serem impiedosos é tão grande que eles chupariam fora o sangue da sua vida e roeriam os ossos." Calvin, Sermons on Acts, 222.


Quem é Nosso Irmão


"Mas nós vemos quem são nossos irmãos, a saber, mesmo nossos próprios inimigos, tais como aqueles que nos perseguem, e tais como aqueles que acham em seus corações de nos devorar. E ainda para todos estes, mesmo para eles, nós devemos manter a fraternidade...

E nesse texto a palavra “irmão”, certamente diz respeito a linhagem de Abraão. Mas hoje em dia nós todos temos um pai, que é chamado em todas as línguas e em todos os países (I Tim 2:4). Ele não tem escolhido a raça de qualquer homem, nem confinado seu serviço dentro de um país especifico. Porque o muro de divisão está quebrado (Ef 2;16), de forma que não há agora qualquer diferença entre judeus e gentios, conforme nos é dito que sejamos todos um só corpo em nosso Senhor Jesus Cristo, e vendo que Deus é proclamado pelo Evangelho nosso Salvador e Pai, nós devemos manter uma fraternidade entre nós.

No tocante a palavra "próximo", a Lei a tem usado de propósito para mostrar aos homens que eles podem muito bem estar afastados um dos outros, mas ainda assim todos eles são de um tipo familiar, de acordo com o que declara o profeta Isaías: “Não desprezes tua carne” (Is 58:7). Se eu puder dizer: “Este homem é de um país distante, nunca houve qualquer conhecido entre nós, um não fala uma palavra que o outro compreenda: qual é o propósito de tudo isso?” Deixe-me olhar para ele e observá-lo cuidadosamente, e eu encontrarei a mesma natureza dele em mim mesmo. Eu verei que Deus tem feito a ele como fez a mim, como se nós fossemos apenas uma carne. E toda a humanidade é de tal forma e molde, que nós temos bom motivo para amarmos uns aos outros, e saber que nós devemos ser todos um.

Apesar de haver algumas diferenças no tocante a esta presente vida, ainda assim devemos considerar que nós tendemos todos para um mesmo fim, igualmente diante de Deus que é pai de todos nós.

E portanto não é sem motivo que ao invés de dizer “Tu deves fazê-lo a todos os homens”, nosso Senhor diz “Tu deves fazê-lo pelo teu próximo” …. mas nós não podemos considerar que todos os homens não sejam nossos próximos , porque nós somos todos de uma mesma natureza, segundo a qual Deus tem conectado e ligado todos nós juntos.

Aquilo, então, que temos ressaltado nesta parte do texto sobre a palavra “irmão” é que, uma vez que Deus fala depois dessa maneira aos judeus, porque Ele adotou a linhagem de Abraão, isto demonstra nos dias de hoje que nós devemos todos ser como irmãos, porque nosso Senhor Jesus Cristo tem proclamado paz ao mundo todo, e Deus é um novamente com todas as nações e todos os homens.

Considerando isso, nos cabe manter a fraternidade a qual foi adquirida pelo derramamento do sangue de Cristo, e para a qual Deus nos chama. E apesar de muitas pessoas maldosas virem a violar isto por sua crueldade em retroceder para longe da Igreja, e se tornam nossos inimigos, nos dando ocasião para fazermos mal a eles, ainda assim, não obstante, nos empenhemos contra sua perversidade, trabalhemos para a salvação da alma deles, e pelo bem estar de seus corpos tanto quanto nós possamos".Calvin, Sermons on Deuteronomy, Sermon 125, 22:1-4, 771 and 772.


Os Eleitos Nunca Podem Perecer


"Também Lucas ensina nas mesmas palavras, que não pode ser que algum dos eleitos pereça. Porque ele diz que não um ou alguns dos eleitos crêem, mas tanto quantos foram eleitos. Porque, embora a eleição seja desconhecida para nós até que a percebamos pela fé, ainda assim não é duvidoso ou em suspense em seu Secreto Conselho; porque Ele confiou todos aqueles os quais conta como Dele para serem guardados e tutelados por Seu Filho, que continuará um guardador fiel até o fim". Acts 13:48.

"Havia outra, uma eleição geral; porque ele recebeu toda semente dentro de sua fé e a todos ofereceu seu pacto. Ao mesmo tempo, eles não foram todos regenerados, e não foram todos presenteados com o espírito de adoção. Essa eleição geral não foi, então, eficaz em tudo. Resolvida é, agora, a matéria em debate: que nenhum dos eleitos perecerá; porque nem todas as pessoas foram eleitas de um maneira especial; mas Deus sabe quem Ele tem escolhido dentre estas pessoas; e os dotou, como nós temos dito, com o Espirito de adoção, e os supriu com sua própria graça, para que eles nunca pudessem se perder. Outros foram, realmente escolhidos de uma certa maneira, a qual é que Deus oferece a eles o pacto da salvação; mas ainda assim, por meio de sua ingratidão, eles motivam Deus a rejeitá-los, e a negá-los como filhos. Calvin, Hosea 12:3-5. [br]

Portanto, enquanto Ele “profana” sua Igreja, isto é, a abandona, e a entrega como uma presa para seus inimigos, ainda assim os eleitos não perecem, e seu pacto eterno não é quebrado. Calvin, Isaiah 47:6.

Se Deus sabe quem Ele quer salvar, os eleitos não podem perecer …. Que bem haveria em ter todo esse trabalho? E por quê? Aqueles que Deus tem ordenado a salvação não podem falhar". Calvin, Sermons on Acts, 278.


Parte I:  Imputação e Expiação Ilimitada


1. Os Pecados do Mundo


Sermões


1) "Além do mais, a fim de podermos ser dispensados de todo auto-engano, olhemos para o notável exemplo que nos foi dado na morte de nosso Senhor Jesus Cristo. Porque se quisermos ir no caminho correto para o céu, nós devemos seguir o pobre ladrão a quem Ele disse: “Neste dia tu estarás comigo no paraíso.”

Como podemos estar certos que Deus nos quer no reino do Céu, considerando que nós buscamos o inferno, e todas as nossas afeições, todos os nossos pensamentos, todas as nossas forças, e todas nossas obras, tendem completamente para o outro lado, ou seja, para nos separar de Deus, nos alienar de seu reino, e nos levar para longe da vida e da salvação? Como nós podemos (digo eu) estar certos de que Deus nos levará para dentro de seu reino celestial?

Nós devemos recorrer a esta palavra que foi falada ao pobre ladrão: “Neste dia tu estarás comigo no Paraíso.” Considerando assim que nosso Senhor morreu, e que entrou em abismos de sofrimento, que foi pressionado tanto quanto suportou os tormentos que eram devidos a nós, e não somente suportou o opróbrio e o sofrimento da morte corporal, mas também sentiu a Justiça de Deus, e tornou-se como um desprezível transgressor por tomar sobre si todos os pecados do mundo; não duvidemos que Ele nos livrou do tormento e da angústia, os quais nós deveríamos ter sentido, e nos levantou para si mesmo, e portanto, agora, não devemos ter medo da morte” .John Calvin, Sermons on Deuteronomy, Sermon 5, 1:19-21, p., 29.

2) "E porque o filho de Deus se ofereceu para a redenção, compreendamos que Ele nos faz partícipantes desse benefício no dia de hoje, por meio do Evangelho. Pois ele nos reúne para Si com a intenção que sejamos do seu rebanho. Porque é verdade, Ele é o cordeiro sem mancha que tira os pecados do mundo, e que se ofereceu para reconciliar os homens a Deus [João 1:29, 2 Tm 1:9 e 10 Rm 5:10, e 2 Coríntios 5:19]. Mas apesar de tudo isso, vemos um grande número de pessoas que são deixadas sozinhas, contra as quais a porta está fechada, e Deus não lhes concede a graça de serem iluminadas pela fé, como nós somos". John Calvin, Sermons on Deuteronomy, Sermon 31, 5: 4-7, p., 187.

3) "Também havia o grande santuário no qual o sumo-sacerdote entrava sozinho com grande solenidade. E tudo isso serviu para demonstrar ainda mais vivamente a morte e a paixão de nosso Senhor Jesus Cristo. Mas agora aquelas coisas são vindas ao fim. Porque não há mais sombras, o véu (como está dito) foi rasgado, e nós temos o santuário celestial ao qual nós somos chamados diretamente a ir adiante, e Jesus o deixou aberto para nós. E assim, agora, não precisamos mais oferecer ofertas queimadas, não há mais sacrifícios pelos pecados; porque nosso Senhor Jesus Cristo por seu único sacrifício tirou os pecados do mundo, e fez uma expiação (reconciliação) eterna, cuja virtude nunca pode ser diminuída. Sempre que viermos a pregar sobre Deus, não é para levarmos até lá bezerro ou ovelha, mas nós devemos recorrer ao sangue derramado de nosso Senhor Jesus Cristo, pois por meio dele a redenção eterna é comprada por nós". John Calvin, Sermons on Deuteronomy, Sermon 194, 33:9-11, p., 1207.


4)"Vamos ressaltar, então, que ele [Jó] não foi possuído ou oprimido com tal desespero como profere aqui, mas que Deus fez ele sentir sua bondade de alguma maneira. Nós vemos isto, entretanto, ainda melhor na pessoa do nosso Senhor Jesus Cristo, o qual disse: “Porque me desamparaste?” E certamente Ele está em extremo, como a parte que levou sobre Si o fardo de todos os pecados do mundo. Portanto nós ressaltamos que enquanto Jesus Cristo devia sentir de si mesmo como se fosse abandonado por seu Pai, ainda assim, não obstante, Ele teve o conforto do contrário como demonstra ao dizer “Meu Deus, meu Deus” (Mateus 27:46)". John Calvin, Sermons on Job, Sermon 35, Job 9:16-22, p., 161.

5)"Então nós devemos tomar cuidadosa nota dessas palavras do profeta quando ele diz que o castigo que nos traz a paz estava sobre nosso Senhor Jesus Cristo, considerando que por meio de Sua mediação Deus é satisfeito e apaziguado, porque Ele tomou sobre si toda a impiedade e toda a iniqüidade do mundo". John Calvin, Sermons on Isaiah’s Prophecy of the Death and Passion of Christ, Sermon 3, 53:4-6, p., 74.2

7) "Não há dúvidas que Deus queria testificar a inocência de Jesus Cristo de muitas maneiras; até mesmo pela boca de Pilatos (como já temos mencionado e como veremos mais completamente), não que Deus não tivesse já concluido o que devia ser feito por Seu Filho Unigênito. Então, uma vez que Deus quis que Ele fosse o Sacrifício para tirar os pecados do mundo, a Escritura se cumpriu. Mas nosso Senhor Jesus também foi provado reto e inocente, a fim de que nós pudéssemos saber melhor que Ele sofreu a condenação a qual era devida a nós e a qual nós merecíamos..." John Calvin, Sermons on the Deity of Christ, Sermon 7, Mt 27:11-26, p., 123.

9)"Então, não é sem causa que São Pedro declara que o sofrimento de Jesus Cristo foi por meio da providência de Deus. Jesus Cristo foi o sacrificio oferecido a Deus Seu Pai para riscar os pecados do mundo. Quando, então, vemos tal propósito do Conselho de Deus, podemos saber que tudo que Ele faz é para nosso beneficio, e nós não devemos longamente inquirir sobre o porquê Jesus Cristo sofreu, pois neste sofrimento nós vemos a infinita bondade de Deus, vemos Seu amor o qual se manifestou por nós (como diz Paulo) em que Ele não poupou Seu próprio Filho, mas o entregou a morte por nós (Romans 8:32.)" John Calvin, Sermons on the Deity of Christ, Sermon 19, Acts 2:22- 24, p., 284.

10) "Portanto nós devemos recorrer ao nosso Senhor Jesus Cristo, porque Ele é quem tem carregado todos os nossos fardos, como eu já tenho alegado. Verdadeiramente a nossa redenção custou-lhe caro, e se nós buscarmos em toda a parte no céu e na terra o preço do resgate que seja capaz de pacificar a Deus, nós não encontraremos outro além Dele. Então nós nunca teríamos sido santificados, a não ser que o Filho de Deus tivesse dado a Si Mesmo por nós. E, de fato, o profeta Isaías demonstra como ele tomou nossos fardos. (Isaías 53:4, 5). A saber, que Ele sentiu o tormento da morte, e que o Pai foi inclinado (favorável) a satisfazer a Si mesmo sobre ele, como se Ele fosse um transgressor e culpado de todos os pecados do mundo". John Calvin Sermons on Galatians, Sermon 39, 6:2-5, p., 836/597.

11) "Portanto Jesus Cristo não quis responder diante de Poncius Pilatos. Por que isso? Porque ele buscava satisfazer a vontade de Deus seu Pai, e o decreto o qual tem concluído: Ele sabia que por seu sacrifício, tiraria os pecados do mundo. E, portanto, Jesus Cristo estando no lugar dos pecadores, não defendeu a si mesmo. Como foi dito pelo Profeta Isaías: “ele é levado para a morte, como um cordeiro que é tosquiado e não abre sua boca'.

Para ser curto isto é o que o Apóstolo disse no décimo capítulo de Hebreus, se nós quisermos ser participantes de tudo que foi dado a nós pelo Filho de Deus, nós devemos ter paciência. Depois de ter demonstrado que quando Jesus Cristo sofreu pelos pecados do mundo, Ele ascendeu aos céus, adiciona “Que isto foi para nos armar para a paciência”. Porque isso é nada, se o fruto dessa redenção, a qual foi comprada para nós não se demonstrar pela fé... "John Calvin, Sermons on 1 Timothy, Sermon 51, 6:13-16, p., 612.

12)"Agora ressaltamos que o Altar nos tempos antigos, e especialmente no tempo da Lei, foi sempre erguido para esse fim, para que os fiéis pudessem saber que não eram dignos de orar para Deus, nem clamar a Ele em seu próprio nome, mas que deviam sempre vir a Ele por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela virtude do sacrifício o qual ele ofereceu para Seu Pai, pela reconciliação do mundo. E certamente nós não devemos pensar que Abraão e Isaque criaram altares de acordo com suas próprias fantasias:

Porque seus sacrifícios nunca foram aceitáveis, a não ser por meio da fé como o Apóstolo demonstra. Agora eles não poderiam ser fundamentados na fé, a não ser que, antes, a palavra de Deus os tenha iluminando. Saibamos, então, que Isaque não ofereceu um sacrifício, …, como se tivesse pensado: “isso deve ser considerado bom”, mas que ele foi ensinado, que sendo um desprezível pecador, não deveria presumir clamar ao nome de Deus, a não ser que colocasse toda sua confiança Nele, que seria enviado para fazer satisfação e purgar os pecados do mundo". John Calvin, Sermons on Election and Reprobation, Sermon, 9, Gen 26:23-25, pp., 209-10.


Comentários


13)"Até o momento o meu desejo foi o de ensinar que o sacerdote levítico foi ordenado, para ser um tipo do verdadeiro mediador. Agora isso será valioso para nós enquanto brevemente fazemos referência às marcas pelas quais o nosso perpétuo e único sacerdote, o Filho de Deus, deve ser distinguido dos antigos (uma exposição mais completa seguirá adiante em seu devido lugar) ... A última distinção consistia nos próprios sacrifícios, com relação aos quais eu me abstenho de falar no momento de forma mais completa, porque eles terão seu lugar mais adiante. Sobre isso nós só precisamos recordar agora que Cristo expiou os pecados do mundo, não com o sangue dos animais, mas com seu próprio sangue". John Calvin, Exodus 28, Introductory Comments.

14)"E ele deveria tomar dois bodes. Um duplo modo de expiação é aqui apresentado a nós, porque um dos dois bodes foi oferecido em sacrifício de acordo com a provisão da Lei, o outro foi enviado longe para ser um proscrito, ou escória (katharma vel peripsema.). O cumprimento de ambas as figuras, no entanto, foram manifestas em Cristo, uma vez que Ele foi ambos, o Cordeiro de Deus, cujo oferecimento tira os pecados do mundo, e, para que Ele pudesse ser como um proscrito (katharma). Sua beleza foi destruída e Ele foi rejeitado dos homens. Uma especulação adicional pode ser realmente introduzida, isto é, que depois do bode ser ofertado, é enviado longe como um tipo da ressurreição de Cristo, como se a morte de um bode testificasse que a satisfação dos pecados era para ser buscada na morte de Cristo, enquanto a preservação e o repúdio do outro demonstra, que depois de Cristo ter sido oferecido pelos pecados, Ele tomou sobre si a maldição dos homens". John Calvin, Leviticus 16: 17.

15) " "Sem derramamento de sangue", diz Paulo, "não há remissão" (Hebreus 9:22;) e isso, que foi anunciado por Deus à Igreja antiga em figuras, foi feito completamente conhecido pela vinda de Cristo. O pecador, se quiser encontrar misericórida, deve olhar para o sacrifício de Cristo, que expiou os pecados do mundo, e olhar, ao mesmo tempo, para a confirmação de sua fé, para o Batismo e a Ceia do Senhor; porque seria vão imaginar que Deus, o Juiz do mundo, iria receber-nos novamente em seu favor de qualquer outra forma que não através de uma satisfação feita a Sua justiça". John Calvin, Psalms 51:9. [br]

16) "Ele fala deles como celebrados pelos orgulhosos e ignorantes, sob uma impressão de merecer o favor divino. Diligente como ele era, portanto, na prática do sacrifício, descansando sua completa dependência sobre a satisfação de Cristo, que expiou os pecados do mundo, ele ainda podia declarar honestamente que nada trouxe para Deus em forma de compensação, e que confiava inteiramente na gratuita reconciliação. Não se pode dizer que quando os judeus apresentavam seus sacrifícios, eles traziam algo de si mesmos para o Senhor, mas, pelo contrário, devem ser vistos como tomando emprestado de Cristo a necessária quantia para o resgate". John Calvin, Psalms 51:16. [br]

17) "Assim, depois de Cristo ter aparecido e expiado todos os pecados do mundo, tornou-se necessário que todos os sacrifícios cessassem". John Calvin, Daniel, Lecture, 52. [br]

18) "Qualquer que seja o motivo, o certo é que nenhum milagre foi realizado por ele a fim de permanecer perpetuamente oculto, apesar de que Ele tinha a intenção de tê-lo escondido junto com muitos outros, até que, depois de ter expiado pela sua morte os pecados do mundo, ascendesse para a glória do Pai".

Nota de rodapé do tradutor [da fonte original]:

“Iusques a ce qu’ayant par sa mort accompli la satisfaction des pechez du monde;”– “até ter a sua morte realizado plena satisfação pelos pecados do mundo .” John Calvin, Mark 8:26.

19) "Mal é a ressurreição mencionada e os discípulos imaginam que o reinado de Cristo é iníciado; pois eles explicam essa palavra para dizer que o mundo reconheceria que Ele é o Messias. Que eles imaginavam a ressurreição sendo algo totalmente diferente do que Cristo quis dizer, é evidente do que é declarado por Marcos ... E, de fato, há alguma plausibilidade nesse erro, pois nasce de um princípio verdadeiro. A Escritura também fala de uma primeira e uma segunda vinda do Messias, pois ela promete que Ele será um Redentor, para expiar por seu sacrifício os pecados do mundo". John Calvin, Matthew 17:10.

20) "Dois propósitos foram, assim, atendidos por esta declaração: testificar, em primeiro lugar, que o Filho de Deus se entregou voluntariamente para morrer, a fim de reconciliar o mundo com o Pai, (pois de nenhuma outra maneira poderia a culpa dos pecados ser expiada, ou obtida justiça por nós) e, em segundo lugar, que Ele não morreu como um oprimido pela violência da qual não poderia escapar, mas morreu porque se ofereceu voluntariamente para morrer. Portanto, Ele declara que chega em Jerusalém com a expressa intenção de sofrer a morte ali ... Da mesma forma, é de utilidade singular para nós no dia de hoje, porque nós contemplamos, como em um espelho brilhante, o sacrifício voluntário, pelo qual todas as transgressões do mundo foram apagadas e, ao contemplar o Filho de Deus avançar com alegria e coragem para a morte, nós já o vemos como vitorioso sobre a morte". John Calvin, Matthew 26:1-13; Mark 14:1-9; Luke 22:1-2, Introductory Comments.

21) "Mas a utilidade desta doutrina se estende muito mais longe, pois nunca estamos plenamente confirmados do resultado da morte de Cristo, até que estejamos convencidos de que Ele não foi acidentalmente arrastado pelos homens para a cruz, mas que o sacrifício foi designado por um decreto eterno de Deus para expiar os pecados do mundo. Por qual motivo é que nós obtemos a reconciliação, a não ser porque Cristo apaziguou o Pai pela sua obediência? Por isso coloquemos sempre em nossas mentes a providência de Deus, a qual o próprio Judas, e todos os homens ímpios, embora seja contrário ao seu desejo, e apesar de ter outro fim em vista, são obrigados a obedecer. Vamos sempre ter isso como um princípio fixo: que Cristo sofreu, porque aprouve a Deus ter tal expiação ... Em suma, a determinação de Deus de que o mundo seria redimido, não interfere em nada com Judas ser um ímpio traidor. Daí percebemos que, embora os homens não podem fazer nada, a não ser o que Deus determinou, ainda assim isso não os libera da condenação, quando são levados por um desejo ímpio ao pecado". John Calvin, Matthew 26:24.

22) "Isso não teria sido coerente, se Cristo tivesse simplesmente temido a morte,....De onde se conclui, que o que o levou a orar para ser livre da morte foi de um mal maior. Quando viu a ira de Deus apresentada a Ele, enquanto estava no tribunal de Deus carregando os pecados do mundo todo". John Calvin, Matthew 26:39.

23) "Por outro lado, devemos considerar o propósito de Deus, pelo qual Cristo foi designado para ser crucificado, como se ele tivesse sido o mais vil dos homens. Os judeus, na verdade, se enfureceram contra Ele com uma fúria cega, mas como Deus o havia designado para ser um sacrifício (katharma) para expiar [4] pelos pecados do mundo, permitiu que Ele fosse colocado mesmo abaixo de um ladrão e um assassino".

Nota de rodapé do tradutor [da fonte original]:

D’autant que Dieu l’avoit ordonné pour estre celuy sur lequel seroyent mis tousles pechez du monde,, B fin que l’expiation et purgation en fust faite;”– “porque Deus o designou para ser a pessoa sobre quem seria colocados os pecados do mundo, a fim de que a expiação e purificação deles pudesse ser realizada” John Calvin, Matthew 27:15.

24) "Aprendamos disso meditar sobre a causa da morte de Cristo, pois uma vez que Deus a vingou com tal gravidade, Ele nunca teria permitido que seu Filho viesse a suportá-la, a não ser que tivesse a intenção de que ela fosse uma expiação pelos pecados do mundo". John Calvin, Luke 23:28.


25) "Em primeiro lugar, de onde vem a sua garantia de perdão, a não ser da morte de Cristo, a qual todos os outros viram como detestável, Ele contemplou como um sacrifício de cheiro suave, eficaz para expiar os pecados do mundo".

Nota de rodapé do tradutor [da fonte original]:

“Ayant ceste efficace de purger et nettoyer tous les pechez du monde;”–”tendo essa eficácia limpado e purificado todos os pecados do mundo.” John Calvin, Luke 23:42
.
26) "Não há como duvidar que nosso Senhor discursava para eles sobre o ofício do Messias, como é descrito pelos profetas, para que eles não tomassem ofensa na Sua morte, e uma viagem de três ou quatro horas ofereceu abundância de tempo para uma explicação completa dessas questões. Portanto, não afirmou em três palavras, o que o Cristo devia ter sofrido, mas explicou detalhadamente que tinha sido enviado para poder expiar, pelo sacrifício de Sua morte, os pecados do mundo - para poder se tornar uma maldição, a fim de remover a maldição - para que tendo a culpa imputada a Ele, pudesse limpar as contaminações dos outros". John Calvin, Luke 24:26

27) "No entanto, também há essa diferença entre eles, porque os outros três são mais abundantes na sua narrativa da vida e da morte de Cristo, mas João se demora mais longamente sobre a doutrina, pela qual o oficio de Cristo, juntamente com o poder de sua morte e ressurreição, é revelado. Certamente eles não deixam de mencionar que Cristo veio trazer a salvação ao mundo, para expiar os pecados do mundo pelo sacrifício de Sua morte, e, em suma, para realizar tudo o que era exigido do Mediador, (como João também dedica uma parte do seu trabalho para detalhes históricos), mas a doutrina, que nos aponta o poder e os benefícios da vinda de Cristo, é muito mais claramente exibida por ele do que pelos outros". John Calvin, John, The Argument.

28) "Que tira o pecado do mundo". "Ele usa a palavra pecado no singular, para qualquer tipo de iniquidade; como se tivesse dito, que todo tipo de injustiça que aliena os homens de Deus é tirado por Cristo. E quando diz “o pecado DO MUNDO”[5], Ele estende este favor indiscriminadamente a toda a raça humana, a fim de que os judeus não pudessem pensar que Ele tinha sido enviado somente a eles. Mas disso nós inferimos que todo o mundo está envolvido na mesma condenação, e que como todos os homens sem exceção são culpados de injustiça diante de Deus, eles necessitam ser reconciliados com ele. João Batista, portanto, ao falar do pecado do mundo de uma forma geral intentava incutir em nós a convicção de nossa própria miséria, e nos exortar a buscar o remédio. Agora é nosso dever abraçar o benefício que é oferecido a todos, porque cada um de nós pode estar certo de que não há nada para impedi-lo de obter a reconciliação em Cristo, desde que venha a Ele guiado pela fé. Além disso, estabelece apenas um método de tirar os pecados". John Calvin, John 1:29.


29) "Ele chama o Espírito de outro Consolador, por conta da diferença entre as bênçãos que nós obtemos de ambos. O oficio peculiar de Cristo foi apaziguar a ira de Deus pela expiação pelos pecados do mundo, redimir os homens da morte, adquirir justiça e vida. E o oficio peculiar do Espírito é nos tornar participantes não somente do próprio Cristo, mas de todas as suas bênçãos. E ainda assim não haveria impropriedade em inferir desta passagem uma distinção de Pessoas, pois deve haver alguma peculiaridade na qual o Espirito difere do Filho... " John Calvin, John 14:16.

30)Portanto, sempre que ouvirmos esta designação aplicada ao diabo, devemos nos envergonhar da nossa condição miserável, pois, seja lá qual for o orgulho dos homens, eles são escravos do diabo, até que sejam regenerados pelo Espírito de Cristo; sobre o termo mundo é aqui incluída toda a raça humana. John Calvin, John 14:30.

"Mas para que o mundo saiba." Alguns pensam que estas palavras devem ser lidas conectadas estreitamente com as palavras: "Levantai-vos, vamo-nos daqui", de modo a tornar o sentido completo. Outros lêem a primeira parte do versículo em separado, e supõe que ele se interrompe abruptamente. Como isso não faz grande diferença em relação ao significado, deixo ao leitor dar a preferência a qualquer um desses pontos de vista. O que sobretudo merece nossa atenção é que o decreto de Deus é aqui colocado no mais alto nível, para que nós não possamos supor que Cristo foi arrastado para a morte pela violência de Satanás, de modo que alguma coisa acontecesse de forma contrária ao propósito de Deus. Foi Deus quem designou seu Filho para ser a Propiciação, e que determinou que os pecados do mundo seriam expiados pela Sua morte. A fim de alcançar isso, Ele permitiu que Satanás, por um curto período de tempo, o tratasse com desprezo, como se tivesse sido vitorioso sobre ele. Cristo, portanto, não resistiu a Satanás, a fim de que Ele pudesse obedecer ao decreto do Pai, e poder, assim, oferecer sua obediência como o resgate de nossa justiça. John Calvin, John, 14:31.

31) “Pai, é chegada a hora”. Cristo pede que seu reino seja glorificado, para que Ele também possa alcançar a glória do Pai. Ele diz que é chegada a hora, porque, embora por milagres e por todos os tipos de acontecimentos sobrenaturais, tenha manifestado ser o Filho de Deus, no entanto, seu reino espiritual ainda estava na obscuridade, mas logo em seguida resplandeceu com o brilho total. Se for objetado que que nunca houve algo menos glorioso do que a morte de Cristo, a qual estava então à mão, eu respondo que, nessa morte, nós contemplamos um triunfo magnífico, o qual é oculto dos homens ímpios, porque lá nós percebemos que a expiação foi feita pelos pecados, o mundo foi reconciliado com Deus, a maldição foi apagada e Satanás foi derrotado. John Calvin, John 17:16

32) “O Filho de Deus”. O evangelista acrescenta isto, porque não se encontraria ninguém da ordinária classe dos homens, que fosse competente para realizar tão grande feito, ou seja, reconciliar o Pai conosco, expiar os pecados do mundo, abolir a morte, destruir o reino de Satanás e nos trazer a verdadeira justiça e salvação. John Calvin, John 20:30.

33) Era muito pertinente para a questão que eles soubessem que Cristo foi condenado à morte sem culpa, pois nós não poderiamos ser justificados pela Sua morte, se Ele tivesse sofrido a morte pelos seus próprios atos maus; pois era necessário que Ele fosse sem culpa, para que Sua morte pudesse ser uma satisfação pelos pecados do mundo. John Calvin Acts 13:28.

34) Lucas estabelece primeiro qual foi o resumo da disputa, a saber, que Jesus, o filho de Maria, é Cristo, que foi prometido em tempos passados na lei e nos profetas, o qual, pelo sacrifício de Sua morte, fez satisfação pelos pecados do mundo, e trouxe justiça e vida pela sua ressurreição, em segundo lugar, como ele provou o que ensinou. John Calvin, Acts 17:2

35) Em segundo lugar, vale a pena destacar, que estes foram os pontos principais do debate que Lucas agora aborda; porque esse era o próprio ofício de Cristo: pela Sua morte fazer satisfação pelos pecados do mundo, pela sua ressurreição adquirir justiça e vida para os homens; e porque o fruto da Sua morte e ressurreição é comum tanto para judeus quanto para gentios.

36) Porém, Paulo trabalhou em outro ponto, o qual não era tão conhecido, que o Messias prometido, que, com o sacrifício de Sua morte, faria satisfação pelos pecados do mundo, reconciliaria Deus com os homens, iria adquirir justiça eterna, moldaria os homens à imagem de Deus, os regenerando com o seu Espírito e, finalmente, os faria seus servos fíéis herdeiros com Ele da vida eterna; e que todas essas coisas foram cumpridas na pessoa do Cristo crucificado. John Calvin, Acts 28:24

37) "Quisera que eles fossem cortados." Sua indignação vai ainda além, e ele ora pela destruição desses impostores por quem os gálatas haviam sido enganados. A palavra "cortado", parece ser empregada em alusão à circuncisão a qual eles pressionavam. "Eles dilaceram a igreja por causa da circuncisão. Eu gostaria que eles fossem completamente cortados". Crisóstomo favorece esta opinião. Mas como pode tal imprecação ser reconciliada com a benignidade de um apóstolo, que deve desejar que todos sejam salvos, e que nem uma única pessoa pereça? Até onde diz respeito aos homens, admito a força deste argumento, pois é a vontade de Deus que busquemos a salvação de todos os homens sem exceção, como Cristo sofreu pelos pecados do mundo todo. Mas as mentes devotas são frequentemente levadas para além da consideração dos homens, e são levados a fixar os olhos na glória de Deus e no reino de Cristo. A glória de Deus, que é em si mais excelente do que a salvação dos homens, deve receber de nós um mais alto grau de estima e consideração. Crentes sinceramente desejosos de que a glória de Deus seja promovida, esquecem os homens, e esquecem o mundo, e preferem escolher que todo o mundo pereça, do que a menor porção da glória de Deus seja retirada. John Calvin, Galatians, 5:12. [br]

38) “Em quem temos a redenção”. Ele agora passa a demonstrar que todas as partes da nossa salvação estão contidas em Cristo, e que somente Ele deve brilhar, e ser visto como notável acima de todas as criaturas, na medida em que é o início e o fim de todas as coisas. Em primeiro lugar, ele diz que temos a redenção, e imediatamente explica isso como significando a remissão dos pecados, pois essas duas coisas concordam entre si por aposição. Pois, sem dúvida, quando Deus perdoa nossos pecados, nos exime da condenação à morte eterna. Essa é a nossa liberdade, esse é o nosso gloriar na face da morte - que os nossos pecados não são imputados a nós. Ele diz que essa redenção foi adquirida através do sangue de Cristo, pelo sacrifício de sua morte todos os pecados do mundo foram expiados. Portanto, tenhamos em mente que este é o único preço da reconciliação, e que toda futilidade dos papistas quanto a satisfação é uma blasfêmia. John Calvin Colossians, 1:14. [br]

39) Devemos sempre sustentar essa verdade que quando o apóstolo fala da morte de Cristo, ele não se refere à ação externa, mas ao benefício espiritual. Ele sofreu a morte como os homens, mas como um sacerdote Ele expiou pelos pecados do mundo de uma forma divina; houve um externo derramamento de sangue, mas houve também uma purificação interior e espiritual; em resumo, Ele morreu na Terra , mas a força e a eficácia de Sua morte procedem do Céu. John Calvin, Hebrews, 8:4.

40) Então, o sentido é: “Não se espantem se os ritos da lei já cessaram, pois isso é o que era tipificado pelo sacrifício que os levitas levavam para fora do arraial para lá ser queimado; , pois, como os ministros do tabernáculo não comiam nada disso, assim se nós servimos o tabernáculo, ou seja, mantemos as suas cerimônias, não seremos participantes daquele sacrifício que Cristo ofereceu uma única vez, nem da expiação que Ele fez uma única vez pelo seu próprio sangue; porque Seu próprio sangue Ele trouxe no santuário celeste para que pudesse expiar pelo pecado do mundo. "John Calvin, Hebrews, 13:10.

41) Assim, então, temos todo o Evangelho, porque nós sabemos que Ele, o Redentor prometido há muito tempo, veio do céu, colocou nossa carne, viveu no mundo, morreu e ressuscitou;, e, em segundo lugar, percebemos o fim e o fruto de todas estas coisas, isto é, para que Ele pudesse ser Deus conosco, para que pudesse exibir em Si uma garantia de nossa adoção, para que pudesse nos purificar da contaminação da carne pela graça de seu Espírito, e nos consagrar templos para Deus, para que pudesse nos livrar do inferno, e nos elevar ao Céu, para que pudesse pelo sacrifício da Sua morte fazer uma expiação pelos pecados do mundo, para que pudesse nos reconciliar com o Pai, para que pudesse se tornar para nós o autor da justiça e da vida. Aquele que sabe e compreende essas coisas, está totalmente familiarizado com o evangelho. John Calvin, 2 Peter 1:16.

42)Mas novamente ele aponta a causa da vinda de Cristo e de Seu ofício, quando diz que foi enviado para ser uma propiciação pelos nossos pecados. E em primeiro lugar, de fato, somos ensinados por essas palavras, que eramos todos, por causa do pecado, alienados de Deus, e que essa alienação e discórdia permanecem até que Cristo intervém para nos reconciliar. Somos ensinados, em segundo lugar, que é o início de nossa vida, quando Deus tendo sido pacificado pela morte de Seu Filho, nos recebe em Seu favor. Porque a propiciação propriamente se refere ao sacrifício de Sua morte. Concluimos, então, que esta honra de expiar pelos pecados do mundo, e assim tirar a inimizade entre Deus e nós, pertence somente a Cristo. John Calvin, 1 John 4:10.


Institutas


43) Desses numerosos testemunhos devemos escolher aqueles particulares que servem para edificar nossas mentes na verdadeira confiança. Os quais são os seguintes: quando é dito que Ele não se preocupou com os anjos [Hebreus 2:16] para assim tomar sua natureza, mas tomou a nossa, para que "em carne e sangue ... Ele pudesse por meio da morte destruir aquele que tinha o poder da morte"[Hebreus 2:14 p.]. Outra: nós somos contados seus irmãos pelo benefício da associação com Ele [cf. Hebreus 2:11]. Mais uma vez: "Ele tinha de ser feito semelhante a seus irmãos ... para que pudesse ser um intercessor misericordioso e fiel." [ Hebreus 2:17p] . "Nós não temos um sumo sacerdote que é incapaz de se compadecer com nossas fraquezas." [ Hebreus 4:15 a.] E passagens semelhantes. O que nós abordamos anteriormente se refere a este mesmo ponto: os pecados do mundo tinham de ser expiados na nossa carne, como Paulo declara claramente [Romanos 8:3]. John Calvin, Institutes 2.13.1. [br]

44) No entanto, para definir o caminho da salvação mais precisamente, a Escritura atribui esse como peculiar e próprio da morte de Cristo. Ele declara que "Ele deu sua vida para resgatar muitos" [Mateus 20:28 p.]. Paulo ensina que "Cristo morreu pelos nossos pecados" [Romanos 4:25 p.]. João Batista proclamou que Ele veio "para tirar os pecados do mundo", pois ele era "o Cordeiro de Deus" [João 1:29 p.]. John Calvin, Institutes 2.16.5.7 [br]


45) Sobre este ponto se aplicam as palavras de João Batista: "Eis o Cordeiro deDeus, que tira o pecado do mundo" [João 1:29]. Porque ele coloca Cristo em contraste com todos os sacrifícios da lei, para ensinar que o que aquelas figuras demonstravam foi cumprindo somente Nele. John Calvin, Institutes 2.17.4. [br]

46)Ele não disse:  "Deus uma vez por todas reconcilou vocês por meio de Cristo, agora vocês buscam por si mesmos um outro meio." Mas Ele o fez uma advogado perpétuo, para que por Sua intercessão, pudesse sempre nos restaurar ao favor do Pai; uma propiciação eterna, através da qual os pecados pudessem ser expiados. Porque o que o outro João disse é sempre verdadeiro: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo!" [João 1:29, cf. cap. 1:36]. Ele, eu digo, e não outro, os tira, isto é, uma vez que somente Ele é o Cordeiro de Deus, também Ele é a única oferta pelos pecados, a única expiação e a única satisfação. John Calvin, Institutes 3.4.26. [br]

47) João disse que Cristo era o Cordeiro de Deus, por meio de quem os pecados do mundo seriam tirados [João 1:29]. Nesse sentido, Ele se fez um sacrifício agradável a Deus Pai, e ao propiciador de justiça e autor da salvação. O que os apóstolos poderiam acrescentar a esta confissão? John Calvin, Institutes 4.15.7. [br]


Tratados


49) A razão humana não nos dita o que o Filho de Deus, para nos reconciliar com o Pai através do sacrifício de sua morte, assumiu a nossa carne, e a fim de se tornar nosso irmão, foi feito semelhante a nós, exceto no pecado. Essa verdadeira carne, pelo qual os pecados do mundo foram pouco depois tirados, foi, então, perante os olhos dos apóstolos, e a eles convinha fixar sua fé na visão dele, para assim não ter esperança de salvação em nenhum outro lugar. John Calvin, Selected Works, 2:442.

50) Portanto, nós também podemos extrair do mesmo contexto que o corpo e o sangue de Cristo nos são oferecidos na Ceia de uma maneira diferente do que eles imaginam. O que Lucas e Paulo afirmam ser dado no vinho? Um pacto no sangue. Assim a mesma coisa deve ser verdade do corpo, segue-se que nada mais pode ser inferida a partir das palavras de Cristo, de que sob o pão há a ratificação de um pacto no corpo do Filho de Deus que foi crucificado por nós. Nós somos ordenados a comer o corpo que foi crucificado por nós, em outras palavras, nos tornar participantes do sacrifício pelo qual os pecados do mundo foram expiados. Se eles insistem em que as duas coisas estão unidas, isto é, o fruto do sacrifício e a comunhão da carne, eu pressiono o mesmo ponto – porque uma vez que pela mesma lei e com as mesmas palavras o Filho de Deus oferece seu corpo, e o pacto no corpo, uma coisa não é para ser tomada sem a outra. John Calvin, Selected Works, 2:481.

51) Ainda assim, ele insiste, e diz que nada pode ser mais claro que a declaração, que o ímpio não discerne o corpo do Senhor, e que a escuridão é violentamente e intencionalmente lançada sobre a mais clara verdade por todos os que se recusam a admitir que o corpo de Cristo é tomado pelos indignos. Ele poderia ter alguma razão para isso, se eu negasse que o corpo de Cristo é dado ao indigno, mas como eles impiedosamente rejeitam o que é liberalmente oferecido a eles, são merecidamente condenados por profano e brutal desprezo, na medida em que eles tem por nada aquela vítima pela qual os pecados do mundo foram expiados, e os homens reconciliados com Deus. John Calvin, Clear Explanation of Sound Doctrine Concerning the True Partaking of the Flesh and Blood of Christ in the Holy Supper, in Order to Dissipate The Mists of Tileman Heshusius., Selected Works, 2:525.

52) A doutrina da Escritura é simples, e de nenhuma maneira ambígua, que no sacrifício pelo qual convinha que os homens fossem reconciliados com Deus, Cristo morreu uma única vez – porque a eficácia de seu sacrifício é eterna – e porque o benefício dessa morte é recebido por nós a cada dia. A fim de desfrutarmos dela o Filho de Deus instituiu a Santa Ceia, na qual ele coloca diante de nós seu corpo, uma vez sacrificado por nós, como comida da qual nós podemos nos alimentar. Desta forma, a força desse único sacrifício é aplicada a nós, e nós nos tornamos participantes dele. Procure por toda a Escritura, e você não encontrará nada mais do que nosso cordeiro pascoal ter sido sacrificado, para que nosso único Sacerdote entrasse uma vez no Santo dos Santos, a fim de que por uma oferta pudesse expiar os pecados do mundo. John Calvin, The Adultero-German Interim: To which is Added the True Method of Giving Peace to Christendom, and of Reforming the Church, Selected Works, 3:309.


53) Eu sei as objeções que muitos fazem aqui: que quando Paulo diz que são predestinados aqueles a quem Deus conheceu de antemão, ele quer dizer que cada um é eleito em razão de sua fé. Mas eu não posso conceder a eles essa suposição falsa. Deus não é para ser entendido como prevendo algo neles que obtém a graça para eles, mas estes são conhecidos de antemão, porque foram livremente escolhidos. Assim Paulo ensina em outros lugares a mesma coisa: Deus sabe os que são seus (II Tm 2.19), isto é, pois Ele os considerou marcados e como estando numerados em sua lista. Esse ponto também não é omitido por Agostinho que o termo presciência é para ser tomado como significando o conselho de Deus pelo qual Ele predestina Sua própria salvação.

Ninguém nega que foi pré-conhecido por Deus aqueles que seriam herdeiros da vida eterna. A verdadeira questão é se o que Ele previu é o que Ele fará com eles ou o que eles serão por si mesmos. É uma sutileza fútil se apoderar da palavra presciência e anexar a ela os méritos do homem naquela eleição que Paulo sempre atribui ao propósito de Deus. Pedro, também, saúda os eleitos como eleitos segundo a presciência de Deus (I Pe 1.2). Será isto porque alguma virtude prevista neles inclinou o favor de Deus para com eles? De forma alguma. Pedro não está comparando homens entre si para fazer alguns melhores que outros. Ele coloca acima de todas as causas o decreto que Deus determinou em Si mesmo. É como se ele tivesse dito que eles agora são contados dentre os filhos de Deus, porque, antes de nascerem, foram eleitos.

Sobre esse fundamento, no mesmo capítulo, ele ensina que Cristo foi pré-ordenado antes da fundação do mundo para limpar os pecados do mundo pelo Seu sacrifício. Sem dúvida isso significa que a expiação do pecado realizada por Cristo foi ordenada pelos decretos eternos de Deus. Nem pode o que é encontrado no sermão de Pedro registrado por Lucas ser explicado de outra forma: Cristo foi entregue à morte pelo determinado conselho e presciência de Deus (At 2.23). Pedro, assim, conecta a presciência com o conselho para que possamos aprender que Cristo não é levado a morte por acaso ou pelo agir violento dos homens, mas porque Deus, o melhor e mais sábio conhecedor de todas as coisas, deliberadamente assim o determinou. Na verdade uma passagem de Paulo é suficiente para pôr fim a toda controvérsia. Deus, ele diz, recusa-se a repudiar o seu povo que conheceu de antemão (Rm II.2). John Calvin, The Eternal Predestination of God, 70-1.

54) Georgius acha que argumenta muito acuradamente quando diz: “Cristo é a propiciação pelos pecados do mundo todo, e, portanto, aqueles que pretendem excluir os réprobos da participação em Cristo devem colocá-los fora do mundo.” Para isso, a solução comum, que Cristo sofreu suficientemente por todos, mas eficientemente pelos eleitos, não é útil. Por este grande absurdo, este monge tem alcançado aplausos em sua própria fraternidade, mas não tem valor para mim. Considerando que fiéis estão dispersos por todo o mundo, João estende a eles a expiação realizada pela morte de Cristo. Mas isso não altera o fato de que os réprobos estão misturados com os eleitos no mundo. É incontestável que Cristo veio para a expiação dos pecados do mundo.

Mas a solução está ao alcance da mão, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3:15). Porque a questão em pauta não é quão grande é o poder da [morte] de Cristo ou que eficácia ela tem em si mesma, mas a quem Ele se dá para ser desfrutado. Se a posse está na fé e a fé emana do Espírito de adoção, segue-se que só é contado entre os filhos de Deus aqueles que vierem a ser participantes de Cristo. O evangelista João apresenta o oficio de Cristo como sendo nada mais do que, por Sua morte, reunir os filhos de Deus em um [só corpo](Jo 11:52). Daí podemos concluir que a conciliação é oferecida a todos por ele, mas o benefício é peculiar aos eleitos, para que possam ser recolhidas para a sociedade da vida. No entanto, enquanto eu digo que é oferecida a todos, não quero dizer que esse ministério, pelo que no depoimento de Paulo (II Coríntios 5,18) Deus reconcilia consigo o mundo, alcança a todos, visto que ele não é selado  indiscriminadamente nos corações de todos a quem se dirige de modo a ser eficaz. John Calvin, The Eternal Predestination of God, p., 148-9.


2. Os Pecados de Muitos


Quando “os muitos” não são todos


1) Na última palestra nós explicamos como Cristo confirmou o pacto com muitos durante a última semana; porque Ele reuniu os filhos de Deus de seu estado de dispersão quando a devastação da Igreja era tão horrível e miserável. Embora o Evangelho não tenha sido imediatamente promulgado entre as nações estrangeiras, ainda assim Cristo corretamente diz ter confirmado a aliança com muitos, assim as nações foram chamados diretamente à esperança da salvação. (Mateus 10:5).

Embora ele tenha proibido os discípulos a pregar o Evangelho, quer a gentios ou samaritanos, ainda assim lhes ensinou que muitas ovelhas foram dispersas no exterior, e que o tempo no qual Deus faria um aprisco estava próximo. (João 10:16). Isso foi cumprido depois de Sua ressurreição. Durante sua vida Ele começou a antecipar ligeiramente o chamado dos gentios, e assim eu interpreto essas palavras do Profeta: “Ele confirmará o pacto com muitos”. Pois eu tomo a palavra , "muitos" aqui, rebim, comparativamente, para os fiéis gentios unidos com os judeus. É bem sabido que o pacto de Deus foi depositado por um tipo de direito hereditário com os israelitas até que o mesmo favor foi estendido aos gentios.

Portanto, Cristo não disse apenas ter renovado o pacto de Deus com uma só nação, mas amplamente com o mundo em geral. Confesso, aliás, o uso da palavra “muitos” como “todos”, como no quinto capítulo da Epístola aos Romanos, e em outros lugares, (Romanos 5:19), mas aqui parece haver um contraste entre a antiga Igreja, incluídas dentro de limites muito estreitos, e a nova Igreja, que se estende por todo o mundo. Nós sabemos quantos, anteriormente estrangeiros, foram chamados das regiões distantes da terra pelo evangelho, e assim se uniram em aliança com os judeus para estarem todos na mesma comunhão e contados igualmente como filhos de Deus. John Calvin, Daniel, Lect 52. [br]


Quando “os muitos” são todos


Sermões


1) Então, é como nosso Senhor Jesus carregou os pecados e as iniquidades de muitos. Mas, na verdade, essa palavra "muitos" é frequentemente tão boa quanto a equivalente "todos". E, de fato, nosso Senhor Jesus foi oferecido por todo o mundo. Porque não se fala de três ou quatro quando se diz: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que não poupou o seu Filho únigenito" Mas, ainda assim é preciso notar que o evangelista acrescenta nesta passagem: "para que todo aquele que Nele crê não pereça, mas obtenha a vida eterna." Nosso Senhor Jesus sofreu por todos, e não há nem grande nem pequeno que não esteja sem desculpas hoje, porque nós podemos obter salvação por meio Dele. Os incrédulos que se afastam Dele e que privam a si mesmos Dele, por sua malícia, são hoje duplamente culpados. Porque como eles desculparão sua ingratidão em não receber a bênção que poderiam partilhar pela fé? John Calvin, Sermons on Isaiah’s Prophecy of the Death and Passion of Christ, 52:12, p., 140-1.


Comentários


2) Tenho seguido a interpretação comum, que "Ele levou o pecado de muitos", embora possamos considerar sem impropriedade a palavra hebraica (rabbim) denotando "grande e nobre". E, assim, o contraste seria mais completo, que Cristo, ao ser “contado entre os transgressores", tornou-se uma garantia para cada um dos mais excelentes da terra, e sofreu no lugar daqueles que ocupam os postos mais altos no mundo. Deixo isso para o julgamento de meus leitores. Porém, eu aprovo a leitura comum, que ele suportou sozinho o castigo de muitos, porque Nele foi colocada a culpa do mundo todo. É evidente a partir de outras passagens, e especialmente do quinto capítulo da Epístola aos Romanos, que "muitos" frequentemente significa "todos". John Calvin, Isaiah 53:12.

3) "E dar a sua vida em resgate por muitos". Cristo mencionou a sua morte, como já dissemos, a fim de retirar dos seus discípulos a imaginação tola de um reino terreno. Mas essa é uma afirmação justa e apropriada do seu poder e dos resultados, quando declara que sua vida é o preço da nossa redenção, de onde resulta, que obtemos uma imerecida reconciliação com Deus, cujo preço é encontrado em nenhum outro lugar do que na morte de Cristo. Portanto, esta única palavra subverte toda a conversa desocupada dos papistas sobre suas abomináveis satisfações. Mais uma vez, enquanto Cristo nos adquiriu por Sua morte para ser sua propriedade, essa submissão, da qual fala, é tão longe de diminuir sua glória infinita, que aumenta consideravelmente o seu esplendor. A palavra "muitos" (pollon) não é colocada definitivamente para um número fixo, mas para um grande número, pois Ele se contrasta com todos os outros. E neste sentido é usado em Romanos 5:15, onde Paulo não fala de qualquer parte dos homens, mas abrange toda a raça humana. John Calvin, Matthew 20:28.

4) "Que é derramado por muitos" Pela palavra "muitos" Ele não quer dizer apenas uma parte do mundo, mas toda a raça humana, pois contrasta muitos com um, como se tivesse dito que não seria o Redentor de só um homem, mas morreria a fim de livrar muitos da condenação da maldição. No entanto, deve ser observado, ao mesmo tempo, que pelas palavras “por vós” , como relatado por Lucas, Cristo se dirige diretamente aos discípulos, e exorta cada fiél a aplicar a sua própria vantagem o derramamento do sangue. Portanto, quando nos aproximamos do mesa santa, não nos lembremos somente em geral que o mundo foi redimido pelo sangue de Cristo, mas cada um considere por si mesmo que seus pecados foram expiados.John Calvin, Mark 14:24.


5) "Suportar", ou "tirar os pecados", é livrar de culpa por sua satisfação aqueles que pecaram. Ele diz que os pecados de muitos, isto é, de todos, como em Romanos 5:15. É ainda certo que nem todos recebem o benefício da morte de Cristo, mas isso acontece, porque sua incredulidade os impede. Ao mesmo tempo, essa questão não é para ser discutido aqui, pois o apóstolo não está falando de poucos ou de muitos para os quais a morte de Cristo pode estar disponível, mas ele simplesmente quer dizer que Cristo morreu pelos outros e não para si mesmo; e, portanto, opõe muitos a um. John Calvin, Hebrews 9:28.


3.  Cristo Representa Todos os Pecadores


Sermões


1) Ele o amava, e ainda assim Sua vontade foi afligi-lo pelos nossos pecados. Porque Ele não olhou para a justiça, para a integridade e para a perfeição que estava em Jesus Cristo, mas, ao invés, o tomou como estando ali no lugar de todos os pecadores.[9] Assim, vemos que Jesus Cristo foi carregado com todos os nossos pecados e iniqüidades, não porque era culpado deles, mas porque estava disposto que eles lhe fossem imputados, e prestar contas por eles e fazer o pagamento. John Calvin, Sermons on Isaiah’s Prophecy of the Death and Passion of Christ, Sermon 3, 53:4-6, p., 70.

2) Bem, a partir desse exemplo, podemos ver como um pecado atrai outro! No entanto, quando diz que nosso Senhor Jesus Cristo suportou o pagamento dos nossos pecados, que o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, isso não apaga todas as imaginações frívolas, as quais o diabo inventou para obscurecer, e até mesmo destruir, a glória de Deus? É por isso que ele diz que nosso Senhor Jesus Cristo levou sobre Si os nossos pecados sobre o madeiro "(1Ped. 2:24). E quantos de nossos pecados? Será que isso significa apenas a culpa? De maneira nenhuma, porque a satisfação também está incluída. É por isso que, também, frequentemente é dito que o Evangelho seja "o resgate" (Rm 3:24, 1 Coríntios 1:30;. Ef 1:7;. Col. 1:14).

O que é um resgate, a não ser colocar um homem em liberdade? Suponha que eu deva essa quantia. Muito bem, aqui está o pagamento e, ao fazer isso, ele é liberado. Então, como diz o Salmo, nosso Senhor Jesus pagou as dívidas de todos os pecadores. Isto é o que eu mencionei de Isaías: Que todo o castigo foi colocado sobre ele (Isaías 53:4). Qual é o castigo, a não ser a satisfação de todos os pecados que cometemos? Esta verdade é testemunhada repetidamente nas Escrituras, que não seria o caso, se quiséssemos insistir no que os romanistas crêem. John Calvin, Sermons on 2 Samuel, 38, 12:13-14, p., 575-6.

3) Observe bem, então, que o Filho de Deus não se contentou em meramente oferecer Sua carne na completa medida para comparecer perante o tribunal de Deus, Seu Pai, no nome e na pessoa de todos os pecadores, sendo então pronto a ser condenado, uma vez que o Filho de Deus se expos a tal humilhação ...

Quando vemos isso, temos de perceber que nosso Senhor Jesus Cristo não teve companhia quando Se ofereceu como um sacrifício por nós, mas Ele sozinho completou e cumpriu o que era necessário para nossa salvação. E isso é indicado para nós mais uma vez, de uma forma melhor, quando os discípulos não conseguem ficar despertos e adormecem, embora a hora estivesse se aproximando na qual Nosso Senhor teria de sofrer pela redenção da humanidade ... Nisso nos é mostrada em uma vívida imagem que era mais necessário que o Filho de Deus levasse sobre si todos os nossos fardos, porque Ele não poderia esperar outra coisa ...

Então, quando vemos que Deus convoca todos aqueles que mereceram a condenação eterna e que são culpados do pecado e que Ele está lá para pronunciar a sentença de forma tal como eles tem merecido, quem não conceberia a medida plena de todas as mortes, dúvidas e terrores que poderiam haver em cada um? E que profundidade haveria nisso! Agora, era necessário que a nosso Senhor Jesus Cristo por si mesmo sem ajuda sustentasse tal fardo ...

Tenhamos mútua concórdia e fraternidade juntos, pois Ele sustentou e suportou a condenação que foi pronunciada por Deus Pai sobre todos nós. John Calvin, Sermons on the Deity of Christ, Sermon 3, Matt 26:36-39, pp., 52, 55, 60, and 65 .


4) É por isso que ele é tomado como um cativo, a fim de não retroceder quando sabia que tinha de realizar a responsabilidade que foi colocada sobre Ele, isto é, oferecer a Si mesmo em sacrifício para a redenção de todos nós ... Porque Jesus Cristo, após ter jejuado no deserto, foi enviado por Deus Pai para anunciar a doutrina do Evangelho ... Mas aqui há uma relação especial. É que Ele seria o Redentor do mundo. Ele seria condenado, na verdade, não por ter pregado o Evangelho, mas por nós seria oprimido, por assim dizer, nas profundezas, e sustentou a nossa causa, pois Ele estava lá, por assim dizer, na pessoa de todos aqueles malditos e de todos os transgressores, e daqueles que mereceram a morte eterna. Então, uma vez que Jesus Cristo tem esse oficio, e carrega o fardo de todos aqueles que ofenderam mortalmente a Deus, é por isso que Ele manteve o silêncio.John Calvin, Sermons on the Deity of Christ, Sermon 5, Matt 25:51-56, pp., 89 and 95.

5) Então, uma vez que esse ladrão era um homem reprovado por todos, e Deus o chamou tão abruptamente, o Senhor fez eficaz para ele Sua paixão e morte a qual Ele sofreu e suportou por toda a humanidade, tudo isso convinha mais para nos confirmar .... Mas, apesar de nosso Senhor Jesus Cristo, por natureza, experimentar a morte em horror e, certamente, foi uma coisa terrível para Ele ser encontrado diante do tribunal de Deus no nome de todos os pobres pecadores (pois Ele estava lá, como se fosse, tendo de sustentar todos os nossos fardos), no entanto, Ele não falhou em se humilhar a tal condenação por nossa causa ...John Calvin, Sermons on the Deity of Christ, Sermon 9, Matt 27:45-54, pp., 151, and 155-156.

6) Mas temos que salientar que, uma vez que nosso Senhor Jesus Cristo foi formado da semente de Abraão para realizar as coisas que foram prometidas, sim, e que não poderia ser o mediador entre Deus e nós, a menos que fosse da nossa natureza , pois Ele não poderia ter expiado pelas ofensas, pelas quais somos obrigados a condenação eterna, a menos que tivesse se vestido com nosso corpo, e tinha uma alma, a fim de se apresentar na pessoa de todos os homens, e assim era necessário que nosso Senhor Jesus Cristo fosse da carne de nosso corpo. Daí podemos dizer que Ele é de nossos ossos e da nossa carne. E por quê? Ele descende da raça de Adão, como eu disse antes. John Calvin, Sermon on Ephesians, Sermon 41, 5:28-30, p., 600.


Comentários


7) Agora, apesar de que o Filho de Deus não fosse apenas puro, mas a pureza em si, ainda era o representante da raça humana, Ele se submeteu à Lei, e (como ensina Paulo) se submeteu à Lei " para redimir os que estavam sob a Lei". (Gálatas 3:13 e 4:5.) John Calvin, Leviticus 12:2.

8) Está escrito: “Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro”. Agora, Cristo foi pendurado na cruz, portanto a maldição se abateu sobre Ele. Mas é certo que não sofreu essa punição por sua própria causa. Portanto, disso se segue que ou Ele foi crucificado em vão, ou a nossa maldição foi lançada sobre Ele, para que nós possamos ser livres dela. Agora, ele não diz que Cristo foi amaldiçoado, mas o que é ainda pior, que Ele era uma maldição - sugerindo que a maldição "de todos os homens foi colocada sobre ele" (Isaías 53:6). Se alguém acha essa linguagem dura, deixe-o ter vergonha da cruz de Cristo na confissão na qual nós temos por gloriosa. Não era desconhecido a a Deus qual morte Seu próprio Filho morreria, quando Ele pronunciou a Lei "aquele que for pendurado é maldito de Deus." (Deuteronômio 21:23)..

Mas como isso acontece, ele perguntaria, porque um Filho amado é amaldiçoado por seu Pai? Nós respondemos: Há duas coisas que devem ser considerados, não só na pessoa de Cristo, mas também na sua natureza humana. A primeira é que Ele era o Cordeiro imaculado de Deus, cheio de bênção e de graça, a outra é que Ele se colocou em nosso lugar, e assim se tornou um pecador, sujeito à maldição, e não por si mesmo, de fato, mas por nós, ainda assim de uma tal maneira, que se tornou necessário para Ele ocupar o nosso lugar. Ele não poderia deixar de ser o objeto do amor do Pai, e ainda assim enfrentou a Sua ira. Porque como Ele poderia reconciliar o Pai a nós, se tivesse incorrido em Sua ira e desprazer? John Calvin, Galatians 3:13. [br]


4.  Sofreu por Todos


Sermões


1) Deus governa de tal maneira a Sua providência secreta, que Jesus Cristo foi amaldiçoado quando foi pendurado na cruz, de acordo com o que havia falado Dele anteriormente. E esse é o significado de São Paulo (Gl 3:13). Porque ao nos dizer que nós fomos colocados livres da maldição da Lei, ele diz que nosso Senhor Jesus revelou isso em Seu corpo por ser pendurado no madeiro. São Pedro também quer dizer a mesma coisa quando diz que Ele carregou nossos pecados sobre o madeiro (1 Pe 2:24). E de outra forma essa declaração do profeta Isaías não teria sido cumprida: “que o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele” (Is 53:5), assim como Ele foi de boa vontade suportar a nossa punição, pela qual podemos ser reconciliados a Deus. E no texto citado que extrai de Gálatas, São Paulo trata de duas coisas. Ele diz que como nós não podemos alcançar a justiça, a não ser pelo cumprimento da lei em todos os pontos, …., convinha que o nosso Senhor Jesus Cristo se sujeitasse à Lei, com a intenção de que sua obediência pudesse ser imputada a nós, e Deus a aceitasse como se nós trouxemos a nossa própria obediência ...

Quem é capaz de se apresentar diante do Teu trono de juízo? Necessariamente devem todos os homens ser envergonhados, e não por alguns pecados, mas por uma série de atos perversos nós seriamos envergonhados, se Deus entrasse em juízo conosco. Então nós estaríamos perdidos e condenados com relação à Lei. Não haveria mais remédio. “Maldito será o que não fizer todas essas coisas”. Infelizmente nunca seremos capazes de fazer a centésima parte delas ... Você pode ver que nós estamos perdidos e sem esperança de recuperação, a não ser que a maldição seja abolida. E isso foi feito na pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo, que cumpriu toda a justiça, assim como também recebeu em Si a maldição que pesava sobre nossas cabeças, a qual Ele suportou na Sua pessoa, com a intenção de, doravante, nós fossemos libertos dela. E como? Porque Ele não foi pendurado no madeiro sem a providência de Deus, seu Pai. Nesse ponto nós devemos voltar sempre nossos olhos para trás...

Não obstante, como Deus deu o seu Filho à morte, como atesta as Sagradas Escrituras, porque Ele amou o mundo de tal maneira que não poupou o seu Filho únigenito, mas o entregou à morte por nós. Fiquemos certos de que Deus quis mostrar para nós, que Ele levou sobre Si a maldição devida a nós, assim como as coisas que nós merecemos foram colocadas sobre a pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, quando vemos Jesus Cristo pendurado no madeiro, nós sabemos que Ele tomou nossa escravidão sobre Si, com a intenção de que não sejamos mais sujeitos à maldição da Lei, mas livres, e de que essa ameaça não tenha mais lugar para nos condenar, “Maldito seja aquele que não cumprir todas essas coisas”. Por que? Quando fugimos para o refúgio da paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, nossos pecados são apagados, Deus não os coloca mais como nossa carga, e eles são completamente limpos e aniquilados. E por que assim? Porque a maldição não se encontra mais sobre os transgressores, quando eles confiam e descansam sobre a satisfação que foi oferecida a Deus o Pai, por aquele que foi ordenado para esse ofício ...

Isso foi profetizado a respeito do redentor do mundo, o qual tinha sido prometido …

Mas foi Jesus Cristo pendurado no madeiro? São Paulo diz que ao fazer isso, Ele tomou sobre Si o título de divida que era contra nós (Cl 2:14), isto é, todas as coisas nas quais a Lei nos confinava, todos os grilhões, todas as condenações, todas as sentenças que serviam para nos deixar envergonhados e expor nossa luxúria. Todas essas tomou sobre Si, e as cancelou, como se um homem tomasse um documento e o rasgasse em pedaços, de modo a torná-lo de nenhuma força por desfigurá-lo, e assim fez nosso Senhor Jesus Cristo para conosco ...

Além disso, salientemos também, que, não obstante Ele ser amaldiçoado diante de Deus, ainda assim não cessou de ser o bem-amado Filho de Deus, em conformidade com esta palavra proferida pelo próprio Pai celeste: “Este é o meu Filho muito amado em quem me comprazo ( Mateus 3:17), e em quem Eu sou pacificado.” ...Como é então que Jesus Cristo foi amaldiçoado, visto que o Pai foi pacificado por Ele? E Ele não alcançou satisfação somente para Si mesmo, mas também foi o meio para reconciliar o mundo todo. John Calvin, Sermons on Deuteronomy, Sermon 124, 20:22-23, pp., 763, 764 and 765.

2) Apesar de nós seguirmos para a morte, e termos sempre um pé na sepultura, ainda assim nós sabemos que Deus estendeu a mão para nos tirar dali. Pois, para qual fim Jesus Cristo veio ao mundo? Sim, por que foi para o inferno, isto é, porque sofreu as angústias que eram devidas a todos os miseráveis pecadores, a não ser para nos livrar delas?

Assim, se os homens não podem agora conceber uma boa esperança de ser consolados na morte, é como se eles negassem que nosso Senhor Jesus Cristo sofreu em Sua pessoa. Pois, considerando que o Filho de Deus humilhou a Si mesmo, de forma a estar sujeito a nossa maldição, e sentir a mão de Deus contra Ele, isso aconteceu visando nos livrar da morte, e nos assegurar aquela vitória que Ele adquiriu para nós. Visto que Ele tem poder sobre a morte, tenhamos Sua ressurreição sempre diante dos nossos olhos, e nos asseguremos de que Deus tem estendido Sua mão forte e vitoriosa para nos libertar da escravidão de Satanás. John Calvin, Sermons on Job, Sermon 110, 30:21-31, p., 518-9.

3) E novamente, não tem o nosso Senhor Jesus Cristo redimido a alma dos homens: é verdade que o efeito de sua morte não vem ao mundo todo: No entanto, na medida que não está em nós, também, discernir entre os justos e os pecadores que vão para a destruição, mas que Jesus Cristo sofreu a sua paixão e morte tanto por eles quanto por nós: portanto, cabe a nós trabalhar para trazer todos os homens para a salvação para que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja disponibilizada para eles. John Calvin, Sermons on Job, Sermon 116 31: 29-32., p., 548.10

4)Assim também, quando é dito nas Sagradas Escrituras, (1 Timóteo 1:15) que esta é uma afirmação verdadeira e inquestionável “que Deus enviou o seu Filho unigênito, para salvar todos os miseráveis pecadores”: nós devemos, digo eu, incluir dentro dessa mesma categoria que cada um de nós aplique o mesmo particularmente a si, quando ouvimos essa sentença geral, que “Deus é misericordioso”.

Já ouvimos isto? Então, podemos ousadamente convidá-lo, e até mesmo dizer: “Embora eu seja uma criatura miserável e perdida, uma vez que é dito que Deus é misericordioso para com aqueles que o ofenderam, eu vou correr até ele e até à sua misericórdia, rogando-lhe que Ele venha a me fazer sentir isso. E uma vez que é dito: “Que Deus amou o mundo de tal maneira, que não poupou seu Filho unigênito, mas o entregou à morte por nós. (João 3:16; Romanos 8:32). ...Porque é muito necessário, que Jesus Cristo me arranque da condenação, no ponto onde eu estou. Uma vez que isso é assim, que o amor e a bondade de Deus são declarados ao mundo, em Cristo Jesus ter sofrido a morte, eu devo, pessoalmente, me apropriar disso, para que eu possa saber que é para mim, que Deus falou que Ele queria que eu tomasse posse de tal graça, e dela me alegrar.

Vemos agora, como devemos praticar esta sentença, para que possamos dizer a Deus: “Pensa sobre o teu servo, ó Senhor, segundo a Tua palavra”. Se alguém quiser replicar, que não pode ser dito que Deus falou com ele, quando falou com todos em geral, então, deixe-nos considerar que Deus ofereceu a sua graça aos homens em comum, a fim de que cada homem possa, posteriormente, entrar nela por si mesmo, e não duvidar de ser um membro da igreja, mas que tem uma parte e porção daquilo que é comum a todos os fiéis. Sermons on Psalm 19, Sermon 7, 119:49-55, pp 133-134.


Comentários


5) Ele faz esse favor comum a todos, porque é proposto a todos, e não porque, na realidade, é estendido a todos, pois embora Cristo tenha sofrido pelos pecados do mundo todo, e é oferecido pela benignidade de Deus indiscriminadamente a todos, ainda assim nem todos o recebem. John Calvin. Romans 5:18. [br]

6) "Que me amou". Isso é adicionado para expressar o poder da fé, porque imediatamente ocorreria a qualquer um: “De onde a fé deriva tal poder para transmitir em nossas almas a vida de Cristo?” Ele nos informa, portanto, que o amor de Cristo, e Sua morte, são os objetos sobre os quais repousa a fé; pois é desta forma que o efeito da fé deve ser julgado. Como vem a ser isso que nós vivemos pela fé em Cristo? Porque "Ele nos amou e se entregou por nós." O amor de Cristo o levou a Se unir a nós, e Ele completou a união por Sua morte. Ao dar a Si mesmo por nós, Ele sofreu na nossa própria pessoa; assim, por outro lado, a fé nos faz participantes de cada coisa que se encontra em Cristo.

A menção do amor está em conformidade com o que disse o apóstolo João: "Não fomos nós que amamos a Deus, mas Ele antecipou-nos pelo seu amor." (1 João 4:10). Porque, se qualquer mérito de nossa parte o tivesse movido para nos redimir, essa razão teria sido declarada, mas agora Paulo atribui tudo ao amor. É, portanto, de livre graça. Observemos a ordem: "Ele nos amou e Se entregou por nós". É como se tivesse dito: "Ele não tinha outra razão para morrer, a não ser porque nos amou" e isso "quando éramos inimigos" ( Romanos 5:10), como argumenta em outra epístola. “Ele se entregou”. Não há palavras para expressar adequadamente o que isso significa. Pois, quem pode achar uma linguagem para declarar a excelência do Filho de Deus? No entanto, Ele é quem Se entregou como um preço pela nossa redenção. Expiação [20], a purificação, a satisfação e todos os benefícios que derivam da morte de Cristo, são aqui representados. As palavras pra mim, são muito enfáticas. Não seria suficiente para qualquer homem contemplar Cristo como tendo morrido pela salvação do mundo, a menos que tenha experimentado as conseqüências dessa morte, e esteja capacitado para tomá-la como sua.

Notas de rodapé do Tradutor:
“Car cene seroit point assez de considerer que Christ est mort pour le salut du monde, si avec cela un chaeun n’applique particulierement a sa personne l’efficace et jouissance de ceste grace.” “Porque não seria suficiente considerar que Cristo morreu pela salvação do mundo, a menos que cada individuo especialmente aplique a sua própria pessoa a eficácia e gozo dessa graça.” John Calvin, Galatians 2:20. [br]

7) Aqui uma questão pode ser levantada: Como é que os pecados do mundo todo foram expiados? Eu passo pelas senilidades dos fanáticos, que sob este pretexto estendem a salvação a todos, e, por conseguinte, ao próprio Satanás. Uma coisa tão monstruosa não merece contestação. Aqueles que buscam evitar esse absurdo tem dito que Cristo sofreu suficientemente pelo mundo todo, mas eficientemente somente pelos eleitos. Essa solução tem prevalecido comumente nas escolas. Então, eu concedo que o que tem sido dito é verdade, mas eu nego que iso é adequado para esta passagem; poois o desiginio de João não era outro senão fazer este benefício comum a toda a Igreja. Então, sob a palavra “todo”, ele não inclui os réprobos, mas designa aqueles que creriam, assim como aqueles que estavam, então, dispersos por várias partes do mundo. Pois, então, é realmente feito evidente a graça de Cristo, quando ela é declarada ser a única verdadeira salvação do mundo. John Calvin, 1 John 2:2.


Institutas


8) Por exemplo, suponha que alguém tenha dito: "Se Deus te odiava quando você ainda era um pecador, e o rejeitou como você merecia, uma terrível destruição estará esperando você. Mas, como Ele o manteve na graça, voluntariamente, e de seu próprio livre favor, e não permitiu que você fosse alienado Dele, assim, Ele o livrou desse perigo."

Esse homem, então certamente experimentará e sentirá que ele deve algo a misericórdia de Deus. Por outro lado, suponha que ele aprenda, como a Escritura ensina, que estava afastado de Deus pelo pecado, que é um herdeiro da ira, sujeito à maldição da morte eterna, excluído de toda a esperança da salvação (além de todas as bênçãos de Deus), escravo de Satanás, cativo sob o jugo do pecado, destinado, finalmente, a uma destruição terrível e já envolvido nela, e que neste momento Cristo intercedeu como seu advogado, tomou sobre Si e sofreu o castigo com o qual, o justo juízo de Deus, ameaçou todos os pecadores; [11] que purificou com Seu sangue esses males que haviam tornado os pecadores odiosos a Deus, que por essa expiação fez a devida satisfação e sacrifício a Deus Pai, que como intercessor apaziguou a ira de Deus, que sobre este fundamento repousa a paz de Deus com os homens e que por este vínculo é mantido a sua benevolência para com eles. Será que o homem não seria mais movido por todas essas coisas que tão vividamente retratam a grandeza da calamidade da qual foi resgatado? John Calvin, Institutes, 2.16.2. [br]

9) Como devemos fazer para receber esses benefícios que o Pai concedeu ao Seu Filho unigênito, não para uso privado de Cristo, mas para que possa enriquecer os pobres e necessitados homens? Primeiro, devemos entender que, enquanto Cristo permanece fora de nós, e nós estamos separados Dele, tudo o que Ele sofreu e fez para a salvação da raça humana permanece inútil e sem valor para nós. John Calvin, Institutes 3.1.1. [br]


5. Cristo, o Cabeça de Toda a Humanidade


Sermões


1) É verdade que os anjos sabiam muito bem que Jesus Cristo era o cabeça de toda a humanidade, mas como isso viria a acontecer, quando ou por quais meios, estava escondido deles. John Calvin, Sermons on Ephesians, Sermon 18, 3:-12, p., 264


2) Parece que São Paulo queria fazer de Jesus Cristo, por assim dizer, a raiz da humanidade, de modo que nós seriamos seus descendentes, pois ele fala de nós, como sua raça. Mas temos que salientar que nosso Senhor Jesus Cristo foi formado da semente de Abraão para realizar as coisas que foram prometidas, sim, e que Ele não poderia ser o mediador entre Deus e nós, a menos que tivesse sido de nossa natureza, porque Ele não poderia ter expiado pelas transgressões pelas quais somos obrigados a condenação sem fim, a menos que tivesse se vestido com nosso corpo, e também tivesse uma alma, a fim de se apresentar na pessoa de todos os homens, de forma que era necessário que o nosso Senhor Jesus Cristo fosse da nossa carne. John Calvin, Sermons on Ephesians, Sermon 41, 5:28-30, pp., 600-1.



6. Almas Redimidas Perecendo e Redenção Anulada


Sermões


2) Contemple que o nosso Senhor Jesus Cristo, o Senhor da glória, humilhou a Si mesmo por um tempo, como diz S. Paulo. ...sendo Ele a fonte da vida, tornou-se um homem mortal, e que tendo domínio sobre os anjos do céu, tomou para Si a forma de um servo, e de fato, até mesmo derramou Seu sangue por nossa redenção, visando sofrer a maldição que era devida a nós (Gl 3:13). É conveniente que, não obstante tudo isso, Ele nos dia de hoje, em recompensa, seja rasgado em pedaços pelas bocas fétidas daqueles que nomeiam a si mesmos de cristãos?

Pois quando juram pelo Seu sangue, por Sua morte, por Suas feridas e por qualquer outra coisa Dele, isso não é crucificar o filho de Deus novamente, tanto quanto podem, e não é como se o estivessem rasgando em pedaços? E não são tais pessoas dignas de serem cortadas da Igreja de Deus, sim, e até mesmo do mundo, e não serem mais contados dentre as Suas criaturas? Se o nosso Senhor Jesus tem tal recompensa vinda de nós, porque se rebaixar e se humilhar dessa maneira?

Deus ao censurar Seu povo diz: "Meu povo, o que Eu fiz para vocês? Eu os tirei do Egito, guiei vocês com toda mansidão e bondade, Eu os plantei como se fossem minha própria herança, com a intenção de que vocês fossem uma vinha que desse bons frutos, e Eu a preparei e adubei e agora és amarga para mim, e além disso geras espinhos para me sufocar? O mesmo cabe a nós neste dia. Pois quando o filho de Deus, que é designado ser o juiz do mundo (João 5:22), vier no último dia e  também nos dizer: “Como agora 
senhores?”

Vocês carregaram meu nome, vocês foram batizados em memória de mim e do registro de que Eu fui seu Redentor, Eu tirei vocês para fora das masmorras na qual vocês estavam, Eu livrei vocês da morte eterna por sofrer a mais cruel morte, e pelo mesmo motivo me tornei homem, e me submeti até à maldição de Deus, meu Pai, para que vocês pudessem ser abençoados por minha graça e por meus meios; e eis a recompensa que vocês tem me dado por tudo isso: vocês tem me rasgado em pedaços e feito de mim objeto de ridiculo, e tem feito da morte que sofri por vocês uma piada no vosso meio, o sangue que é a purificação e a limpeza de suas almas tem sido bom para ser pisado sob seus pés, e para ser breve, vocês tem tomado ocasião para me maldizer e me blasfemar, como se Eu tivesse sido uma criatura miserável e amaldiçoada.” Quando o juiz soberano nos cobrar com essas coisas, eu vos pergunto, não será tão estrondoso sobre nós para nos lançar ao fundo do inferno? Sim, e ainda assim há poucos que pensam sobre isso. John Calvin, Sermons on Deuteronomy, Sermon 33, 5:11, p., 196.

3)Agora, se for demandado aqui, que não é licito estar conversando com os impios e perversos para ganhá-los, eu respondo: Sim, certamente, até que um homem os encontre para aplicar o remédio.  Porque abandonar um homem no primeiro choque, quando ele agiu errado, ou quando parece que está na na estrada para a destruição, é uma promoção da destruição da miserável alma que foi redimida pelo sangue de nosso Senhor Jesus Cristo. John Calvin, Sermons on Deuteronomy, Sermon 119, 20:16-20, p., 731.

4)É verdade que São João diz geralmente que Ele amou o mundo. E por quê? Porque Jesus Cristo se oferece a todos os homens, sem exceção, para ser seu Redentor. Isso é dito, depois no Pacto, que Deus amou o mundo quando Ele enviou seu único filho, mas Ele nos amou, nós (eu digo) que fomos ensinados por seu Evangelho, porque Ele nos reuniu a Ele.

E os fiéis que são iluminados pelo Espírito Santo, tem ainda um terceiro uso do amor de Deus, o qual é que Ele se revela mais familiarmente a eles, e sela sua adoção paterna, pelo seu Espírito Santo, e grava isso em seus corações. Agora, então, vamos, em todos os casos, aprender a conhecer esse amor de Deus, e quando chegarmos lá, não vamos ir além.

Assim, vemos três graus do amor de Deus, como nos demonstrou em nosso Senhor Jesus Cristo. O primeiro diz respeito ao resgate que foi comprado na pessoa daquele que deu a si mesmo à morte por nós, e se tornou maldito para nos reconciliar com Deus, seu Pai. Esse é o primeiro grau do amor, que se estende a todos os homens, na medida em que Jesus Cristo estende seus braços para chamar e atrair todos os homens, tanto os grandes quanto os pequenos, e ganhá-los para Ele.

Mas existe um amor especial por aqueles a quem é o pregado o evangelho, pelo qual Deus testifica a eles que quer fazê-los participantes daquele beneficio que foi comprado para eles pela paixão e morte de Seu filho.

E tendo em vista que somos desse número, portanto, nós estamos, já, duplamente obrigados a nosso Deus: aqui são dois laços que nos mantem, por assim dizer, ligados a Ele

Agora vamos para o terceiro laço, que depende do terceiro amor que Deus nos demonstra: o qual é que Ele não só faz com que o evangelho seja pregado a nós, mas também nos faz sentir o seu poder, pelo qual [nos faz] não duvidar que nossos pecados foram perdoados por causa do nosso Senhor Jesus Cristo ...Calvin, Sermons on Deuteronomy, Sermon, 28, 4:36-38, p., 167 .

5) Novamente, em geral, se eu ver meu próximo se extraviar e rumar para a destruição, eu devo recuperá-lo, em conformidade com São Tiago que nos adverte dizendo: "Se algum de vocês trouxer de volta o seu próximo, quando ele se perdeu, ao caminho correto, terá ganhado uma alma para Deus” (Tiago 5:19). Agora, se nosso Senhor estende o Seu amor até para bois e burros, o que devemos fazer para aqueles a quem criou a Sua própria imagem, e que são como nós, e com quem estamos ligados por um tipo de fraternidade, não somente em relação aos nossos corpos, mas também em relação às nossas almas? Nós devemos vê-los se desviar e ir para a destruição, e não estender nossas mãos nem nos esforçar para trazê-los de volta à salvação? Portanto, quando vemos as almas dos homens em perigo de serem perdidas, aprendamos a recuperá-las, e vamos nos aplicar nisso tanto quanto pudermos ... Veja, Deus nos diz que pertencemos a Ele, e que nós somos Sua herança. Agora, se um pobre homem se extraviar como um animal que se perdeu, eu vou deixar que Deus sofra a diminuição do Seu direito, ou que Ele tenha suas propriedades diminuidas? Verdade é, que não podemos enriquecê-lo, mas ainda assim Ele mostra quão custoso Ele nos amou, em que Ele nos comprou com o sangue de nosso Senhor Jesus Cristo. Eu vejo a propriedade de Deus ir para a destruição e não faço nada a respeito, e assim ela é perdida Dele por meio de minha própria negligência. Como eu posso me desculpar? John Calvin, Sermons on Deuteronomy, Sermon 125, 22:1-4, p., 768-9.

6) Mas se eu fizer meu próximo tropeçar, não só para quebrar seu braço ou sua perna, ou mesmo seu pescoço, mas também para a destruição de sua alma, que coisa é essa? Pois vemos que as pedras de tropeço colocadas pelos homens servem para a completa derrubada e destruição de almas tolas que foram compradas pelo sangue de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, quando os homens acarretam problemas e tropeços na Igreja, eles não fazem as coisas que Deus começou a edificar irem para a destruição? Portanto, olhemos para nós mesmos e consideremos que Deus tem tal cuidado de nossas pessoas, para que cada [um] de nós siga seu exemplo. Se, de antemão, nós providenciarmos que nenhum mal aconteça com os corpos dos homens, teremos suas almas em muito maior consideração. John Calvin, Sermons on Deuteronomy, Sermon 126, 22:5-8, p., 777.

7) E assim, os homens roubam a si mesmos se afastando de Deus e de Sua igreja. Eles fazem comércio e venda de suas próprias almas, como se fosse por um prato de sopa, como é dito de Esaú (Gen 25:32), isto é, pelo alimento terrestre eles se vendem e se tornam escravos de Satanás . E assim vemos que esta lei é hoje muito mal conservada, e, portanto, devemos muito mais notar a intenção e o sentido de Deus, a fim de que cada um dos muitos a quem Deus graciosamente concedeu a graça de reunir no número de Seu povo, possa se manter entre eles: e a fim de melhor manter a liberdade que temos, consideremos (como diz São Paulo) quão dispendiosa ela foi ao Filho de Deus (Rm 6:17 e 1 Coríntios 7: 23):

Não entremos novamente no cativeiro de Satanás e do pecado, visto que fomos libertados dali pelo sangue do Filho únigenito de Deus, mas andemos de acordo com esse privilégio que Deus nos deu, e nos agarremos a essa possessão enquanto vivemos. E quando cada [um] de nós tiver tal consideração de si mesmo, façamos o mesmo para evitar que todos os nossos irmãos, a quem Deus uniu a nós, não se apartem da Sua casa. Empreguemos todos os nossos esforços para que cada [um] de nós possa manter seu estado, para que ninguém possa ser diminuído, para que ninguém se perca ou se extravie. E mais, tenhamos medo de fazer comércio daquelas almas que foram redimidas por nosso Senhor Jesus Cristo, que custaram um preço tão alto, e não busquemos a nossa própria comodidade em nome do que, como nós vemos, muitos, miseravelmente, se entregam a este ponto, e assim que encontram refeição mais gorda,  não se importam nem um pouco se permanecem na Igreja de Deus, ou não. John Calvin, Sermons on Deuteronomy, Sermon 138, 24:7-8, p., 847.

8) E assim, a seguir, onde é dito “é aquele que te criou e te formou”, é porque é um mais excelente dom, a saber, que Deus grava essa marca sobre nós, como quem diz que seriamos reconhecidos como seus filhos, assim como nos reúne a Ele, e nos faz novas criaturas; em virtude do que o pecado se torna mais hediondo, se nós desfigurarmos o mesmo novamente, e cairmos para nos chafurdar novamente na imundície da impureza do mundo...

Pois temos a própria garantia em si, a qual os judeus não tinham, a saber, o nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é o Filho Unigênito de Deus, e chegou até nós do seio do Pai. Ele nos tem fornecido registro da nossa adoção.  A porta do paraíso agora está aberta para nós.  Podemos agora não apenas invocar a Deus como nosso Pai, mas também chamar-Lhe com a boca cheia "Abba Pai", pois essa é a palavra que São Paulo usa expressamente.

...Novamente, Ele não nos adquiriu para Si mesmo? Se ele possuia o povo antigo, porque os tirou da terra do Egito, vejamos quanto mais Ele fez agora por nós do que por eles.

Verdade é que a redenção dos judeus foi pelo poder da morte e paixão de nosso Senhor Jesus Cristo, mas isso ainda não havia sido declarado a eles, e estes tinham apenas as figuras e as sombras da mesma. Mas  agora vemos que o sangue de nosso Senhor Jesus Cristo foi derramado para a nossa redenção, e para a aquisição da nossa salvação. E nós , agora, iremos pisar com os pés o sangue santo, pelo qual a aliança do parentesco espiritual, a qual Deus entrou conosco, é ratificado e confirmado? E assim tocante a Lei, como o apóstolo fala dela na epístola aos Hebreus? Assim como muitos (diz ele) violaram o tabernáculo, que foi feito por Moisés, não foram poupados - sua falha foi imperdoável (Hb 2:3) - e o que será de nós hoje em dia?

Não é nossa perversidade muito mais vergonhosa? Portanto, agora, tenhamos em mente que nós somos precisosa possessão de Deus, com a intenção de não nos entregarmos a Satanás. Além disso entendamos, depois, de que maneira Ele nos criou e nos formou, e não recusemos essa graça, mas, uma vez, que Ele tem concedido nos reformar, não maculemos a nós mesmos com a vergonha, indo ao ponto de desfigurar a imagem e feitura que Ele tem colocado em nós. John Calvin Sermons on Deuteronomy, Sermon 179, 32:5-7, p., 1114.


10) Uma vez mais, quando vemos um homem açoitado na mão de Deus, não consideremos apenas que ele foi criado à imagem de Deus, mas também que ele é nosso próximo, e, de toda maneira, um conosco. Nós somos todos de uma só natureza, todos de uma só carne, todos de uma só humanidade, de modo que pode ser dito que nós todos provemos de uma mesma fonte. Uma vez que isso é assim, não deveríamos ter consideração um pelos outros? Além disso, [ao] ver uma uma pobre alma indo para a destruição, eu não deveria ter piedade dela para ajudá-la se isso estiver em meu poder?

E mesmo que eu não seja capaz, ainda assim deveria estar desolado por isso. Estas (eu digo) são as duas razões que deveriam nos levar à piedade quando nós vemos Deus afligir os que são dignos disso.Então nós refletiremos , naturalmente, se necessitamos ser cruéis e obtusos, ou então, consideraremos assim “Eis um homem que é criado à imagem de Deus. Ele é da mesma natureza que eu sou” e novamente “Eis uma alma que foi comprada com o sangue do Filho de Deus, se a mesma perecer não devemos ficar entristecidos?”. John Calvin, Sermons on Job, Sermon, 71, 19:17-25, p., 333


7. O Redentor e a Redenção do Mundo: Comentários Gerais [tradução em andamento]


8. Reconciliação como Realizada [tradução em andamento]


9. Reconciliação como Processo [tradução em andamento]


10.Salvador do Mundo [tradução em andamento]


11.Cristo Busca a Salvação do Mundo e dos Réprobos


Sermões


1) "Aqui Pedro faz uma menção especial ao sumo sacerdote. Ele menciona toda a família sacerdotal; menciona os anciãos do povo, os escribas e os governantes, como se dissesse: "Estes são todos aqueles que têm autoridade espiritual da igreja, os quais são inimigos e adversários de Deus." É verdade que Pedro faz bem em usar esses títulos honráveis no início, ao chamá-los de "governantes do povo e anciãos de Israel", mas, em seguida, acrescenta: 'Vocês são inimigos de Deus, vocês que crucificaram o autor da vida, vocês que rejeitaram a salvação do mundo, vocês que fizeram tudo que podiam para impedir o avanço do reino de Deus". John Calvin, Sermons on Acts 1-7, Sermon 10, Acts 4:5-12, p., 132.

2) "Lucas também adiciona que eles tomaram conselho de como poderiam matar os apóstolos. Essa é a ingratidão que os incrédulos oferecem a quem leva o evangelho a eles. Quando os servos de Deus proclamam que o Filho de Deus veio ao mundo para trazer a salvação a todos os homens, os homens são tão ingratos que rangem os dentes contra o ensino e tentam matar aqueles que buscam ajudá-los dessa forma". John Calvin, Sermons on Acts 1-7, Sermon 21, Acts 5:33-35, 38-39, p., 277.

3) "Assim, pois, nós não só tomamos posse da bondade de Deus para nos fazer felizes, no tocante a vida eterna, que ainda está oculta de nós, apesar de esperarmos por ela, mas também no que se refere a todos os benefícios que nós recebemos diariamente Dele. Nisso demonstra que nos fará sentir que Ele não nos fez seus filhos em vão. Essa é suma do que devemos ter em mente.

Agora é dito que “o monte de Sião é a alegria de toda a terra" Ele confirma de modo muito melhor o que já expôs: Pois, sem essa palavra um homem poderia dizer que o profeta falava de uma única cidade e que isso não se refere em nada a nós. Mas ele diz que é a alegria de todo o mundo, porque essa doutrina de salvação que Deus tinha posto ali como na responsabilidade deles por um tempo, seria pregada e anunciada em todo o mundo.

E, de fato, nós temos onde nos alegrar em abundância vendo Deus quebrando o muro que era a divisão entre os judeus e nós, que eramos pagãos. Pois antes disso, nós eramos excluídos de todas as promessas, mas Jesus Cristo se manifestou e disse que não veio somente para os filhos que descendem de Abraão, mas para todos os povos e nações, como é dito no outro Salmo:

"Deus reina para que outros países distantes se alegrem" . Vendo, então, que isso foi feito, para que não houvesse apenas um punhado de pessoas adorando a Deus sob a lei e os profetas: somos participantes desse benefício, e da mesma felicidade inestimável, quando é dito que o monte de Sião é a alegria de toda a terra. E isto é porque também nos demonstrou o profeta Isaías, que a lei deve vir dali.

E no Salmo 110, que Deus estendeu o seu cetro até aos últimos confins da terra, e para os países distantes. Para ser breve: Deus foi chamado e conhecido em todo o mundo. Mas ainda assim a raiz e o principio veio do templo, e a esperança de nossa salvação". John Calvin, Three Notable sermons made by the godly and famous Clerke Maister John Caluyn, on three seueral Sondayes in Maye, the year 1561 upon Psalm 46, (Printed at London by Rouland Hall, dwellinge in Gutter Lane, at the sygn of the halfe Egle and the Keye, 1562), 3rd sermon. [No pagination, page manually numbered from third sermon: 12-14.]


Comentários


3) "Não foi sem espanto que eles ouviram que aqueles que eram naquele momento estranhos, seriam cidadãos e herdeiros do reino de Deus; e não somente isso, mas que o pacto de salvação seria imediatamente proclamado, para o mundo todo pudesse ser unido no corpo da Igreja". John Calvin, Matthew 8:11.

4) “Mas ide antes às ovelhas perdidas”. "A classificação em primeiro lugar, como já dissemos, é designada aos judeus, porque eles eram o primogênito, ou melhor, porque naquela época só eles eram reconhecidos por Deus como pertencendo à sua família, enquanto outros foram excluídos. Ele os chama de ovelhas perdidas, em parte, porque os apóstolos, movidos pela compaixão, poderiam mais facilmente e com mais calorosa afeição dar sua assistência, e, em parte, para informá-los de que existe, no presente, abundante ocasião para seu trabalho

Ao mesmo tempo, sob a figura dessa nação, Cristo ensinou qual é a condição de toda a raça humana. Os judeus, que estavam próximos a Deus, em aliança com Ele, e, portanto, eram os herdeiros legais da vida eterna, são pronunciados, no entanto, estarem perdidos, até que recuperem a salvação por meio de Cristo. Então, o que resta para nós, que somos inferiores a eles em honra?

Novamente, a palavra “ovelhas” é aplicada até mesmo para os réprobos, que, propriamente falando não pertencem ao rebanho de Deus, porque a adoção se estende a toda a nação; assim aqueles que mereciam ser rejeitados, por conta de sua traição, são em outros lugares chamados filhos do reino Mateus 8:12.) Em resumo: pelo termo “ovelhas” Cristo recomenda os judeus aos apóstolos, para que eles possam dedicar seu labor a eles, porque eles não poderiam reconhecer ninguém como rebanho de Deus, a não ser aqueles que foram recolhidos ao aprisco". John Calvin Matthew 10:6.

5) “Para as ovelhas perdidas da casa de Israel”. "Ele dá a denominação de ovelhas da casa de Israel não somente para os eleitos, mas para todos aqueles que eram descendentes dos santos pais; porque o Senhor incluiu todos no pacto, e foi prometido indiscriminadamente a todos como um Redentor, assim Ele também se revelou e se ofereceu a todos sem exceção. É digno de observação, que Ele se declara ter sido enviado para as ovelhas PERDIDAS, de modo que Ele nos assegura, em outra passagem que veio salvar o que estava perdido (Mateus 18:11). Agora, como nós desfrutamos desse favor, nos dias de hoje, em comum com os judeus, nós aprendemos qual é a nossa condição até que Ele surja como nosso Salvador". John Calvin Matthew 15:24.

7) "A simples menção do sepultamento deveria ter amolecido um coração de ferro, porque disso teria sido fácil inferir que Cristo se ofereceu como um sacrifício para a salvação da raça humana". John Calvin, Matthew 26:14

8) "O erro de Simão reside apenas nisto: Ao não considerar que Cristo veio salvar o que estava perdido, ele conclui precipitadamente que Cristo não faz distinção entre os dignos e os indignos. Para que não compartilhemos dessa antipatia, aprendamos, primeiro, que Cristo foi dado como um Libertador para os homens miseráveis e perdidos, e para restaurá-los da morte para a vida".

Nota do tradutor [da fonte original]:

“Que Christ a este donne pour liberateur au genre humain, miserable et perdu;” - que Cristo foi dado como um libertador para a raça humana, miserável e perdida " John Calvin, Luke 7:36.


9) "E chorou sobre ela." "Como não havia nada mais que Cristo desejasse ardentemente do que executar o ofício que o Pai lhe havia confiado, e como Ele sabia que o fim de sua vocação era recolher as ovelhas perdidas da casa de Israel (Mateus 15:24), desejou que sua vinda pudesse trazer salvação a todos. Esta foi a razão pela qual Ele foi movido com compaixão e chorou sobre a iminente destruição da cidade de Jerusalém.

Porque enquanto ele refletia que esta era a morada sagrada que Deus tinha escolhido, na qual o pacto de salvação eterna deveria habitar - o santuário daquela salvação que sairia para o mundo todo, era impossível que não lamentasse profundamente a sua ruína. E quando viu o povo, que tinha sido adotado para a esperança da vida eterna, perecer miseravelmente por sua ingratidão e maldade, não precisamos nos surpreender se Ele não pudesse se abster das lágrimas". John Calvin, Luke 19:41.

10) "Mais uma vez, quando eles afirmam que Jesus é o Cristo e o Salvador do mundo, sem dúvida, aprenderam isso de ouvi-lo. Daí podemos inferir que, no prazo de dois dias, o resumo do Evangelho foi mais claramente ensinado por Cristo do que Ele tinha até então ensinado em Jerusalém. E Cristo testemunhou que a salvação, que ele trouxe, era comum ao mundo todo, para eles pudessem compreender de forma mais completa o que também lhes pertencia; porque Ele não os chamou sobre o fundamento de serem herdeiros legais, como os judeus eram, mas ensinou que veio para admitir estranhos na família de Deus, e para trazer a paz aos que estavam longe (Efésios 2:17)". John Calvin, John 4:43.


11) “Se alguém ouvir as minhas palavras”. "Depois de ter falado a respeito da sua graça, e exortado seus discípulos à fé firme, Ele agora começa a atacar os rebeldes; mas mesmo aqui ele atenua a severidade devida à maldade daqueles que, deliberadamente, por assim dizer, rejeitam a Deus; pois retarda pronunciar julgamento sobre eles, porque, ao contrário, veio para a salvação de todos. Em primeiro lugar, devemos entender que Ele não fala aqui de todos os incrédulos sem distinção, mas daqueles que, conscientemente e voluntariamente, rejeitam a doutrina do Evangelho, que tem sido exposta a eles.

Por que então Cristo não escolheu condená-los? É porque ele deixa de lado por um tempo o ofício de juiz, e oferece a salvação a todos, sem reservas, e estende seus braços para abraçar a todos, para que todos possam ser mais encorajados ao arrependimento. E ainda há uma circunstância de não pequena importância, pela qual Ele aponta o agravamento do crime, se eles rejeitarem um convite tão amável e gracioso, pois é como se tivesse dito:

"Eis que eu estou aqui para convidar todos, e, esquecendo o caráter de um juiz, eu tenho isso como meu único objetivo, para persuadir a todos e para resgatar da destruição aqueles que já estão duplamente arruinados." Nenhum homem, portanto, é condenado por ter desprezado o Evangelho, exceto aquele que, desdenhando a amável mensagem da salvação, optou por sua própria vontade trazer destruição sobre si mesmo. A palavra juiz, como é evidente da palavra salvar, com a qual é contrastada, aqui significa condenar. Agora, isto deve ser entendido como referindo-se ao ofício que propriamente e naturalmente pertence a Cristo". John Calvin, John 12:47

12) “Aquele que me rejeita”. "Para que os homens maus não pudessem se estimular como se a sua irrestrita desobediência a Cristo fosse passar impune, Ele acrescenta aqui uma terrível ameaça, que embora não fosse fazer nada a esse respeito, ainda assim apenas sua doutrina seria suficiente para condená-los, como diz em outro lugar, que não haveria necessidade de qualquer outro juiz além de Moisés, em quem se gabavam ( João 5:45). O significado, portanto, é: "Queimando com ardente desejo de promover a sua salvação, Eu, de fato, me abstenho de exercer o meu direito de condená-lo, e estou completamente envolvido em salvar o que está perdido, mas não pense que você escapou das mãos de Deus; pois embora eu mantenha totalmente a minha paz, a palavra apenas, que você tem desprezado, é suficiente para julgá-lo". John Calvin, John 12:48.

13) "Cristo não apenas declara o seu poder, mas também a sua bondade; com a finalidade de poder atrair para si os homens com a doçura de sua graça. Porque Ele veio salvar o mundo, e não para condená-lo". John Calvin, Acts 5:12.

15) "E, porquanto (como o mesmo Paulo testemunha) que Cristo foi declarado ser o Filho de Deus em poder, quando ele ressuscitou dentre os mortos (Romanos 1:4), concluímos que este era o principal símbolo de excelência celestial, e que o Pai, então, o trouxe verdadeiramente para à luz, para que o mundo pudesse saber que Ele foi gerado Dele [do Pai]". John Calvin, Acts 13:33.

16) “O pão que Eu darei é a minha carne que darei pela vida do mundo”. "Eu gostaria que eles fossem menos acostumados a desenfreada licença em dilacerar as Escrituras. Eu não só admito o seu postulado, que o pão é verdadeiramente carne, mas eu vou mais longe, e adiciono o que eles injuriosamente e vergonhosamente omitem, que este pão é dado diariamente, como a carne foi oferecida uma vez na cruz para a salvação do mundo . Também não é supérflua a repetição da expressão “Eu darei”. O pão, portanto, é verdadeiramente e propriamente a carne de Cristo, na medida em que Ele está lá falando não de um alimento corruptível, mas de um alimento celestial".  John Calvin, “Second Defence of the Pious and Orthodox Faith Concerning the Sacraments in Answer to the Calumnies of Joachim Westphal,” in Selected Works, vol, 2, p., 425.




Parte V: Outras Citações Úteis


12. João Calvino e o Significado de "Mundo"


Sermões


1) Porque sob a palavra Mundo, é compreendido tudo o que pertence ao homem em sua própria natureza. O mundo, em si mesmo, não tem nem vicio nem corrupção, mas todos os males dele  vem do pecado que habita em nós. Então, quando é dito que o mundo é mau, de acordo, também, com São João em sua epístola canônica (1 João 5:19) é dito que todo o mundo está mergulhado e imerso na maldade; porque a maldade não está nem no Sol, nem na Lua, nem na terra nem na água, nem em qualquer uma de todas as coisas que estão contidas nelas, mas em que somos tão pervertido, que nós infectamos todas as coisas aqui em baixo com a nossa imundícia; e que, enquanto os homens continuam em si e na sua própria natureza, eles são apenas imundície, de modo que eles devem necessariamente desagradar a Deus. Porque, certamente, não pode haver nenhum acordo entre a justiça e a injustiça. John Calvin, Sermons on Galatians, Sermon, 2, 1:3-5, p., 41/28.

2) . ... sobre o termo “mundo”  é aqui incluída toda a raça humana. John Calvin, John 14:30.

3) Sobre o termo mundo são, eu creio, incluídos  não só aqueles que seriam verdadeiramente convertidos a Cristo, mas também os hipócritas e os réprobos. Pois existem duas maneiras pelas quais o Espírito convence os homens pela pregação do Evangelho. John Calvin John 16:8.

4) Sob o termo “mundo”, Cristo aqui inclui tudo o que se opõe à salvação dos crentes, e especialmente toda a corrupção, a qual  Satanás abusa com o propósito de colocar armadilhas para nós. John Calvin, John 16:33.

5) "Para que o mundo creia." Alguns explicam a palava “mundo” significando os eleitos, que, naquela época, ainda estavam dispersas, mas uma vez que a palavra "mundo", ao longo de todo este capítulo, denota o réprobo, eu estou mais inclinado a adotar uma opinião diferente. Acontece que, logo depois, ele faz uma distinção entre todo o seu povo e o mesmo mundo que agora menciona. John Calvin John 17:21.

6) Qual é então o significado da palavra "mundo" nesta passagem? Homens separados do reino de Deus e da graça de Cristo. Enquanto o homem vive para si mesmo, ele é totalmente condenado. O mundo está, portanto, em contraste com a regeneração, como a natureza com a graça, ou a carne com o espírito. Aqueles que são nascidos do mundo não têm nada, a não ser o pecado e a maldade, não pela criação, mas pela corrupção. Cristo, portanto, morreu por nossos pecados, a fim de nos resgatar ou nos separar do mundo ... Nós somos do mundo e, até que Cristo nos tire dele, o mundo reina em nós, e nós vivemos para o mundo. John Calvin, Galatians 1:4 [br]


13.  “Pecados do Mundo” Usados em Contextos Não-Controversos


Comentários


1) Deus, em primeiro lugar, acusou seus pais, não que a punição deveria ter caído em seus filhos, somente se eles tivesse seguido a maldade de seus pais, mas sim que os homens daquela época mereciam plenamente ser visitados com o julgamento que seus pais mereciam. Além disso é bem conhecido essa declaração: que Deus considera a iniqüidade dos pais nos seus filhos (Êxodo 20:5; Êxodo 34:7, Deuteronômio 5:9) e Ele, assim, age com justiça, pois pode justamente executar vingança pelos pecados de toda a raça humana, de acordo com o que Cristo diz: "Sobre vocês virá o sangue de todos os piedosos, do justo Abel até Zacarias, filho de Baraquias." (Mateus 23:35, Lucas 11:51).John Calvin, Jeremiah 16:10-13.

2) Temos que considerar as últimas palavras do versículo nove, no qual Deus promete remover a iniqüidade da terra em um dia. Alguns refinadamente tomam o “um dia” como sendo o único sacrifício, pelo qual Cristo uma vez por todas expiou para sempre os pecados do mundo, mas o Profeta, na minha opinião, fala de maneira mais simples, pois ele menciona “um dia” como sendo repentinamente ou rapidamente. Eu, certamente, concordo que a expiação era para ocorrer através do sacrifício único de Cristo

Mas o profeta intima que Deus seria tão propício aos judeus, que os libertaria de toda injustiça e moléstia de seus inimigos. Ele, então, assinala uma razão pela qual propôs lidar tão generosamente com o seu povo, precisamente porque Ele não imputaria os seus pecados. E nós sabemos que esta é a fonte de todas as bênçãos que fluem de Deus para nós, isto é, quando Ele nos perdoa e apaga os nossos pecados. Nós agora então, apreendemos o significado do profeta: Eu tirarei a iniqüidade da terra em um dia, ou seja, "apesar de até agora eu ter, de várias maneiras, punido esse povo, Eu, de forma súbita, serei pacificado em relação a eles, de modo que nenhuma injustiça será considerada diante de mim, ou me impedirá de favorecer esse povo. " John Calvin, Zechariah, lecture 141, Introductory Comments.

3) Eu, porém, concordo que a eleição de Deus não deve ser separada do chamado externo; e ainda assim esta ordem deve ser mantida, que Deus, antes de testificar Sua eleição aos homens, os adota primeiro para Si mesmo em seu próprio secreto conselho. O sentido é que o chamado está aqui em oposição a todos os méritos humanos, e também à virtude e aos esforços humanos, como se dissesse: "Os homens não alcançam isso por si mesmos, para que eles continuem um remanescente e sejam salvos, quando Deus visitar os pecados do mundo. John Calvin Joel 2:32 [br]

4) Eu respondo, que há muitos motivos pelos quais é conveniente que os homens sejam avisados antes do tempo no qual os juízos de Deus pairam sobre suas cabeças, e os castigos devido a seus pecados. Eu omito outros que são usuais nos profetas: para que eles tenham um espaço garantido no qual se arrepender e para evitar o juízo de Deus, os quais provocaram a Sua ira contra si mesmos; para que os fiéis sejam instruídos em tempo para se armar com paciência; para que a maldade obstinada dos homens ímpios seja convicta; para que o bom e o mau aprendam que essas desgraças não vêm por acaso, mas que são punições com as quais Deus pune os pecados do mundo, porque esses são despertados de seu sono e lentidão por este meio, os tiveram grande prazer em seus vícios.  John Calvin, Acts 11:28.


Tratados


5) Que semelhança há entre a observância que corresponde ao comando de nosso Senhor e a Missa Papal, em que eles pretendem que Cristo se oferece ao Pai para expiar os pecados do mundo pelo sacrifício de si mesmo, e não somente isso, mas também para obter a redenção para os mortos, no qual nenhum convite é feito para participar, mas um indivíduo se coloca aparte de todo o rebanho - e onde, se alguém vem a frente a participar, a metade é retida dele? John Calvin, “Acts of the Council of Trent: With the Antidote,” in Selected Works, vol. 3, p., 59.


14. A Associação de João Calvino de João 3:16 com Romanos 8:32


1)Assim também, quando é dito nas Sagradas Escrituras, (1 Timóteo 1:15) que esta é uma afirmação verdadeira e inquestionável “que Deus enviou o seu Filho unigênito, para salvar todos os miseráveis pecadores”: nós devemos, digo eu, incluir dentro dessa mesma categoria que cada um de nós aplique o mesmo particularmente a si, quando ouvimos essa sentença geral, que “Deus é misericordioso”. Já ouvimos isto? Então, podemos ousadamente convidá-lo, e até mesmo dizer: “Embora eu seja uma criatura miserável e perdida, uma vez que é dito que Deus é misericordioso para com aqueles que o ofenderam, eu vou correr até ele e até à sua misericórdia, rogando-lhe que Ele venha a me fazer sentir isso. E uma vez que é dito: “Que Deus amou o mundo de tal maneira, que não poupou seu Filho unigênito, mas o entregou à morte por nós. (João 3:16; Romanos 8:32)

É adequado atentar para isso. Porque é muito necessário, que Jesus Cristo me arranque da condenação, no ponto onde eu estou. Uma vez que isso é assim, que o amor e a bondade de Deus são declarados ao mundo, em Cristo Jesus ter sofrido a morte, eu devo, pessoalmente, me apropriar disso, para que eu possa saber que é para mim, que Deus falou que Ele queria que eu tomasse posse de tal graça, e dela me alegrar. Vemos agora, como devemos praticar esta sentença, para que possamos dizer a Deus: “Pensa sobre o teu servo, ó Senhor, segundo a Tua palavra”. Se alguém quiser replicar, que não pode ser dito que Deus falou com ele, quando falou com todos em geral, então, deixe-nos considerar que Deus ofereceu a sua graça aos homens em comum, a fim de que cada homem possa, posteriormente, entrar nela por si mesmo, e não duvidar de ser um membro da igreja, mas que tem uma parte e porção daquilo que é comum a todos os fiéis. Sermons on Psalm 19, Sermon 7, 119:49-55, pp 133-134.

2) Mas isso deve nos conduzir a Deus a algo muito maior, ou seja, até o inestimável amor de Deus Pai, que não poupou seu único filho, mas o entregou à morte por nós [Romanos. 8:32]. Quando a principal causa da nossa salvação é mostrada a nós, a Escritura [João 3:16] coloca diante de nós o amor de Deus: Deus então amou o mundo de tal maneira , que não poupou seu único filho. Assim vemos como somos abençoados pelo poder sacerdotal do Filho de DEUS. Todavia, não obstante o Pai nos chama a Ele, para que possamos honrá-lo e reconhecer quão grande benefício que lhe aprouve nos conceder.John Calvin, Sermons on Melchizidek & Abraham, (Willow Street, PA: Old Paths, 2000), Sermon 2, Gen 14:18-20, 50-51.


15. De Interesse Geral [tradução em andamento]


16. Para Concluir


Eu, além disso, testifico e declaro que, como um suplicante, eu humildemente imploro a Ele que me conceda ser tão limpo e purificado pelo sangue desse soberano Redentor, derramado pelos pecados da raça humana, que eu possa ser permitido estar diante de seu tribunal na imagem do próprio Redentor. De igual modo, declaro, que, segundo a medida da graça e misericórdia que Deus graciosamente me concedeu, tenho diligentemente feito ele me esforçando para, tanto nos meus sermões, quanto em meus escritos e comentários, puramente e incorruptivelmente pregar a sua palavra, e fielmente interpretar suas Sagradas Escrituras. The Will of John Calvin. [br]


Notas:


[1] Alan Clifford, Calvinus: Authentic Calvinism, A Clarification (Great Britain: Charenton Press, 1996); Jonathan Rainbow, The Will of God and the Cross (Pennsylvania: Pickwick, 1990); and Curt Daniel, Hyper-Calvinism and John Gill. Ph.D diss., University of Edinburgh, 1983.

[2] Isso também deveria ser lido em conexão com seus outros comentários de Isaías (abaixo).

[3] Algumas poucas linhas antes ele disse que Cristo representa todos os pecadores (ver abaixo)

[4] Em latim e francês lê-se “expiação”

[5] Ênfase de João Calvino.

[6] De forma interessante, um pouco mais tarde João Calvino diz que para João o “mundo” no capítulo 17 denota o mundo dos réprobos (ver abaixo João Calvino sobre João 17:21 e 16:8). E é contra esse pano de fundo que ele faz esse comentário no verso 1.

[7] O leitor deve se lembrar que João Calvino em seus Comentários e Sermões definiu a extensão desses termos, e que em nenhuma lugar no contexto desses comentários nas Institutas, ele os limita aos eleitos ou à igreja.

[8] Veja também a declaração paralela disso de João Calvino para Wesphal (ver abaixo).

[9] Onde quer que João Calvino use a expressão "todos os pecadores" é muito evidente que ele quer dizer todos sem exceção; como em todos os casos em que essa expressão é usada nesse sermão. Veja também a tradução de Nixon sobre isso: "Jesus Cristo foi tomado para representar todos os pecadores sem exceção."

[10] Uma vez mais, eu removi os posteriores comentários em interpolação encontrados na English edition.

[11] Novamente, não há evidência nas Institutas (ou em qualquer outro lugar) que para Calvino, “todos os pecadores”, sempre significa “todo tipo de pecadores”, “alguns pecadores de todos os tipos”, ou “os eleitos”, ou “a igreja” - veja 2.2.27; 2.8.21; 3.11.2; e 3.24.16;

[12] Torrence edition.

[13] Childress: “cada um de nós”

[14] João Calvino, até onde sei, nunca usou a expressão “em geral” para detonar alguns de todo tipo, ou todo tipo de eleitos.

[15] “Reconciliou”; Torrence edition.

[16] Algumas dessas citações são ambíguas, de forma que não é claro se João Calvino está falando e reconciliação (pacificação) realizada, ou reconciliação como um processo contínuo. Eu tenho essa divisão com cautela e listo algumas ambíguas referências nessa seção.

[17] I.e., reconciliação. Neste século, o termo em inglês ‘atonement’ denotava ‘reconciliação’


Fonte:  http://calvinandcalvinism.com/?p=230
Tradução:
                  demais partes: Emerson Campos Pinheiro



APÊNDICE A:  Comentário de João Calvino sobre João 3:16



16. “Porque Deus amou o mundo”. Cristo abre a primeira causa e, por assim dizer, a fonte da nossa salvação, e faz isso de forma que nenhuma dúvida possa permanecer; pois nossa mente não pode encontrar repouso tranqüilo, até que cheguemos ao amor não merecido de Deus. Como toda questão sobre nossa salvação não deve ser buscada em qualquer outro lugar a não ser em Cristo, então devemos ver de onde Cristo veio até nós, e por que Ele foi oferecido para ser nosso Salvador.

Ambos os pontos são distintamente declarados para nós: a saber, que a fé em Cristo traz vida para todos, e que Cristo trouxe vida, porque o Pai Celestial ama a raça humana, e deseja que eles não venham a perecer. E esta ordem deve ser cuidadosamente observada, pois tal é a ímpia ambição, que pertence à nossa natureza, que, quando a questão diz respeito à origem da nossa salvação, nós rapidamente formamos diabólicas imaginações sobre nossos próprios méritos. Assim, imaginamos que Deus é reconciliado conosco porque Ele tem reconhecido em nós algo que seja digno para que Ele olhe para nós. Mas as Escrituras em todos os lugares exalta sua misericórdia pura e sem mistura, o que anula todos os méritos.

E as palavras de Cristo significam nada mais, quando declara a causa para estar no amor de Deus. Pois, se queremos subir mais alto, o Espírito fecha a porta pela boca de Paulo, quando nos informa que este amor foi fundado no propósito de Sua vontade, (Efésios 1:05). E, de fato, é muito evidente que Cristo falou desta forma a fim de afastar os homens da contemplação de si mesmos para olhar somente para a misericórdia de Deus.

Nem diz que Deus foi movido a nos livrar, porque percebeu em nós algo que fosse digno de uma bênção tão excelente, mas atribui a glória de nosso livramento inteiramente ao Seu amor. E isso é ainda mais claro no que se segue, pois, acrescenta que Deus deu o seu Filho aos homens, para que eles não pereçam. Daí resulta que, até que Cristo conceda a sua ajuda para resgatar os perdidos, todos estão destinados à destruição eterna. Isso também é demonstrado por Paulo a partir de uma consideração do tempo; porque Ele nos amou quando ainda éramos inimigos pelo pecado (Romanos 5:8, 10).

E, de fato, onde reina o pecado, vamos encontrar nada, a não ser a ira de Deus, que arrasta a morte junto com ela. É a misericórdia, portanto, que nos reconcilia com Deus, para que Ele possa também nos devolver à vida.

Essa forma de expressão, no entanto, pode parecer estar em desacordo com muitas passagens das Escrituras, as quais colocam Cristo como o primeiro fundamento do amor de Deus para nós e demonstram que fora Dele somos odiados por Deus. Mas devemos lembrar – como eu já afirmei - que o amor secreto com o qual o Pai Celestial nos ama em si mesmo é superior a todas as outras causas, mas que a graça que Ele deseja que seja conhecida por nós, e pela qual nós somos estimulados para a esperança da salvação, começa com a reconciliação, a qual foi adquirida através de Cristo.

Porque, uma vez que Ele necessariamente odeia o pecado, como vamos acreditar que somos amados por Ele, até que a expiação fosse feita pelos pecados em virtude dos quais Ele, justamente, está ofendido conosco? Assim, o amor de Cristo deve intervir com a finalidade de reconciliar Deus conosco, antes de termos qualquer experiência de sua bondade paternal. Mas, como nós fomos primeiramente informados de que Deus, porque nos amou, deu o seu Filho para morrer por nós, assim isso é imediatamente adicionado, que Cristo é quem, estritamente falando, a fé deve olhar.

“Ele deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça”. Isso, diz ele, é o próprio olhar da fé, para ser fixado sobre Cristo, em quem vê o coração de Deus cheio de amor: este é um apoio firme e duradouro, para invocar a morte de Cristo como a única garantia desse amor. A palavra unigênito é enfático para magnificar o fervor do amor de Deus em relação a nós. Como os homens não são facilmente convencidos de que Deus os ama, a fim de eliminar qualquer dúvida, Ele declarou expressamente que somos muito queridos por Deus que, por nossa causa, Ele nem mesmo poupou seu Filho unigênito.

Uma vez que, portanto, Deus tem mais abundantemente testificado o seu amor para conosco, quem não está satisfeito com este testemunho, e ainda permanece na dúvida, oferece um grande insulto a Cristo, como se Ele tivesse sido um homem comum entregado aleatoriamente à morte. Mas devemos, ao contrário, considerar que, em proporção à estimativa que Deus tem a seu Filho unigênito, tão mais preciosa nossa salvação parecia para Ele, porque para o resgate dos tais Ele escolheu que seu Filho unigênito morresse. Sobre esse nome, Cristo tem o direito, porque Ele é, por natureza, o Filho unigênito de Deus, e comunica essa honra a nós por adoção, quando somos enxertados em Seu corpo.

“Para que todo aquele que nele crê não pereça”. É um elogio notável de fé, que nos livra da destruição eterna. Porque Ele pretendia expressamente declarar que, apesar de nós parecermos ter sido nascidos para a morte, sem dúvida a libertação nos é oferecida pela fé em Cristo; e, portanto, e não devemos temer a morte, que de outra forma paira sobre nós.

E ele empregou o termo universal, “todo aquele que” tanto para convidar todos indiscriminadamente a participar da vida, e para cortar fora todas as desculpas dos incrédulos. Tal é também o sentido do termo “Mundo”, que Ele usou anteriormente, porque nada será encontrado em todo o mundo que seja digno da graça de Deus, mas ainda assim Ele se mostra reconciliado com o mundo inteiro, quando ele convida todos os homens sem exceção a fé em Cristo, que nada mais é do que uma entrada para a vida.

Vamos nos lembrar, por outro lado, que enquanto a vida é prometida universalmente a todos os que crêem em Cristo, ainda a fé não é comum a todos. Porque Cristo é feito conhecido e estendido à vista de todos, mas apenas os eleitos são aqueles cujos olhos Deus abre, para que possam buscá-lo pela fé. Aqui, também, é exibido um efeito maravilhoso da fé, porque nós recebemos Cristo tal como Ele nos é dado pelo Pai - isto é, como tendo nos libertado da condenação da morte eterna, e feito de nós herdeiros da vida eterna, porque, pelo sacrifício de Sua morte, ele expiou por nossos pecados, para que nada pudesse impedir Deus de nos reconhecer como Seus filhos. Uma vez que, portanto, a fé abraça a Cristo, com a eficácia de sua morte e com os frutos de sua ressurreição, não precisamos nos espantar se por ela obtemos igualmente a vida de Cristo.

Entretanto ainda não é muito evidente porque e como a fé concede sobre nós. Isso é porque Cristo nos renova pelo seu Espírito, para que a justiça de Deus possa viver e ser vigorosa em nós, ou isso é porque, tendo sido purificados pelo seu sangue, somos considerados justos diante de Deus por um perdão gratuito? Na verdade, é certo que essas duas coisas estão sempre juntas, mas como a certeza da salvação é o tema agora em mãos, devemos manter principalmente esta razão: que nós vivemos, porque Deus nos ama livremente, não imputando a nós nossos pecados.

Por esta razão, o sacrifício é expressamente mencionado, pelo qual, juntamente com os pecados, a maldição e a morte são destruídos. Eu já expliquei o objetivo dessas duas cláusulas, que é, nos informar que, em Cristo, recuperamos a posse da vida, da qual somos destituídos em nós mesmos, pois nesta condição miserável da humanidade, a redenção, na ordem do tempo, acontece antes da salvação.

17. “Porque Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo”. Essa é uma confirmação da declaração anterior, porque não foi em vão que Deus enviou seu próprio Filho para nós. Ele não veio para destruir e, portanto, segue-se, que é o peculiar oficio do Filho de Deus, que todos que crêem possam obter a salvação por Ele. Agora não há razão para que qualquer homem esteja em um estado de hesitação, ou de ansiedade angustiante sobre a maneira pela qual ele possa escapar da morte, quando nós cremos que era o propósito de Deus que Cristo nos livrasse dela. A palavra “mundo” é repetida mais uma vez, para que nenhum homem possa se pensar totalmente excluído, se ele somente guardar o caminho da fé.

A palavra juiz é colocada aqui para condenar, como em muitas outras passagens. Quando Ele declara que ele não veio para condenar o mundo, Ele assim ressalta o real designio da sua vinda, pois que necessidade havia de Cristo vir para nos destruir, se já estavamos completamente arruinados? Não devemos, portanto, olhar para qualquer outra coisa em Cristo, a não ser que Deus de sua bondade infinita escolheu estender sua ajuda para salvar a nós, que estavamos perdidos, e sempre que nossos pecados nos pressionarem - quando Satanás quer nos conduzir ao desespero - devemos erguer este escudo, porque Deus não está disposto a que sejamos esmagados com a destruição eterna, porque Ele designou seu Filho para ser a salvação do mundo.

Quando Cristo diz, em outras passagens, que Ele veio para juízo, (João 9:39;) quando é chamado de pedra de escândalo, (1 Pedro 2:07;) quando é dito ser destinado para a destruição de muitos (Lucas 2:34:) esta pode ser considerada como acidental, ou como decorrente de uma causa diferente; porque aqueles que rejeitam a graça oferecida Nele merecem encontrá-lo como o juiz e vingador de desprezo tão indigno e vil. Um exemplo marcante disto pode ser visto no Evangelho, porque apesar dele ser estritamente o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Romanos 1:16), a ingratidão de muito faz com que ele se torne morte para eles .. Ambas as coisas foram bem expressas por Paulo, quando ele se orgulha de ter em mãos a vingança, por que ele punirá todos os adversários de sua doutrina, depois que a obediência do santo tiver sido cumprida, (2 Coríntios 10:6)

O sentido resulta nisso: que o Evangelho é especialmente, e em primeiro lugar, designado para os crentes, para que ele possa ser salvação para eles; mas depois para que os incrédulos não escapem impunes ao desprezarem a graça de Cristo e terem preferido Ele mais como o autor da morte do que da vida.

18. “Quem Nele crê não é condenado”. Quando ele tão freqüentemente e tão seriamente repete, que todos os crentes estão além do perigo da morte, nós podemos deduzir da grande necessidade de uma firme e segura confiança, que a consciência não pode ser mantida permanentemente em um estado de tremor e de alarme. Ele novamente declara que, quando nós cremos, não há condenação remanescente, que Ele mais tarde explicará com mais detalhes no quinto capítulo. O tempo presente - não é condenado - é aqui usado em vez do tempo futuro - não será condenado - de acordo com o costume da língua hebraica; porque Ele queria dizer que os crentes estão seguros do temor da condenação

“Mas quem não crê já está condenado”. Isto significa que não há outro remédio pelo qual qualquer ser humano pode escapar da morte, ou, em outras palavras, que para todos os que rejeitam a vida dada a eles em Cristo, não resta nada a não ser a morte, pois a vida consiste em nada mais do que na fé. O tempo passado do verbo “já está condenado” foi usado por ele enfaticamente, para expressar mais fortemente que todos os incrédulos estão completamente arruinados.

Mas deve ser observado que Cristo fala em especial daqueles cuja maldade será exibido desprezar abertamente o Evangelho. Pois, embora seja verdade que nunca houve qualquer outro meio para escapar da morte, além de recorrer a Cristo, mas como Cristo fala aqui da pregação do Evangelho, que era para ser espalhado por todo o mundo, ele dirige o seu discurso contra aqueles que deliberadamente e maliciosamente extinguem a luz que Deus acendeu.

Fonte: http://www.biblestudyguide.org/comment/calvin/comm_vol34/htm/ix.iii.htm
Tradutor: Emerson Campos Pinheiro.


APÊNDICE B: João Calvino sobre João 3:16 em Citações Diversas


Sermões


1) É verdade que São João diz geralmente que Ele amou o mundo. E por quê? Porque Jesus Cristo se oferece a todos os homens, sem exceção, para ser seu Redentor. Isso é dito, depois no Pacto, que Deus amou o mundo quando Ele enviou seu único filho, mas Ele nos amou, nós (eu digo) que fomos ensinados por seu Evangelho, porque Ele nos reuniu a Ele.

E os fiéis que são iluminados pelo Espírito Santo, tem ainda um terceiro uso do amor de Deus, o qual é que Ele se revela mais familiarmente a eles, e sela sua adoção paterna, pelo seu Espírito Santo, e grava isso em seus corações. Agora, então, vamos, em todos os casos, aprender a conhecer esse amor de Deus, e quando chegarmos lá, não vamos ir além.

Assim, vemos três graus do amor de Deus, como nos demonstrou em nosso Senhor Jesus Cristo. O primeiro diz respeito ao resgate que foi comprado na pessoa daquele que deu a si mesmo à morte por nós, e se tornou maldito para nos reconciliar com Deus, seu Pai. Esse é o primeiro grau do amor, que se estende a todos os homens, na medida em que Jesus Cristo estende seus braços para chamar e atrair todos os homens, tanto os grandes quanto os pequenos, e ganhá-los para Ele.

Mas existe um amor especial por aqueles a quem é o pregado o evangelho, pelo qual Deus testifica a eles que quer fazê-los participantes daquele beneficio que foi comprado para eles pela paixão e morte de Seu filho.

E tendo em vista que somos desse número, portanto, nós estamos, já, duplamente obrigados a nosso Deus: aqui são dois laços que nos mantem, por assim dizer, ligados a Ele*

Agora vamos para o terceiro laço, que depende do terceiro amor que Deus nos demonstra: o qual é que Ele não só faz com que o evangelho seja pregado a nós, mas também nos faz sentir o seu poder, pelo qual [nos faz] não duvidar que nossos pecados foram perdoados por causa do nosso Senhor Jesus Cristo ...Calvin, Sermons on Deuteronomy, Sermon, 28, 4:36-38, p., 167 .

2) Assim também, quando é dito nas Sagradas Escrituras, (1 Timóteo 1:15) que esta é uma afirmação verdadeira e inquestionável “que Deus enviou o seu Filho unigênito, para salvar todos os miseráveis pecadores”: nós devemos, digo eu, incluir dentro dessa mesma categoria que cada um de nós aplique o mesmo particularmente a si, quando ouvimos essa sentença geral, que “Deus é misericordioso”. Já ouvimos isto? Então, podemos ousadamente convidá-lo, e até mesmo dizer: “Embora eu seja uma criatura miserável e perdida, uma vez que é dito que Deus é misericordioso para com aqueles que o ofenderam, eu vou correr até ele e até à sua misericórdia, rogando-lhe que Ele venha a me fazer sentir isso. E uma vez que é dito: “Que Deus amou o mundo de tal maneira, que não poupou seu Filho unigênito, mas o entregou à morte por nós. (João 3:16; Romanos 8:32)


...Porque é muito necessário, que Jesus Cristo me arranque da condenação, no ponto onde eu estou. Uma vez que isso é assim, que o amor e a bondade de Deus são declarados ao mundo, em Cristo Jesus ter sofrido a morte, eu devo, pessoalmente, me apropriar disso, para que eu possa saber que é para mim, que Deus falou que Ele queria que eu tomasse posse de tal graça, e dela me alegrar. Vemos agora, como devemos praticar esta sentença, para que possamos dizer a Deus: “Pensa sobre o teu servo, ó Senhor, segundo a Tua palavra”. Se alguém quiser replicar, que não pode ser dito que Deus falou com ele, quando falou com todos em geral, então, deixe-nos considerar que Deus ofereceu a sua graça aos homens em comum, a fim de que cada homem possa, posteriormente, entrar nela por si mesmo, e não duvidar de ser um membro da igreja, mas quetem uma parte e porção daquilo que é comum a todos os fiéis. Sermons on Psalm 19, Sermon 7, 119:49-55, pp 133-134.


3) Que, então, é como nosso Senhor Jesus levou sobre si os pecados e iniqüidades de muitos. Mas, na verdade, essa palavra "muitos" é muitas vezes também equivalente a "todos". E, de fato, nosso Senhor Jesus foi oferecido para todo o mundo. Porque Ele não está falando de três ou quatro quando diz: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que não poupou o Seu único Filho." Mas ainda é preciso notar que o evangelista acrescenta nesta passagem: "Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." Nosso Senhor Jesus sofreu por todos, e não há nem grande nem pequeno que não sejam, hoje, indesculpáveis, porque nós podemos obter a salvação através Dele. Calvin, Calvin, Sermons on Isaiah’s Prophecy of the Death and Passion of Christ, Sermon 7, Isa., 53:12, p., 141.

4) Então, vamos nos instuir (seguindo o que já mencionei) em saber de tudo e por tudo sobre a inestimável bondade do nosso Deus. Porque, como declarou Seu amor pela humanidade quando não poupou o Seu Ùnico Filho, mas o entregou à morte pelos pecadores, Ele também declara o amor que Ele sustenta especialmente por nós, quando pelo Espírito Santo Ele nos toca para o conhecimento de nossos pecados e nos faz lamentar e nos atrai, arrependidos, para Si. Calvin, Sermons on the Deity of Christ, Sermon 6, Matt 26:67-27:10, p, 108.

5)Verdade é que esta palavra “salvador” é muitas vezes, nas Escrituras Sagradas, dada ao Filho de Deus, porque Ele é que tem cumpriu e levou ao final perfeito, tudo o que foi necessário para a nossa salvação ... Mas, ainda assim, não obstante, não é também sem razão que, neste lugar, São Paulo dá esse título a Deus, o Pai. E por quê? Vejamos de onde Jesus Cristo veio até nós. Ele nos foi enviado de Deus, seu pai, porque assim as Escrituras dão testemunho que Deus amou o mundo de tal maneira, que não poupou seu próprio Filho unigênito, mas o entregou à morte por nós [João 3:16, 1 João 4:9].

Portanto, sempre que olharmos para a nossa salvação na pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo, devemos ir a própria fonte a partir da qual Ele veio à nós, isto é, do amor que Deus revelou a humanidade. E esta é a razão por que São Paulo chama Deus de nosso Salvador: dando-nos compreensão, por esta palavra, de que tão frequentemente como nós pensamos sobre o beneficio que Jesus Cristo nos trouxe, e temos obtido por Ele, devemos levantar nossos corações mais alto, e saber que Deus teve piedade do estado de perdição em que toda a linhagem de Adão estava, …. e, portanto, deu este remédio, a saber, o nosso Salvador Jesus Cristo, que veio nos tirar do abismo da morte, onde nós estavamos.. Calvin, Sermons on 1 Timothy, Sermon 1, 1:1-2, p., 5.

6) Ajuntar os judeus na sua totalidade, os quais estavam perto, em virtude do pacto, e assim solenemente ligados ao que Deus fizera com seus pais: mas ainda assim era necessário que eles fossem reconciliados com Deus, por meio deste Redentor, Jesus Cristo. E vemos isso quando o Evangelho é pregado para confirmar os judeus a Deus. E depois o evangelho foi direcionado aos que estavam longe, isto é, aos pobres gentios, que não tinham acesso, e mesmo estes também tiveram esta mensagem de salvação e de paz com Deus. Eles foram certificadas de que, agora, Deus os amava de tal maneira, que desprezou todas as suas falhas. E assim que o muro foi quebrado, foram liquidadas todas as cerimônias, pelas quais Deus havia feito diferença entre os judeus e os gentios.

E por quê? Porque o testemunho da salvação e da graça pertence ao mundo sem exceções. E assim, agora, esta doutrina foi feita clara o suficiente para nós, a saber, em primeiro lugar, que era indispensável que o nosso Senhor Jesus Cristo fosse responder diante de Deus por todos os nossos pecados e dívidas, e que em Sua morte temos o preço da nossa redenção. Calvin, Sermons on 1 Timothy, Sermon 15, 2:5-6, p., 180.


Fonte: http://calvinandcalvinism.com/?p=20
Tradutor: Emerson Campos Pinheiro


APÊNDICE C: Citações Já Publicadas em Português 


Introdução: Calvino em Definições Ocasionais e Comentários de Valor


Os Eleitos Nunca Podem Perecer


“Havia uma outra, a eleição geral; pois ele recebeu toda sua semente em sua fé, e ofereceu a todos sua aliança. Simultaneamente, não eram eles todos regenerados, não eram eles todos dotados do Espírito de adoção. Essa eleição geral não era pois eficaz em tudo. Agora, fica resolvida a matéria em debate, que nenhum dos eleitos perecerá; pois o povo todo não foi escolhido de uma maneira especial; mas Deus conhecia quem ele elegera dentre aquele povo; e depois ele dotou aqueles, como dissemos, com o Espírito de adoção, suprindo com sua graça, para que jamais apostatassem. Outros foram, na verdade, eleitos de uma certa forma, isto é, Deus ofereceu-lhe o concerto da salvação; contudo, por sua ingratidão, fizeram com que Deus os rejeitasse e renegasse como filhos”. Calvino, João. Comentário de Oséias, pg 274. Tradutor: Vanderson Moura da Silva. Disponibilizado em http://www.monergismo.com.


1. Os Pecados do Mundo


15)“ 'Sem derramamento de sangue', diz Paulo, 'não há remissão' (Hb 9:22); o que foi notificado por Deus à Igreja antiga sob figuras se tornou plenamente conhecido pela vinda de Cristo. O pecador, se achasse misericórdia, deveria olhar para o sacrifício de Cristo, o qual expiou os pecados do mundo, relanceando, ao mesmo tempo, para a confirmação de sua fé, para o batismo e para a Ceia do Senhor; porquanto era debalde imaginar que Deus, o Juiz do mundo, nos receberia novamente em seu favor de qualquer outro modo que não fosse através daquela satisfação que se faz à sua justiça. Calvino, João. O Livro dos Salmos Volume 2. Edições Paracletos. Editora Fiel. 1999, pg 438-439.

16) “Ele fala deles como observados pelos soberbos e arrogantes para darem a impressão de merecerem o favor divino. Portanto, diligente como era na prática do sacrifício, depositando toda sua dependência na satisfação de Cristo, o qual fez expiação pelos pecados do mundo, ele podia, contudo, honestamente declarar que nada trazia a Deus na forma de compensação, e que confiava inteiramente numa reconciliação gratuita. Os judeus, ao apresentarem seus sacrifícios, não podiam dizer que traziam ao Senhor algo propriamente deles, mas, ao contrário, eram vistos como se apropriando de Cristo como o preço indispensável da redenção”. Calvino, João. O Livro dos Salmos Volume 2. Edições Paracletos. Editora Fiel. 1999, pg 445-446

17)“Daí, depois que Cristo se manifestou e expiou todos os pecados do mundo, fez-se necessário que todos os sacrifícios cessassem”. Calvino, João. Daniel Volume 2. Edições Paracletos. Editora Fiel. Exposição 52, pg 269

37)“Gostaria que os que vos perturbam fosse até mesmo excluídos”. A indignação de Paulo aumenta, levando-o a rogar que a destruição sobrevenha aos impostores que haviam enganado aos gálatas. A palavra “mutilar” parece uma alusão à circuncisão que eles impunham. Crisóstomo se inclina a este ponto de vista: “Eles despedaçam a igreja por causa da circuncisão; desejo que sejam totalmente mutilados”. Mas, como essa imprecação pode ser conciliada com a ternura de um apóstolo que deveria anelar que todos fossem salvos e ninguém perecesse? No que concerne aos homens, admito a força desse argumento; pois é a vontade de Deus que busquemos a salvação de todos os homens, sem exceção, porque Cristo sofreu pelos pecados do mundo inteiro. Mas as pessoas piedosas são levadas, às vezes, para além da consideração dos homens, fixando seus olhos na glória de Deus e no reino de Cristo. A glória de Cristo, a qual é, em si mesma, mais excelente do que a salvação dos homens, precisa receber de nós um grau mais elevado de estima e consideração. Os crentes sinceramente desejosos de que a glória de Deus seja promovida esquecem os homens e o mundo, preferindo que todo o mundo pereça, mas que a glória de Deus não seja ofuscada”. Calvino, João. Gálatas-Efésios-Filipenses-Colossenses. Comentário de Gálatas. Editora Fiel. , pg 169.


38)“Em quem temos a redenção”. Ele agora prossegue pondo em ordem que todas as partes de nossa salvação estão contidas em Cristo, e que somente ele deve resplandecer e ser visto conspícuo acima de todas as criaturas, visto que ele é o principio e fim de todas as coisas. Em primeiro lugar, ele diz que temos a redenção, e a explica imediatamente como sendo a remissão dos pecados; pois estas duas coisas concordam mutuamente por aposição. Pois, inquestionavelmente, quando remite nossas transgressões, ele nos isenta de condenação à morte eterna. Esta é nossa liberdade, esta é a nossa glória em face da morte – que nossos pecados não nos são imputados. Ele diz que esta redenção foi granjeada através do sangue de Cristo, pois pelo sacrifício de sua morte todos os pecados do mundo foram expiados. Portanto, tenhamos em mente que este é o único preço da reconciliação, e que toda a tagarelice dos papistas quanto às satisfações não passa de blasfêmia. Calvino, João. Gálatas-Efésios-Filipenses-Colossenses. Comentário de Colossenses, pgs 504-505. Editora Fiel.

43) “Mas, dentre muitos, devem escolher-se de preferência aqueles que possam conduzir à edificação das almas na verdadeira confiança, como quando se diz que de modo algum, ainda que aos anjos se tenha conferido tanta honra, ele assumisse sua natureza; pelo contrário, ele assumiu a nossa natureza para que, na carne e no sangue, mediante a morte, destruísse aquele que possuía o poder de morte [Hb 2.14-16]. Igualmente, em virtude do benefício desta associação com ele, somos contados por seus irmãos [Hb 2.11]. De igual modo, “Convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote” [Hb 2.17]; “não temos um sumo sacerdote que não se compadeça de nossas fraquezas” [Hb 4.15]; e outros afins. Ao mesmo procede o que abordamos pouco antes: concorda com isso que os pecados do mundo fossem expiados em nossa carne, o que é claramente afirmado por Paulo [Rm 8.3].” Calvino, João. Institutas Edição Clássica – Volume 2. Capitulo XIII.1, pgs 230-231. Editora Cultura Cristã.

44) “Todavia, para definir mais precisamente o modo da salvação, a Escritura prescreve isto como sendo peculiar e próprio à morte de Cristo. Ele próprio declara “dar a vida em resgate por muitos” [Mt 20.28]. Paulo ensina que “Cristo morreu por nossos pecados” [Rm 4.25; 1Co 15.3]. João Batista proclamava que ele viera a fim de tirar os pecados do mundo, porquanto era o Cordeiro de Deus [Jo 1.29]”. Calvino, João. Institutas Edição Clássica – Volume 2. Capitulo XVI.5, pgs 261. Editora Cultura Cristã.

45) “Ao que é pertinente esta afirmação de João Batista: “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” [Jo 1.29]. Ora, ele está contrapondo Cristo a todos os sacrifícios da lei, de sorte que só nele se
ensina estar cumprido o que aquelas figuras representaram”.. Calvino, João. Institutas Edição Clássica – Volume 2. Capitulo XVII.4, pgs 282. Editora Cultura Cristã.

46) “Ele não diz: “Deus foi, de uma vez por todas, reconciliado convosco através de Cristo; agora buscai para vós mesmos outros meios.” Ao contrário, ele o faz nosso perpétuo Advogado, o qual, por sua intercessão, sempre nos restaura à graça do Pai, nossa propiciação perpétua, mercê da qual nossos pecados são expiados. Ora, o que outro João afirmou é perpetuamente verdadeiro: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo” [Jo 1.29]. Ele é quem os tira, insisto, não outro; isto é, uma vez que só ele é o Cordeiro de Deus, também só ele é a oferta pelos pecados, só ele é a expiação, só ele é a satisfação”. Calvino, João. Institutas Edição Clássica – Volume 3. Capitulo IV.26, pgs 124. Editora Cultura Cristã.


47) “João disse que Cristo é o Cordeiro de Deus através de quem os pecados do mundo seriam removidos [Jo 1.29]; razão por que o fez sacrifício aceitável ao Pai, propiciador de justiça e autor da salvação. Que podiam os apóstolos acrescentar a esta confissão?” Calvino, João. Institutas Edição Clássica – Volume 4. Capitulo XV.7, pgs 297. Editora Cultura Cristã.



2. Os Pecados de Muitos


Quando “os muitos” não são todos


1)“Na última preleção explicamos como Cristo confirmou o pacto com muitos durante a última semana; pois ele congregou os filhos de Deus de seu estado de dispersão, quando a devastação da Igreja assumiu um caráter extremamente terrível e miserável. Embora o evangelho não fosse instantaneamente promulgado entre as nações estrangeiras, todavia somos corretamente informados de que Cristo confirmou o pacto com muitos, visto que as nações foram diretamente chamadas à esperança da salvação. (Mt 10.5)

Embora ele proibisse os discípulos de pregarem então o evangelho aos gentios ou aos samaritanos, contudo os instruiu dizendo que muitas ovelhas viviam dispersas pelo mundo fora, e que estava próximo o dia em que Deus construiria um só aprisco (Jo 10:16). Isso se cumpriu após sua ressurreição. Durante sua vida terrena, ele começou a antecipar levemente a vocação dos gentios, e assim interpreto estas palavras do profeta: ele confirmará o pacto com muitos. Pois tomo a palavra “muitos”, aqui, rebim, comparativamente em referência aos gentios fiéis unidos aos judeus. É muito notório que o pacto divino esteve depositado por um tipo de direito hereditário com os israelitas até que o mesmo favor se estendesse também aos gentios. Portanto diz-se que Cristo renovou o pacto de Deus não só com uma nação, mas em termos gerais com o mundo como um todo.

Aliás, admito o uso da palavra “muitos” como sendo para todos, como no quinto capítulo da Epístola aos Romanos e em outras partes (v.19), mas ali parece haver um contraste entre a Igreja antiga, incrustada dentro de estreitas fronteiras, e a Igreja nova, a qual se estende ao mundo inteiro. Sabemos que muitos, outrora estrangeiros, têm sido chamados das regiões longínquas da terra por meio do evangelho, e assim reunidos aos judeus por meio de aliança, ao ponto de todos desfrutarem da mesma comunhão e todos reconhecidos como igualmente filhos de Deus”. Calvino, João. Daniel Volume 2. Edições Paracletos. Editora Fiel. Exposição 52, pg 268-269.


3.  Cristo Representa Todos os Pecadores


8) “Está escrito: “Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro”. Cristo foi pendurado na cruz. Portanto, Ele caiu nessa maldição. Mas é certo que Cristo não sofreu aquele castigo por sua própria culpa. Segue-se, pois, ou que Ele foi crucificado em vão, ou que a nossa maldição foi lançada sobre Ele, para que ficássemos livres dela. Ora, o apóstolo não diz que Cristo era maldito; diz algo ainda mais importante: Ele se fez maldição, significando que a maldição de todos nós caiu “sobre ele” (Is 53:6). Se alguém acha severa esta linguagem, que tal pessoa se envergonhe da cruz de Cristo, em cuja confissão nos gloriamos. Deus não ignorava o tipo de morte que seu Filho morreria, quando pronunciou: “O que for pendurado em madeiro é maldito de Deus”. (Dt 21:23)

Mas, como é possível, alguém perguntaria, que o Filho amado fosse amaldiçoado por seu Pai? Respondemos: há duas coisas que têm de ser consideradas não só na pessoa de Cristo, mas também em sua natureza humana. Uma é que Ele era o Cordeiro de Deus imaculado, cheio de benção e de graça. A outra é que Ele assumiu o nosso lugar, tornando-se assim um pecador, sujeito à maldição, não em Si mesmo, mas em nós, de tal maneira que Lhe era indispensável ocupar o nosso lugar. Cristo não podia deixar de ser o objeto do amor de Deus, mas, apesar disso, suportou a sua ira. Pois, como poderia Ele reconciliar conosco o Pai, se o Pai fosse um de seus inimigos e O odiasse?” Calvino, João. Gálatas-Efésios-Filipenses-Colossenses. Comentário de Gálatas, pgs 101-102. Editora Fiel.


4. Sofreu por Todos


6) “Que me amou”. “Esta cláusula é adicionada para expressar o poder da fé, pois esta indagação poderia ocorrer imediatamente a alguém: “Quando a fé recebe esse poder de comunicar à nossa alma a vida de Cristo?” De acordo com isso, o apóstolo nos informa que o amor e a morte de Cristo são o fundamento (hypostasis) sobre os quais a fé repousa. É desta maneira que o efeito da fé deve ser julgado. Por que razão vivemos pela fé em Cristo? Porque Ele nos “amou e a si mesmo se entregou” por nós. O amor de Cristo O levou a unir-se a nós. Ele completou a união por meio de sua morte. Ao dar-se por nós, Cristo sofreu em nossa própria pessoa (in nostra persona passus est). Além do mais, a fé nos torna participantes de tudo o que ela encontra em Cristo.

A menção do amor significa o mesmo que João disse: “ Não que tenhamos amado a Deus, mas ele nos antecipou por seu amor” (1 Jo 4:10). Se algum mérito nosso tivesse compelido a Deus a redimir-nos, este mérito teria sido declarado.. Agora, Paulo atribui tudo ao amor; portanto, resulta da graça gratuita. Observemos a ordem: Ele nos “amou e a si mesmo se entregou” por nós. Era como se Paulo dissesse: “Ele não teve outra razão para morrer, exceto o fato de que nos amou”. E isso se deu quando éramos “inimigos”, segundo Paulo mesmo declara em Romanos 5:20.

“A si mesmo se deu por mim”. Não há palavras que expressem perfeitamente o que isto significa. Pois, quem pode encontrar linguagem capaz de declarar a excelência do Filho de Deus? Todavia, foi Ele mesmo que se entregou como preço de nossa redenção. A expiação, a purificação, a satisfação e todos os benefícios que recebemos da morte de Cristo estão incluídos nas palavras “a si mesmo se entregou”. As palavras “por mim” são muito enfáticas. Não é suficiente contemplar a Cristo como Aquele que morreu pela salvação do mundo, se não experimenta as conseqüências desta morte e não é capacitado a reivindicá-la como a sua própria morte”. Calvino, João. Gálatas-Efésios-Filipenses-Colossenses. Comentário de Gálatas, pgs 84-85. Editora Fiel.

8) “Por exemplo, quando alguém ouve dizer: “Se no tempo em que eras ainda um pecador, Deus te odiara e te lançara para longe, como havias merecido, horrível perdição te aguardava. Mas, visto que, de sua livre vontade e de seu gracioso favor, te conservou em graça, nem permitiu que fosses dele alienado, assim te livrou desse perigo.” Sensibilizar-te-ás, sem dúvida, e sentirás, em certa medida, quanto deves à misericórdia de Deus. Que ouças, porém, por outro lado, o que a Escritura ensina: o homem foi alienado de Deus pelo pecado, herdeiro da ira, sujeito à maldição da morte eterna, excluído de toda esperança de salvação, alijado de toda bênção de Deus, escravo de Satanás, cativo sob o jugo do pecado, destinado, afinal, a horrível perdição.

Mas então Cristo interveio, e intercedendo por ele tomou sobre seus ombros a pena e pagou o que os pecados teriam que pagar pelo justo juízo de Deus que ameaçava a todos os pecadores; que expiou com seu sangue todos os pecados que eram a causa da inimizade entre Deus e os homens; que com esta expiação satisfez o Pai e aplacou sua ira; que ele é o fundamento da paz entre Deus e nós; que ele é o vínculo que nos mantém em seu favor e graça – isto não o moverá com maior intensidade, quanto mais vivo seja o quadro ante nossos olhos da grande miséria da qual o homem se livrou?” Calvino, João. Institutas Edição Clássica – Volume 2. Capitulo XVI.2, pgs 258. Editora Cultura Cristã.


9) “Impõe-se-nos ver agora como nos advêm as benesses que o Pai conferiu ao Filho Unigênito, não para seu uso particular, mas para que enriquecesse a pobres e indigentes. E, primeiramente, deve ter-se em conta que, por quanto tempo Cristo estiver fora de nós e dele estivermos separados, tudo quanto ele sofreu e fez para a salvação do gênero humano nos é improfícuo e de nenhuma relevância”. Calvino, João. Institutas Edição Clássica – Volume 3. Capitulo I. 1, pgs 19. Editora Cultura Cristã.


6. Almas Redimidas Perecendo e Redenção Anulada


14) “Quando nós mostramos misericórdia para aqueles que erraram, nós nunca devemos indulgenciá-los com bajulação, ou ignorar seus malfeitos se maneira que a situação piore ainda mais. Devemos mostrar pena quando percebemos que nosso próximo ainda está sujeito a muitas fraquezas, e nós devemos ser pacientes para com ele, não para imitá-lo mas para retribuir suas faltas com bondade. Não devemos nunca nos alegrar com o mal alheio, como muitos que gargalham e sorriem diante do infortúnio alheio. Em vez disso, é preciso ficar de luto e dizer: “Que triste, aquele pobre homem ofendeu a Deus”. Deveríamos ficar injuriados ao ver morrendo alguém que foi tão bondosamente redimido pelo precioso sangue de Cristo; deve nos incomodar ver a justiça de Deus ser violada e sua glória diminuída”. Calvino, João. Beatitudes: Sermões sobre as bem-aventuranças, pg 60. São Paulo: Fonte Editorial, 2008

15) “Imagine uma pessoa que toma cuidado em não causar problemas ou perturbar ninguém, e que, ao contrário, se esforça para agradar a todos, estando ela num período difícil ou não; gentilmente relevará muitos erros em vez de fazer uma confusão. Mesmo assim, somos obrigados a seguir o preceito de nosso Senhor aqui, e almejar por paz em todos os lugares. Contudo, não é o suficiente evitar a violência, má vontade ou injúria aos outros, quando alguém está errado, devemos resistir; quando pessoas inocentes são afligidas, devemos apoiá-las o quanto pudermos, dando a elas ajuda e alívio.

Quando vemos duas pessoas em conflito, devemos sentir pena por duas almas redimidas pelo sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, mas que estão em perigo de perdição. Nós devemos sofrer quando a vitória vai para o demônio, que é o príncipe da discórdia, e quando Deus, que é o autor da paz, é ignorado. Esse pensamento deveria nos levar ao desejo de colocar um fim no conflito. É por isso que, por outro lado Deus amaldiçoa todos os que trazem disputas e conflito entre os homens. Eles são como incendiários que, por sua intriga, incitam amigos a odiar uns aos outros; e quando a suspeita mútua é incitada, eles espreitam e aumentam as chamas. É como se existisse uma ferida aberta e alguém viesse e em vez de aplicar uma boa pomada como cura, esfregasse veneno, fazendo com que a ferida ficasse ainda pior.” Calvino, João. Beatitudes: Sermões sobre as bem-aventuranças, pg 69. São Paulo: Fonte Editorial, 2008

39) “Ele, depois, declara, na primeira oração, que eles debalde esperavam misericórdia da parte de Deus, porque a destruição definitiva deles estava decretada. Segue-se, então, o motivo para isso, pois que eles haviam tola e impiamente abusado da mercê divina, visto como, tendo sido remidos por ele, contudo, prosseguiam na maldade, e ainda procediam perfidamente para com Deus, embora fingissem agir diferentemente. Visto pois que não houve nenhuma mudança para melhor, Deus ora mostra que não mais despenderia seu favor com homens tão ímpios.

Ora, esse ponto ensina quão intolerável é nossa ingratidão quando, após haver sido resgatado pelo Senhor, não guardamos a fé empenhada a ele, a qual ele exige de nós; pois Deus é nosso libertador nesta condição, que sejamos de todo devotados a ele. Pois aquele que foi remido não deve viver como se possuísse direito a si próprio e à sua própria vontade; mas deve ser integralmente dependente do seu Redentor. Se, então, agirmos desse modo traiçoeiro para com Deus, após havermos sido libertos por sua graça, seremos culpados de impiedade e perfídia tais que merecem uma vingança dobrada: e isso é o que o Profeta ensina aqui”. Calvino, João. Comentário de Oséias, pg 173. Tradutor: Vanderson Moura da Silva. Disponibilizado em http://www.monergismo.com.

43) “Como Deus ofereceu uma prova de quanto cuidado ele tem pela salvação de sua Igreja, não poupando seu Filho unigênito, assim ele não permitirá que fique impune a negligência dos pastores através de que as almas que ele redimiu com um preço tão alto pereçam ou se tornem presa de Satanás”. Calvino, João. Pastorais. Comentário de 2 Timóteo 4:1, pg 268. Editora Fiel.

44) “Se a fé de uma só pessoa está em iminência de ser transtornada; se a alma de uma única pessoa, que foi redimida pelo sangue de Cristo, corre o risco de ser arruinada, o pastor precisa cingir-se imediatamente para resistir; quanto menos tolerável será ver casas inteiras sendo transtornadas!” Calvino, João. Pastorais. Comentário de Tito 1:11, pg 316. Editora Fiel.

45) “O qual a si mesmo se deu por nós”. “Eis aqui outra fonte de exortação, baseada no propósito ou efeito da morte de Cristo. Ele se ofereceu em nosso lugar para que fôssemos redimidos da escravidão do pecado, e adquiriu-nos para si mesmo a fim de sermos sua possessão. Sua graça, inevitavelmente, traz consigo novidade de vida, pois aqueles que continuam servindo ao pecado tornam nula a bênção da redenção. Mas agora fomos resgatados da escravidão do pecado para podermos servir à justiça de Deus.

Deste fato ele passa imediatamente ao segundo ponto, a saber: “e purificar para si um povo para ser sua possessão peculiar, zeloso e de boas”, querendo dizer com isso que o fruto da redenção está perdido, caso ainda sejamos dominados pelos desejos pecaminosos do mundo. Para expressar mais claramente o fato de que fomos consagrados para a prática de boas obras mediante a morte de Cristo, ele usa o termo “purificar”, pois seria vergonhoso que nos permitíssemos macular com as imundícias das quais a morte do Filho de Deus nos purgou”. Calvino, João. Pastorais. Comentário de Tito 2:14, pg 341. Editora Fiel.


12. João Calvino e o Significado de "Mundo"


6) “O que significa “mundo” nesta passagem? Significa os homens separados do reino de Deus e da graça de Cristo. Pois, enquanto o homem vive para si mesmo, está completamente condenado. O mundo é, portanto, contrastado com a regeneração, assim como a natureza humana é contrastada com a graça, e a carne, com o Espírito. Os que nascem do mundo nada possuem, exceto pecado e perversidade, não por criação, e sim por corrupção. Cristo morreu pelos nosso pecados, a fim de remir-nos ou separar-nos do mundo.....Pertencemos ao mundo; e enquanto Cristo não nos redime do mundo, este nos domina e vivemos para ele”. Calvino, João. Gálatas-Efésios-Filipenses-Colossenses. Comentário de Gálatas 1:4, pgs 35-36. Editora Fiel.


13.  “Pecados do Mundo” Usados em Contextos Não-Controversos


3) Mas que a eleição divina não é para ser separada do chamado exterior, eu admito; no entanto, esta ordem deve ser mantida, que Deus, antes de atestar sua eleição aos homens, primeiro os adota para si em seu conselho secreto. O sentido é que o chamado é aqui oposto a todos os méritos, virtude e esforços humanos, como se dissesse: “Os homens não alcançam isto por si próprios — continuarem um resto e ficarem ilesos — quando Deus visita os pecados do mundo; contudo, eles são preservados só por sua graça, pois que são escolhidos”. Calvino, João. Comentário sobre Oséias. Oséias 2:32, pg 76. Tradutor: Vanderson Moura da Silva. Disponibilizado em http://www.monergismo.com.


16. Para Concluir


a) “Abraçando a graça que me tem dado em nosso Senhor Jesus Cristo e aceitando os méritos da sua morte e paixão, para que, por esses meios, todos os meus pecados sejam sepultados; e rogando-lhe para que me lave e purifique pelo sangue desse grande Redentor, que foi derramado por nós, pobres pecadores, para que eu possa comparecer diante da sua face trazendo a semelhança dele. Também afirmo solenemente que tenho me esforçado, na medida da graça que ele me tem dado, para ensinar a sua palavra em pureza, tanto nos meus sermões como nos meus escritos, e para expor fielmente as Sagradas Escrituras”. Calvino, João. As Cartas de João Calvino. O Último Desejo e Testamento do Mestre João Calvino, pgs 181-182. São Paulo. Editora Cultura Cristã. 2009

b) “Abraçando a graça que Ele me conferiu em nosso Senhor Jesus Cristo e aceitando o mérito de Sua morte e paixão, a fim de que por este meio todos os meus pecados sejam sepultados, e rogando-O a de tal maneira lavar e limpar-me com o sangue deste grande Redentor, que foi derramado por todos os pobres pecadores, que possa eu comparecer ante Sua face como tendo Sua imagem. Protesto também que me hei esforçado, segundo a medida da graça que Ele me conferiu, por ensinar Sua Palavra, em toda pureza, seja em sermões, seja em escritos, por expor fielmente a Escritura Santa”. Trecho do “Testamento e Última Vontade de João Calvino” citado por Theodoro de Beza em “A Vida e Morte de João Calvino”.  Editora Luz para o Caminho, pgs 87-91, disponibilizado em http://monergismo.com/?p=2664.

3 comentários:

  1. Amado, muito me apraz conhecer vosso blog.
    Sempre nos é de bom grado conhecermos novas pessoas dispostas a lutarem pela fé reformada.

    Matenhamos contato.
    Um abraço!

    Em Cristo,
    Filipe Luiz C. Machado

    Blog: www.2timoteo316.blogspot.com

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  2. Filipe, fico feliz que tenha gostado do blog. Que Deus te abençoe ricamente!!!

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  3. Graça e a Paz meu irmão. gostei do seu blog. Em sua apresentação sobre o Calvinismo Moderado disse que Existem e existiram calvinistas moderados infralapsarianos e supralapsarianos.Poderia compartilhar os textos e artigos dos autores supralapsarianos calvinistas moderados? Abraços

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