sábado, 4 de setembro de 2010

Zacarias Ursino (1534-1583): Falácia da Injustiça no Duplo Pagamento/Punição Dobrada

1)Objeção 2: Todos esses devem ser recebidos no Seu favor porque pelas ofensas desses uma satisfação suficiente foi feita. Cristo fez uma satisfação suficiente pelos pecados de todos os homens. Portanto, todos devem ser recebidos no Seu favor, e se isso não for feito, Deus é ou injusto aos homens, ou então há algo que diminuido do mérito de Cristo.

Resposta: A cláusula maior é verdadeira, a menos que alguma condição seja adicionada à satisfação, tendo em vista que somente àqueles que são salvos por Ele, aplicam a satisfação a si mesmos, pela fé. Entretanto essa condição é expressamente adicionada, onde é dito: "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." (João 3: 16).


2)Objeção. 4. Se Cristo fez satisfação por todos, então todos deveriam ser salvos. Mas nem todos são salvos. Portanto, Ele não fez uma perfeita satisfação.

Resposta:  Cristo satisfez por todos, com respeito a suficiência da satisfação que Ele fez, mas não com respeito a sua aplicação; pois Ele cumpriu a lei em um duplo sentido. Em primeiro lugar, pela sua própria justiça. Em segundo lugar, fazendo satisfação por nossos pecados. Sendo cada um mais perfeito. Mas a satisfação é feita nossa por uma aplicação, a qual é também dupla; a primeira das quais é feita por Deus, quando Ele nos justifica em razão do mérito de seu Filho, e leva-nos a deixar o pecado; a última é realizada por nós através da fé. Porque nós aplicamos a nós mesmos, o mérito de Cristo, quando por uma verdadeira fé, somos plenamente convencidos de que Deus, por causa da satisfação de seu Filho, perdoa-nos os nossos pecados. Sem esta aplicação, a satisfação de Cristo é de nenhum benefício para nós.

Ursinus, Zacharias Ursinus, The Commentary of Dr. Zacharias Ursinus on the Heidelberg Catechism, trans. G.W.Willard, (Phillipsburg: P&R, 1994), 107. e 215 [Italics and underlining mine.] Nota do tradutor: título adicionado.

Notas de David Ponter:

1) Provavelmente quem fazia as objeções a Ursino era um Sociniano. O Socinianos estavam argumentando por um verdadeiro universalismo. O oponente está tentando um reductio argumento contra Ursino, dizendo que se Ursino não concordar com seu universalismo, então ele deve dizer que o sacrifício de Cristo e a satisfação eram imperfeitos, ou seja, com defeito ou que Deus é injusto por não receber todos os homens em favor.

2) O argumento da Sociniano é apresentado no pressuposto de que Ursino defendeu que uma adequada e suficiente satisfação penal foi feita por todos os homens. No entanto, a aplicação desse sacrifício não é feita a todos.

3)O oponente, em essência, inverteu o argumento do trilema de Owen, argumentando que, considerando que Cristo morreu por todos, então todos devem ser salvos, ou então Deus é injusto. Ursino, por outro lado, rejeita a premissa porque, embora a satisfação possa ser feita por um homem, isso não significa que Deus seria injusto se não recebesse esse homem em Seu favor (o que implica que o homem pode ser punido em sua própria pessoa, pelo seu próprio pecado). 

4) Para Ursino, a aplicação da satisfação de Cristo é condicionada pela fé. 

5) Em última análise, então, podemos ver que Ursino rejeitou a hipótese de que, se Cristo morreu por um homem, qualquer que seja, é impossível que esse seja rejeitado e não seja salvo. Este é um repúdio da premissa crítica no famoso, mas falacioso trilema de Owen.

Fonte: http://calvinandcalvinism.com/?p=6466

Tradutor: Emerson Campos Pinheiro.