sábado, 29 de janeiro de 2011

Neil Chambers: O Argumento de John Owen sobre a Incredulidade


Ao final do argumento da tripla escolha Owen, para descartar a possibilidade de que poderia haver algum sentido em que Cristo poderia ser dito ter morrido por todos os homens, pergunta a rendencionistas gerais: 




“Se Cristo morreu por todos os homens, por que não são todos salvos?  Você diria: 'Por causa da sua incredulidade, eles não creram.' Mas esta incredulidade, é pecado ou não? Se não, por que eles deveriam ser punidos por isso? Se for, Cristo sofreu a punição devida a ela, ou não. Se assim for, então por que isso deve dificultar-lhes mais do que os outros pecados, pelos quais Ele morreu, de participar do fruto da Sua morte? Se ele não o fez, então Ele não morreu por todos os pecados. Deixe os escolher a parte que quiserem.”

Clifford fez uma série de críticas sobre este argumento em relação ao seu impacto sobre a culpa da incredulidade, a sua privação de "exortações gerais para crer de todo o significado", e a tensão que ela estabelece com o compromisso de Owen à graça comum que não precisa ser repetida aqui.

O que precisa ser visto é que o argumento de Owen derrota a si mesmo por provar muito.


Se, nos termos de Owen, Cristo morreu por todos os pecados de algumas pessoas, os eleitos, então ele também deve ter morrido por sua incredulidade, onde “morreu por” é compreendido como significando “tendo pago a penalidade por todos seus pecados no Calvário”. Se este for o caso, então porque é que os eleitos não foram salvos no Calvário? Se Owen responde que é porque os benefícios da morte de Cristo ainda não são aplicadas a eles, então eu perguntaria o que se quer dizer por “esses benefícios ainda não são aplicados a eles”? Certamente isso significa que eles são incrédulos, e, portanto, não pode ser referidos como salvos.

Mas eles não podem ser punidos porque a penalidade da incredulidade foi paga e Deus, como Owen nos garante, não sancionará uma segunda penalidade para uma mesma ofensa. Se, então, mesmo em sua incredulidade, não há nenhuma dívida contra eles, nenhuma sanção a ser paga, certamente, eles podem ser descritos como salvos e salvos no Calvário. Assim sendo, o evangelho é reduzido a uma cifra, uma forma de informar aos salvos de sua condição abençoada.

Estas duas últimas conclusões são posições que Owen negaria, pois ele está comprometido com a necessidade e a integridade do chamado do evangelho universal e com o laço indissolúvel entre fé e salvação. Existe então uma tensão real na posição de Owen trazida por uma série de fatores. A primeira é que poderia ser chamada de reducionismo polêmico em sua consideração de “incredulidade” aqui, porque a incredulidade não é apenas uma ofensa como qualquer outra, é também um estado, que deve ser tratado não só pelo perdão, mas também pela regeneração.

Owen reconhece isso em relacionar a cruz à causal remoção da incredulidade como um estado, mas a incredulidade considerada como um pecado e incredulidade considerada como um estado carregam diferentes relações com a cruz. O pecado carrega uma relação direta com a cruz, que é o sofrimento da penalidade pelo pecado; a mudança de estado carrega uma relação indireta, dependente da pregação e da regeneração pelo Espírito.

Para reconhecer essa realidade Owen teria que dizer que Cristo morreu por todos os pecados, incluindo a incredulidade daqueles que crêem, e por nenhum dos pecados dos que não crêem. Mas, por força da polêmica, ele ignora a distinção que poderia parecer, na sua introdução de fé e incredulidade, colocar muito peso sobre a resposta humana e expor seu argumento à crítica.

O segundo é o seu desejo de se recusar a reconhecer "salvabilidade' como um resultado intencional da cruz. Mas se os eleitos não são salvos na cruz, então, pelo menos, eles devem “em um temporal” plano histórico ser considerados como salváveis, tendo sido tornados capazes de ser salvos, e isso segundo a vontade de Deus. Assim, historicamente, deve ser verdade que há algumas pessoas por quem Cristo morreu para que elas pudessem ser salvas, mesmo que, a partir da perspectiva da eternidade, e da aquisição da fé por Cristo no pacto da redenção, sua salvação seja inevitável.

Mas quem são as pessoas por quem Cristo morreu, consideradas historicamente? Ninguém que possa ser considerado como eleito, por que isso não pode ser conhecido antes do evento. Então, pecadores, e, portanto, considerado historicamente qualquer pessoa (visto distributivamente) e todos (visto coletivamente). Sendo este o caso, então no plano histórico, o plano no qual vivemos e no qual o evangelho é pregado, é correto dizer que Cristo morreu por todos e quaisquer que possam ser salvos. Owen não pode dizer isso, mas há uma obstinada temporalidade na aplicação do evangelho, que insiste na manutenção da proeminência da suficiência da salvação.

O terceiro fator, observado no exemplo acima, é a tentativa de acomodar o que é um processo essencialmente histórico e temporal (vir à fé) com a perspectiva da intenção/causalidade eterna, onde a perspectiva eterna está sendo lida fora de um registro histórico, as escrituras . Isto se torna mais proeminente quando se considera o pacto de redenção, mas já vimos que a linguagem da suficiência é a língua do plano temporal, a linguagem que acomoda bem às realidades históricas de vir à fé através da pregação do evangelho e da obra do Espírito, da indefinição universal (que é uma inclusiva indefinição) da oferta do evangelho e das promessas, e das muitas declarações da intenção da vinda de Cristo (por exemplo, para os pecadores).

Owen, porém, devido à natureza do debate teológico do século XVII, o, tem seu principal ponto de partida na eternidade, na intenção de Deus. Ele abraça esse ponto de vista e procura explicar tudo através do pacto da redenção, um pacto feito na eternidade. Mas o acesso à eternidade é tênue, e sua relação com o texto mais distante, frequentemente por meio da projeção e da inferência. Enquanto a linguagem da efetiva redenção é confinada ao plano eterno isso é tanto auto-evidente (por um Deus onipotente que determina quem salvará) e abstrato.

A tensão e o potencial para distorção surge quando os dois planos se cruzam, quer na história, na cruz, ou na teoria, na consideração da expiação. Quando o ponto de partida é a eternidade, é o temporal, neste caso a suficiência da morte de Cristo e o que flui dela, a resposta de arrependimento e fé, que será subordinado, porque o poder heurístico de uma construção eterna é grande, não sendo apenas explicativo, mas, por natureza, determinante.

Assim, a insistência de Owen, que a incredulidade é expiada na cruz e, portanto, não pode ser invocada por redencionistas universais como causa de alguns para os quais Cristo morreu não desfrutarem dos benefícios da morte de Cristo tem retórica, mas não força lógica, por provar muito. No seu argumento permanece que os eleitos são salvos (poupados da ira de Deus) quer eles creiam ou não, e tudo o que resta é trazê-los para a realização subjetiva de sua bênção através da pregação da cruz, uma posição que não é contrária ao que chegou K. Barth com sua doutrina da eleição. A relutância de Owen em lidar com esse problema inerente é um resultado direto de seu compromisso da morte de Cristo requerer a salvação dos eleitos e a diminuição concomitante da importância da resposta temporal humana, seu desejo de negar salvabilidade, e sua subjugação do temporal à causalidade eterna.

Chambers, N.A. “A Critical Examination of John Owen’s Argument for Limited Atonement in the Death of Death in the Death of Christ,” (Th.M. thesis, Reformed Theological Seminary, 1998), 233-239. [Some reformatting; some spelling Americanized; footnotes and values original; italics original; and underlining mine.]

http://calvinandcalvinism.com/?p=7829
Fonte:  Emerson Campos Pinheiro.

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