sábado, 2 de janeiro de 2010

Eric Svendsen: Hebreus 7:24-25 e João 17:9

1)
“Mas eu não vejo como o Dr. Svendsen pode sustentar firmemente a graça incondicional da eleição de Deus e Sua obra de graça irresistível, pela qual Deus traz Seus eleitos à vida sem falhar, e então ainda dizer que Cristo levou sobre Si o pecado de um não-eleito, que não pretendia salvar, que aparentemente (isto é onde a minha apresentação não foi abordada e, portanto, eu só posso perguntar retoricamente) intercedeu por essa pessoa, mas sem sucesso (já que nem o Pai nem o Filho, nem o Espírito Santo, tem a intenção de salvar a pessoa, contra Heb. 7:24-25), e, embora os fundamentos de uma salvação perfeita, tenham sido estabelecidos na obra de Cristo em favor dessa pessoa e mesmo assim o Espírito não a aplicará nele na regeneração.”


Ok, vamos tratar um ponto de cada vez. Antes de tudo, eu não vejo qualquer dependência necessária entre (1a) a escolha incondicional dos eleitos de Deus e a eficaz atração deles, e (2a) a extensão da obra expiatória de Cristo na cruz. Cristo pode (2b) morrer para pagar pelos pecados de seus eleitos, e (por força do valor incomensurável e eterno dessa morte) incidentalmente pagar pelos pecados do mundo inteiro no processo, e (1b) eleger incondicionalmente e atrair seus escolhidos para Si sem fazer o mesmo para os não-eleitos. Em que a oração que Ele faz é incompatível com isso?

Em segundo lugar, eu não acredito que haja qualquer dependência necessária entre a extensão da expiação de Cristo e os objetos de sua intercessão. Eu não estou sugerindo por um momento que Cristo está intercedendo pelos não-eleitos (Hebreus 7:24-25) – ele muito enfaticamente não está - e, se estivesse, eles seriam salvos. Creio que a preocupação do Dr. White sobre este ponto é mal direcionada, porque eu não creio que ele tenha entendido a distinção que estou fazendo entre aqueles por quem Cristo intentava morrer (o eleito), e aqueles que (devido ao valor eterno do sacrifício ) são reais beneficiários da morte de Cristo ("todos os homens"). Cristo cumpriu plenamente seu propósito salvífico em sua morte, o qual (nas palavras do Dr. White) era "lançar o fundamento para a salvação perfeita" para seus eleitos. Mas, no processo, o longo alcance e eterno valor do sacrifício não podiam deixar de expiar os “pecados do mundo”.

Isso pode ser ilustrado por um exemplo do Antigo Testamento. Quando Deus libertou os filhos de Israel da sujeição à escravidão na terra do Egito, sabemos que muito mais do que só Israel se beneficiaram dessa ação, pois ficamos sabendo que muitos dos egípcios também escolheram ir com eles, mesmo que eles próprios não estivessem em escravidão. Eu creio que podemos fazer aqui uma distinção entre a intenção de Deus em seu ato redentor (resgatar os filhos de Israel, cuja intenção realizou plenamente) eo resultado incidental da ação (outros, não incluídos na intenção salvífica de Deus, se beneficiaram de alguma forma pelo ato redentor). Aqui é onde os “estágios de redenção" são os mais cruciais:

Os "pecados do mundo" (incluindo os dos não-eleitos) foram pagos integralmente na cruz – todos são incluídos nesse estágio da redenção, bem como a multidão foi comprada na terra do Egito junto com os filhos de Israel. Mas esse estágio não é o fim de tudo e tudo que há de salvação - nem todos que foram levados para o deserto entraram na terra prometida. Pelo contrário, como o Dr. White reconheceu, isso "lançou os fundamentos para a salvação perfeita". Mais informações sobre as ramificações disso em um momento.


2)
“Isso me chamou a atenção mais do que qualquer outra coisa. Em essência, não vejo como há consistência de propósito no ponto de vista aqui expresso. Eu vejo uma conexão e dependência muito forte entre a intenção da Trindade na salvação dos eleitos e a obra do Sumo Sacerdote em favor do Seu povo. Esta é uma das principais questões, conforme vejo, pois creio que poderíamos examinar os textos de Hebreus e estabelecer que o Sumo Sacerdote perfeito não falhará, como os antigos sumo sacerdotes fizeram, em oferecer diante do trono o sangue do mesmo sacrifício oferecido sobre o altar:”

Com isto eu posso concordar (pondo de lado a questão da consistência de propósito). Mas eu creio que o Dr. White chega a uma conclusão desnecessária a partir desta, a saber: 

“isto é, o escopo da intercessão e da oferta eram os mesmos para os antigos sumo sacerdotes.”

Não vejo como este ponto se encaixa com o anterior, que a extensão da expiação esteja de alguma forma igualada a extensão da intercessão de Cristo. Assim, como afirmar que Cristo não falhará em oferecer o seu sangue (a sua morte sacrificial) no santo dos santos em intercessão por seus eleitos de alguma forma necessita que a expiação de Cristo seja limitada àqueles por quem intercede? Na minha opinião, a primeira (aqueles incluidos na expiação) é simplesmente uma categoria maior do que a última (aqueles incluídos na intercessão).

Este ponto é particularmente pertinente porque minha visão distingue extensão e intenção. Se eu comprar um jornal para poder ler como o Flamengo jogou contra o Vasco*, eu não comprei só a página de esporte, eu comprei o jornal todo. No entanto, ao mesmo tempo eu não tenho absolutamente nenhuma intenção de ler o resto do jornal. Em outras palavras, minha intenção era adquirir apenas a página de esportes, mas no processo, eu comprei o jornal todo (extensão). Mas, uma vez que eu obtive essa aquisição, ela é minha para fazer com ela o que eu quiser. Neste caso, eu só vou ler a página de esportes, e jogar o resto do jornal no lixo, ou deixá-lo numa caixa de madeira para acender o fogo de minha lareira. Agora, pode corretamente ser dito que meu objetivo em comprar o jornal foi de algum modo frustrado, ou que de alguma maneira eu não cumpri a finalidade para a qual me propus, meramente porque eu comprei o jornal todo, mas escolhi de forma última não "salvar" a maioria dele?

Eu vejo a expiação de uma maneira muito similar. Toda a humanidade está em Adão e são herdeiros de seu pecado - mas esse é um pacote. A fim de expiar os pecados de alguns (intenção), deve expiar os pecados de todos (extensão). Cristo não assumiu a forma dos eleitos, Ele tomou a forma do homem. Sua morte pode não salvar, mas expia os pecados de todos aqueles cuja natureza Ele compartilhou – todos aqueles "em Adão" E assim, a morte de Cristo expia pelos pecados de todos (extensão), mas Ele intercede por e salva apenas aqueles que Ele elegeu, chamou e justificou. 

"Como pode o Sumo Sacerdote perfeito oferecer um sacrifício substitutivo que "incidentalmente" paga os pecados dos não-eleitos e, em seguida, não oferecer esse mesmo sangue, com o qual pagou a penalidade dos seus pecados, diante do altar (intercessão)?"

Esse sacrifício é oferecido - mas não é oferecido fragmentado, como se Cristo tivesse “fatiado” seu sacrifício em pequenos pedaços e tivesse distribuído um pedaço do seu sacrifício pra mim, um outro pedaço para outro dos eleitos, e assim por diante, mas retém e não oferece um pedaço que foi divido para o não-eleito Joe Schmoe. Essa, na minha opinião, não é como se deve ver o sacrifício de Cristo.

Além disso, não é o sacrifício ou a expiação que rogam na intercessão - é Cristo que roga. O sacrifício e expiação são apenas o fundamento para aquele apelo, e Cristo pode interceder por aqueles que conheceu de antemão e pode escolher não interceder por aqueles que Ele não conheceu de antemão (João 17:9). Voltando à analogia do jornal, a minha aquisição do jornal todo me fornece a base para a leitura da página de esportes. Se eu disser a minha esposa: "Eu quero te mostrar a classificação do Flamengo no Campeonato Brasileiro** " ("rogando" a ela, em certo sentido), ninguém vai dizer: "Espere um minuto! Você comprou o jornal todo.. Portanto, você é obrigado a mostrar a sua esposa o jornal todo e não apenas a página de esportes!" Eu tenho a liberdade de chamar especial atenção (rogar) pela página de esporte à minha esposa com base no fato de que eu comprei o jornal – e cabe a mim fazer com ele o que me agradar, e que o ato da  aquisição é a base da minha prerrogativa... Mas eu não sou dessa forma obrigado a ler o jornal todo para ela.

“Isso fala do assunto em questão: Eu sinceramente não entendo, e sinceramente nunca vi na minha leitura, o uso do termo "incidentalmente" no que diz respeito ao pagamento da dívida do pecado.”

Como mencionei no meu blog, eu ainda estou no estágio de reflexão sobre isso, e isso por mais de quinze anos. O termo "incidental" é um termo estritamente funcional usado para diferenciar entre a intenção de Cristo em sua morte com relação aos seus eleitos para “salvar ao extremo” e os resultados reais dessa morte para toda a raça daqueles em Adão.

Fonte:  http://ntrminblog.blogspot.com/2004/12/limited-atonement-or-intentional.html