segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Louis Berkhof (1873-1957): A Objeção Racionalista à Graça Comum

Outra objeção à doutrina da graça comum é que ela pressupõe certa disposição favorável de Deus mesmo para com os pecadores reprovados, quando não temos nenhum direito de supor que Deus tenha tal disposição. Esta crítica toma o seu ponto de partida no conselho eterno de Deus, em Sua eleição e reprovação. Ao longo da linha da Sua eleição, Deus revela Seu amor, Sua graça, Sua misericórdia e Sua longanimidade levando à salvação; e na concretização histórica da Sua reprovação, Ele dá expressão à Sua aversão, ao Seu desfavor, ao Seu ódio, à Sua ira, levando à destruição



Mas isto parece uma simplificação exagerada e racionalista da vida interior de Deus, simplificação que não leva em conta a Sua auto-revelação. Ao falarmos deste assunto, devemos ser muito cuidadosos e deixar-nos guiar pelas declarações explícitas da Escritura, e não por nossas atrevidas inferências do secreto conselho de Deus. 


Há muito mais em Deus do que aquilo que podemos reduzir às nossas categorias lógicas. Serão os eleitos nesta vida unicamente objetos do amor de Deus, e nunca em nenhum sentido, objetos de Sua ira? Estará Moisés pensando nos réprobos quando diz: “Pois somos consumidos pela tua ira, e pelo teu furor, conturbados”? Sl 90.7. A afirmação de Jesus, de que ira de Deus permanece sobre aqueles que não obedecem ao Filho, não implica que ela é retirada dos outros quando se submetem ao benigno governo de Cristo, e não até quando o fizerem? Jo 3.36. E não diz Paulo aos crentes efésios que eles eram “por natureza filhos da ira, como também os demais”? Ef 2.3.

Evidentemente, os eleitos não podem ser considerados como sempre e exclusivamente objetos do amor de Deus. E se aqueles que são objetos do amor redentor de Deus também podem, nalgum sentido, ser considerados objetos da Sua ira, por que seria impossível que aqueles que são objetos da Sua ira também participem, nalgum sentido, do Seu divino favor? Um Pai que é também juiz pode desgostar-se com o filho que é trazido à sua presença como criminoso, e sentir-se constrangido a puni-lo com a sua ira judicial, mas pode, apesar disso, apiedar-se dele e mostrar-lhe atos de bondade enquanto o filho está sob condenação. Por que isto seria impossível em Deus? O general Washington odiou o traidor que foi levado à sua presença, e o condenou à morte, mas, ao mesmo tempo, mostrou-lhe compaixão servindo-lhe iguarias da sua mesa.

Deus não pode ter compaixão, mesmo do pecador condenado, e conceder-lhe favores? Não há por que seja incerta a resposta, desde que a Bíblia ensina com clareza que Ele derrama incontáveis bênçãos sobre todos os homens e também indica claramente que elas são expressões de uma disposição favorável de Deus que, contudo, fica muito aquém da volição positiva exercida para lhes perdoar, suspender a sentença a eles imposta e assegurar-lhes a salvação. As seguintes passagens indicam claramente aquela disposição favorável: Pv 1.24; Is 1.18; Ez 18.23, 32; 33.11; Mt 5.43-45; 23.37; Mc 10.21; Lc 6.35; Rm 2.4; I tm 2.4. Se tais passagens não testificam uma disposição favorável de Deus, fica parecendo que a linguagem perdeu o seu sentido, e que a revelação de Deus sobre este assunto não é confiável.

Fonte: Berkhof, Louis. Teologia Sistemática. Editora Cultura Cristã, pg 438-439. A ressaltação em negrito não é original do texto. 

Indicado por http://calvinandcalvinism.com/?p=4840