A questão em debate entre Calvino e os reformados posteriores não implica qualquer debate sobre o valor ou mérito da morte de Cristo. Praticamente todos concordavam que era suficiente para pagar o preço pelos pecados de todo o mundo.
Nem era a pergunta em questão se todos os seres humanos seriam realmente salvos. Todos (incluindo Arminius) concordavam que este não era o caso. Para colocar isso de outra forma: se "expiação" é tomada como significando o valor ou a suficiência da morte de Cristo, ninguém ensinou Expiação Limitada - e se a expiação é tomada como significando a real salvação realizada em pessoas em particular, ninguém ensinou a expiação ilimitada (exceto, talvez, o muito criticado Samuel Huber).
Historicamente, redigida em linguagem compreensível, nos séculos XVI e XVII, havia duas questões a serem respondidas. Primeiro, a questão colocada por Armínio e respondida em Dort: dada a suficiência da morte de Cristo para pagar o preço por todos os pecados, como deve-se compreender a limitação de sua eficácia para alguns? Na visão de Arminio, a eficácia foi limitada pela escolha de algumas pessoas em crer e de outras em não crer, e a predestinação foi fundamentada em uma presciência divina dessa escolha. Na visão do Sínodo de Dort, a eficácia foi limitada de acordo com a suposição de salvação pela graça somente, para os eleitos de Deus. Calvino foi bastante claro sobre o ponto: a aplicação ou a eficácia da morte de Cristo foi limitada aos eleitos. E nessa conclusão também houve acordo entre os posteriores teólogos reformados.
Segundo, houve a questão implícita nas variações de formulação entre os escritores reformados do século XVI e explicitamente discutiram em uma série de debates no século XVII, na sequência do Sínodo de Dort, a saber, se o valor da morte de Cristo foi hipoteticamente universal em eficácia. Colocando mais simplesmente, era o valor da morte de Cristo de tal modo que, seria suficiente para todo o pecado, se Deus assim o tivesse desejado - ou foi o valor da morte de Cristo de tal modo que, se todos viessem a crer todos seriam salvos. Sobre esta questão muito específica Calvino é, sem dúvida, silencioso. Ele não mencionou frequentemente a tradicional fórmula eficiência-suficiência, e ele não abordou a questão, colocada por Amyraut, de um decreto hipotético ou condicional de salvação para todos os que viessem a crer, antes do decreto absoluto para salvar os eleitos. Ele freqüentemente declarou, sem qualquer modificação adicional, que Cristo expiou os pecados do mundo e que este "favor" é estendido "indiscriminadamente para toda a raça humana." Vários dos reformados posteriores apelaram a Calvino em ambos os lados do debate. (Apenas uma poucos escritores do século XVII e XVIII, argumentaram que a morte de Cristo foi pagamento suficiente apenas pelos pecados dos eleitos.) A teologia reformada posterior, então, é mais específica sobre este ponto particular do que Calvino tinha sido – e indiscutivelmente, um pouco vagos nas formulações sobre esse ponto, podem seguir em várias direções, como de fato as fórmulas puderam a partir do Sínodo de Dort.
Richard A. Muller, Was Calvin a Calvinist? Or, Did Calvin (or Anyone Else in the Early Modern Era) Plant the “TULIP”?, (pp., 9-10); http://www.calvin.edu/meeter/lectures/Richard%20Muller%20-%20Was%20Calvin%20a%20Calvinist.pdf (accessed 6 November 2009).
Notas de David Ponter:
1) O ponto de Muller aqui sustenta e ecoa meus comentários anteriores, a saber: “o argumento de Dort é contra aqueles que ensinam que Cristo morreu por todos os homens igualmente, de forma que ele não tenha morrido efetivamente ou especial por ninguém. Essa é a proposição que Dort nega. Em lugar nenhum de Dort será encontrada uma negação de um aspecto ilimitado à expiação e à redenção (como ensinado pela patrística clássica, medieval e pelos pais da Reforma). A teologia de Lutero, Zwingli, Bullinger, Musculus, Calvino, Vermigli e inúmeros outros, não é excluída por Dort”
2) Nós podemos agora completar esse comentário anotando o ponto de Muller que a disputa de Dort era sobre a eficácia da expiação.
3) Assim, tanto as contruções de Davenantian/Amyraldian e Owenic (com suas teologias subjacentes) da fórmula Eficiênte-suficiente são consistentes com Dort.]
Fonte: http://calvinandcalvinism.com/?p=4805
Tradutor: Emerson Campos Pinheiro