domingo, 8 de agosto de 2010

Paul Hartog: 12 Questões em Calvino sobre a Extensão da Expiação

Parte 2 de 4


5ª Questão: Isso significa que os eleitos são salvos pela obra de Cristo na cruz, mesmo antes de crerem?

Não, responde Calvino. Deus, através de Seu Espírito efetivamente aplica a obra de Cristo aos eleitos quando eles crêem, mas eles não são salvos até que venham a crer.23


Calvino insiste: "Não é suficiente considerar Cristo como tendo morrido para a salvação do mundo; cada homem deve clamar para si os efeitos e a posse dessa graça pessoalmente.”24

“Porque ela nada é se os frutos da redenção, que foram comprados para nós, não se mostrarem pela fé: de outro modo, se tornará uma coisa inútil, e nós certamente pereceremos.”25 “Pois é a fé que nos coloca na posse desta salvação: apesar de nós não acharmos isso senão na pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo, e nós precisamos ir até Sua pessoa. Mas se não tivermos essa chave da fé, Jesus Cristo deve ser (como foi) estranho para nós, e tudo o que Ele sofreu, não se aproveita para nós nem um pouco, como, aliás, não diz respeito a nós.”26


Concernente as declarações de Paulo em Romanos 3:25, Calvino explica: "Tendo acabado de declarar que Deus foi reconciliado em Cristo, ele agora acrescenta que esta reconciliação é trazida para ser consumada através da fé, ao mesmo tempo, afirma que deveria ser o principal objeto de nossa fé em olhar para Cristo.”27

Calvino afirma: “Primeiro, devemos entender que, enquanto Cristo permanece fora de nós, e nós estamos separados dele, tudo o que ele sofreu e fez para a salvação da raça humana continua a ser inútil e sem valor para nós.”28

“Cristo é de uma forma geral o Redentor do mundo, mas ainda assim sua paixão e morte não traz qualquer vantagem a ninguém, a não ser que o recebam como São Paulo mostra aqui. E assim vemos que, quando uma vez conhecemos os benefícios trazidos a nós por Cristo, os quais Ele nos oferece diariamente pelo seu evangelho, devemos também estar unidos a Ele pela fé.”29

“Dessa forma você vê de fato, até onde nós devemos nos referir a essa declaração, na qual São Paulo nos diz expressamente, que o Filho de Deus deu a Si mesmo. E ele não se contenta em dizer que Cristo se entregou pelo mundo de forma comum, pois ele foi mais refinado em sua declaração: mas [mostra que] cada um de nós deve aplicar a si, particularmente, à virtude da paixão e morte de nosso Senhor Jesus Cristo. Considerando que é dito que o Filho de Deus foi crucificado, não devemos pensar apenas que o mesmo foi feito para a redenção do mundo, mas também cada um de nós deve em seu próprio favor se unir ao nosso Senhor Jesus Cristo, e concluir: 'Foi por mim que ele sofreu'.” 30

6ª Questão: Isso significa que a provisão do sacrifício de Cristo se limita somente aos eleitos, uma vez que Deus eternamente tinha a intenção de aplicar a obra de Cristo, no fim das contas, somente aos eleitos?

Não, porque Calvino parece coordenar uma provisão universal do sacrifício de Cristo com o chamado geral do Evangelho:

"Deus recomenda a nós a salvação de todos os homens, sem exceção, como também Cristo sofreu pelos pecados de todo o mundo" 31.

Calvino afirma: "Embora Cristo tenha sofrido pelos pecados do mundo, e seja oferecido pela bondade de Deus sem distinção a todos os homens, ainda assim nem todos o recebem.”32

Citando a genealogia de Jesus em Lucas, Calvino observa que “a salvação oferecida por Cristo é comum a toda a humanidade. Porque Cristo, o Autor da salvação, foi gerado de Adão, o pai comum de todos nós”33 Jesus é o “Redentor do mundo. . . uma vez que Ele estava lá, como se fosse, na pessoa de todos aqueles malditos e de todos os transgressores, e daqueles que mereceram a morte eterna. . . e carrega o fardo de todos aqueles que ofenderam mortalmente a Deus.”34

A “Última Vontade” de Calvino refere-se ao “sangue do nosso grande Redentor, que foi derramado por todos os pobres pecadores.”35

De acordo com Calvino, é “incontestável que Cristo veio para a expiação dos pecados de todo o mundo.” 36 “Essa redenção foi adquirida pelo sangue de Cristo, pelo sacrifício de Sua morte todos os pecados do mundo foram expiados.”37

Calvino reitera que o Senhor Jesus sofreu “para a redenção de todo o mundo.” 38 Na verdade, a morte de Cristo foi vida para todo o mundo, e isso é certamente sobrenatural.”39 Jesus, que foi “enviado para ser o Redentor da raça humana” foi “sobrecarregado com os pecados do mundo”40 e “sobre Ele foi colocada a culpa de todo o mundo.”41

Jesus "desejou em plena medida comparecer perante o tribunal de Deus, Seu Pai, no nome e na pessoa de todos os pecadores, estando pronto para ser condenado, na medida em que Ele tomou o nosso fardo” 42 “Mas, apesar de nosso Senhor Jesus por natureza ter tido uma morte em horror e, certamente, ter sido uma coisa terrível para Ele ser encontrado diante do julgamento de Deus em nome de todos os pobres pecadores (porque Ele estava lá, como se fosse eles, tendo de suportar todo o nosso fardo), no entanto, ele não falhou em humilhar a Si mesmo ante a tal condenação por nossa causa.”43

“Agora, então, a culpa reside exclusivamente em nós mesmos, se não nos tornamos participantes da salvação; pois ele chama todos os homens a Si, sem uma única exceção, e dá a Cristo a todos, para que possamos ser iluminados por Ele. Vamos apenas abrir os nossos olhos, Ele sozinho dissipará as trevas e iluminará as nossas mentes com a 'luz' da verdade”. 44

Desta forma, uma provisão universal da morte de Cristo parece embasar o chamado geral das promessas do evangelho. O comentário de Calvino sobre 2 Coríntios correlaciona os “sofrimentos” de Cristo com a proclamação do evangelho “que Ele deu ao mundo”:

Cristo "uma vez sofreu, de forma que agora, todos os dias, Ele oferece o fruto de Seu sofrimento para nós através do Evangelho, o qual Ele tem dado ao mundo como um certo e seguro registro de sua completa obra de reconciliação.”45

O Espírito, então, usa o chamado geral do evangelho e sua promessa universal para formar a fé nos eleitos. Deus, portanto, usa a provisão geral proclamada no Evangelho como um meio em seu chamado soberano e eficaz dos eleitos, preservando assim a universalidade da oferta e a particularidade da eleição.46
Notas:

23. Cf. Ephesians 2:1–7; veja também relevantes comentários de Calvino em seu quarto sermão aos Efésios, como citado em Blocher, “Atonement in John Calvin’s Theology,” 281n8.

24. Calvin, Galatians 2:20, The Epistles of Paul the Apostle to the Galatians, Ephesians, Philippians and Colossians, trans. T. H. L. Parker (Edinburgh: Oliver and Boyd, 1965), 44.

25. Calvin, Sermons of M. John Calvin, on the Epistles of S. Paule to Timothie and Titus
(Carlisle: Ban-ner of Truth, 1983), 612; A grafia do Inglês foi atualizada. A sentença anterior afirma que “quando Jesus Cristo sofreu pelos pecados do mundo, Ele subiu ao Céu.”

26. Ibid., 178; A grafia do Inglês foi atualizada. Rainbow alerta que tais declarações devem ser lidas com a fé como a causa instrumental em mente (Rainbow, Will of God and the Cross, 94).

27. Calvin, Romans 3:25, Epistles of Paul the Apostle to the Romans and the Thessalonians, 76.

28. Calvin, Institutes III.1.1; cf. Calvin, 2 Corinthians 5:18. Diferentemente de alguns autores posteriores, como Tobias Crisp, Calvino não adota uma noção de “eterna justificação”. De acordo com Calvino, até que alguém seja unido com Cristo pela fé (a qual o Espirito eficazmente forma nos eleitos pela Palavra), ele não é justificado. Veja Kennedy, Union with Christ and the Extent of the Atonement.

29. John Calvin, Sermons on Ephesians, trans. A. Golding; rev. S. M. Houghton and L. Rawlinson (Edinburgh: Banner of Truth, 1973), 55. “A fim de que a redenção de Cristo possa ser eficaz e útil para nós, nós devemos renunciar a nossa antiga forma de vida” (Calvin, 1 Peter 1:18, The Epistle of Paul the Apostle to the Hebrews and the First and Second Epistles of St Peter, 248).

30. Calvin, Sermons on Galatians, trans. Arthur Golding (Audubon: Old Paths, 1995), 299–300.

31. Calvin, Galatians 5:12, Epistles of Paul the Apostle to the Galatians, Ephesians, Philippians and Colossians, 99. Contraste as próprias palavras de Calvino com as de Leahy: “Para Calvino, com a Bíblia na mão, Cristo morreu por todos sem distinção e não por todos sem exceção” (Leahy, “Calvin and the Extent of the Atonement,” 62).

32. Calvin, Romans 5:18, Epistles of Paul the Apostle to the Romans and to the Thessalonians, 118; ital­ics added.

33. Calvin, Institutes II.13.3.

34. John Calvin, The Deity of Christ and Other Sermons, trans. Leroy Nixon (Audubon: Old Paths, 1997), 95.

35. Tradução da versão francesa, como citado em Clifford, Calvinus, 37. A versão em latim (em Cal­vin’s Life by Beza) traz “o sangue do grande Redentor, derramado pelos pecados de toda raça humana.” Cf. Nicole, “John Calvin’s View of the Extent of the Atonement,” 203.

36. Calvin, Concerning the Eternal Predestination, 148. Calvin continues, “Mas a solução está ao nosso alcance, que todo aquele que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”

37. Calvin, Colossians 1:14, Epistle of Paul the Apostle to the Galatians, Ephesians, Philippians and Colossians, 308.

38. Calvin, Deity of Christ and Other Sermons, 55.

39. Calvin, Hebrews 8:2, Epistle of Paul the Apostle to the Hebrews and the First and Second Epistles of St Peter, 105.

40. Calvin, Matthew 26:39, Harmony of the Gospels, vol. 3, 150–152.

41. Calvin, Isaiah 53:12, Commentary on the Book of the Prophet Isaiah, vol. 4, trans. William Pringle (Grand Rapids: Eerdmans, 1947), 131.

42. Calvin, Deity of Christ and Other Sermons, 52. “Mas aqui há uma relação especial. É que Ele deve ser o Redentor do mundo. Ele deve ser condenado, na verdade, não por ter pregado o evangelho, mas por nós Ele foi oprimido, por assim dizer, ao mais profundo e sustentou a nossa causa, uma vez que Ele estava lá, por assim dizer, na pessoa de todas aqueles malditos e de todos os transgresssores, e daqueles que mereceram a morte eterna” (ibid, 95). 43. Ibid, 155–156.

43. Ibid, 155–156.

44. Calvin, Isaiah 42:6, The Book of the Prophet Isaiah, vol. 3, 295; itálico adicionado. Note-se o uso paralelo de “chamar” e “dar”, implicando a corrrespondência de um geral “chamado” com ouma geral “provisão”

45. Calvin, 2 Corinthians 5:19, Second Epistle of Paul the Apostle to the Corinthians and the Epistles to Timothy, Titus and Philemon, 79; italico adicionado. Calvino explica: “Mas há um especial amor por aqueles a quem o evangelho é pregado, o qual é que Deus testifica junto a eles que Ele quer fazê-los participantes dos beneficios que foram comprados para eles pela morte e paixão de Seu Filho” (Calvin, Sermons on Deuteronomy, trans. Arthur Golding [Edinburgh: Banner of Truth, 1987], 167).

46. Na visão de Charles Bell, “É completamente claro que Calvino ensinou a doutrina da expiação universal. É também claro que ele ensinou uma doutrina de predestinação na qual a fé é limitada aos eleitos. Ele poderia fazer assim porque ele não ligou as doutrinas da eleição e da expiação em uma ordem lógica de causa e efeito” (Bell, Calvin and Scottish Theology, 17); cf. idem, “Calvin and the Extent of the Atonement,” 120–121.

Fonte: http://www.baptistbulletin.org/wp-content/uploads/2009/07/a-word-for-the-world.pdf
Tradutor: Emerson Campos Pinheiro.

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