1) Pode-se perguntar, se a expiação, naturalmente e necessariamente, cancela a culpa, por que a expiação vicária de Cristo não salva todos os homens indiscriminadamente como contendem os universalistas? O sofrimento substitutivo de Cristo sendo infinito é igual em valor ao sofrimento pessoal de toda a humanidade, então, por que não estão todos os homens no mesma condição e na mesma classe de salvos por sua virtude? A resposta é: Porque é uma impossibilidade natural. A expiação vicária, sem fé é impotente para salvar. Não é a realização dessa expiação que salva o pecador, mas o confiar nela. "Pela fé sois salvos. Aquele que crê será salvo" Efésios 2:8. Marcos 16:16.
A realização dessa expiação apenas satisfaz as reivindicações legais, e isso é tudo o que ela faz. Se fosse feita, mas nunca imputada e apropriada, não resultaria na salvação. A satisfação substitutiva da justiça sem um ato de confiança nela, seria inútil para aos pecadores. É tão naturalmente impossível que a morte de Cristo salvasse de uma punição aquele que não confia nela, como um pedaço de pão salvar da fome um homem que não o come. A afirmação de que como a expiação de Cristo é suficiente por todos os homens, portanto, nenhum homem está perdido, é tão absurda quanto a afirmação de que como os grãos produzidos no ano de 1880 eram suficientes para sustentar a vida de todos os homens sobre o mundo, portanto, nenhum homem morreu de fome durante esse ano. O simples fato de que Jesus Cristo fez satisfação pelo pecado humano, por si, não salvará nenhuma alma.
Cristo, possivelmente, poderia ter morrido exatamente como fez, e Sua morte ser tão valiosa para fins expiatórios como ela é, mas se Sua morte não fosse seguida da obra do Espírito Santo e do ato da fé por parte dos homens individuais, Ele teria morrido em vão. A menos que sua objetiva obra seja subjetivamente apropriada, é inútil, no que se refere a salvação pessoal. O sofrimento de Cristo é suficiente para cancelar a culpa de todos os homens, e em sua própria natureza satisfaz completamente a quebra da Lei. Mas nem todos os homens fazem disso sua própria expiação pela fé nela; invocando o mérito dela em oração, e a mencionando como razão e fundamento do seu perdão. Eles não a consideram e usam como sua possessão e bênção.
Não é nada para eles, a não ser um fato histórico. Neste estado de coisas, a expiação de Cristo é impotente para salvar. Ela permanece na possessão de Cristo, que a fez, e não foi transferida aos indivíduos. Na expressão das escrituras: Ela não foi imputada. Pode haver uma soma de dinheiro nas mãos de um homem rico que seja suficiente em montante para pagar as dívidas de um milhão de devedores, mas a menos que eles, individualmente, tomem o dinheiro de suas mãos para si, não podem pagar as suas dívidas com ele. Deve haver um ato pessoal de cada devedor, a fim de que essa soma de dinheiro em depósito possa realmente extinguir o endividamento individual. Se um dos devedores, quando o pagamento é exigido dele, apenas disser que há uma abundância de dinheiro em depósito, mas não tomar medidas para obtê-la e entregá-la ao credor, este dirá que um depósito não utilizado não é o pagamento de uma dívida. Shedd, Dogmatic Theology, 2:440-441.
2) "O evangelho cristão - a oferta universal de perdão através do sacrifício de uma das pessoas divinas - deveria silenciar todas as objeções à doutrina da punição eterna. Porque, como o caso atual, não há necessidade, no que se refere a ação de Deus, que um único ser humano seja objeto de punição futura ...
As Escrituras, por toda parte, descrevem Deus como naturalmente e espontaneamente misericordioso e declaram que todos os obstáculos legais para o exercício deste grande atributo foram removidos pela morte do Filho de Deus “pelos pecados do mundo todo" (1 João 2:2). No centro das santas revelações do Sinai, o Senhor proclamou que é Sua disposição inerente e intrínseca ser "misericordioso e compassivo, longanimo, que perdoa a iniqüidade e a transgressão" (Êxodo 34:6-7).
Neemias, após o exílio, repete a doutrina do Pentateuco: "Tu és um Deus pronto para perdoar, clemente e misericordioso, e de grande bondade" (Neemias 9:17). O salmista declara que "o Senhor está pronto para perdoar e abunda em benignidade para todos os que o invocam" (Salmos 86:5), "o Senhor se compraz nos que o temem, nos que esperam na Sua misericórdia" (147:11). Do crepúsculo da terra de Uz, Eliú, [….] declara que "Deus olha para os homens, e se alguém disser: Pequei e perverti o que era direito, e nada me aproveitou; Ele livrará sua alma de descer à cova, e a sua vida verá a luz »(33:27 - 28).
A Bíblia ensina que todo o Ser Supremo é sensível ao arrependimento e é movido com compaixão e o paternal anelo sempre que percebe algum sincero pesar espiritual. Ele percebe e se congratula com o menor indício de arrependimento: "Os olhos do Senhor estão sobre os que o temem, sobre os que esperam na sua misericórdia" (Sl 33:18); "o que confessa e abandona seus pecados terá misericórdia" (Pv 28:13). O Pai celeste vê o filho pródigo, quando ele está “ainda muito longe”. Ele nunca 'quebrará o caniço rachado, nem apaga o pavio fumegante'. Se houver em alguma criatura humana, o coração quebrantado e contrito, a piedade divina fala a palavra de perdão e absolvição. A humilde confissão de indignidade opera quase que magicamente sobre o eterno. Misericórdia encarnada disse para a "mulher de Canaã" que pediu apenas as migalhas dos cães: “O mulher, grande é a tua fé! Seja isso feito para contigo como tu desejas.” (Mt 15,28).
O onipotente é subjugado sempre que vê tristeza penitencial humilde. Como "a loucura de Deus é mais sábia do que o homem," o auto-desespero impotente do homem é mais forte do que Deus. Quando Jacó diz ao infinito: 'Eu não sou digno da menor de todas as suas misericórdias ", ainda lutava com ele "até o romper do dia ", ele se tornou Israel e “como um príncipe lutou com Deus" (Gn . 32:10, 24, 28). Quando o Senhor ouviu Efraim se lamentar e dizer, 'Converte-me, e converter-me-ei” Ele respondeu: "Efraim é meu filho querido. Eu certamente terei misericórdia dele " (Jer. 31:18, 20).
Agora, a única e fatal obstrução para o exercício desta natural e espontânea misericórdia de Deus é a dureza do coração do pecador. A necessária existência para a punição no inferno não é exigível a Deus. É o homem orgulhoso e obstinado, que faz o inferno. É a sua impenitência que alimenta seu fogo perpétuo. Porque enquanto o transgressor não se entristece por causa do pecado, e nem mesmo o reconhece, não pode ser perdoado. Onipotência em si não pode perdoar impenitência, mais do que pode fazer um círculo quadrado. Impenitência após pecar é uma pior e mais determinada forma de pecado, do que pecar é em si. Shedd, Teologia Dogmática, 2:749-51.
Fonte:http://calvinandcalvinism.com/?p=1371
Tradutor Emerson Campos Pinheiro