sábado, 2 de janeiro de 2010

Eric Svendsen: Gálatas 2:16-20

1)
"Eu pressumiria que Eric não diria que os não-eleitos estão unidos a Cristo, de qualquer maneira. Assim, se a expiação envolve a substituição, e os não-eleitos não estão unidos a Cristo, então como são os seus pecados "incidentalmente" pagos pela morte de Cristo?"

Realmente os não-eleitos não estão unidos a Cristo. Mas eu creio que é um erro igualar o ato da expiação em si com a união com Cristo na sua morte. Somente um dos eleitos pode dizer “fui crucificado com Cristo. . . . que me amou e se entregou por mim." Em outras palavras, por um lado nós estamos colocando direto de volta a distinção que estou fazendo entre intenção e extensão. Uma vez que a intenção de Cristo em sua morte foi salvar os eleitos, a união com Cristo é corretamente aplicada somente a eles. No entanto, mesmo com essa ressalva, não vejo nenhuma evidência no Novo Testamento de que a união com Cristo na sua morte é aplicada antes do momento da justificação.

Assim, as palavras de Paulo em Gálatas 2:20 "Eu já estou crucificado com Cristo", não estão separadas de "não mais sou eu que vivo, mas Cristo vive em mim, e a vida que agora vivo na carne, vivo pela fé no Filho de Deus." Isso não é uma afirmação que pode ser feita antes da justificação dos eleitos. Da mesma forma, somos informados por Paulo que nossa identificação com a morte de Cristo ocorre no momento da justificação (Gl 2:16-20) e é representada no batismo (Romanos 6:3-5). Assim, a expiação e a substituição são faces opostas da mesma moeda, mas são lados opostos, no entanto. A primeiro ocorre uma vez no tempo e por todos, enquanto a segunda é a aplicação da primeira¹ para os eleitos no momento da justificação.

Fonte:  http://ntrminblog.blogspot.com/2004/12/limited-atonement-or-intentional.html

2)

"Em segundo lugar, gostaria de saber, à luz do fato de que o Dr. Svendsen aceita o conceito de expiação substitutiva, como os não-eleitos podem ser considerados como tendo sido unidos a Cristo na Sua morte."

Eles não podem. Como eu expliquei acima, a união com Cristo e a identificação com a sua morte no Novo Testamento ocorrem no momento da justificação (Gl 2:16-20), e é significada no batismo (Rm 6). Uma vez que os não-eleitos jamais chegam a esse ponto, eles nunca foram unidos com Cristo na sua morte. Novamente, eu não creio que a morte de Cristo é fatiada e repartida na forma de pedaços. Sua morte, em termos de extensão, expiou os pecados do mundo coletivamente - incluídos aqui são todos aqueles "em Adão" - embora ela seja certamente aplicada individualmente ("Eu estou crucificado com Cristo").

Fonte:  http://ntrminblog.blogspot.com/2004/12/limited-atonement-or-intentional.html

3)O dr. White escreveu:

“Com relação a Gálatas 2:16-20, não vejo a aplicação feita pelo dr. Svendsen. O “sustauro, omai” de Paulo ("ser crucificado junto com") é muito difícil de entender se, de fato, está se referindo a um evento anos após a morte de Cristo”

Eu quero deixar claro que meu apontamento anterior sobre o momento exato em que os eleitos são unidos com Cristo na Sua morte é realmente apenas incidental ao meu apontamento maior de que somente os eleitos são unidos com Cristo na sua morte. Eu não creio que sustentar que somente os eleitos experimentam união com Cristo na Sua morte necessita de uma visão específica apenas de quando essa união acontece. Dito isto, eu creio que o Novo Testamento é comprovadamente a favor dos eleitos experimentando a união com Cristo no momento da fé, não na eternidade passada (exceto, talvez, em um sentido predestinariano).

Dito isto, eu não estou certo porque ver a união da visão com Cristo como algo que ocorre no momento da fé seria mais difícil de entender do que outras declarações semelhantes que Paulo faz. Paulo afirma que fomos "sepultados com ele" no momento do batismo (Cl 2:12), que fomos "ressuscitados com Ele por meio da fé" (v. 12). Nosso ser "vivificado com Ele" (nossa ressurreição espiritual) só ocorreu depois que nós fomos "mortos em nossas transgressões" (v. 13). Embora seja verdade que o certificado de dívida constituído dos decretos que eram hostis a nós foi cravado na cruz (v. 14), o cancelamento dessa dívida em termos de perdão, que é aplicada a nós, não ocorre até que Ele "nos vivificou com Ele "(v. 13).

Assim, quando chegamos ao v. 20: "Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo” entendemos que Paulo esteja recapitulando o que ele já explicou nos versículos 12 a 14, ou seja, que todas as coisas que nos é dito ter sido feitas "com Cristo" são aplicações pessoais para nós no tempo e no momento da fé, mesmo que isso tenha acontecido historicamente com Cristo em um ponto anterior no tempo. Paulo insiste que a nossa morte “com Cristo” também foi uma "morte quanto aos rudimentos do mundo", isto é, “as ordenanças que eram contra nós e que eram hostis a nós "(v. 14), sugerindo que houve um período de tempo quando estávamos sujeitos a essas coisas (ou seja, quando estavamos sob a lei). Em outras palavras, a nossa morte "com Cristo" ocorre apenas após a nossa escravização aos "rudimentos do mundo", pois essa morte não é apenas "com" alguém (ou seja, Cristo), mas "para" algo (ou seja, ordenanças que eram hostis a nós, ou seja, a Lei e qualquer complementar legalismo humano). Isso indica que a nossa união com a morte de Cristo ocorre no momento da fé e não na eternidade passada.

Paulo amplia esse ponto em 3:1: "Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus.” e ele conecta esse ponto de "ser ressuscitado" ("ressurreição" esta que, como já vimos, ocorre no momento da fé, 2:13) com o seu ponto seguinte: “Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (3:3).

Paulo faz observações muito semelhantes em sua carta aos Efésios (o que não é nenhuma surpresa, uma vez que ele escreveu essas cartas quase consecutivamente). Em Efésios 2 nos é dito que o nosso antigo estado era um de pecado e de hostilidade para com Deus. Nós estávamos "mortos" em pecado (2:1), nós "antigamente andavamos segundo o curso deste mundo" (v. 2), nós "antigamente viviamos na luxúria da nossa carne" (v. 3), e nós eramos "por natureza filhos da ira" (v. 3), assim como o resto do mundo. Mas Deus, por causa de seu eterno amor e misericórdia para conosco "nos vivificou juntamente com Cristo" (v. 5), e Ele "nos ressuscitou com Ele" (v. 6).

A questão torna-se: Quando a "vivificação com Cristo" e a "ressurreição com Ele" ocorre? Nós sabemos a partir do contexto que foi depois do nosso "antigo estilo de vida" (vv. 1-3). Sabemos também que Paulo conecta essas ações com o momento da fé: "Porque pela graça sois salvos mediante a fé.” Em outras palavras, o nosso ser "vivificado" com Ele e o nosso ser "ressuscitado" com Ele são ambos indissociavelmente ligados ao momento da fé. Portanto, não haveria absolutamente nenhuma dificuldade com nossa visão de "morrer" com ele como parte e parcela desse evento, que ocorre no tempo e no momento da fé. Isso, creio eu, é a linguagem do Novo Testamento.

Dr. White escreve:

“e note que, enquanto Paulo está certamente falando de sua vida naquele momento, ele não tem nenhum problema em claramente apontar para trás novamente a morte substitutiva de Cristo nas palavras "que me amou e Se entregou por mim".

Não, claro que não tem. Assim como Paulo, em sua insistência de que nós fomos "ressuscitados com Ele" mediante a fé, não tem nenhum problema em apontar para a realidade histórica da ressurreição de Cristo (Ef 1:20). Os acontecimentos históricos servem como base da nossa união com Ele em seu “sepultamento”, "sua ressurreição", “sua ascensão ", e sim, em sua “morte" (a qual é pressuposta por todas as outras) e esta união ocorre por meio da fé .


4) O Dr. White continua (sobre o tópico de Galatas 2):

“Agora, isso não é o Calvário? E não é o amor de Cristo por Paulo expresso aqui? Mas se esse foi um ato não diferenciado, sem a união dos eleitos sendo considerada aí na expressão do amor redentor, não se segue que o mesmo poderia ser dito por Faraó? A única maneira de contornar isso seria dizer "que me amou [na minha conversão] e Se entregou por mim [na cruz]". Eu tenho certeza que o Dr. Svendsen afirmará que tou/ avgaph,santo,j me kai. parado,ntoj e`auto.nu`pe.r evmou/  refere-se a um ato: os dois aoristo participio referem-se à auto-doação de Cristo na cruz. Assim, se o sacrifício expiatório é a própria demonstração do amor de Cristo por Paulo pessoalmente, como pode o sacrifício trazer perdão para toda a humanidade?”

Eu creio ter demonstrado suficientemente na parte 1 desta série que a nossa união com Cristo é baseada na obra histórica de Cristo na cruz, mas essa união não ocorre (isto é, nós não realmente "morremos com Cristo") até o momento da fé, assim como nós não somos realmente "sepultados com Ele" ou "ressuscitados com Ele" até o momento da fé - todos esses três atos são coincidentes.

Além disso, eu não defendo que a morte de Cristo na cruz foi um ato "não diferenciado." Está além do escopo das Escrituras sugerir que Cristo poderia ter dois propósitos distintos na expiação, um para a eleição (para servir como base para sua redenção) e outro para os não-eleitos (para servir como base para sua condenação)? Eu creio que não. E ainda creio que isso é justamente onde a evidência nos leva.

Aqui estão as questões como as vejo. Primeiro, a posição da expiação limitada confunde o conceito de ser "escolhidos em Cristo" (en [christos]) com o conceito de união “com Cristo" (sun [christos]). O primeiro refere-se ao locus da boa vontade de Deus e é dita ser eterna, enquanto o segundo refere-se a união (ou "identificação com") e é dito ser aplicada no tempo. 

Efésios 1 deixa claro que fomos escolhidos "Nele" antes da fundação do mundo (Ef 1:4), e que, como resultado, estamos presentemente “Nele” . O objetivo da linguagem usada “Nele" não é demonstrar a união em si, mas mostrar o ponto focal da boa vontade de Deus. Qualquer pessoa - de fato, qualquer coisa - "em Cristo" é ipso facto "abençoada com todas as bênçãos espirituais" e tem derramado sobre si "as riquezas da Sua graça". A razão para isso é porque Cristo é o centro do “beneplácito” e da “bondosa intenção” de Deus. Portanto, tudo o que está "em Cristo", por extensão, torna-se objeto da boa vontade de Deus.

Mas só no capítulo 2, que o conceito de "união com Cristo" aparece. Quando estávamos mortos em nossos pecados, nós fomos "vivificados juntamente com Cristo" (no tempo e no momento da fé). Naquele momento, Deus nos ressuscitou “com Cristo" e "nos assentou juntos com Ele". Isso ocorre também no momento da fé, e depois de Paulo já ter mencionado a “obra” de Deus a qual “manifestou em Cristo, ressuscitando-o dos mortos, e pondo-o à sua direita nos céus” (1:19-20). Em outras palavras, a morte, o sepultamento, a ressurreição e a ascensão de Cristo ocorreram historicamente em um ponto no tempo, mas a nossa “morte”, “sepultamento”, “ressurreição” e “ascensão” ocorre no momento em que somos “salvos por meio da fé "(Ef 2:8-9).

Você recordará que também vimos este mesmo padrão em Colossenses. Assim, quando o Dr. White afirma:

“Com relação a Gálatas 2:16-20, não vejo a aplicação formulada pelo Dr. Svendsen. O sustauro, omai de Paulo ("ser crucificado junto com") é muito difícil de compreender como, de fato, se referindo a um evento anos após a morte de Cristo”

. . . Eu creio que o ponto oposto é estabelecido com fundamento exegético, não só no texto de Efésios 2 e Colossenses 2-3, mas também no texto de Gálatas 2.

Para reiterar um ponto do Dr. White que anteriormente abordei apenas brevemente, a saber:

“e note que, enquanto Paulo está certamente falando de sua vida naquele momento, ele não tem nenhum problema em apontar para trás mais uma vez, claramente, para a morte substitutiva de Cristo nas palavras 'que me amou e Se entregou por mim'.”

Certamente, e como mencionei antes, eu nunca iria sugerir o contrário. Nossa união com a morte de Cristo, no momento da fé tem um referência histórica ao ato de Cristo na cruz. Mas quando é que Paulo "morre" de acordo com Gal 2:19? "Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus." Paulo aqui faz o mesmo ponto que já havia feito em Colossenses 2, ou seja, que o momento da "morte" é algum tempo depois dele ter a experiência de ser "obrigado" pela lei ("os rudimentos do mundo"), por isso a morte é tanto "com Cristo" quanto "para a lei" (ou "os rudimentos do mundo"; Col 2:20). O comentário de Paulo sobre o que significa "morrer para a lei" é encontrado no versículo seguinte: "Estou crucificado com Cristo, logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” A frase "já não” (ouketi) sugere fortemente (se não prova completamente), que o ponto em que Paulo deixa de "viver" (ie, "morre") e em que Cristo começa a "viver nele" é o mesmo ponto no qual ele foi "crucificado com Cristo; "(ie, morreu "com Cristo" e "para a lei").

Dr. White continua: 

"E eu não acredito que Ele, de forma substitutiva, proposital, intencional, e aparte do amor redentivo, levou sobre Si a penalidade devida ao pecado de Faraó."

Nem eu. Mas Ele não poderia ter suportado aquele pecado para servir como base para a condenação do Faraó, que persistiu na incredulidade?

Dr. White continua:

“Até onde eu posso ver, ou os eleitos foram unidos a Cristo na Sua morte en toto, ou toda a idéia de substituição torna-se irrelevante. Eu acredito que a realidade da nossa eleição em Cristo torna a nossa união com Cristo uma realidade divina antes mesmo de nossa existência temporal.”

Mas, então, esse mesmo princípio também se aplica ao nosso “sepultamento" com Ele, à nossa “ressurreição” com Ele, e à nossa “ascensão”com Ele? Todas estas coisas são ditas como ocorrendo no ponto da fé. Será que estamos predestinados a estas coisas? É claro que estamos, mas acho que é um pouco diferente de dizer que já ocorreram ou que já eram verdades em relação a nós antes da conversão.

Além disso, parece-me que o Dr. White pode estar sendo inconsistente sobre este ponto. Se nós concluímos que essas coisas já aconteceram na eleição na eternidade passada ("in toto") só porque elas estão determinadas a tomar lugar no tempo e só porque a bondosa intenção de Cristo sempre foi morrer pelos seus eleitos, então poderíamos fazer esse mesmo processo também em relação a justificação e a glorificação. Aos olhos de Deus, todos que Ele predestinou Ele já tem "justificado" e "glorificado" (pretérito; Rom 8:30). Tudo isso é verdadeiro no sentido de que os eleitos são certamente predestinados a estas coisas - e que isso é algo tão certo que pode ser apresentado como algo já concluído.

Mas, tão certo como estas coisas acontecerão, o Dr. White e eu concordamos que não se pode concluir que a justificação (muito menos a glorificação) já foi realizada nos eleitos que ainda não creram. O Dr. White tem registrado sua rejeição à justificação eterna. Isso significa que, tão certo como todos os eleitos serão justificados, e tão certo como a justificação dos eleitos está dentro do beneplácito de Sua vontade eterna, os seus eleitos não são, no entanto, realmente justificados na eternidade passada, mas no momento da fé. Por que então devemos concluir que a nossa união com Cristo na sua morte teve lugar na eternidade passada, apenas porque é certo que vamos experimentar a união com Cristo no tempo?

Dr. White continua:

"(Como mencionado acima: o eterno determina a forma do temporal, e não vice-versa, mas nós, como criaturas vinculadas ao tempo, olhando de "baixo”, lutamos para ver isso, e, portanto, devemos permitir que a Palavra seja a lente através da qual podemos contemplar esta tremenda verdade) e nascimento, de modo que em um sentido muito real, os eleitos foram, de fato, "crucificados com Cristo."

Sim, e em um sentido muito real, os eleitos já foram "justificados" por Deus. Mas não podemos concluir com base nisso que nós somos justificados da eternidade - do contrário não haveria mais razão para sermos "justificados pela fé." Da mesma maneira, só porque a nossa união com Cristo na Sua morte, estava na mente, na intenção e na vontade de Cristo na eternidade passada não significa que nós realmente experimentamos união com Cristo na Sua morte antes do momento da fé.