Objeção: A expiação universal falha em realmente realizar a redenção para alguém.
A última objeção com a qual vou interagir nesta série é aquela que tenta demonstrar que uma expiação universal é na verdade uma expiação impotente. Nas palavras de Scobie Smith, pessoas como eu
“Claramente não podem dizer que a satisfação de Cristo assegura a salvação de todos aqueles por quem ela feita [...] A expiação por si só não garante a salvação daqueles por quem ela foi feita [...] tudo que a satisfação pode fazer é possibilitar para Deus escolher quem salvar e, então, assegurar a salvação deles através de outros meios. Além disso, uma vez que não há nenhuma outra satisfação feita à Sua justiça, esses outros meios ( a graça irresistível, por exemplo) são simplesmente um exercício da vontade soberana de Deus, não um ato decorrente da justiça de Deus (como, por exemplo, para cumprir a obrigação decorrente da satisfação de Sua justiça)” ¹
Num primeiro momento, esta parece ser uma boa objeção. Ela certamente me deu uma pausa para reflexão. Mas ao refletir, ela começa a parecer um pouco confusa. Eu penso que há pelo menos três dificuldades óbvias com ela:
1.Hein? E daí?
Em primeiro lugar, o que significa dizer que a expiação não garante ou assegura a salvação a todos aqueles por quem foi feita? Esses termos são ambíguos. Eu posso, por exemplo, ir para SkyCity Chartwell e assegurar bilhetes para ver um filme. Isso garante que eu vou ter um lugar no cinema, se eu aparecer e apresentar meu bilhete. Mas isso não garante que eu vou aparecer e apresentar o meu bilhete. Assim, com essa analogia em mente (mesmo que seja um pouco pecuniária), ela faz com que não pareça que a objeção – pelo menos como declarada – ganhe muita força contra a visão universal, na qual, quando aplicada a essa metáfora, Cristo teria comprado ingressos de cinema para todos, mas somente os eleitos teriam se preocupado em aparecer no cinema.
À luz disso, penso que a objeção precisa ser reformulada. O que realmente parece estar em questão é se a expiação é ou não uma causa suficiente da justificação. Sob a visão universal, é claro, ela é somente uma causa necessária - que tinha de acontecer a fim de alguém ser justificado, porque ela fornece o fundamento para a justificação ao proporcionar satisfação à justiça de Deus. Mas ela não efetua por si mesma a justificação, pois embora a satisfação tenha sido feita na cruz, ainda há outras condições que devem ser preenchidas para que possa ser aplicada a qualquer um. Isso parece ser o que o particularista está contestando - ainda assim é difícil ver por que ele considera isso um problema. Pelo contrário, parece que ele está apenas desprezando a questão novamente. Não existem quaisquer razões claras para rejeitar a idéia de que a expiação é uma causa necessária-mas - não-suficiente da justificação - exceto que isso não se enquadra no quadro da expiação particular.
II. A alternativa não é bíblica
Em segundo lugar, como já abrangido nesta série, a visão de que a expiação é, por si só, a causa suficiente da justificação é altamente problemática. Se fosse o caso que a expiação "assegurasse" a salvação para os eleitos, no sentido que, aparentemente, destina-se a esta objeção, a saber, que satisfaz as exigências da justiça de Deus contra todos os eleitos, e essa satisfação garante, por si só, a sua salvação - então segue-se inevitavelmente que os eleitos são justificados desde a cruz. Uma vez que a ira de Deus para todos os eleitos foi apaziguada em cerca de 29 DC, nenhum eleito depois disso poderia estar sob a sua ira. Mas nós sabemos das Escrituras e da experiência que, de fato, todos nós eramos "filhos da ira" (Efésios 2:3) até que nós fossemos feitos uma "nova criação" (2 Coríntios 5:17) pelo renascimento no Espírito. Se o particularista está certo em sua objeção, então ele tem algumas perguntas difíceis a responder sobre o propósito do renascimento e da ordo salutis.
III.....Enquanto a visão que está sendo contestada é bíblica
Em terceiro lugar, do outro lado da moeda, a visão que o particularista está contestando é manifestamente bíblica. Na verdade, é a visão reformada - de forma que ele parece estar se contradizendo. Observe como a oposição é que, sob o ponto de vista universal, a satisfação de Cristo só torna possível a Deus escolher a quem salvar, e que assim Ele tem que assegurar a salvação deles por outros meios. Bem, talvez isso seja o óbvio, mas ... "outros meios", tais como a fé? Se, de fato, nós somos "justificados pela fé" (Romanos 5:1), então claramente é impossível que sejamos justificados pela expiação como o particularista parece querer dizer -isto é, que a expiação, por si mesma, é a causa suficiente da nossa justificação.
Isso é porque não se justifica da cruz - porque a justificação é pela fé. (A não ser que o particularista esteja sugerindo que somos justificados duas vezes - e é muito difícil até mesmo compreender o que isso significa.) Certamente, a expiação é uma causa necessária da justificação, uma vez que fornece os próprios fundamentos para satisfazer as demandas da justiça de Deus contra nós . E, certamente, até mesmo, a obra de Cristo (seja na expiação ou não) é uma causa necessária da nossa fé também, uma vez que Jesus é o seu autor e consumador (Hebreus 12:2). Mas, assim como, certamente, o particularista não pode virar e dizer que o que ele queria dizer é que a expiação deve ser a causa suficiente da fé, e devido a esta relação é também a causa suficiente da justificação. Claramente não é. A expiação não traz, por si só, a fé. Mais uma vez, sem emoção: a expiação é o fundamento da fé e da justificação. É o que as torna possível - mas não é o que faz com que elas existam. É a presença interior do Espírito que traz a fé à existência, e é a fé que traz à existência a justificação.
Portanto, esta última objeção destaca mais uma vez porque é tão absurdo tratar a expiação como uma simples transação pecuniária, como a visão particularista está acostumada a fazer. Ao invés de ganhar qualquer força real contra a expiação universal, ela tende, antes, a ficar desacreditada por si mesma, como foi o caso com todo as objeções anteriores com as quais tratei
Para concluir, então, eu não pude encontrar nenhuma boa razão para crer que a expiação é limitada no sentido no qual muitos calvinistas, nos dias de hoje, parecem entender. Ao invés, é a alternativa histórica que é tanto razoável quanto escriturística: a saber, que Cristo, em sua morte, representou toda a humanidade, satisfazendo a demanda da Lei diante de Deus, e assim tornou a salvação possível para todos sem distinção, os quais podem apelar à expiação – mas a salvação só é apreendida pelos eleitos, por meio da fé.
Fonte:http://bnonn.thinkingmatters.org.nz/on-the-atonement-part-6-universal-atonement-fails-to-actually-accomplish-redemption-for-anyone/
Tradutor: Emerson Campos Pinheiro.
Tradutor: Emerson Campos Pinheiro.