sábado, 21 de agosto de 2010

Dominic Bnonn Tennant: Compreendendo os Desejos de Deus

Mateus 23:37


Essa é uma resposta para o meu amigo Jim sobre a sinceridade do lamento de Jesus sobre Jerusalém em Mateus 23:37. Isto surge na sequência do meu argumento anterior sobre o propósito divino, no qual eu refuto a visão de que Deus quer salvar todas as pessoas, mas é impedido pelo livre arbítrio humano. Aqui, vou abordar a dupla questão de que minha visão leva necessariamente à confusão ou à dúvida sobre a palavra de Deus, e ainda interagir com a solução contrária proposta por Jim da autonomia humana

Recentemente, eu proferi um argumento contra a vontade de Deus de salvar todos os homens sem exceção. Isso gerou alguns comentários, iniciados pelo meu bom amigo Jim. Ele levantou algumas preocupações que eu penso serem valiosas para serem discutidas separadamente do comentário sobre o artigo original.

Ao resumir as suas preocupações, Jim diz,

“Eu não sei Bnonn, a solução mais simples aqui parece ser um alto grau de autonomia humana. E se alguém não aceita isso, então o resultado é esse: confusão. Como eu disse, a maioria das declarações objetivas de Deus nas Escrituras não vem com etiquetas – assim como nós podemos saber quais Ele pretende realizar e quais são meros desejos? Se isso não provocar confusão e insegurança na mente cristã, então eu não sei o que faria. Talvez Ele somente deseje (e não tenha a intenção) de salvar os eleitos.”

Esta questão vincula-se bem com outra que Jim me fez há algum tempo atrás, a respeito de Mateus 23:37. Nessa passagem, Jesus lamenta,

“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes!” (ARA)

Como Jim observou em um e-mail,

“Se Cristo quis reuni-los, por que Ele não os reuniu? Mas se Ele disse que queria reuni-los, mas realmente não queria, então Ele declarou uma mentira.”

Eu gostaria de olhar para tudo isto:

(I)Qual é a minha solução para Mateus 23:37 em vista do meu argumento anterior sobre o divino propósito?

(II)Essa solução leva a confusão, ou enfraquece nossa confiança na palavra de Deus, quer especificamente, quer num sentido mais geral?

(III)A proposta da solução contrária, de um elevado grau de autonomia humana, é algo melhor a este respeito?

1. Qual é a minha solução?

Eu estou indo abordar essa discussão principalmente em termos de Mateus 23:37, uma vez que esse texto nos dá um bom, prático e escrituristico exemplo sobre o assunto. Jesus lamentou sobre Jerusalém, dizendo quantas vezes Ele quis reunir seus filhos - mas ela recusou. O lamento se anexa ao final de suas famosas sete maldições sobre os escribas e fariseus. Parece-me que esse é uma espécie de resumo e reflexão sobre os males que Ele prescreveu, como se ainda estivesse falando com os líderes religiosos presentes. "Jerusalém" refere-se a representatividade desses líderes e, especificamente, ao Sinédrio, que foi responsável pela rejeição dos profetas. Sendo este o caso, os "filhos" de Jerusalém são melhor identificados como a nação de Israel, em geral, representada pela multidão em Mateus 23 em particular.


Uma breve exegese

Agora deve ser reconhecido, e não minimizado, que Jesus está evidenciando um lamento sincero e feito com o coração. Como Matthew Henry coloca “a repetição é enfática, e evidencia abundância de comiseração". Portanto, não podemos aceitar a sua segunda opção, que Jesus realmente não queria reunir Israel, apesar de dizer que Ele queria. Isso seria uma clara mentira, e Deus não pode mentir. Deve ser o caso que nosso Senhor genuinamente queria o que Ele disse que queria.

Há, no entanto, um fator complicador: Ele está falando como um homem que já tinha visitado Jerusalém em várias ocasiões, e cujo ministério foi prejudicado várias vezes pelas autoridades religiosas ali. Assim, muitos comentaristas defendem que Ele está falando como um ser humano, ao invés de Deus, descrevendo um real desejo humano que foi evidenciado em determinados momentos da sua vida humana, por ocasião de suas visitas à capital da nação escolhida por Deus. Isso me parece uma interpretação razoável, mas eu sou muito cético sobre limitar o sensus plenior (sentido pleno) das palavras de Jesus estritamente à sua experiência humana.

É difícil ler esta passagem e não ficar a impressão de uma maior e redentiva visão - especialmente à luz do seu comentário seguinte no versículo 38: “Eis que a vossa casa vos ficará deserta” Certamente isso está se referindo a rejeição final por Deus da nação de Israel como seu povo escolhido, no alvorecer da era do novo pacto. E essa rejeição não foi um acontecimento súbito causado somente pela própria rejeição de Israel do Messias. Esse foi o ponto culminante, com certeza, mas foi vindo a um tempo muito longo. Como Deus diz: "Todo dia Eu estendi as mãos a um povo desobediente e contrário." Então, eu creio ser um pouco difícil de ler o comentário de Jesus "Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos", como se referindo apenas àquelas vezes em que Ele visitou Jerusalém. Eu creio que um amplo escopo histórico está em vista.

Sua pergunta avaliada

Agora, a questão em apreço, como você escreveu é "se Cristo quis reuni-los, porque Ele não os reuniu?" (Lembre-se que são os filhos de Jerusalém, sendo a nação de Israel, quem Cristo desejou reunir.) A razão que Jesus dá como o motivo Dele não reunir Israel é: porque os seus líderes "não o quiseram". Ele não elaborou sobre isso, mas parece bastante seguro dizer que Ele tinha em mente a "cegueira" sobre a qual  Ele , precisamente, criticou repetidamente estes mestres nos versículos anteriores. Ou seja, através de sua troca da pura lei de Deus por leis feitas pelos homens, e por assim ensinar ao povo, eles tornaram vazia a palavra de Deus, assim fechando o reino dos céus na cara das pessoas (versículo 13), de modo que os seus prosélitos eram ainda duas vezes mais filhos do inferno do que eles (versículo 15).

Isto segue necessariamente. Doutrina falha de natureza tão espetacular não é melhor do que a incredulidade em última análise. Alguém tanto poderia ter sido um pagão quanto tentar alcançar a salvação através dos estatutos estabelecidos pelos fariseus. Não havia salvação para ser encontrada na justiça legalista e baseada em obras que eles ensinavam. E quando Jesus falou de "reunir" os filhos de Israel, Ele está, pelo menos, se referindo a colocá-los sobre sua proteção tanto temporal quanto eterna. Como é que isso acontece, a não ser através do ensino da sã doutrina?

Não é por isso que pregamos o Evangelho hoje - para que Deus possa reunir as pessoas a Ele através desse evangelho? E se o evangelho é pregado de forma errada, então isso é frustrado em um menor ou maior grau. Deus é impedido de reunir as pessoas a Si se nós sufocarmos os meios dessa reunião, quer ativa ou passivamente. Apesar, então, de Deus reunir principalmente de Israel, enquanto agora Ele reúne de todo o mundo, a analogia parece continuar válida. Se Deus realmente deseja a salvação de todas as pessoas em algum sentido - se Ele realmente pretende reuni-los sob sua asa - então certamente isso teria sido igualmente verdadeiro para os filhos de Jerusalém. Talvez mais ainda, uma vez que Israel era sua nação escolhida sob o antigo pacto. E se sufocar o evangelho hoje impede Deus de reunir as pessoas como Ele deseja, então, certamente o erro doutrinário dos fariseus, ensinado a Israel, teria o impedido de Se reunir com eles tamhém.

Uma vez que nós estamos falando sobre pessoas frustrarem os desejos de Deus, é importante observar  o contexto do poder impeditivo que enquadra a situação. Quando Jesus diz que  foi impedido porque os líderes religiosos "não quiseram", Ele está lançando o poder natural do Sinédrio contra os meios naturais que Deus ordenou para reunir Israel. Não é possível que o Sinédrio fosse capaz de frustrar o poder sobrenatural de Deus com o mero poder natural dos seus membros. Os meios e o impedimento devem corresponder: assim, se Jesus diz que o homem pode frustrar o desejo de Deus, então deve ser que Deus esteja usando apenas meios naturais em sua tentativa de alcançar esse desejo. Então meios sobrenaturais não estão em vista. Afinal, nós dois concordamos que, independentemente do quanto as pessoas têm liberdade, Deus realmente têm o poder de reunir a Ele todos os que deseja. A questão não é se Ele poderia fazer isso, mas porque Ele não fez.

Minha resposta

Minha resposta a essa questão, como afirmei em meu artigo anterior, é que Ele tem genuínas intenções morais que são, todavia, contigentes sobre cada circunstância que Ele estabeleceu visando um desejo de oposição. Acho que este argumento é muito forte, e que Mateus 23:37 é típico por ter o tipo de situação que a descreve. As intenções morais de Deus são sinceras e genuínas por definição. Ele genuinamente deseja a salvação dos perdidos. Então o lamento sincero de Jesus é realmente sincero: Ele realmente queria reunir os filhos de Jerusalém. 

Ainda assim, na minha opinião, eu proponho que a própria ação de ser impedidos de fazer isso era parte de seu plano maior. Tivesse Ele resolvido reunir as pessoas para Si mesmo, Ele teria reunido, porque “Ele cumpre tudo o que Ele propõe". Os fariseus não poderiam impedi-lo de fazer; se Ele podia transformar o coração do rei da Assíria, Ele poderia transformar o deles. Ou ele poderia derrubá-los e levantar novos professores a partir das pedras. Certamente “nem a morte nem a vida, nem anjos, nem coisas presentes, nem coisas por vir, nem poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar Deus daqueles a quem Ele ama”.

Portanto, concluo que Deus previamente determinou não reunir os filhos de Jerusalém, de modo a cumprir o seu plano na criação, especificamente, a morte do Messias e a enxertação dos gentios na comunidade de aliança. No entanto, ao fazê-lo, Ele trouxe cada circunstância na qual Ele ardentemente desejou reunir aqueles que, por necessidade, eram para ser perdidos.

II. A minha solução leva à confusão ou dúvida?

É verdade que compreender consistentemente a visão calvinista das intenções de Deus pode ser trabalho duro. Lidar com as "duas vontades" de Deus é algo que muitas vezes leva a um considerável investimento do pensamento. Mas eu não creio que isso seja porque, em princípio, haja algo muito complicado ou confuso sobre isso; quer seja abordada em termos da clássica "duas vontades" , quer em termos de desejos de resolução versus desejos de intenção. Na verdade, acho que o oposto é verdadeiro: é realmente muito simples ver que Deus pode ter um desejo geral por algo, e que para realizar esse desejo geral, Ele deve causar uma situação na qual Ele também tem o desejo por alguma outra coisa que não irá se cumprir.

Não é que seja difícil entender as intenções de Deus. O que é freqüentemente difícil são os casos específicos em que encontramos isso acontecendo. Nós encontramos Deus sofrendo por algo que Ele mesmo causou (por exemplo, Gênesis 6:6). Ou vamos encontrá-lo lamentando algo que, em última análise, Ele poderia ter mudado (por exemplo, Mateus 23:37). Em casos como este, independentemente do que nós sabemos, nós sentimos que algo está errado. Nossa compreensão intuitiva da situação está fora de sintonia com a nossa compreensão intelectual de como os desejos de Deus se relacionam entre si. Estamos inclinados a perguntar: Por que você está lamentando algo que você causou?! Em um nível básico, duvidamos da sinceridade de Deus, quando Ele expressa tristeza ou ira por algo que estava totalmente dentro de seu controle.

A causa da confusão

Eu já dei boas razões e argumentos que mostram que nosso senso intuitivo deve ser falho. Se nós realmente queremos conhecer a Deus, não podemos depender da nossa intuição; devemos depender do que Ele nos revelou. Como argumentei em mais de uma ocasião, devemos conformar nossas intuições à revelação, e não o contrário. Esse é um processo que pode ser desconfortável, e que pode certamente dar uma sensação de confusão, mas não é como se a revelação em si tivesse nos confundido, nem como se o que ela revela é intrinsecamente difícil de entender. O problema é conosco e não com a Bíblia ou com Deus. O problema é que nossa reação intuitiva de passagens como Mateus 23:37 está em desacordo com a nossa reação racional, e assim um sentimento de confusão surge naturalmente a partir desta dissonância.


A Palavra de Deus é Enfraquecida?

Agora, embora nós não tenhamos nenhuma razão para duvidar da sinceridade dos desejos de intenção de Deus - mesmo quando eles se opõem a seus desejos de resolução - você levanta a questão de como podemos saber qual é qual. Se temos dúvidas de que os desejos que Deus declarou são realmente desejos de resolução, então certamente a nossa confiança de que eles serão realizados é prejudicada, apesar deles serem sinceros. Como podemos dizer, quando Ele expressa seu desejo de salvar todos os seus eleitos, por exemplo, que Ele está expressando uma real resolução, ao invés de uma mera intenção moral?

Essa objeção teria alguma força se a Escritura somente tivesse revelado os desejos de Deus sobre os eleitos em uma linguagem ambígua. Se ela fosse deficiente e tivesse dito apenas que Deus quer salvar todos os seus eleitos, então, definitivamente teriamos motivos para nos preocupar em saber se este desejo será realizado. Mas não é isso o que diz a Escritura. A Bíblia não aborda o desejo de Deus nessa questão com uma mera intenção, ou deixa quaisquer dúvidas quanto ao fato de que Ele, de forma última, tem a intenção de salvar os seus eleitos. Pelo contrário: aborda a questão como uma certeza (João 6:35-40); como algo garantido e absolutamente inevitável (Efésios 1:13-14) porque foi determinado antes mesmo da fundação do mundo (Efésios 1: 3-12). Assim, no caso deste exemplo específico, sua preocupação é, sem dúvida improcedente.

1)  Em um sentido mais geral, naturalmente, temos de reconhecer que só temos tanta certeza em relação a qualquer desejo divino quanto a Escritura nos autoriza. Mas não é assim que deveria ser? Deus tem revelado muitos dos seus desejos para nós; alguns deles como promessas, e algumas deles não. As promessas sabemos que guardará, mas com respeito as outros desejos, "as coisas encobertas pertencem ao Senhor". 

Portanto, a resposta que dou aqui é que existem, certamente, casos em que pode não estar claro se Deus realizará algum desejo declarado, mas em questões de importância, tais como a salvação do seu povo, essa incerteza não existe. Onde Deus quer que estejamos certos, ele tem revelado certeza, e onde não quer, não revelou dessa maneira. Certamente esta é uma resposta mais ortodoxa para a questão, e dificilmente quem concorda com ela é levado pela insegurança

III. É a proposta de solução contrária, de um elevado grau de autonomia humana, melhor para evitar a confusão e a dúvida?

Eu creio que a maioria das pessoas concorda que Mateus 23:37, ensina que os seres humanos são capazes de resistir à vontade de Deus, que à primeira vista implica o livre-arbítrio libertariano. Isso é apenas como nossas mentes funcionam. Se nós ingenuamente assumirmos que tudo que precisamos saber sobre a relação entre nossa vontade e a de Deus está contido neste único versículo, é fácil pensar que ele está ensinando uma tipo de correspondência um-pra-um entre as respectivas faculdades. Eu diria que retornando essa passagem ao contexto mais amplo da Escritura como um todo resulta em uma visão muito diferente, e mais detalhada. Mas por causa do argumento, vamos supor que o livre arbitrio libertariano está sobre a mesa com uma possível solução para o problema.

Vamos ainda supor que ele não encalhe no argumento que fiz anteriormente sobre Isaías 46:9-11; ou sobre a lista considerável de passagens que enfatizam a soberania de Deus sobre a vontade humana, como as que cito na parte 3 de minha correspondência com Rhett Snell sobre a mecânica da salvação. Desnecessário será dizer que uma visão libertária realmente precisa oferecer algum tipo de harmonização convincente entre estas passagens e as suas ideias filosóficas sobre a vontade, caso contrário ele não pode sair do chão, independentemente de quão atraente pareça ser como uma solução para o porquê os desejos de Deus desejos são muitas vezes frustrados. No entanto, ignorando isso por agora, ela realmente oferece uma solução útil a este respeito assim mesmo?

A Respeito da Confusão

Considerando-se Mateus 23:37 em particular, não vejo que diferença faria se a vontade dos fariseus fosse livre no sentido libertáriano ou não. Não foi o povo de Israel que se recusou a ser reunido debaixo das asas de Deus, mas os fariseus que impediram eles pelo falso ensino. Sabemos que Deus poderia tê-los removido, e levantado professores da sã doutrina em seu lugar. Mas suponhamos que Ele tivesse feito isso, e que as próprias pessoas, em seguida, se recusassem a ser reunidas. Se eles fossem libertarianamente livres, eles certamente poderiam fazer isso. Isso não é muito confuso. O mal-estar intuitivo que sentimos no ponto de vista calvinista é aliviado, porque faz todo o sentido para nós que Jesus lamentasse que sua nação escolhida viesse a rejeitá-lo de sua livre vontade. Se Ele fez tudo que podia, e ainda assim eles se recusaram a ser reunidos, então seu lamento faz sentido intuitivo.

Mas se, na visão calvinista, sentimos uma dissonância intuitiva, mas uma harmonia intelectual com a Escritura e a razão, na visão libertariana sentimos uma satisfação intuitiva, mas uma dissonância intelectual. O ponto de vista calvinista usa a razão para resolver a tensão que nós sentimos intuitivamente, mas o ponto de vista libertariano dissipa a tensão intuitiva por evitar a dificuldade real por trás dela. Esta continua existindo para que a mente perspicaz a resolva. A dificuldade é esta: se Deus é a primeira causa, então Ele tinha pleno conhecimento de quando criou o mundo, de tudo o que iria acontecer nele. Porque o conhecimento necessariamente inclui o conhecimento da recusa de Israel em ser reunida. De todos os mundos possíveis, que Deus formulou, Ele optou por criar este. Há um mundo possível em que Israel escolheu livremente o oposto, onde eles não se recusaram a ser reunidos. Não há nenhuma razão lógica para tal mundo não poder existir, nem para que Deus não criá-lo. No entanto, Ele não escolheu por criar esse mundo. Ele escolheu criar o nosso.

Sobre qual base, então, Ele pode lamentar aquilo que Ele, de forma última, causou? Você pode então ver que a visão libertariana esconde a dificuldade da soberania de Deus, mas não a resolve. Ela empurra o problema um passo para trás, fora de vista, sem realmente fornecer uma resposta. O libertariano e o calvinista devem, ambos, responder a esta questão. Ambos devem abordar o fato de que Deus é a causa última de tudo, ...e, em seguida, ambos devem dar uma razoável explicação de como Deus pode lamentar eventos que nunca teriam acontecido se Ele não tivesse agido para fazê-los acontecer, em primeiro lugar. Tanto na visão libertariana e na calvinista, Deus é a necessária, mas não a suficente causa para essas coisas que Ele lamenta. Portanto, se o libertariano crer que o calvinista tem um problema, então quer ele perceba ou não, ele mesmo também tem um problema. As duas visões não são tão diferentes quanto Ele pensa....

Se ele propõe que Deus tem um bom motivo para provocar as coisas que Ele lamenta, e que Ele ainda pode expressar um desejo genuíno de que elas ocorram de forma contrária, apesar de considerar necessário que elas ocorram como ocorrem, então estará oferecendo exatamente a mesma solução do calvinista. Ele apenas tomou um caminho mais tortuoso. Por que, então, aceitar o libertarianismo absolutamente, dado todos os seus outros problemas? Calvinismo, apesar das aparências iniciais, é realmente a opção mais simples e menos confusa. Além de também ter o apoio esmagador das Escrituras, em oposição à noção totalmente sem fundamento do livre-arbítrio libertariano.

A Respeito da Dúvida 

Mas se ele não puder aceitar que Deus pode lamentar eventos que Ele, de forma última, causou, e se talvez ele acredite, sobre algum fundamento filosófico, que, se as pessoas são verdadeiramente livres, Deus não poderia saber tudo o que viria a acontecer quando ele criou o mundo, então ele se tornou-se um teísta aberto ou algo similar. E além de ser categorizado como herege nesse sentido, ele é vítima de sua segunda preocupação: de minar nossa confiança nas intenções de Deus.

Ou seja, se Deus realmente não sabe o resultado das escolhas livres, então mesmo que Ele tenha prometido salvar seus eleitos, Ele não pode garantir que isso realmente irá acontecer, porque isso não é sua decisão. Como ele pode saber que todos os seus eleitos escolherão ser salvos? Sob o ponto de vista arminiano, pelo menos, a promessa de Deus é baseada no seu perfeito pré-conhecimento de quem assim escolherá (sobre o que a presciência está baseada, obviamente, ninguém sabe), mas sob uma visão aberta da onisciência de Deus não existe tal presciência , e "as promessas" de Deus colapsam em mero desejo de sua mente. De fato, a visão aberta claramente contradiz passagens como João 6:35-40, pois sob seus próprios pressupostos, Jesus não poderia ter realmente entendido o que estava dizendo. Não pode haver nenhuma verdade nisso, qualquer que seja a segurança que a passagem pareça transmitir não existe realmente. Assim, qualquer confiança na palavra de Deus é minada, e absolutamente não temos segurança nem mesmo nos desejos que Ele claramente tem declarado que serão realizados.

Conclusão

Para resumir minha posição: a coerente e rigorosa teologia calvinista, embora seja intuitivamente difícil para nós, estabelece uma clara, consistente e não confusa visão das intenções de Deus. Na verdade, apesar do desconforto intuitivo que possa causar, ela é realmente uma visão necessária se quisermos harmonizar as ações de Deus em todas a Bíblia, e nos satisfazer com o fato Dele ser realmente sincero e justo. É também uma visão necessária se quisermos evitar minar as Escrituras de alguma maneira, seja em termos de causar dano ao seu significado evidente, quer em termos de desfazer a segurança que temos nas promessas de Deus.

A visão libertariana, por outro lado, pode ser intuitivamente satisfatória para nós, mas em última análise tem que respoder exatamente às mesmas questões que o calvinismo responde. Assim, um libertário ou deve ser inconsistente em sua crítica do calvinismo, ou deve ser coerente com a aplicação libertária do livre-arbítrio, de modo a limitar a onisciência de Deus. No primeiro caso, as suas preocupações sobre o Calvinismo causar confusão ou são injustificadas, ou funcionam igualmente contra a sua proposta de solução contrária, no último caso, as suas preocupações sobre o Calvinismo minar a nossa confiança na palavra de Deus são muito mais poderosamente aplicadas à sua solução contrária, uma vez que essa elevada visão da liberdade libertarina exclui totalmente a garantia de que Deus infalivelmente e, inevitavelmente, salvará um povo para si mesmo. Perante isto, o calvinismo claramente se destaca como uma razoável e acurada reflexão sobre a Palavra de Deus e o libertarismo não.