Na disputa Calvino versus calvinistas, a questão é esta: Calvino ensinou a expiação limitada? Essa é a questão. Para aqueles que argumentam que Calvino ensinou a expiação limitada, a evidência com apelo mais forte à primeira vista é a declaração feita por Calvino em seu tratado contra Heshusius. Aqui está a declaração:
Mas a primeira coisa a ser explicada é como Cristo está presente com os incrédulos, como sendo o alimento espiritual das almas, e, em suma, a vida e a salvação do mundo. E como ele adere tão obstinadamente às palavras, gostaria de saber como os ímpios podem comer a carne de Cristo que não foi crucificado por eles? E como eles podem beber o sangue que não foi derramado para expiar seus pecados?” Calvin, Theological Treatises, 285.
A pessoa que insiste que Calvino ensinou expiação limitada vê justificação para a sua posição na pergunta de Calvino: "gostaria de saber como os ímpios podem comer a carne de Cristo que não foi crucificado por eles? E como eles podem beber o sangue que não foi derramado para expiar seus pecados?" Claramente aqui, eles dizem, se não em outro lugar, Calvino nos diz que existem alguns homens pelos quais Cristo não foi crucificado.
Muitos tomam isso como sendo a “clara” e convincente declaração de Calvino sobre a extensão da expiação, pela luz da qual eles interpretam todos as outras declarações de Calvino sobre a questão.
Eu coloquei "clara" entre aspas acima porque eu não quero ser mal interpretado como sugerindo que os defensores da expiação limitada tem interpretado corretamente as declarações de Calvino. Na verdade, eles as têm interpretado horrivelmente mal. O defensor da expiação limitada vê a pergunta de Calvino como retoricamente ensinando que existem alguns homens, isto é, os ímpios, por quem Cristo não morreu. Sua carne "não foi crucificado por eles" e seu sangue "não foi derramado para expiar os seus pecados."
Mas a questão não é tão simples como é normalmente apresentada.
Este artigo consiste em três partes. Na primeira parte, darei seis razões pelas quais eu rejeito a idéia de que Calvino estava ensinando a doutrina da expiação limitada na famosa declaração de Heshusius. Na segunda parte eu irei oferecer uma alternativa para a compreensão da declaração de Calvino. Essa alternativa oferece uma explicação plenamente satisfatória da declaração de Calvino. Uma explicação que leva em conta o contexto da teologia de Calvino como um todo, sua teologia da Ceia do Senhor, e seu argumento particular contra Heshusius. Na terceira parte, irei sugerir que a doutrina da Ceia do Senhor revelada no tratado contra Heshusius é realmente um argumento forte contra a idéia de que Calvino poderia ter sustentado a doutrina da expiação limitada.
Parte I – Seis razões pela quais a citação de Heshusius não ensina a expiação limitada
1) O Contexto da Obra de Calvino
Primeiro, o comentário está fora de sintonia com a teologia de Calvino. Tanto quanto sei, este comentário não se repete em qualquer outro lugar no corpus de Calvino. Na verdade, Calvin contradiz esta idéia em muitos lugares. Por exemplo:
”Por onde quer que os fiéis estejam dispersos por todo o mundo, João estende a eles a expiação realizada pela morte de Cristo. Mas isso não altera o fato de que os réprobos estão misturados com os eleitos em todo o mundo. É incontestável que Cristo veio para a expiação dos pecados do mundo. Mas a solução está ao alcance da mão: “para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:15). Porque a presente questão, não é quão grande o poder de Cristo é ou que eficácia ela tem em si, mas a quem Ele dá a Si mesmo para ser desfrutado. Se a possessão está na fé e a fé emana do Espírito de adoção, segue-se que só é contado no número dos filhos de Deus os que serão participantes de Cristo. O evangelista João apresenta o ofício de Cristo como nada mais do que por Sua morte reunir os filhos de Deus em um (Jo 11:52). Daí podemos concluir que a reconciliação é oferecida a todos por Ele, mas o benefício é peculiar aos eleitos, que podem ser reunidos na sociedade da vida”. Calvin, The Eternal Predestination of God, 148-9. Emphasis added.
De acordo com esta citação de Calvino, Cristo veio para a expiação dos pecados do mundo, um mundo em que os eleitos e os réprobos estão misturados no mesmo. E essa reconciliação é oferecida a todos, embora beneficiando somente os eleitos. Essa idéia percorre a teologia de Calvino e em toda a sua obra. Para Calvino dizer seriamente em resposta a Heshusius que Cristo não foi crucificado pelos ímpios seria simplesmente fantástico e totalmente fora de sintonia com a massa de suas declarações sobre o assunto.
2)O Contexto Imediato
Minha segunda razão para rejeitar esta interpretação das palavras de Calvino é que ela está fora de sintonia com o que Calvino disse no próprio tratado contra Heshusius. Considere esta declaração do tratado onde Calvino se defende de uma acusação de Heshusius:
“Ainda assim ele insiste, e diz que nada pode ser mais claro do que a declaração de que os ímpios não discernem o corpo do Senhor, e que a escuridão é violentamente e intencionalmente lançada sobre a mais clara verdade por todos os que se recusam a admitir que o corpo de Cristo é tomado pelos indignos.
Ele poderia ter alguma razão nisso, se eu negasse que o corpo de Cristo é dado ao indigno, mas como eles impiedosamente rejeitam o que é liberalmente oferecido a eles, são merecidamente condenados por profano e brutal desprezo, na medida em que reputam como nada aquela vítima pelo qual os pecados do mundo foram expiados e os homens reconciliados com Deus”.
Há duas coisas a se considerar aqui. Em primeiro lugar, Calvino faz a declaração óbvia de que "os pecados do mundo foram expiados".
A segunda coisa é que Calvino admite aqui que na Ceia do Senhor, Cristo é dado ao indigno, e afirma que esses incrédulos são justamente condenados por rejeitar o sacrifício de Cristo. O indigno é dado a Cristo, mas que eles recebem uma merecida condenação por rejeitar o sacrifício de Cristo. Este segundo ponto lança luz sobre o significado da afirmação de Calvino que "os pecados do mundo foram expiados." O indignos são condenados porque rejeitam o sacrifício que era para eles.
3)“Ímpio” não significa “não-eleito”
Olhe para declaração de Calvino novamente. Calvino disse que gostaria de saber como os não-eleitos (ou os réprobos) comem a carne de Cristo, oferecida na Ceia do Senhor?
Não. Ele questiona como o ímpio come a carne de Cristo. Calvino não faz aqui a distinção entre eleitos e réprobos, mas entre crentes e incrédulos, entre os participantes dignos e indignos. Não há nenhum indício de argumento de Calvino tratando da indignidade dos não-eleitos. Ao invés disso Calvino argumenta sobre a indignidade dos incrédulos.
Usar essa citação para ensinar expiação limitada é dizer que Cristo também não morreu pelo eleito, pois este ou é ou já foi um ímpio e aquele que Deus justifica não é o justo, mas o ímpio. Eu acho que só isso já bastaria para demonstrar a nulidade dessa citação para o caso da expiação limitada estrita. Mas eu prossigo considerando que isso pode não satisfazer a todos
Eventualmente será apontado que no fim do mesmo parágrafo da famosa citação há uma distinção entre eleitos e réprobos:
“Quando ele depois diz que o Espírito Santo habitou em Saul, devemos mandá-lo para seus rudimentos, para que possa aprender a discriminar entre a santificação que é própria apenas dos eleitos e filhos de Deus, e o poder geral que o mesmo réprobo possui. Estes sofismas, portanto, nem no menor grau afetam meu axioma, que Cristo, considerado como o pão vivo e a vítima imolada na cruz, não pode entrar em qualquer corpo humano que é destituído de seu Espírito”.
"Claramente", o defensor da expiação limitada vai dizer, "Calvino tem a distinção entre eleitos e réprobos em sua mente".
Mas essa é uma abordagem superficial. Leitores descuidados, muitas vezes olham apenas para a proximidade entre as palavras, ao invés de uma conexão de sentido e argumentação. As palavras "eleito" e "réprobo" aparecem na mesma página, e toda a análise está no fim. "Contexto" eles gritam. Eles ansiosamente carimbam os seus pressupostos independentemente da gramática e da razão.
Mas qualquer leitor sensato verá que na sentença sobre Saul, Calvino fala da diferença entre eleitos e réprobos quanto à presença do Espírito Santo, não com respeito se quem é um participante digno e quem não. Que tal é o caso é provado conclusivamente pela última parte da sentença final: "Cristo, considerado como o pão vivo e a vítima imolada na cruz, não pode entrar em qualquer corpo humano que é destituído de seu Espírito" Os incrédulos (mesmo os eleitos) não têm o Espírito de Cristo e, portanto, não podem participar dos benefícios espirituais da Ceia do Senhor.
4) O Argumento da Expiação Limitada está fora de lugar
Os defensores da expiação limitada estão representando Calvino como se estivesse dizendo algo como: "uma vez que Cristo morreu somente pelos eleitos, eu gostaria de saber como os não-eleitos podem espiritualmente participar da Ceia do Senhor." Mas esse argumento significaria menos do que nada para Heshusius, uma vez que Heshusius teria negado a expiação limitada.
Como Curt Daniel aponta [1], a frase introdutória: "Eu gostaria de saber" é um prelúdio de Calvino, indicando uma pergunta retórica. Isto coloca um problema para o seu adversário, uma pergunta à qual Heshusius deveria dar uma resposta satisfatória. Calvino está, essencialmente, exigindo uma justificativa de Heshusius. Obviamente, então, ele está, por estas palavras, introduzindo um argumento baseado em princípios defendidos pelo próprio Heshusius. Se Calvin está argumentando de uma intenção limitada na expiação para uma limitada participação espiritual na Ceia do Senhor, então o argumento não faria sentido para Heshusius. Sob o pressuposto da expiação limitada, Heshusius que não se sentiria obrigado a responder.
Ao invés de sentir uma obrigação de responder, o próprio argumento teria provido um forte refúgio para Heshusius. Uma vez que, como é aceito por todos os interessados, Heshusius não sustentava a expiação limitada, usar a expiação limitada como um argumento contra sua amada doutrina da presença do corpo de Cristo no pão e no vinho poderia ter feito mais para confirmá-lo em sua crença do que para movê-lo dela. Um argumento da expiação limitada teria sido como carne vermelha para ele. Ele teria atacado impiedosamente Calvino sobre o tema. Podemos imaginá-lo dizendo: "Claro que você tem uma visão defeituosa da presença de Cristo na Ceia do Senhor, pois você tem uma visão defeituosa da obra de Cristo na cruz! Sua doutrina da expiação corrompe a sua visão da Ceia ".
Eu darei um passo além. Se - hipoteticamente falando – Calvino tivesse usado a expiação limitada como um argumento contra a visão de Heshusius da Ceia, ele certamente teria feito uma exposição completa sobre isso. Nós teríamos mais do que apenas uma referência passageira em uma questão retórica (que é em si tem um tom irônico). Não, a disputa teria sido aquecida. Heshusius certamente teria incitado Calvino sobre o ponto (provavelmente em linguagem fortemente irônica), o que teria provocado Calvino a responder em extensão (e em tipo). O fato de que esse litígio não aparece no tratado - que a expiação limitada não faz nenhuma aparição em qualquer outro lugar na disputa - por si só indica que esta não é a base sobre a qual Calvino faz seu desafio.
Como já mencionado, Roger Nicole diz que o argumento de Calvino está fora de lugar aqui, mas acredita que isso esta em favor dos defensores da expiação limitada.
“Cunningham aparentemente foi o primeiro que se referiu a esse seguinte texto de Calvino como reflexo de uma presunção de expiação definida. "Eu gostaria de saber como os ímpios podem comer a carne de Cristo que não foi crucificada por eles, e como eles podem beber o sangue que não foi derramado para expiar os seus pecados."
Esta passagem, encontrada em um tratado sobre a Ceia do Senhor, destinado a refutar o luterano Heshusius, torna-se mais forte pelo fato de que Heshusius, na boa forma luterana, acreditava na expiação universal e, portanto, não encontraria um argumento convincente de Calvino nesse ponto . Mas Calvino foi tão fortemente orientado aqui que ele parece ter esquecido que Heshusius não partilhava seus pressupostos!” Roger Nicole, “John Calvin’s View of the Extent of the Atonement,” Westminster Theological Journal 47:2 (Fall 1985).
Mas Nicole está simplesmente errado aqui. A declaração de Calvino interpretada como uma afirmação de expiação limitada está fora de lugar. Isso deveria fazer Nicole questionar sua interpretação de Calvino, ao invés de confirmá-lo na mesma, decidindo que ele "parece ter esquecido" a posição de seu oponente.
Importante digressão sobre a doutrina de Calvino sobre a Ceia do Senhor
Antes que eu entre nas razões cinco e seis, nós temos de nos aprofundar na teologia de Calvino da Ceia do Senhor, como revelada em seu argumento contra Heshusius.
O argumento que Calvino teve com Heshusius relacionasse quase exclusivamente com a doutrina luterana de que o corpo de Cristo está presente nos elementos da Eucaristia. Quaisquer outras diferenças (por exemplo, a ubiquidade do corpo de Cristo e se incrédulos participam de Cristo na observância da Ceia) estão diretamente relacionadas a essa diferença fundamental. Além desta diferença, Calvin e Heshusius têm muito em comum.
Por exemplo, Calvino acreditava que participantes dignos realmente participavam do corpo de Cristo na Eucaristia. (Todas as citações que se seguem nesta seção são retiradas do tratado contra Heshusius).
“É declarado em meus escritos, mais de uma centena de vezes, que tão longe estou de rejeitar o termo substância, que ingenuamente e prontamente declaro, que pela agência incompreensível do Espírito, a vida espiritual é infundida em nós da substância da carne de Cristo. Eu também sempre admiti que nós somos substancialmente alimentados com a carne e o sangue de Cristo
Incrédulos que participam da Ceia do Senhor estão comendo condenação para si mesmos. É certamente verdade, que afronta é oferecida para a carne de Cristo por aqueles que com ímpio desdém e desprezo a rejeitam quando é tida por comida ....”
E mais tarde no tratado, falando da condenação devida aos incrédulos que participam indignamente da Ceia do Senhor, Calvino responde Heshusius como segue:
“Como eles impiamente rejeitam o que é liberalmente oferecido a eles, são merecidamente condenados por profano e brutal desprezo, na medida que reputam como nada aquela vítima pelo qual os pecados do mundo foram expiados, e os homens reconciliados com Deus”.
Parece natural, então, para Calvino sustentar que, como os incrédulos comem para sua própria condenação em seu comer indigno, o corpo de Cristo é realmente oferecido a eles na Ceia.
“Nós mantemos que na Ceia, Cristo oferece Seu corpo tanto para réprobos como para incrédulos ...".
* * *
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“ele é, certamente, oferecido em comum para todos, para os incrédulos, assim como para os fiéis”.
Certamente, Cristo é dado para os incrédulos na Ceia.
“[Heshusius] poderia ter um pouco de razão nisso, se eu negasse que o corpo de Cristo é dado ao indigno ...”.
Em todos estes pontos Heshusius e Calvino estão de acordo. (Esses mesmos sentimentos também podem ser encontrados nas Institutas). Por agora é importante notar, em síntese, que ambos concordam que Cristo é oferecido - ou melhor, dado - para os incrédulos na Ceia do Senhor.
E agora, tendo visto tudo isso sobre a doutrina de Calvino sobre a Ceia do Senhor, eu ofereço o quinto motivo para rejeitar a idéia de que Calvino usou a expiação limitada como um argumento contra Heshusius.
5) O argumento da Expiação Limitada refuta a Teologia de Calvino da Ceia do Senhor
Os defensores da expiação limitada tem Calvino como dizendo o seguinte: uma vez que Cristo não morreu pelos ímpios, como eles poderiam comer a carne e beber o sangue de Cristo que não foi crucificado e derramado por eles? Se não é por eles, então eles não podem participar dela.
Mas, se Calvino está realmente usando a expiação limitada para refutar a teologia Heshusius, então sua é uma vitória vã, pois sua própria teologia da Ceia do Senhor é refutada ao mesmo tempo.
Tenha em mente que Calvino afirma que a carne de Cristo é oferecida e dada aos incrédulos na Ceia do Senhor. Se Calvino estavam realmente usando a expiação limitada como um argumento contra Heshusius, a mesma pergunta que Calvino coloca para Heshusius poderia ser colocada para o próprio Calvino. Como pode a carne de Cristo ser oferecida ou dada para os réprobos (como Calvino acreditava), quando sua carne não foi crucificada por eles? Como pode o sangue de Cristo ser dado a eles para beber, se não foi derramado por eles? Calvino não deixou passar um ponto tão óbvio como esse.
Parece-me claro que absolutamente isso não é o que Calvino tinha em mente. Ele não está usando a expiação limitada como um argumento, o que quer que ele estivesse querendo dizer pela declaração.
6) Calvino argumentou contra a presença local do corpo de Cristo nos elementos da Ceia do Senhor, e não contra a expiação ilimitada
A disputa entre Calvino e Heshusius não era a expiação, era a presença local do corpo de Cristo nos elementos eucarísticos. O próprio Calvino afirma a questão em disputa como segue:
"De onde se conclui, que a nossa disputa não se refere nem a presença nem ao comer substancial, mas apenas quanto ao modo de ambos. Nós não admitimos nem a presença local, nem esse comer grosseiro ou ignorante do qual Heshusius fala tão absurdamente quando diz que Cristo em relação a sua natureza humana está presente na terra, na substância de seu corpo e sangue, de modo que Ele é não só comido em fé por seus santos, mas também pela boca do corpo sem fé dos ímpios".
Por razões de clareza, devo salientar que Calvino não contesta a presença de Cristo nos elementos, mas o modo da sua presença nos elementos. A presença local do corpo de Cristo nos elementos traz outras duas questões, isto é, a presença do corpo de Cristo na terra e os ímpios participarem de Cristo pela ingestão física. Estas são as questões que Calvino trata no tratado, e que essa é a disputa; não a extensão da expiação. Naturalmente, esperamos que os argumentos de Calvino se direcionem para a questão da presença do corpo de Cristo e não para irrelevante questão (para a disputa) da extensão da expiação.
Então, o que a citação significa? O que ela está realmente dizendo?
Parte II – Como compreender essa citação:
O problema com a compreensão dos high calvinistas do tratado de Calvino contra Heshusius é que - dado o seu entendimento dela - a citação sobre a qual se apóiam está tão chocantemente fora do lugar. Ela não se encaixa com a teologia de Calvino, ou com o seu argumento contra Heshusius. Aqui está a citação, novamente, junto com uma parcela maior de contexto.
“Vale a pena observar com que intensidade ele se desfaz da minha objeção que Cristo não pode ser separado do seu Espírito. Sua resposta é que como as palavras de Paulo são claras, ele concorda com elas. Será que ele quer nos surpreender por um milagre, quando nos diz que o cego vê isso?
Tem sido demonstrado com suficiente clareza que nada do tipo pode ser visto nas palavras de Paulo. Ele se esforça para se desembaraçar dizendo que Cristo está presente com suas criaturas de várias maneiras. Mas a primeira coisa a ser explicada é como Cristo está presente com os incrédulos, como sendo o alimento espiritual das almas, e, em suma, a vida e a salvação do mundo.
E como ele adere tão obstinadamente às palavras, eu gostaria de saber como os ímpios podem comer a carne de Cristo que não foi crucificada por eles? E como eles podem beber o sangue que não foi derramado para expiar os seus pecados? Eu concordo com ele que Cristo está presente como um juiz rigoroso, quando sua Ceia é profanada. Mas uma coisa é ser alimento, e outra é ser juiz”.
Eu irei rever essa passagem para ilustrar a substância e o método de argumentação de Calvino contra Heshusius. Ao fazê-lo nós (se eu alcançar meus objetivos) teremos um breve levantamento de todo o tratado.
A ironia de Calvino
Para começar a revisão da passagem, note a ironia que Calvino utiliza no tratamento de Heshusius e de seus argumentos.
“Vale a pena observar com que intensidade ele se desfaz da minha objeção que Cristo não pode ser separado do seu Espírito. Sua resposta é que como as palavras de Paulo são claras, ele concorda com elas. Será que ele quer nos surpreender por um milagre, quando nos diz que o cego vê isso?”
Observe a pesada ironia de Calvino aqui. Ele sugere que, para Heshusius ver as palavras de Paulo claramente seria semelhante a um cego ver. Mas "cego" é um dos adjetivos mais gentis que Calvino utiliza para Heshusius em todo o tratado! Na primeira linha do tratado Calvino o chama de "petulante, desonesto, raivoso". Mais tarde, no mesmo primeiro paragrafo, ele se refere aos argumentos de Heshusius como vindo "de uma outra pia." Mais adiante, Calvino o acusa de buscar a "fama através de opiniões paradoxas e absurdas". Poderíamos ir ainda mais longe e encontraríamos humor em maior extensão. Calvino certamente não estava acima fazendo Heshusius objeto de maledicência.
Além de zombar de Heshusius toda vez, Calvino mostra a doutrina de Heshusius na mais desfavorável luz. A certa altura ele diz: "Se Cristo está no pão, ele deve ser adorado sob o pão". Ele compara a doutrina de Heshusius da Eucaristia desfavoravelmente à doutrina católica romana. Calvino diz:
“[Heshusius] defende ele e as igrejas de seu partido do erro da transubstanciação com a qual ele alega falsamente que nós os acusamos. Pois, embora eles tenham muitas coisas em comum com os papistas, nós não, portanto, os confundimos juntos e nem deixamos de fazer distinção. Ao invés, eu deveria dizer, que eu já demonstrei que os papistas em seus sonhos são consideravelmente mais modestos e mais sóbrios”.
Logo no início do tratado, Calvino se envolve com Heshusius longamente sobre se a carne de Cristo é mordida pelos dentes. Calvino pergunta: "Por que ele deveria ter tanto medo do toque da boca ou da garganta, enquanto se arrisca a afirmar que isso é absorvido pelos intestinos?"
Aponto tudo isso para mostrar que ao fazer seu desafio a Heshusius sobre os ímpios comerem a carne de Cristo que não foi sacrificada por eles, Calvino pretende mostrar Heshusius da pior maneira possível. Ele estava acusando Heshusius de absurdas e brutais inconsistências. Não devemos ficar surpresos com Calvino evocando imagens e idéias grotescas em sua crítica a Heshusius – quanto mais grotesco melhor, se imagina. Que ironia cômica que haveria em acusar Heshusius de violar um princípio que ele não sustentava?
Cristo não pode ser separado do seu Espírito.
Voltando ao parágrafo que estamos analisando, Calvino faz esta objeção:
“Vale a pena observar com que intensidade ele se desfaz da minha objeção que Cristo não pode ser separado do seu Espírito”.
Calvino faz esta objeção, em resposta à idéia de que os ímpios participam da carne de Cristo na Ceia do Senhor. Cristo não pode ser separado de Seu Espírito, diz Calvino e, assim, apenas comer a carne de Cristo sem o Espírito de Cristo é impossível. O leitor deve ter em mente que Calvino sustentava que a carne de Cristo, ou o seu corpo, está presente nos elementos da Ceia do Senhor. A diferença entre Calvino e Heshusius sobre este ponto é que Heshusius sustentava que há uma presença física, enquanto que Calvino sustentava que esta presença, embora substancial, é espiritual e misteriosa. Calvino diz, neste tratado:
“É declarado em meus escritos, mais de uma centena de vezes, que tão longe estou de rejeitar o termo substância, que ingenuamente e prontamente declaro, que pela agência incompreensível do Espírito, a vida espiritual é infundida em nós da substância da carne de Cristo. Eu também sempre admiti que nós somos substancialmente alimentados com a carne e o sangue de Cristo..”
O literalismo de Heshusius
A substância do argumento de Heshusius - como relatado por Calvino - é resumido na frase seguinte:
“Sua resposta é que como as palavras de Paulo são claras, ele concorda com elas”.
Heshusius se fundamenta sobre uma leitura estritamente literal de 1 Coríntios 11:24 "este é o meu corpo". Para Heshusius, o significado literal das palavras responde a todas as acusações. É importante reconhecer a sua literalidade extrema para compreender tanto a questão em disputa quanto os argumentos de Calvino. É por isso que Calvino questionou Heshusius por todo o tratado em relação à natureza física da carne de Cristo nos elementos: “A carne é mastigada com os dentes?” Quanto tempo é retida no corpo?”. E coisas semelhantes.
Os benefícios da Ceia desfrutados somente pela fé
A próxima seção dessa passagem contém a parte da disputa entre Calvino e Heshusius que se relaciona com os benefícios espirituais da Ceia do Senhor e como pode-se participar de tais benefícios:
“Sua resposta é que como as palavras de Paulo são claras, ele concorda com elas. Será que ele quer nos surpreender por um milagre, quando nos diz que o cego vê isso? Tem sido demonstrado com suficiente clareza que nada do tipo pode ser visto nas palavras de Paulo. Ele se esforça para se desembaraçar dizendo que Cristo está presente com suas criaturas de várias maneiras. Mas a primeira coisa a ser explicada é como Cristo está presente com os incrédulos, como sendo o alimento espiritual das almas, e, em suma, a vida e a salvação do mundo”.
Nessas palavras, Calvino se foca sobre a diferença entre a presença literal do corpo de Cristo nos elementos e os benefícios espirituais que devem ser desfrutados pela fé. E é assim que podemos entender a frase destacada acima. Uma vez que, pelos próprios princípios de Heshusius, o ímpio não se beneficia da presença de Cristo na Ceia do Senhor, Calvino se dirige para o ponto de que a fé é necessária para desfrutar os benefícios prometidos na Eucaristia. Esta é a idéia principal de Calvino. A fé é necessária para desfrutar os benefícios do sacrifício de Cristo oferecido na Eucaristia e não a presença corporal de Cristo. Assim, embora esses benefícios sejam oferecidos aos incrédulos, eles não o recebem porque não tem fé.
Sobre este ponto Calvino reduziu Heshusius a um absurdo com os princípios que o próprio Heshusius defende. Este acredita que os ímpios participam da carne de Cristo, mas não recebem nenhum benefício espiritual dessa participação. Assim sendo, Heshusius estranhamente separava a carne de Cristo de Seu Espírito. O argumento de Calvino neste parágrafo é sobre a estranha doutrina de Heshusius com respeito à carne de Cristo; isso não tem nada a ver com a extensão da expiação.
A parte crítica
E como ele adere tão obstinadamente às palavras, eu gostaria de saber como os ímpios podem comer a carne de Cristo que não foi crucificada por eles? E como eles podem beber o sangue que não foi derramado para expiar os seus pecados?
Primeiro, notemos a referência à literalidade de Heshusius: "Como ele adere tão obstinadamente as palavras ...". Calvin está nos preparando para outro reductio ad absurdum contra seu oponente confiando na dependência desajeitada de Heshusius sobre o sentido literal das palavras.
"Eu gostaria de saber ...". Calvino usa essas palavras para apresentar o seu desafio para Heshusius. Este desafio deve ser em princípios que Heshusius aceitaria ou argumento de Calvino não teria sentido.
"Como o ímpio pode comer a carne de Cristo ...." Claramente Calvino fala da presença física e local da carne de Cristo no pão, em oposição aos benefícios espirituais. Calvino levantou a questão relacionada com os benefícios espirituais da Ceia do Senhor na frase anterior. Agora ele passa para o alimento físico. Este é o principal ponto em disputa. Não deveria nos surpreender ver a presença física de Cristo nos elementos como tema de um reductio ad absurdum, quando a presença física é o cerne da disputa entre os dois homens.
“Que não foi crucificado por eles?" E aqui estamos nós. Em que sentido é que Calvino não vê o Cristo crucificado para os ímpios? O ponto é que Calvino está dizendo que Heshusius acredita nisso. Calvino não está dizendo que ele mantém essa posição. Ele está dizendo que Heshusius mantém esta posição e o desafia para produzir um motivo para sustentar este absurdo.
A referência de Calvino aqui é à oposição luterana para a missa católica romana, na qual a carne de Cristo é de fato vista como crucificada. (Calvino, naturalmente, compartilha da opinião de Heshusius sobre este ponto, é claro, mas ele tem uma explicação razoável para isso em sua doutrina da Ceia do Senhor).
Na teologia luterana, este ponto é referido em pelo menos dois de seus documentos confessionais. No Catecismo Maior de Lutero, na seção intitulada "O Sacramento do Altar", encontramos esta afirmação:
“Portanto, também é vão falar quando dizem que o corpo e o sangue de Cristo não é dado e derramado por nós na Ceia do Senhor, por isso não poderíamos ter o perdão dos pecados no Sacramento. Pois, embora a obra esteja realizada e o perdão dos pecados adquirido na cruz, ainda assim isso não pode vir até nós em qualquer outra forma que não através da Palavra”.
"Eles dizem", isto é, os católicos romanos dizem. A doutrina luterana nega explicitamente que o corpo e o sangue de Cristo é "dado e derramado por nós na Ceia do Senhor ....". A obra, os luteranos sustentam, foi realizada na cruz, não na Eucaristia. Isto é ainda reforçado na Confissão de Augsburgo, Artigo XXIV, onde missas privadas são condenadas e o sacrifício único de Cristo é afirmado.
"Porque a paixão de Cristo foi uma oblação e satisfação, não apenas pela culpa, mas também por todos os outros pecados, como está escrito em Hebreus 10:10: "Nós temos sido santificados, mediante a oferta de Jesus Cristo, uma vez por todas”. Confissão de Augsburgo XXIV
Assim, a teologia luterana especificamente nega que o corpo de Cristo, embora localmente e fisicamente presente na Eucaristia, seja sacrificado na Eucaristia. Eu sugiro que é a isso que Calvino se refere em seu famoso desafio. Calvino está questionando como os ímpios comem a carne de Cristo, que, embora fisicamente presente no pão, não foi sacrificada [na eucaristia].
Para reforçar isso, podemos também recordar as palavras de Paulo em 1 Coríntios, nas quais Heshusius insiste tão obstinadamente: "Tomai e comei: Isto é meu corpo que é partido por vós ...". Observe que a fórmula de Paulo se refere tanto à presença de Cristo nos elementos quanto à Sua crucificação. Uma vez que Heshusius insiste tão fortemente em um sentido literal das palavras "este é o meu corpo", como ele pode explicar a retirada do significado literal de "que é partido por vós"? Se Heshusius fosse consistente em sua interpretação literal, a carne de Cristo deveria ser oferecida como um sacrifício como na missa católica. Ele insiste "este é meu corpo", mas não insiste "que é partido por vós". Como Calvino sugeriu anteriormente no tratado, os católicos são “consideravelmente mais modestos e sóbrios"
Assim chegamos a uma compreensão satisfatória do desafio de Calvino, que não envolve nenhuma contradição com sua própria teologia, utiliza os princípios aceitos por Heshusius para um argumento reductio ad absurdum, está em sintonia com o tom da disputa entre os dois homens e aborda a questão que realmente está sendo debatida entre eles. Enquanto que o argumento da expiação limitada, tal como sugerido pelos high calvinistas não cumpre nenhum desses requisitos.
Parte III - O tratado contra Heshusius prova que Calvino não ensinou a expiação limitada
Na Parte III, gostaria de ponderar se o trato Heshusius pode responder para nós a questão da doutrina de Calvino sobre a extensão da expiação. Considere a questão da sinceridade da oferta do evangelho a pecadores. A sinceridade da oferta do evangelho é amarrado por alguns (dentre os quais eu me incluo) com a universalidade da expiação. Se o sacrifício de Cristo não era para todos, então o evangelho não é para todos e não poderia ser oferecida a todos.
Se compreendermos a teologia de Calvino sobre a Ceia do Senhor, certamente concluiremos de uma oferta do evangelho. Para Calvino, a Ceia do Senhor foi a melhor imagem do evangelho, e o sacramento era, disse ele, oferecido ou dado igualmente para o crente e para o incrédulo. Como esta doutrina seria afetada pela doutrina da expiação limitada? Mantenha essa pergunta em mente ao revermos alguns conceitos importantes da doutrina de Calvino sobre a Ceia.
A presença substancial de Cristo nos elementos
Como vimos no exame do tratado contra Heshusius, Calvino acreditava que Cristo está substancialmente presente nos elementos da Eucaristia.
“É declarado em meus escritos, mais de uma centena de vezes, que tão longe estou de rejeitar o termo substância, que ingenuamente e prontamente declaro, que pela agência incompreensível do Espírito, a vida espiritual é infundida em nós da substância da carne de Cristo. Eu também sempre admiti que nós somos substancialmente alimentados com a carne e o sangue de Cristo..”
Note que Calvino diz que Cristo não só nos é dado na Ceia, mas que a carne de Cristo - seu corpo e sangue - nos é dado na Ceia. Este é o mistério que Calvino trata em sua doutrina da Ceia do Senhor: a substancial, mas não material e local, presença da carne de Cristo nos elementos.
Eu não faço restrição a essa união com a essência divina, mas afirmo que ela pertence à carne e ao sangue, na medida em que não foi simplesmente dito "meu Espírito”, mas “minha carne é verdadeiramente comida”; nem foi simplesmente dito “minha divindade”, mas “meu sangue é verdadeiramente bebida”.
A oferta de Cristo nos elementos
Essa presença de Cristo nos elementos eucarísticos é uma oferta tanto para crentes quanto para incrédulos para participar dos benefícios da Sua expiação. Eu tenho três citações do tratado que tratam disso.
1ª Citação:
"Ainda que [Heshusius] insista, e diga que nada pode ser mais claro do que a declaração de que os ímpios não discernem o corpo do Senhor, e que a escuridão é violentamente e intencionalmente lançada sobre a mais clara verdade por todos os que se recusam a admitir que o corpo de Cristo é tomado pelos indignos.... Ele poderia ter alguma razão nisso, se eu negasse que o corpo de Cristo é dado ao indigno ...”
2ª Citação:
“É certamente verdade, que afronta é oferecida para a carne de Cristo por aqueles que com ímpio desdém e desprezo a rejeitam quando é tida por comida; porque nós mantemos, que na Ceia, Cristo oferece seu corpo tanto para réprobos quanto para os crentes....”
3ª Citação:
“[Nos sacramentos] nesse sentido, nós obtemos a posse de Cristo, e o recebemos espiritualmente com seus dons, ou melhor, ele é certamente oferecido em comum a todos, tanto para os incrédulos, quanto para os fiéis”.
Na Ceia do Senhor, Cristo é apresentado como dando a vida em sacrifício pelos pecados
O terceiro ponto em meu argumento é que, segundo Calvino, a Ceia apresenta Cristo como o Cordeiro que foi morto por nossos pecados. A observância não é apenas um memorial ou um dever a ser realizado, mas uma imagem do evangelho e uma oferta dos seus benefícios. Por causa do sacrifício que a Ceia retrata, o sacramento dá vida a todos os que participam dela em fé.
Calvino mostra que, ao participar, os fiéis recebem a vida espiritual e são substancialmente alimentados através dos elementos. Ele diz:
“É declarado em meus escritos, mais de uma centena de vezes, que tão longe estou de rejeitar o termo substância, que ingenuamente e prontamente declaro, que pela agência incompreensível do Espírito, a vida espiritual é infundida em nós da substância da carne de Cristo. Eu também sempre admiti que nós somos substancialmente alimentados com a carne e o sangue de Cristo”
Mas Calvino se opõe a insistência de Heshusius sobre a presença física do corpo de Cristo nos elementos:
“A expressão [de Heshusius] é que a própria substância da carne e do sangue devem ser tomadas pela boca, enquanto eu defino o modo de comunicação, sem ambigüidade, dizendo que Cristo pelo seu poder infinito e maravilhoso nos une na mesma vida Consigo, e não apenas aplica o fruto de Sua paixão para nós, mas torna-se verdadeiramente nosso pela comunicação de Sua bênção para nós, e, conseqüentemente, conjuga-nos para Si da mesma maneira que a cabeça e os membros se unem para formar um só corpo”.
Observe com atenção nesta citação que Calvino faz uma estreita ligação entre a observância da Eucaristia e a aplicação dos benefícios da expiação. Segundo Calvino, os benefícios da paixão de Cristo são aplicados através da participação na Ceia. A observância da comunhão comunica a vida de Cristo para nós.
Em seguida, voltemos para uma citação já fornecida em parte. Abaixo Calvino responde a acusação de Heshusius de que sua doutrina não leva em conta que os indignos são condenados pela sua incapacidade de discernir o corpo do Senhor na Ceia:
“Ele poderia ter alguma razão nisso, se eu negasse que o corpo de Cristo é dado ao indigno, mas como eles impiedosamente rejeitam o que é liberalmente oferecido a eles, são merecidamente condenados por profano e brutal desprezo, na medida em que reputam como nada aquela vítima pelo qual os pecados do mundo foram expiados e os homens reconciliados com Deus”.
Novamente tome nota que, em seu desprezo da Ceia, os ímpios reputam como nada o cordeiro de Deus. Observe também que, ao rejeitar a oferta da Ceia, os incrédulos reputam como nada a obra expiatória de Cristo. Tão próxima é a conexão entre a doutrina de Calvino sobre a Ceia do Senhor e da sua doutrina da expiação.
A Ceia não é uma falsa oferta
Aqui eu trago apenas uma citação do tratado:
“Em nossa concórdia isso é duas ou três vezes, claramente afirmado, que uma vez que os testemunhos e selos que o Senhor nos deu de sua graça são verdadeiros, Ele, sem dúvida, internamente realiza os sacramentos figuram aos olhos, e neles, em conformidade, obtemos a posse de Cristo, e o recebemos espiritualmente com seus dons .... “
Esta idéia não é popular na comunidade reformada na América. Certamente não é popular entre os batistas e, aparentemente, não é tão popular entre a maioria dos presbiterianos. Mas Calvino ensinou claramente que as promessas dos sacramentos são mais do que apenas sinais ou símbolos.
Neste artigo, eu me limitei à citação do tratado contra Heshusius, mas todos os argumentos aqui poderiam ter sido sustentados a partir de sentimentos expressos nas Institutos ou nos seus comentários. O leitor pode consultar o 4 º livro das institutas, capítulo 17, ou dar uma olhada no comentário de Calvino sobre 1 Coríntios 11.
Expiação Limitada antitética à doutrina de Calvino da Ceia do Senhor
Deixe-me dizer isto de uma maneira um tanto controversa, observando que, ironicamente, eu mesmo sou um batista. Além dos simpatizantes da Visão Federal, a maioria dos presbiterianos têm uma visão batista da Ceia do Senhor. Eles certamente não têm a visão de Calvino. Isto pode ser devido, em parte, à incongruência entre a doutrina comum da expiação limitada e a visão de Calvino da Ceia. Como se poderia manter a visão de Calvino da Ceia e seriamente pregar expiação limitada como é comumente pregado?
Imagine um culto em um domingo, quando a Ceia está sendo celebrada. Imagine que este particular domingo coincide com um sermão sobre a expiação limitada. Imagine a ironia, então, quando o ministro apresenta a doutrina de Calvino sobre a Ceia do Senhor: que a carne crucificada de Cristo está substancialmente presente na Ceia; que na oferta dos elementos Cristo se oferece a todos; que aqueles que pela fé se alimentam dos elementos se alimentam de Cristo; que ao participar da Ceia do Senhor, "pela incompreensível agência do Espírito, a vida espiritual é infundida em nós a partir da substância da carne de Cristo". Isso simplesmente não se encaixa.
Pensamentos Finais
Eu tiro minha citação final de Calvino das Institutas:
“Porque essas palavras não nos podem mentir nem enganar: “Tomai, comei, bebei: este é meu corpo, que é partido por vós; este é meu sangue que é derramado pela remissão dos pecados” Ao ordenar tomar, ele intima que é nosso; ao ordenar comer, intima que se faz uma só substância conosco; ao declarar que em relação ao corpo foi partido e em relação ao sangue foi derramado por nós, nisso demonstra que ambos eram não tanto seus quanto nossos, porque a um e outro não só tomou, mas também entregou, não para seu próprio proveito, mas para nossa salvação. E de fato deve-se observar, diligentemente, que a principal e quase total energia do sacramento se situou nestas palavras: “que é partido por vós”, e “que é derramadopor vós”. Institutas 4.17.3
A idéia de que deve haver uma expiação universal por trás de uma oferta universal do evangelho é atraente em um nível intelectual, mas é também suscetível a evasões. Evasão não é realmente possível (pelo menos se torna mais difícil) quando a doutrina é dada na expressão tangível da Ceia do Senhor. Há Cristo realmente; há uma real oferta, uma oferta tanto para crentes quanto para incrédulos; há a aplicação dos benefícios da expiação; há a realidade de uma mesa colocada; há um banquete para o qual todos são convidados. A doutrina de Calvino sobre a Ceia do Senhor parece ser totalmente incompatível com o tipo da expiação limitada, muitas vezes sustentada nos atuais círculos calvinistas.
Notas do blog:
1. Curt Daniel diz
“Outras passagens nas obras de Calvino tem especial relevância para a interpretação da passagem em questão. Um delas está nas Institutas. Ali Calvino lida com a questão dos incrédulos 'comendo a Cristo':
'Gostaria, porém, de saber deles [os ímpios] por quanto tempo a conservam [o verdadeiro corpo de Cristo] no estômago, depois de havê-la comido'
Observe a mesma expressão introdutória: 'Eu gostaria de saber ..' Na citação das Institutas, o que se segue à expressão introdutória é algo que Calvino nega - que os ímpios realmente comem e conservam a Cristo. Ele não está aceitando que os ímpios realmente comem e conservam a Cristo, a questão é retórica. Sentimos, portanto, que o caso com Heshusius deve ser interpretado como paralelo em forma e conteúdo com esta.
Na citação das Institutas, a segunda cláusula (que os ímpios comem e conservam a Cristo) é afirmado pelo adversário de Calvino; na citação do Tratado a segunda cláusula (que os ímpios comem a carne que não foi crucificada por eles) é afirmada por Heshusius, não por Calvino”. Daniel, Curt. Hyper-Calvinism and John Gill. Dissertation Phd.
Fonte: http://calvinandcalvinism.com/?p=215
Tradução: Emerson Campos Pinheiro.
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