É desnecessário ressaltar que Edwards não admite que a mera expiação em si dá a todo e qualquer homem o direito de reinvindicar sobre Deus os benefícios da expiação, como às vezes é alegado pelos defensores da salvação universal. Deus não estava sobre nenhuma obrigação de fazer uma expiação pelos pecados do mundo; e, depois de tê-la feito, Ele está em perfeita liberdade para aplicá-la a quem quer, ou não aplicá-la de maneira nenhuma. A expiação é Dele e não do homem, e Ele pode fazer o que quiser com o que é seu. Assim, de acordo com Edwards, dois atos distintos de soberania por parte de Deus são necessários para a salvação da alma.
O fornecimento de uma expiação, em primeiro lugar, é um ato soberano; e, então, a aplicação da expiação, quando fornecida a qualquer pecador eleito individual, é um segundo ato de soberania. Os sofrimentos e a morte de Cristo constituem a expiação, e se nem mesmo uma única alma se apropriasse dela pelo ato da fé, ainda seria a mesma oferta expiatória, apesar de não aplicada. Assim, o segundo destes atos de soberania é tão necessário quanto o primeiro, visando a salvação.
Mas quando ambos os atos de soberania ocorreram - quando, a expiação foi feita, e foi realmente concedida sobre e aceita por um indivíduo- então, diz Edwards, é uma questão de estrita justiça, que a reinvindicação penal da lei não seja exigida do crente, pois ela, então estaria sendo cobrada duas vezes; uma de Cristo, e outra daqueles que, por suposição, a satisfação de Cristo foi realmente concedida por um ato soberano de Deus. Porque Deus fazer isso, seria derramar desprezo sobre sua própria expiação.
Isso seria uma confissão de que sua própria provisão é insuficiente para satisfazer as reivindicações da lei, e precisa ser complementada por uma punição adicional sobre o crente. Seria um reconhecimento de que a expiação, quando vem a ser realmente provada em uma instância individual, falha em satisfazer as exigências da justiça e, portanto, é um fracasso total. A quantia que foi dada ao devedor pobre, com a expectativa de ser grande o bastante para completamente liquidar sua dívida, encontra-se aquém, e deixa-o ainda na prisão do devedor, da qual ele não pode sair "até que tenha pago o último centavo. "
Que esta é uma representação correta do ponto de vista de Edwards é evidente a partir da seguinte resposta que ele dá à pergunta: “Em que implica a soberania de Deus na salvação do homem?"
"A soberania de Deus na salvação dos homens implica que Deus pode conceder salvação para qualquer um dos filhos dos homens, ou recusá-la, sem qualquer prejuízo para a glória de algum dos seus atributos, exceto quando ele tem tido o prazer de declarar que irá ou não concedê-la. Não se pode dizer de forma absoluta, na exceção apresentada, que Deus pode, sem qualquer prejuízo para a honra de qualquer um dos seus atributos, conferir a salvação de qualquer um dos filhos dos homens, ou recusá-la, porque em relação a alguns, Ele se agradou em declarar ou que quer ou que não quer conceder salvação a eles, e assim obriga a si mesmo por sua própria promessa."
"E com relação a alguns, se agradou em declarar que nunca irá lhes conceder a salvação, ou seja, aqueles que cometeram o pecado contra o Espírito Santo. Assim, no caso agora apresentado, Ele é obrigado e não pode conceder a salvação em um caso, ou recusá-la no outro, sem prejuízo para a honra da sua verdade. Mas Deus exerceu sua soberania ao fazer estas declarações. Deus não foi obrigado a prometer que iria salvar todos os que crêem em Cristo, nem foi obrigado a declarar que aquele que cometeu o pecado contra o Espírito Santo nunca será perdoado. Mas se agradou em assim declarar. " Edwards’s Works, IV. 530. N. Y. Ed.
William G.T. Shedd, “The Atonement, A Satisfaction for the Ethical Nature of Both God and Man,” in Discourses and Essays, (Andover:Warren F. Draper, 1862), 321 and 322. [Italics original and underlining mine.] [This essay was originally published in Bibliotheca Sacra, Oct. 1859.]
Fonte: http://calvinandcalvinism.com/?p=6964