
Resposta: A cláusula maior é verdadeira, a menos que alguma condição seja adicionada à satisfação, tendo em vista que somente àqueles que são salvos por Ele, aplicam a satisfação a si mesmos, pela fé. Entretanto essa condição é expressamente adicionada, onde é dito: "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." (João 3: 16).
2)Objeção. 4. Se Cristo fez satisfação por todos, então todos deveriam ser salvos. Mas nem todos são salvos. Portanto, Ele não fez uma perfeita satisfação.
Resposta: Cristo satisfez por todos, com respeito a suficiência da satisfação que Ele fez, mas não com respeito a sua aplicação; pois Ele cumpriu a lei em um duplo sentido. Em primeiro lugar, pela sua própria justiça. Em segundo lugar, fazendo satisfação por nossos pecados. Sendo cada um mais perfeito. Mas a satisfação é feita nossa por uma aplicação, a qual é também dupla; a primeira das quais é feita por Deus, quando Ele nos justifica em razão do mérito de seu Filho, e leva-nos a deixar o pecado; a última é realizada por nós através da fé. Porque nós aplicamos a nós mesmos, o mérito de Cristo, quando por uma verdadeira fé, somos plenamente convencidos de que Deus, por causa da satisfação de seu Filho, perdoa-nos os nossos pecados. Sem esta aplicação, a satisfação de Cristo é de nenhum benefício para nós.
Ursinus, Zacharias Ursinus, The Commentary of Dr. Zacharias Ursinus on the Heidelberg Catechism, trans. G.W.Willard, (Phillipsburg: P&R, 1994), 107. e 215 [Italics and underlining mine.] Nota do tradutor: título adicionado.
Notas de David Ponter:
1) Provavelmente quem fazia as objeções a Ursino era um Sociniano. O Socinianos estavam argumentando por um verdadeiro universalismo. O oponente está tentando um reductio argumento contra Ursino, dizendo que se Ursino não concordar com seu universalismo, então ele deve dizer que o sacrifício de Cristo e a satisfação eram imperfeitos, ou seja, com defeito ou que Deus é injusto por não receber todos os homens em favor.
2) O argumento da Sociniano é apresentado no pressuposto de que Ursino defendeu que uma adequada e suficiente satisfação penal foi feita por todos os homens. No entanto, a aplicação desse sacrifício não é feita a todos.
3)O oponente, em essência, inverteu o argumento do trilema de Owen, argumentando que, considerando que Cristo morreu por todos, então todos devem ser salvos, ou então Deus é injusto. Ursino, por outro lado, rejeita a premissa porque, embora a satisfação possa ser feita por um homem, isso não significa que Deus seria injusto se não recebesse esse homem em Seu favor (o que implica que o homem pode ser punido em sua própria pessoa, pelo seu próprio pecado).
4) Para Ursino, a aplicação da satisfação de Cristo é condicionada pela fé.
5) Em última análise, então, podemos ver que Ursino rejeitou a hipótese de que, se Cristo morreu por um homem, qualquer que seja, é impossível que esse seja rejeitado e não seja salvo. Este é um repúdio da premissa crítica no famoso, mas falacioso trilema de Owen.
Fonte: http://calvinandcalvinism.com/?p=6466
Tradutor: Emerson Campos Pinheiro.