sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Eric Svendsen: Expiação Universal - Diálogo com James White - Parte 3

Quando Nossa União com a Morte de Cristo Ocorre? – Parte 1


Dr. White escreveu:

“Com relação a Gálatas 2:16-20, não vejo a aplicação feita pelo dr. Svendsen. O “sustauro, omai” de Paulo ("ser crucificado junto com") é muito difícil de entender se, de fato, está se referindo a um evento anos após a morte de Cristo”

Eu quero deixar claro que meu apontamento anterior sobre o momento exato em que os eleitos são unidos com Cristo na Sua morte é realmente apenas incidental ao meu apontamento maior de que somente os eleitos são unidos com Cristo na sua morte. Eu não creio que sustentar que somente os eleitos experimentam união com Cristo na Sua morte necessita de uma visão específica apenas de quando essa união acontece. Dito isto, eu creio que o Novo Testamento é comprovadamente a favor dos eleitos experimentando a união com Cristo no momento da fé, não na eternidade passada (exceto, talvez, em um sentido predestinariano).


Dito isto, eu não estou certo porque ver a união da visão com Cristo como algo que ocorre no momento da fé seria mais difícil de entender do que outras declarações semelhantes que Paulo faz. Paulo afirma que fomos "sepultados com ele" no momento do batismo (Cl 2:12), que fomos "ressuscitados com Ele por meio da fé" (v. 12). Nosso ser "vivificado com Ele" (nossa ressurreição espiritual) só ocorreu depois que nós fomos "mortos em nossas transgressões" (v. 13). Embora seja verdade que o certificado de dívida constituído dos decretos que eram hostis a nós foi cravado na cruz (v. 14), o cancelamento dessa dívida em termos de perdão, que é aplicada a nós, não ocorre até que Ele "nos vivificou com Ele "(v. 13).

Assim, quando chegamos ao v. 20: "Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo” entendemos que Paulo esteja recapitulando o que ele já explicou nos versículos 12 a 14, ou seja, que todas as coisas que nos é dito ter sido feitas "com Cristo" são aplicações pessoais para nós no tempo e no momento da fé, mesmo que isso tenha acontecido historicamente com Cristo em um ponto anterior no tempo. Paulo insiste que a nossa morte “com Cristo” também foi uma "morte quanto aos rudimentos do mundo", isto é, “as ordenanças que eram contra nós e que eram hostis a nós "(v. 14), sugerindo que houve um período de tempo quando estávamos sujeitos a essas coisas (ou seja, quando estavamos sob a lei). Em outras palavras, a nossa morte "com Cristo" ocorre apenas após a nossa escravização aos "rudimentos do mundo", pois essa morte não é apenas "com" alguém (ou seja, Cristo), mas "para" algo (ou seja, ordenanças que eram hostis a nós, ou seja, a Lei e qualquer complementar legalismo humano). Isso indica que a nossa união com a morte de Cristo ocorre no momento da fé e não na eternidade passada.

Paulo amplia esse ponto em 3:1: "Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus.” e ele conecta esse ponto de "ser ressuscitado" ("ressurreição" esta que, como já vimos, ocorre no momento da fé, 2:13) com o seu ponto seguinte: “Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (3:3).

Paulo faz observações muito semelhantes em sua carta aos Efésios (o que não é nenhuma surpresa, uma vez que ele escreveu essas cartas quase consecutivamente). Em Efésios 2 nos é dito que o nosso antigo estado era um de pecado e de hostilidade para com Deus. Nós estávamos "mortos" em pecado (2:1), nós "antigamente andavamos segundo o curso deste mundo" (v. 2), nós "antigamente viviamos na luxúria da nossa carne" (v. 3), e nós eramos "por natureza filhos da ira" (v. 3), assim como o resto do mundo. Mas Deus, por causa de seu eterno amor e misericórdia para conosco "nos vivificou juntamente com Cristo" (v. 5), e Ele "nos ressuscitou com Ele" (v. 6).

A questão torna-se: Quando a "vivificação com Cristo" e a "ressurreição com Ele" ocorre? Nós sabemos a partir do contexto que foi depois do nosso "antigo estilo de vida" (vv. 1-3). Sabemos também que Paulo conecta essas ações com o momento da fé: "Porque pela graça sois salvos mediante a fé.” Em outras palavras, o nosso ser "vivificado" com Ele e o nosso ser "ressuscitado" com Ele são ambos indissociavelmente ligados ao momento da fé. Portanto, não haveria absolutamente nenhuma dificuldade com nossa visão de "morrer" com ele como parte e parcela desse evento, que ocorre no tempo e no momento da fé. Isso, creio eu, é a linguagem do Novo Testamento.

Dr. White escreve:

“e note que, enquanto Paulo está certamente falando de sua vida naquele momento, ele não tem nenhum problema em claramente apontar para trás novamente a morte substitutiva de Cristo nas palavras "que me amou e Se entregou por mim".

Não, claro que não tem. Assim como Paulo, em sua insistência de que nós fomos "ressuscitados com Ele" mediante a fé, não tem nenhum problema em apontar para a realidade histórica da ressurreição de Cristo (Ef 1:20). Os acontecimentos históricos servem como base da nossa união com Ele em seu “sepultamento”, "sua ressurreição", “sua ascensão ", e sim, em sua “morte" (a qual é pressuposta por todas as outras) e esta união ocorre por meio da fé .

Nessa mesma linha, é claro que os não-eleitos vão ser condenados por sua rejeição de Cristo e Seu evangelho. Por exemplo, 2 Tessalonicenses 1:8-9 diz que Cristo "punirá aqueles que não conhecem a Deus e àqueles que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus. E estes pagarão a pena da destruição eterna." Jesus mesmo diz: “Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus"(João 3:18). Ou seja, aqueles que rejeitam, desobedecem e se recusam a crer no evangelho são julgados por essa rejeição, desobediência e recusa a crer. Mas se a oferta do evangelho não propriamente se estende a eles em primeiro lugar, como podem ser corretamente julgados por rejeitá-la? Um homem não pode "rejeitar" algo que não é oferecido a ele.

Na verdade, o que mais explica porque os não-eleitos que rejeitam o evangelho após fortemente considerá-lo são ditos estar sob maior condenação? Pedro coloca dessa forma:

“Portanto, se, depois de terem escapado das contaminações do mundo mediante o conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos, tornou-se o seu último estado pior que o primeiro. Pois melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da justiça do que, após conhecê-lo, volverem para trás, apartando-se do santo mandamento que lhes fora dado” (2 Pedro 2:20-21)

Com isso, o escritor de Hebreus concorda:

“Pois, no caso daqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia.”

E também em . . .

“Quem rejeitava a lei de Moisés morria sem misericórdia pelo depoimento de duas ou três testemunhas.Quão mais severo castigo, julgam vocês, merece aquele que pisou aos pés o Filho de Deus, que profanou o sangue da aliança pelo qual ele foi santificado, e insultou o Espírito da graça?” (Hebreus 10:28-29)


Em cada caso, a pessoa em questão abraçou o cristianismo apenas por um curto tempo. Em cada caso concreto, a pessoa é não-eleita e cai posteriormente. Como resultado, em cada caso, a condenação é considerada mais severa ("seria melhor para eles não terem conhecido o caminho da justiça", "Quão mais severo castigo, julgam vocês, merece aquele...?") . A questão permanece: Por que a punição é (e por extensão a ofensa) mais severa do que a do descrente típico? Nos foi dito o porquê: os apóstatas em questão "chegaram ao conhecimento da verdade" e "voltaram-se para trás, se apartando do santo mandamento que lhes foi entregue”. Esse “santo mandamento", é claro, é o próprio evangelho, e esse evangelho foi "entregue a eles". O que torna a ofensa tão grande aqui é que eles, inicialmente, abraçaram o evangelho, mas depois o rejeitaram. Mas isso implica necessariamente que eles eram obrigados a acreditar e continuar nele. Assim sua rejeição do evangelho é o mesmo que "de novo crucificando para si mesmos o Filho de Deus", "expondo-o à ignomia", "pisando aos pés o Filho de Deus", "insultar o espírito da Graça" e "profanou o sangue da aliança pelo qual ele foi santificado", e, como resultado, seu “último estado tornou-se pior que o primeiro".

Mas como eles podem ser obrigados a crer no evangelho, se o evangelho não é estendido a eles e não se aplica a eles? Por que eles seriam culpados de um crime maior do que os outros não-eleitos que simplesmente rejeitam o evangelho imediatamente sem qualquer consideração sobre isso? Todos os incrédulos (todos os não-eleitos) serão julgados por recusar o evangelho (2 Ts 1:8-9, João 3:18), mas estes homens especificos serão submetidos a uma sentença mais severa porque realmente abraçaram a verdade antes de rejeitá-la. Nada disto faz sentido (no caso de qualquer categoria de não-eleito), se o comando para crer no evangelho não se aplicasse a eles. Mas, se o comando para crer no evangelho, de fato, se aplica a eles, então tem que haver um fundamento para o comando na expiação de Cristo.