quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

João Calvino (1509-1564): A Vontade Condicional de Deus

Tudo isso Pighius nega em alta voz, aduzindo que a passagem do apóstolo "Que deseja que todos os homens sejam salvos" (1 Tm 2:4.), e, referindo-se também a Ezequiel 17: 23, ele argumenta assim:

“ 'Que Deus não deseja a morte do pecador' pode ser tomado sobre seu próprio juramento, onde Ele diz por esse profeta: 'Assim como eu vivo, diz o Senhor, não tenho prazer na morte do ímpio, mas ao invés que ele se converta dos seus caminhos, e viva' ”

Agora nós respondemos que como a linguagem do profeta aqui é uma exortação ao arrependimento, não é de maneira nenhuma espantoso nele declarar que Deus deseja que todos os homens sejam salvos. Porque a mútua relação entre ameaças e promessas mostra que essas formas de falar são condicionais. Desse mesmo modo Deus declarou para os ninivitas, e para os reis de Gerar e do Egito, que faria o que, na realidade, não intentava fazer, pois o seu arrependimento evitou a punição que Ele ameaçou infligir a eles.


Disso é evidente que a punição foi declarada na condição de sua permanente obstinação e impenitência. E, no entanto, a declaração da punição foi positiva, como se fosse um decreto irrevogável. Mas depois de Deus ter os amedontrado com a apreensão de sua ira, e devidamente os humilhou, para que não ficassem completamente desesperados, Ele os encoraja com a esperança de perdão, para que eles pudessem sentir que ainda havia sido deixado aberto um espaço para o remédio. Assim, é com relação às promessas condicionais de Deus, que convida todos os homens para a salvação. Elas não positivamente provam o que Deus decretou em secreto, mas apenas declaram o que Deus está pronto para fazer a todos aqueles que são trazidos à fé e ao arrependimento.

Mas os homens ignorantes de Deus, sem entender essas coisas, alegam que nós por esse meio atribuiamos a Deus uma dupla ou dúbia vontade. Considerando que Deus está tão longe de ser variável, que nem sombra de tal variação diz respeito a Ele, mesmo no mais remoto grau. Daí Pighius, ignorante da natureza divina dessas coisas profundas, assim argumenta: "O que é isso senão fazer de Deus um zombador dos homens, se Deus é representado como realmente não querendo o que Ele professa querer, e não tem prazer no que Ele, na realidade, tem prazer? "

Mas se esses dois membros da sentença forem lidos em conjunto, como sempre deveria ser - "Eu não tenho prazer na morte do ímpio"e" Mas que o ímpio se converta do seu caminho e viva " -- lendo essas duas proposições em conexão uma com a outra, a calúnia é eliminada de uma vez. Deus exige de nós esta conversão, ou o "afastamento de nossa iniqüidade" e todo aquele em quem Ele encontra isso, Ele não decepciona com relação a prometida recompensa da vida eterna. Portanto, é dito que Deus tanto tem prazer em, e querer, essa vida eterna, como tem prazer no arrependimento; e Ele tem prazer no último, porque convida todos os homens a ele por meio de Sua Palavra.

Agora, tudo isso está em perfeita harmonia com o seu secreto e eterno conselho, pelo qual Ele decretou converter ninguém, a não ser os eleitos. Ninguém, a não ser os eleitos de Deus, portanto, se converterá da sua impiedade. E, ainda assim, o adorável Deus não deve ser, por essa causa, considerado variável ou capaz de mudar, porque, como um legislador, Ele ilumina todos os homens com externa doutrina da vida condicional. Dessa maneira primária Ele chama, ou convida, todos os homens à vida eterna. Mas, de outro modo, traz à vida eterna aqueles a quem quis segundo o seu propósito eterno - regenerando por seu Espírito, como um Pai eterno, apenas Seus próprios filhos.

Fonte:  http://calvinandcalvinism.com/?p=2466
Tradução:  Emerson Campos Pinheiro.

O texto completo pode ser encontrado aqui:  http://www.reformed.org/documents/index.html?mainframe=http://www.reformed.org/documents/calvin/calvin_predestination.html