sábado, 6 de março de 2010

Dominic Bnonn Tennant: Os Fundamentos Objetivos da Fé

Expiação Universal - Parte 3 de 6



Anteriormente, eu conclui que a expiação particular torna impossível para qualquer pessoa – mesmo se ele é um eleito – confiar na promessa da salvação. Se você estava prestando atenção, deve ter notado que assim como ela torna uma sincera e universal chamada para o evangelho impossível, ela ainda tem uma mais séria e direta conseqüência, a saber, a impossibilidade da fé em Cristo. A fim de elaborar essa implicação, eu só realmente preciso definir o que é fé, uma vez que o argumento que eu fiz na parte 2 fez o resto do trabalho por mim.

Fé Definida


Hebreus nos diz que “fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de coisas que não se vêem” (11:1). Além disso, observa que fé tem o próprio Jesus como o seu autor e consumador (12:2) - em outras palavras, ele é o modelo da fé cristã.

Eu argumentei no passado que sua segurança e convicção, que estabelece a referência para a nossa própria, sendo fundamentada em sua perfeita comunhão com a divindade, foi sem mesmo um vislumbre de incerteza, dúvida, ou incredulidade. Portanto, segue-se necessariamente que fé, pelo menos em sua forma de paradigma, é uma justificada e autêntica crença.¹


Mais particularmente, é uma justificada e autêntica crença do favor de Deus com relação ao crente. Assim, uma vez que esse favor é disponibilizado para nós pela expiação, o objeto da fé é a pessoa e a obra de Jesus Cristo. Ou nós podemos dizer que o objeto da fé é a promessa de salvação por meio dessa obra. Em todo caso, a fim de fé ser fé, um crente precisa ter uma justificada e autêntica crença que a obra e a promessa são realmente disponibilizadas para ele. Quando eu falo sobre uma crença ser justificada aqui, eu quero dizer simplesmente que uma pessoa tem uma boa e correta razão para sustentá-la.

O problema deve ser imediatamente óbvio. Como essa obra e promessa, sobre a expiação particular, somente pode ser estendida sinceramente para aqueles a quem realmente se referem, então crer na obra e na promessa é somente justificado no caso daqueles a quem elas se referem. Isto é, a obra e a promessa podem somente ser estendidas, e cridas, pelos eleitos.

Mas como nós sabemos quem são os eleitos? Como, de fato, os próprios eleitos sabem que eles são, que eles podem ter a justificativa necessária para crer na promessa ou confiar na obra? De forma que uma particular expiação, na ausência de qualquer informação quanto a seus destinatários específicos, torna impossível não somente que a obra ou promessa de salvação seja estendida, mas também crida, por qualquer um. Mesmo se alguma pessoa ouvir da obra e da promessa, ele não saberá que  é um eleito, e assim  não terá justificativa, nem razão, para crer que elas são para ele.


Um possível resposta examinada


Agora, um particularista pode rejeitar minha definição epistemologicamente rigorosa da fé na esperança de contornar esse problema. Eu penso que ele deve ao menos demonstrar porque a definição está errada, aparte do motivo de que isso faz seu compromisso com a expiação particular impossível – mas se ele rejeita minha visão, então pode dizer que fé é somente uma segurança interna ou convicção do favor de Deus por mim, que vem por meio do Espirito que vive no meu interior. Assim, uma segurança externa em referência a expiação, na forma do conhecimento de que isso pode se referir a mim é desnecessário, porque eu tenho uma segurança interna dada pelo Espirito, na forma do conhecimento de que isso se aplica a mim.

Naturalmente, eu concordo que o Espirito proporciona tal garantia. No entanto, eu percebo que minha objeção não tem sido realmente refutada. O particularista pode contornar a dificuldade por diluir essa definição de fé, mas ele não pode realmente remover ela. Conseqüentemente  é deixado, na verdade, com uma noção muito fraca de fé. Sobre isso, crê que o favor de Deus é disponível para ele, não porque sabe que a expiação foi feita por todos incluindo ele, mas meramente porque – a despeito de ser feita somente por uns poucos escolhidos – experimenta certas percepções internas que o convencem que ela se estende para ele.

Essa parece ser uma posição essencialmente impotente. Fé que não é fundamentada em um externo e objetivo conhecimento de que Cristo expiou por meus pecados; mas, ao invés, em uma interna e subjetiva percepção de que Ele fez isso, não é, de qualquer modo, realmente fé. Fé que não é enraizada na infalível promessa de que a obra da cruz se estende a mim, feita pelo próprio Deus nas Escrituras, mas, ao invés, sobre minha própria falível percepção de que isso foi feito, é tão volúvel e pouco confiável como eu sou. A Escritura não tem uma lista dos eleitos na parte detrás onde eu posso ver a mim mesmo e ficar seguro que eu realmente estou lá. Assim, enquanto sobre uma visão universal, minha fé é tão segura quanto a obra de Deus, sobre uma visão particular minha fé é somente tão segura quanto minhas convicções internas.

Isso, por sua vez, leva invariavelmente a uma violação do sola fide. Se minha fé é somente tão forte quanto minhas próprias percepções internas do favor de Deus por mim, ao invés de uma externa certeza desse favor fundamentado na obra de Cristo, então minha segurança de salvação é derivada, de forma última, de minha própria vida espiritual. Quando eu sinto que estou agindo bem, eu sinto o favor de Deus por mim. Mas quando eu me sinto espiritualmente deprimido ou fraco, se eu estou falhando em vencer o pecado, se eu pensar que eu estou apostatando, então minha segurança é prejudicada, danificada e mesmo, potencialmente, removida inteiramente. Quanto menos confiante me sinto sobre mim mesmo, menos confiante eu sinto que Deus realmente tem disponibilizado a salvação para mim. Na verdade, sabendo como enganoso e impio é meu coração, eu, de forma última, não tenho segurança de modo algum. Se minha fé é baseada em mim, então isso não é fé. É mais parecida com pensamento positivo. Talvez Deus me ame e Cristo tenha morrido por mim. Talvez não. Algumas vezes eu me sinto dessa maneira. Outras vezes, não.

Dessa maneira, então, a expiação particular enfraquece completamente a fé cristã e a segurança de nossa salvação.

Uma objeção antecipada

Eu espero que alguns particularistas, neste ponto, se não antes, dirão que eu estou deturpando imensamente sua visão. Eles diriam que sua fé não é baseada em alguma queimação no peito, alguma sensação subjetiva de nossa própria salvação. Ao invés, no fato de que “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”, e eles tem invocado o nome do Senhor. Sua ação então é uma evidência de que a expiação estende-se a eles. Em outras palavras, eles meramente reconhecem que a promessa da salvação é condicional:

1.Se você crer, então você será salvo
2.Você crê
3.Então, você será salvo

Um argumento paralelo pode, então, ser construído:

4.Se você será salvo, a expiação se estende para você
5.Você será salvo (de 3)
6.Portanto, a expiação se estende para você.

Mas eu penso que não é preciso dizer que os particularistas estão jogando um pouco de um jogo aqui. A primeira premissa é convenientemente incompleta. “Se você crer, então você será salvo” - mas crer em quê? Obviamente na “promessa”. Mas isso ou se refere à própria declaração a mão, ou a promessa de que a salvação é disponível a ele. Não pode ser a anterior, a saber que “se você crer você será salvo”, porque isso leva a uma regressão viciosa infinita: se você crer que se você crer você será salvo; se você crer que se você crer que se você crer você será salvo, e assim sucessivamente. Mas ela não pode ser a última , uma vez que conflita com o argumento que eu já dei na parte 2, e brevemente reiterado aqui, que estabelece a impossibilidade de crer na promessa sem antes saber que você é um eleito.

Assim, eu creio que todas as minhas objeções tem êxito: expiação particular é incompátivel com representação federal e imputação forense, e torna o universal chamado do evangelho impossível e impugna a justiça e a sinceridade de Deus; e de forma última – sustentada consistentemente – reduz a fé cristã e segurança ao pensamento positivo. Isso significa que a visão da expiação universal está correta? Certamente parece implicar que sim, mas há algumas objeções contra essa visão que devem ser consideradas sobre seus próprios méritos. As próximas três partes dessa série tratarão de atender a essa tarefa.

1. Dominic Bnonn Tennant, The Wisdom Of God; p 140. 

Fonte:  http://bnonn.thinkingmatters.org.nz/on-the-atonement-part-3/
Tradutor:  Emerson Campos Pinheiro.   Ao utilizar esse texto devem ser citados a fonte e o tradutor.

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