Dr. White continua (sobre o tópico de Galatas 2):
“Agora, isso não é o Calvário? E não é o amor de Cristo por Paulo expresso aqui? Mas se esse foi um ato não diferenciado, sem a união dos eleitos sendo considerada aí na expressão do amor redentor, não se segue que o mesmo poderia ser dito por Faraó? A única maneira de contornar isso seria dizer "que me amou [na minha conversão] e Se entregou por mim [na cruz]". Eu tenho certeza que o Dr. Svendsen afirmará que tou/ avgaph,santo,j me kai. parado,ntoj e`auto.nu`pe.r evmou/ refere-se a um ato: os dois aoristo participio referem-se à auto-doação de Cristo na cruz. Assim, se o sacrifício expiatório é a própria demonstração do amor de Cristo por Paulo pessoalmente, como pode o sacrifício trazer perdão para toda a humanidade?”
Eu creio ter demonstrado suficientemente na parte 1 desta série que a nossa união com Cristo é baseada na obra histórica de Cristo na cruz, mas essa união não ocorre (isto é, nós não realmente "morremos com Cristo") até o momento da fé, assim como nós não somos realmente "sepultados com Ele" ou "ressuscitados com Ele" até o momento da fé - todos esses três atos são coincidentes.
Além disso, eu não defendo que a morte de Cristo na cruz foi um ato "não diferenciado." Está além do escopo das Escrituras sugerir que Cristo poderia ter dois propósitos distintos na expiação, um para a eleição (para servir como base para sua redenção) e outro para os não-eleitos (para servir como base para sua condenação)? Eu creio que não. E ainda creio que isso é justamente onde a evidência nos leva.
Aqui estão as questões como as vejo. Primeiro, a posição da expiação limitada confunde o conceito de ser "escolhidos em Cristo" (en [christos]) com o conceito de união “com Cristo" (sun [christos]). O primeiro refere-se ao locus da boa vontade de Deus e é dita ser eterna, enquanto o segundo refere-se a união (ou "identificação com") e é dito ser aplicada no tempo.
Efésios 1 deixa claro que fomos escolhidos "Nele" antes da fundação do mundo (Ef 1:4), e que, como resultado, estamos presentemente “Nele” . O objetivo da linguagem usada “Nele" não é demonstrar a união em si, mas mostrar o ponto focal da boa vontade de Deus. Qualquer pessoa - de fato, qualquer coisa - "em Cristo" é ipso facto "abençoada com todas as bênçãos espirituais" e tem derramado sobre si "as riquezas da Sua graça". A razão para isso é porque Cristo é o centro do “beneplácito” e da “bondosa intenção” de Deus. Portanto, tudo o que está "em Cristo", por extensão, torna-se objeto da boa vontade de Deus.
Mas só no capítulo 2, que o conceito de "união com Cristo" aparece. Quando estávamos mortos em nossos pecados, nós fomos "vivificados juntamente com Cristo" (no tempo e no momento da fé). Naquele momento, Deus nos ressuscitou “com Cristo" e "nos assentou juntos com Ele". Isso ocorre também no momento da fé, e depois de Paulo já ter mencionado a “obra” de Deus a qual “manifestou em Cristo, ressuscitando-o dos mortos, e pondo-o à sua direita nos céus” (1:19-20). Em outras palavras, a morte, o sepultamento, a ressurreição e a ascensão de Cristo ocorreram historicamente em um ponto no tempo, mas a nossa “morte”, “sepultamento”, “ressurreição” e “ascensão” ocorre no momento em que somos “salvos por meio da fé "(Ef 2:8-9).
“Com relação a Gálatas 2:16-20, não vejo a aplicação formulada pelo Dr. Svendsen. O sustauro, omai de Paulo ("ser crucificado junto com") é muito difícil de compreender como, de fato, se referindo a um evento anos após a morte de Cristo”
. . . Eu creio que o ponto oposto é estabelecido com fundamento exegético, não só no texto de Efésios 2 e Colossenses 2-3, mas também no texto de Gálatas 2.
Para reiterar um ponto do Dr. White que anteriormente abordei apenas brevemente, a saber:
“e note que, enquanto Paulo está certamente falando de sua vida naquele momento, ele não tem nenhum problema em apontar para trás mais uma vez, claramente, para a morte substitutiva de Cristo nas palavras 'que me amou e Se entregou por mim'.”
Certamente, e como mencionei antes, eu nunca iria sugerir o contrário. Nossa união com a morte de Cristo, no momento da fé tem um referência histórica ao ato de Cristo na cruz. Mas quando é que Paulo "morre" de acordo com Gal 2:19? "Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus." Paulo aqui faz o mesmo ponto que já havia feito em Colossenses 2, ou seja, que o momento da "morte" é algum tempo depois dele ter a experiência de ser "obrigado" pela lei ("os rudimentos do mundo"), por isso a morte é tanto "com Cristo" quanto "para a lei" (ou "os rudimentos do mundo"; Col 2:20). O comentário de Paulo sobre o que significa "morrer para a lei" é encontrado no versículo seguinte: "Estou crucificado com Cristo, logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” A frase "já não” (ouketi) sugere fortemente (se não prova completamente), que o ponto em que Paulo deixa de "viver" (ie, "morre") e em que Cristo começa a "viver nele" é o mesmo ponto no qual ele foi "crucificado com Cristo; "(ie, morreu "com Cristo" e "para a lei").
Dr. White continua:
"E eu não acredito que Ele, de forma substitutiva, proposital, intencional, e aparte do amor redentivo, levou sobre Si a penalidade devida ao pecado de Faraó."
Nem eu. Mas Ele não poderia ter suportado aquele pecado para servir como base para a condenação do Faraó, que persistiu na incredulidade?
Dr. White continua:
“Até onde eu posso ver, ou os eleitos foram unidos a Cristo na Sua morte en toto, ou toda a idéia de substituição torna-se irrelevante. Eu acredito que a realidade da nossa eleição em Cristo torna a nossa união com Cristo uma realidade divina antes mesmo de nossa existência temporal.”
Mas, então, esse mesmo princípio também se aplica ao nosso “sepultamento" com Ele, à nossa “ressurreição” com Ele, e à nossa “ascensão”com Ele? Todas estas coisas são ditas como ocorrendo no ponto da fé. Será que estamos predestinados a estas coisas? É claro que estamos, mas acho que é um pouco diferente de dizer que já ocorreram ou que já eram verdades em relação a nós antes da conversão.
Além disso, parece-me que o Dr. White pode estar sendo inconsistente sobre este ponto. Se nós concluímos que essas coisas já aconteceram na eleição na eternidade passada ("in toto") só porque elas estão determinadas a tomar lugar no tempo e só porque a bondosa intenção de Cristo sempre foi morrer pelos seus eleitos, então poderíamos fazer esse mesmo processo também em relação a justificação e a glorificação. Aos olhos de Deus, todos que Ele predestinou Ele já tem "justificado" e "glorificado" (pretérito; Rom 8:30). Tudo isso é verdadeiro no sentido de que os eleitos são certamente predestinados a estas coisas - e que isso é algo tão certo que pode ser apresentado como algo já concluído.
Mas, tão certo como estas coisas acontecerão, o Dr. White e eu concordamos que não se pode concluir que a justificação (muito menos a glorificação) já foi realizada nos eleitos que ainda não creram. O Dr. White tem registrado sua rejeição à justificação eterna. Isso significa que, tão certo como todos os eleitos serão justificados, e tão certo como a justificação dos eleitos está dentro do beneplácito de Sua vontade eterna, os seus eleitos não são, no entanto, realmente justificados na eternidade passada, mas no momento da fé. Por que então devemos concluir que a nossa união com Cristo na sua morte teve lugar na eternidade passada, apenas porque é certo que vamos experimentar a união com Cristo no tempo?
Dr. White continua:
(Como mencionado acima: o eterno determina a forma do temporal, e não vice-versa, mas nós, como criaturas vinculadas ao tempo, olhando de "baixo”, lutamos para ver isso, e, portanto, devemos permitir que a Palavra seja a lente através da qual podemos contemplar esta tremenda verdade) e nascimento, de modo que em um sentido muito real, os eleitos foram, de fato, "crucificados com Cristo."
Sim, e em um sentido muito real, os eleitos já foram "justificados" por Deus. Mas não podemos concluir com base nisso que nós somos justificados da eternidade - do contrário não haveria mais razão para sermos "justificados pela fé." Da mesma maneira, só porque a nossa união com Cristo na Sua morte, estava na mente, na intenção e na vontade de Cristo na eternidade passada não significa que nós realmente experimentamos união com Cristo na Sua morte antes do momento da fé.
Dr. White continua:
"Quando dizemos que a morte de Cristo provê os “fundamentos" do perdão, mas “não é o perdão em si" a que nós nos referimos? Tenho certeza que isso não é o mesmo que dizer que a morte de Cristo torna o perdão uma “possibilidade”. Isso não faz, de fato, a experiência do perdão no tempo uma certeza para todos os que estão unidos a Cristo? Creio que sim".
Vamos colocar a questão na conversa: Se a expiação torna o perdão uma certeza, e se nada mais está no caminho desse perdão, então porque é que os eleitos não são perdoados imediatamente uma vez que o trabalho já foi feito? O próprio fato de que o Dr. White rejeita a justificação eterna e reconhece um intervalo entre a união com Cristo que ocorreu na eternidade passada e o perdão dos pecados aplicados a cada um dos eleitos no tempo mostra que ele também reconhece que há ainda um ato não realizado de aplicação desse perdão para os indivíduos no tempo. O que impede a aplicação dos benefícios da morte de Cristo para os eleitos? Nós encontramos no Novo Testamento, que é o estado de descrença que funciona como barreira para impedir que um homem, qualquer homem, eleito ou não desfrute da aplicação da morte de Cristo. Porque apesar de toda a insistência da posição da expiação limitada de que estamos unidos com Cristo in toto na eternidade passada e que a união com Cristo é tudo o que é necessário para o perdão dos nossos pecados, no final do dia, ambos concordamos que os benefícios dessa expiação (ou seja, o perdão dos pecados) não é aplicada a ninguém que esteja em um estado de incredulidade, quer eleito ou não. Assim, há uma condição que deve ser satisfeita antes que a expiação seja aplicada, e essa condição é a fé.
Aqui nós dois reconhecemos que os eleitos de forma inabalável satisfarão esta condição, porque a fé é concedida a eles por Deus, e que os não-eleitos tão certamente não satisfarão. Mas isso só prova o meu ponto prévio de que há uma diferença a ser feita entre a expiação em si (a obra concluída) e o perdão dos pecados que brota dessa expiação, mas é condicionado pela fé. Assim, se até mesmo os eleitos, que são mais seguramente incluídos no âmbito da expiação, podem ser chamados de "filhos da ira" e continuar não perdoados enquanto permanecerem na incredulidade, embora a obra de Cristo na cruz esteja completa, então, obviamente, não pode haver oposição à idéia de que os não-eleitos também estão incluídos na extensão da expiação, mas, uma vez que seu estado de incredulidade continuará perpetuamente, então os benefícios da morte de Cristo são proporcionalmente retidos a eles perpetuamente. Na minha opinião, não pode haver sólida objeção para esta idéia que não resulte em inconsistências insuperáveis.
Dr White continua:
"Agora, não se segue verdadeiramente que se alguém crê que a morte de Cristo faz o perdão dos eleitos uma certeza através da união e da substituição, deve logicamente crer na justificação eterna devido à expressão "filhos da ira"? Eu não creio assim."
Eu, por outro lado, penso que esta conclusão é inevitável. Se, como afirma o Dr. White, o perdão dos pecados é "através da união com Cristo", e se essa união com Cristo toma lugar in toto na eternidade passada, segue-se que o perdão também ocorreu in toto na eternidade passada – ou, pelo menos, o perdão completo dos pecados de todos os eleitos teria que ocorrer no momento da cruz e não mais tarde. De acordo com a visão da expiação limitada, estávamos unidos com Cristo na sua morte, na eternidade passada, e se estar unido a Cristo na sua morte significa que temos o perdão completo e sem restrições (como o Dr. White parece implicar), então isso leva inevitavelmente à conclusão de que todos os eleitos foram perdoados de todos os seus pecados e, portanto, já foram colocados em constante retidão ("justificados") por Deus, provavelmente na eternidade passada, ou definitivamente mais tarde no momento da cruz.
No próximo artigo nós encerraremos nossos pensamentos a respeito da união com Cristo, abordando o significado de "reconciliação" em 1 Coríntios 5, e apontando o que poderia ser a maior fraqueza da posição da expiação limitada, ou seja, a resposta para a questão de como um homem pode ser condenado por rejeitar o evangelho, se o evangelho não é oferecido a ele em primeiro lugar. Eu ainda não li uma resposta satisfatória a esta pergunta do campo da expiação limitada.