Em primeiro lugar, essa é uma análise não-acadêmica da lógica envolvida no estabelecimento de um caso para a expiação limitada dos versículos em João 10:15 e João 10:26. A intenção é dispor o caso de uma forma não-técnica para leitores leigos. Não pretende ser uma discussão exaustiva das questões envolvidas.
Em segundo lugar, pode-se dizer que existem dois tipos de argumentos que utilizam João 10:15 para provar a expiação limitada. O primeiro é o que eu chamaria de uma forte forma de argumentação. Esta forte forma do argumento insiste que João 10:15 com 10:26 estabelecem uma dicotomia rígida entre aqueles para quem Cristo morreu e aqueles para quem Ele não morreu. Ou seja, em nenhum sentido peculiar Cristo morreu para os não-eleitos. Por "sentido peculiar", eu quero dizer, ou em termos de relacionamento penal ("pelos pecados de quem Cristo foi punido?"), ou da intencionalidade divina para salvar (ou pela vontade secreta ou revelada). A questão afirmada desta forma evita as distraidas afirmações por alguns defensores da expiação limitada que Cristo morreu por todos, na medida em que assegurou que a graça comum beneficiasse a todos.
Em terceiro lugar, a forma mais fraca do argumento insinuaria que João 10:15 sugere uma distinção, e não uma dicotomia, ou seja, que Cristo morreu por alguns distintamente, ao contrário de outros. Aqui,a ênfase seria que João 10:15 nos mostra que pode-se dizer que Cristo morreu em um sentido distinto para os eleitos, no qual não morreu para os não-eleitos. Dito de outra forma, Cristo morreu para os eleitos em um sentido distinto, como oposto ao sentido no qual Ele (pode ter?) morrido para os não-eleitos. Eu gostaria ainda de afirmar que mesmo isso não é sustentada por uma sólida leitura de João 10:15.
Para os fins deste ensaio somente a forma forte do argumento estará sob revisão. A forma mais fraca é tratada apenas na seção de comentários. É lá que eu também darei seguimento à outras réplicas. Os leitores precisam ter em mente que eu não nego que Cristo morreu pelos eleitos em um sentido no qual Ele não morreu para os não-eleitos. Se falamos da intencionalidade de Cristo, eu posso dizer que no sentido no qual Cristo morreu pelas ovelhas, Ele não morreu pelas não-ovelhas.
Parte 1: A Crítica
Esse argumento para a expiação limitada funciona assim em um silogismo:
Premissa maior:
Cristo dá Sua vida por suas ovelhas (João 10:15)
Premissa Menor:
Os fariseus não são ovelhas de Cristo (João 10:26)
Portanto, Cristo não dá sua vida pelos fariseus
Cristo dá Sua vida pelas ovelhas
Os fariseus não são ovelhas de Cristo
Portanto, Cristo não dá Sua vida pelos fariseus
O problema é que isso é formalmente inválido.
Vamos usar uma analogia que segue a mesma forma, mas ainda assim demonstra claramente que a forma do argumento é inválido.
João ama seus filhos.
Sara não é filha de João.
Portanto, João não ama Sally.
Este é um argumento inválido. Sara poderia ser a esposa de João e mãe de seus filhos, e assim ser outra pessoa a quem João verdadeiramente e adequadamente ama.
Você pode trocar qualquer dos termos, e o resultado será o mesmo.
O que aconteceu, é que a inferência negativa tem sido transformada em algo parecido com isso:
O positivo simples:
João ama seus fihos
é convertido em um negativo simples
João ama somente seus filhos.
Então o silogismo se segue assim:
João ama somente seus filhos.
Sara não é uma filha de João.
Portanto, João não ama Sara.
E se nós aplicarmos isso de volta em João 10:15, o silogismo agora parece estar sendo transformado em uma negação:
Cristo dá Sua vida somente pela ovelhas
Os fariseus não são ovelhas de Cristo.
Portanto, Cristo não dá sua vida pelos fariseus.
Consciente ou inconscientemente, muitos leitores tem convertido "Cristo dá Sua vida pelas ovelhas", como sendo idêntico ou como implicando: "Cristo dá Sua vida somente pelas ovelhas." Entretanto, esta é uma inválida inferência negativa.
O problema é a conversão do simples positivo para uma negativa universal. Esta é a falácia da inferência negativa a que Dabney se refere:
“Na prova de que está correta essa teoria da extensão da Expiação, nós devemos atribuir apenas força parcial para alguns dos argumentos apresentados pela Symington e outros, ou mesmo por Turrettin, por exemplo, que dizem que Cristo morreu "por Suas ovelhas", por "Sua Igreja", por “Seus amigos", pois essas expressões não são por si mesmas conclusivas. A prova de uma proposição não desaprova seu inverso. Toda a força que poderíamos propriamente atribuir a essa classe de passagens é a probabilidade decorrente da repetição freqüente e enfática dessa declaração afirmativa quanto a um objeto definido.” Dabney, Lectures, p., 521.
Tem havido algumas tentativas pelos defensores da expiação limitada em alegar que falácia da inferência negativa não se aplica neste caso. Estas tentativas são bastante surpreendentes. Imagine um católico dizendo que a proposição " justificado somente pela fé" não se aplica aqui, de modo que nós possamos convertê-la em uma inferência positiva, que nós podemos ser justificados pela fé e por obras. Nós não podemos ser arbitrários quando se trata de aplicar as regras universais de inferência lógica.
E deve ser simples que não se deve buscar estabelecer um argumento positivo baseado em inferências inválidas. Tais tentativas serão sempre e em todos os lugares inválidas. Mesmo repetindo a inferência inválida ad infinitum ela nunca se tornará válida.
“E eu, irmãos, apliquei estas coisas, por semelhança, a mim e a Apolo, por amor de vós; para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito, não vos ensoberbecendo a favor de um contra outro.” (1 Corintios 4:6)
Não importa o quão tentador seja, não importa o quão importante seja para um sistema, é errado inserir uma negação em um versículo onde ele não estava originalmente presente. Essa problemática é ainda agravada se após a alteração para uma negação extra-textual, alguém, em seguida, tenta sustentar o caso da expiação limitada. Isso se torna motivo para um argumento circular.
Por último, deve-se também ter em mente que os leitores do Evangelho de João não devem saltar para a conclusão precipitada de que devido ao que Jesus diz em João 10, os fariseus são bodes (em outras palavras, réprobos). Pelo contrário, não se pode excluir a possibilidade de que eles sejam ovelhas rebeldes e desobedientes:
“Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos.” (Isaías 53:6)
Aqui Isaías fala aos apóstatas de Israel, tanto quanto aos fiéis, os quais tem sido ovelhas desgarradas. Se isso estiver correto, então o contraste seria entre ovelhas obedientes versus ovelhas desobedientes (os fariseus), mas não entre os eleitos e os não-eleitos.
Parte 2: A Afirmação
O que realmente está se tratando em João 10 é mais como isso:
"Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas."
"O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê vir o lobo, abandona as ovelhas e foge; então, o lobo as arrebata e dispersa."
"O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê vir o lobo, abandona as ovelhas e foge; então, o lobo as arrebata e dispersa."
"O mercenário foge, porque é mercenário e não tem cuidado com as ovelhas."
"Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim"
"assim como o Pai me conhece a mim, e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas."
"Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então, haverá um rebanho e um pastor." (João 10:11-16)
A questão não é de nenhuma maneira sobre a extensão da morte de Cristo, mas a fidelidade, a lealdade de Cristo às ovelhas. Os fariseus são os mercenários que abandonam as ovelhas. Jesus está dizendo a eles algo como isto: "Eu não sou como vocês, que fogem. Pelo contrário, eu daria minha vida pelas ovelhas e as defenderia até o fim ...." E, por implicação, nós, as ovelhas, verdadeiramente podemos saber que Cristo efetivamente nos salvaria.
Assim, a real ênfase e atenção deve estar sobre este versículo:
"Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então, haverá um rebanho e um pastor". (João 10:16)
Só nesse versículo temos eleição, a intenção de Cristo, e o chamado eficaz.
Quando colocamos juntos os versículos 15 e 16, vemos na mente de Cristo, uma intenção especial em reunir e fielmente entregar a Sua vida por suas ovelhas para que elas possam ser salvas no final. Ele veio à Terra, não como um mercenário chegando ao campo, mas para reunir aqueles que lhe foram dados. Esta é a direção que devemos assumir e não insistir na extensão limitada da expiação. Então, quando bem compreendido, o versículo fala de uma intenção especial de satisfação, e não da extensão da satisfação.
Fonte: http://calvinandcalvinism.com/?p=7949
Tradutor: Emerson Campos Pinheiro.