1) "Ele declara abertamente que ele não orou pelo mundo, porque ele não tem nenhuma preocupação, a não ser sobre seu próprio rebanho, que recebeu das mãos do Pai. Mas isso pode ser pensado ser um absurdo, pois melhor regra de oração não pode ser encontrada do que seguir a Cristo como nosso guia e professor. Agora, nós somos ordenados a orar por todos (1 Timóteo 2:17) e depois o próprio Cristo orou indiscriminadamente por todos "Pai, perdoa-os, eles não sabem o que fazem" (Lucas 23:34)". John Calvin. Commentary on the Gospel According to John, pg 565. The Ages Digital Library.
2)"E Jesus disse: Pai, perdoa-os”- "Por esta expressão Cristo deu evidência de que Ele era o cordeiro manso e dócil, que era para ser levado para ser sacrificado, como o profeta Isaías tinha predito (Isaías 53:7). Porque Ele não apenas se absteve de vingança, mas pleiteou com Deus Pai pela salvação daqueles por quem foi mais cruelmente atormentado. Teria sido algo de grande importância não pensar em pagar o mal por mal (1 Pedro 3:9), como Pedro, quando nos exorta à paciência pelo exemplo de Cristo, diz que Ele não pagou maldição por maldição, e não revidou as injúrias feitas a Ele, mas estava totalmente satisfeito com ter Deus por seu vingador (1 Pedro 2:23).Mas esta é uma muito maior e mais excelente virtude, orar para que Deus perdoe os seus inimigos.
Se alguém acha que isso não concorda com o sentimento de Pedro [1 Pedro 2:23], que acabo de citar, a resposta é fácil. Porque quando Cristo foi movido por um sentimento de compaixão, para pedir perdão a Deus por seus perseguidores, isto não o impediu de aquiescer no justo julgamento de Deus, que ele sabia que estava ordenado para os réprobos e obstinados.
Assim, quando Cristo viu que tanto o povo judeu quanto os soldados se enfureceram contra ele com fúria cega, embora a ignorância deles não seja desculpável, Ele teve piedade deles, e se apresentou como seu intercessor. Mesmo sabendo que Deus seria um vingador, Ele deixou-Lhe o exercício do juízo contra os desesperados. Desta forma os crentes devem também restringir seus sentimentos ao suportar angústias, de forma a desejar a salvação dos seus perseguidores, e ainda assim manter a certeza de que sua vida está sob a proteção de Deus, e, se fiando nessa consolação, que a licenciosidade dos homens ímpios no fim não ficará impune, para não desfalecer sob o peso da cruz
Dessa moderação Lucas apresenta agora um exemplo em nosso Líder e Mestre, pois, embora Ele pudesse ter declarado perdição contra seus perseguidores, ele não só se absteve de maldizer, mas até mesmo orou pelo bem-estar deles. Mas deve ser observado que, quando o mundo inteiro se levanta contra nós, e todos se unem na luta para nos esmagar, o melhor remédio para superar a tentação é nos recordarmos da cegueira desses que lutam contra Deus em nossas pessoas.
Porque o resultado será que a conspiração de muitas pessoas contra nós, quando solitários e abandonados, não nos entristecerá além da medida, como, por outro lado, a experiência diária nos mostra como age poderosamente em mover pessoas fracas, quando elas se vêem atacadas por uma grande multidão. E, portanto, se nós aprendermos a elevar nossas mentes a Deus, será fácil olhar para baixo, como se fosse de cima, e desprezar a ignorância dos incrédulos, porque quaisquer que sejam suas forças e recursos, eles ainda não sabem o que fazem.
É provável, porém, que Cristo não orou por todos indistintamente, mas apenas pela multidão miserável, que foram levados pelo zelo imprudente, e não por maldade premeditada. Porque, uma vez que os escribas e os sacerdotes eram pessoas em relação a quem não foi deixado nenhum fundamento para a esperança, teria sido em vão que Ele orasse por eles. Também não pode haver dúvida que esta oração foi ouvida pelo Pai celeste, e que este foi a causa porque muitos do povo, depois, beberam, pela fé, o sangue que eles tinham derramado". John Calvin.Commentary on Matthew, Mark, Luke - Volume 3, pgs 231-233. The Ages Digital Library.
Deve-se evitar chamar a intercessão de Cristo nessas citações de intercessão geral ou universal, visto que, apesar dela abranger os réprobos, esta intercessão é feita apenas pela multidão que o crucifica por "zelo imprudente" e não por àqueles que fazem isso "por maldade premeditada".
A aparente contradição entre as duas citações é facilmente respondida quando se compreende que quando Calvino diz na primeira que "Cristo orou indiscriminadamente por todos 'Pai, perdoa-os, eles não sabem o que fazem'", era o mesmo que dizer "Cristo orou indiscriminadamente pelo perdão de todos aqueles que não sabiam o que estavam fazendo".
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