terça-feira, 14 de setembro de 2010

Alderi Souza de Matos: Sobre Bullinger e a Segunda Confissão Helvética (1562)

SEGUNDA CONFISSÃO HELVÉTICA (1562)


Esse importantíssimo documento foi escrito pelo reformador suíço Johann Heinrich Bullinger (1504-1575). Convertido à causa evangélica em 1522, no ano seguinte ele conheceu Ulrico Zuínglio, o fundador da tradição reformada, do qual se tornou grande amigo, sucedendo-o em 1531 na liderança da Reforma suíça. Nessa função, procurou unir os protestantes suíços e alemães.

Com vários colegas de diferentes cidades, escreveu a Primeira Confissão Helvética (1536), que se tornou a primeira declaração da fé reformada com autoridade nacional. A Segunda Confissão Helvética mantém a mesma estrutura, mas foi inteiramente redigida por Bullinger. Foi composta inicialmente após um parecer favorável do reformador Martin Bucer (1561), sendo reescrita durante uma epidemia na qual Bullinger julgou que iria morrer (1562). Ele anexou a confissão ao seu testamento como uma dádiva final à cidade de Zurique.

Os tópicos tratados no longo documento são os seguintes: 

Caps. 1-2: a Escritura Sagrada, sua inspiração, conteúdo e interpretação – reconhece o valor da tradição eclesiástica (pais da igreja e concílios), porém subordinada à autoridade primária da Escritura; exclui do cânon os livros apócrifos (pela primeira vez em uma confissão reformada). 

Caps. 3-7: Deus, a providência e a criação – reafirma a doutrina da Trindade e o Credo Apostólico; condena a veneração de imagens e o culto dos santos. 

Caps. 8-10: o pecado humano, o livre-arbítrio e a predestinação – pecado é corrupção inata e depravação pessoal; aborda a vontade humana em três situações (antes da queda, sob o pecado e após a regeneração); a predestinação recebe forte ênfase pastoral. 

Caps. 11-13: Cristo, a lei e o evangelho – reafirma a cristologia de Calcedônia e nega as antigas heresias cristológicas; aceita as decisões dos quatro primeiros concílios da igreja. 

Caps. 14-16: arrependimento, justificação e fé – define a justificação pela graça mediante a fé (imputação); a fé verdadeira produz boas obras que Deus aprova e recompensa. 

Caps. 17-18: a igreja e o ministério - distingue entre igreja invisível (eleitos) e visível (militante); os deveres dos ministros são pregar o evangelho, ministrar os sacramentos, cuidar das almas e manter a disciplina (capítulos mais longos da confissão). 

Caps. 19-21: a teologia e prática dos sacramentos – reafirma o batismo infantil como sinal do pacto; a presença de Cristo na ceia é espiritual. 

Caps. 22-29: questões práticas da vida da igreja – a importância do culto público, cânticos, orações, jejum, catequese, sepultamentos, propriedades eclesiásticas e casamento. 

Cap. 30: o papel dos magistrados civis – condena posições anabatistas.

Esse testemunho particular de fé se tornou uma confissão pública por dois motivos. Em 1565, o príncipe alemão Frederico III, do Palatinado, pediu a Bullinger uma exposição detalhada da fé reformada para apresentá-la ao Parlamento, onde os luteranos pretendiam acusá-lo de heresia. Bullinger encaminhou-lhe sua confissão de 1562, que foi impressa em latim e alemão. 

Além disso, os suíços sentiam a necessidade de uma descrição mais ampla de sua fé e para isso adotaram o documento de Bullinger, com pequenas modificações. A confissão foi publicada em Zurique no dia 12 de março de 1566, sendo aceita por todos os cantões reformados. Posteriormente foi recebida na Escócia, Hungria, França, Polônia, Inglaterra e Holanda, tornando-se, ao lado do Catecismo de Heidelberg, o documento reformado mais estimado e influente. Reflete o pensamento maduro de Bullinger e destaca-se por sua catolicidade e moderação.

Fonte: http://www.mackenzie.br/7056.html