terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Tony Byrne: Substituição Penal

Essa é uma resposta que é parte de uma interação com um irmão que pensava que aqueles que defendem que Cristo morreu por toda a raça humana devem também negar substituição penal por implicação. Talvez alguns dos meus leitores possam achar minha resposta útil:

Na verdade, eu acho que seria bom que você refletisse sobre a noção de" Substituição Penal ". Essas duas palavras são importantes. Antes de mais nada, deixe-me dizer que a obra de Cristo foi mais do que uma substituição penal, mas não foi menos do que uma substituição penal.


Isso vai um pouco além da questão em pauta, mas eu creio que nos é útil refletir sobre outras realizações da obra de Cristo na Cruz do que somente enfatizar a natureza substitutiva penal dela. Acredito que você concordaria comigo que nenhuma visão singular da expiação(seja a governamental, de exemplo moral, ou Christus Victor, etc) não capta completamente a totalidade do que Cristo fez. No entanto, sua obra não foi menos do que penal e não foi menos do que substitutiva. Então, vamos refletir sobre essas duas noções.


Em segundo lugar, sua obra foi uma satisfação penal, e não uma transação comercial. Portanto, o foco está na pessoa que sofre e não na coisa "paga". Aqui está o que eu quero dizer. Em uma transação comercial, o foco é a coisa paga. Por exemplo, digamos que um homem chamado Bilbo coma em um restaurante e sua conta chegue a 40 dólares. Frodo ouve que Bilbo não tem dinheiro para pagar e decide intervir e pagar a conta. O restaurante não vai, portanto, importunar Bilbo pelos 40 dólares. A coisa foi paga. Bilbo simplesmente toma consciência de que a conta foi paga por outro [Frodo] e é grato. Se ele é grato e reconhece isso, ou não, ninguém o importuna pelo dinheiro. A conta foi paga integralmente e não há obrigações adicionais.

Um pagamento penal, por outro lado, não é assim. Considere o seguinte cenário: Frodo é colocado na prisão por 10 anos por cometer um crime X. Frodo é realmente inocente, mas sofre na cadeia por 10 anos inteiros. Posteriormente, descobre-se que Bilbo foi quem realmente cometeu o crime X e não Frodo. Mesmo que Frodo já tenha sofrido por 10 anos, o Estado captura Bilbo e faz com que ele sofra os mesmos 10 anos de prisão, apesar do fato de que Frodo já ter sofrido o montante de tempo requerido. Você pode ver a diferença? O foco nesta transação penal é a pessoa que pagou e não a coisa paga. .

Por último, consideremos o aspecto substitutivo da obra de Cristo. Suponhamos que Bilbo tenha cometido o crime X, mas nega, e ainda assim o juiz Gandalf justamente o considera culpado. Entretanto Frodo ama Bilbo e concorda em sofrer pelo crime X. O Juiz Gandalf não é obrigado a aceitar a vontade de Frodo de sofrer no lugar do amigo, mas graciosamente permite o arranjo sobre certas condições. O juiz permite que Frodo sofra por X, mas não liberará Bilbo das suas obrigações penais a menos que ele confesse ter cometido o crime X e junta-se ao exército de Aragon por um certo tempo. Mesmo que Frodo sofra pelo crime X em sua inocência, Bilbo ainda pode ser acusado do crime e não ser liberado a menos que cumpra as condições judicionais acima mencionadas. Não há nenhuma injustiça se Bilbo sofrer pelo crime X, embora Frodo tenha sofrido por ele, uma vez que não é a mesma pessoa "pagando duas vezes". A injustiça ocorreria se a mesma pessoa sofresse duas vezes pelo mesmo crime, mas não há nenhuma injustiça se a pessoa 1 [Frodo] sofre pela pessoa 2 [Bilbo] e a pessoa 2 permanece sob obrigações penais [permanece sob a ira penal, por assim dizer] a menos que ele cumpra certas condições.

Há graciosidade 1) no juiz em permitir um substituto e, 2) no juiz permitir que o sofrimento de Frodo a seja creditado para Bilbo quando as condições forem satisfeitas. Ambos os atos são graciosos, uma vez que é uma substituição penal. Se isso fosse uma transação comercial, Bilbo, seja ele grato ou não, poderia alegar que é seu direito ser libertado, uma vez que a coisa já foi paga por Frodo.

No entanto, esta apresentação comercial não é o que encontramos na Escritura com relação a obra de Cristo. Nós encontramos ela como sendo penal (não comercial) e substitutiva [...]Se Cristo sofre por alguém e ainda assim essa mesma pessoa sofre pelos seus próprios pecados, não há uma "dupla punição". Não é a mesma pessoa sofrendo duas vezes, mas duas pessoas diferentes sofrendo. Deus adicionou condições em seu esquema gracioso para que a parte culpada seja liberada das suas obrigações penais. Se alguém não cumprir as condições (ou seja, se arrepender e crer), então ainda é responsabilizado para sofrer pelo seu crime (inferno).

Assim, eu (como aqueles que sustentam que Cristo sofreu por toda a raça humana) realmente sustentamos uma substituição penal e não um transacionalismo comercial. Mesmo que a obra de Cristo seja analogicamente comparada com várias transações comerciais nas Escrituras à título de ilustração, não é uma comparação inequivoca. A satisfação de Cristo não é literalmente comercial, mas penal em natureza. Se alguém empurra a analogia comercial de forma a torná-la literal, então eu acredito que ele chegará ao ponto de vista uma libra-por-libra (tanto-sofrimento-por-tanto-pecado), de forma tal que Cristo foi ferido mensurávelmente somente pelo montante dos pecados dos eleitos que foram transferidos para Ele. Esta visão tem sido chamado historicamente de "Equivalentismo".

Veja como um hiper-calvinista chamado John Stevens coloca sua opinião:

"Portanto, se nós supomos que alguém fica no lugar de um pecador perdido, ao fazer isso nós não estamos imaginando que tal substituto deve, por esse fato, sofrer tanto como se representasse todos os pecadores perdidos. Quanto maior a culpa, maior a punição. Quanto maior o número de pecadores, maior medida de culpa há. Portanto, segue-se que, se mais pecadores tivessem sido salvos, os sofrimentos do Salvador deveriam ter sido proporcionalmente aumentados " Cited in Robert W. Oliver's History of the English Calvinistic Baptists (Banner of Truth, 2006), p.209.

Owen ainda fala de um "peso e pressão" em certos sofrimentos de Cristo (isto é, seu sofrimento era proporcional ao montante de pecados dos eleitos "imputados" Nele). Isso mostra que ele estava levando suas categorias mercantilistas a sério. Eu costumava sustentar uma forma de Equivalentismo, uma vez que eu concebia a obra de Cristo como uma transferência comercial ao invés de uma imputação penal.

Eu também argumentaria que, se apenas os pecados dos eleitos foram imputados a Cristo, então seu sofrimento não é suficiente para todos. E, se não é realmente suficiente para todos, então a oferta do evangelho não é sincera, ou não é bem-intencionada. Deus diz para o incrédulo, através da proclamação externa do evangelho que, "se você crer, você será salvo". Essa promessa condicional pressupõe uma ampla suficiência na satisfação de Cristo para a cobertura dos pecados de todos os que ouvem o chamado externo, quer eleitos ou não, assim como, por analogia, a serpente levantada no deserto era capaz de curar todas as pessoas picadas, se elas apenas olhassem por meio da fé na promessa sincera de Deus.

O nome de Deus é manchado, se a oferta do evangelho é feita para não ser sincera pelos sistemas teológicos dos homens que desmerecem o suficiente sofrimento de Cristo. E isso não é uma acusação leve. 

Fonte:  http://theologicalmeditations.blogspot.com/2006/12/on-penal-substitution.html
Tradução:  Emerson Campos Pinheiro.