sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Norman Douty: Significados da Palavra Kosmos (Mundo)

Os defensores da Expiação Limitada geralmente interpretam “o mundo,” em textos como Jo 1.29 e 3.16 como “o mundo dos eleitos.” Será produtivo considerar o significado e uso desta palavra.

Richard Chevenix Trench, um arcebispo de Dublin do século 19, nos fornece uma explicação da maneira que o substantivo grego, kosmos, desenvolveu seus vários significados. A palavra originalmente significava “ornamento.” “Disto,” Trench diz, “passou para o significado de ordem ou arranjo, ou beleza que brota deles.” Foi Pitágoras, um filósofo grego do século seis a.C., que, de acordo com Plutarco, um biógrafo grego do primeiro para o segundo século A.D., primeiro adotou a palavra com o significado de soma total do universo material. 

O quarto passo consistiu em empregá-la para “aquela estrutura de coisas em que o homem vive e move, que existe para ele e do qual ele cria o centro moral.” Neste sentido o substantivo era quase equivalente a uma outra palavra grega, oikoumene (“a terra habitada”). Então veio a denotar “a soma total de pessoas vivas no mundo (Jo 1.29; 4.42; 2Co 5.19).” Em sexto lugar ela adquiriu, no Cristianismo, o significado ético: “todos os não da ekklesia (igreja), alienados da vida de Deus, e por suas más obras, inimigos dele (1Co 1.20-21; 2Co 7.10; Tg 4.4).”[5]

Uma histórica muito mais completa da palavra aparece no Theological Dictionary of the New Testament de Kittel. Lá o autor (Hermann Sasse, então de Erlangen) primeiro pesquisa o uso não-bíblico em doze páginas e meia; então seu emprego na versão grega do Velho Testamento; e finalmente seu uso no Novo Testamento em treze páginas. 

Nesta última parte ele menciona que a palavra denota “adorno” em apenas uma ocasião (1Pe 3.3) – que corresponde ao primeiro significado de Trench. O segundo significado (ordem) está ausente no Novo Testamento, mas o terceiro (o universo, o equivalente à expressão do Velho Testamento “céu” e “terra”) é muito proeminente. 

O quarto (“a Moradia dos Homens, o Teatro da História, o Mundo Habitado, a Terra”) também é comum nas Escrituras Cristãs. Sob este título, como uma subdivisão, Sasse coloca o quinto significado de Trench (humanidade), como é claro de sua inclusão no “mundo habitado.” A última seção, a mesma última de Trench, é chamada “Humanidade, Criação Caída, o Teatro da História da Salvação.”[6]

W. E. Vine menciona estes usos de kosmos: Ordem, Adorno, o Universo, a Terra, a Humanidade, e “a presente condição dos negócios humanos, em alienação e oposição a Deus.”[7] Marvin R. Vincent tem (a) ornamento, arranjo, ordem; (b) a soma total do universo material considerado como um sistema; (c) o universo como a moradia do homem; (d) a soma total da humanidade no mundo; a raça humana; (e) no sentido ético, a soma total da vida humana no mundo ordenado, considerado à parte de, alienado de, e hostil a Deus, e das coisas terrestres que desviam de Deus.[8]

Quando nos voltamos para os léxicos gregos, encontramos o mesmo padrão. Robinson lista estes significados de kosmos no Novo Testamento: Decoração, Ordem, o Universo, a Terra como a moradia do homem, Humanidade, e a Humanidade Pecadora.[9] Thayer, em sua revisão de Grimm, lista: Ordem, Adorno, o Universo, a Terra, os Habitantes do mundo, e a Multidão de ímpios.[10] (O único desvio está na ordem de mencionar os primeiros dois usos.) Souter dá estes: o universo, o mundo como separado de Deus, o mundo habitado, adorno.[11] Berry começa com o último de Souter (1Pe 3.3), e acrescenta: o universo material (Lc 11.50), o mundo (Jo 11.9), os negócios terrenos (Gl 6.14), os habitantes do mundo (1Co 4.9), aqueles opostos a Deus (Jo 8.23) e uma vasta coleção de alguma coisa (Tg 3.6).[12] Arndt and Gingrich incluem o seguinte: Adorno, o Universo organizado, a soma total de todos os seres acima do nível dos animais, a Terra, a Humanidade, e o homem depravado.[13] Abbot-Smith lista: Ordem, Ornamento, o Universo, a Terra, os habitantes humanos dela, e os ímpios.[14]

Em alguns dos volumes referidos há alguns usos adicionais da palavra dada, tais como o mundo gentio em distinção de Israel (Rm 11.12, 15), e a soma das possessões temporais (Mt 16.26). Mas entre todas as divisões e subdivisões listadas, a palavra nunca é dita denotar “os eleitos.” Estes léxicos desconhecem tal uso de kosmos no Novo Testamento, sob o qual para organizar Jo 1.29; 3.16-18; 4.42; 6.33, 51; 12.47; 14.31; 16.8-11; 17.21, 23; 2Co 5.19; 1Jo 2.2; 4.14.

O mesmo vale para as enciclopédias e dicionários bíblicos. Posso remeter o leitor a J. Weiss em The New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious Knowledge, V. H. Stanton em Bible Dictionary de cinco volumes de Hasting, E. W. G. Masterman em Dictionary of the Bible em um volume de Hasting, Robert Law em Dictionary of the Apostolic Church, o bispo Moule em The International Standard Bible Encyclopedia, R. V. G. Tasker em The New Bible Dictionary (1962), e Everett F. Harrison em Dictionary of Theology de Baker.[15] Tanto Harrison quando John D. Davis (em seu Dictionary of the Bible) listam Jo 3.16 como se referindo à humanidade, mesmo sendo presbiterianos.

Tudo isto é desastroso aos defensores da Expiação Limitada. Eles têm se aventurado a colocar-se acima da sabedoria combinada de nossos léxicos, enciclopédias e dicionários, quando atribuem um outro significado para a palavra kosmos, para apoiar seu sistema teológico. Esta inovação se assemelha à canonização dos apócrifos da parte dos romanistas. Quando eles tinham promovido idéias que não se encontravam na Bíblia, mas que apareciam nos apócrifos, eles os declararam inspirados, para que pudessem ter prova “bíblica&rdqeo; para seus dogmas extra-bíblicos. Dificilmente esperamos nossos irmãos se responsabilizarem pela reescrita de nossos léxicos, enciclopédias e dicionários. Até então, entretanto, eles não deviam alegremente ignorar o julgamento de estudiosos imparciais, que não têm interesse nessa questão. Veja as páginas 75-80.

Notas:

[5] Trench, Synonyms of the N.T. (8a. ed., revisada, Londres, 1876), pp. 206-208.

[6] Kittel, Theological Dictionary of the N. T. (Grand Rapids, 1965), Vol. III, pp. 868-895.

[7] Vine, Expository Dictionary of N. T. Words (Westwood N. J., impressão de 1966), p. 233.

[8] Vincent, Word Studies in the N. T. (New York, 1887; Grand Rapids, 1969), Vol. II, p. 45.

[9] Edward Robinson, A Greek and English Lexicon of the N. T. (Londres, 1836), pp. 455f.

[10] J. H. Thayer, Greek-English Lexicon of the N. T. (Nova York, 1893), pp. 356f.

[11] Alex. Souter, Pocket Lexicon to the Greek N. T. (Oxford, ed. de 1925), pp. 138f.

[12] G. R. Berry, Interlinear Greek-English N. T. (Chicago, 1944), p. 57.

[13] Arndt-Gingrich, A Greek-English Lexicon of the N. T. (Chicago, 1952), pp. 446-448.

[14] Abbott-Smith, Manual Greek Lexicon of the N. T. (Edinburgo, 1921), p. 255.

[15] The New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious Knowledge (Nova York, 1908), Vol. XII, pp. 428-430; Bible Dictionary de cinco volumes de Hasting (Nova York, 1909), Vol. IV, pp. 937-940; Dictionary of the Bible de Hasting (um vol., Nova York, 1920), pp. 977f.; Dictionary of the Apostolic Church de Hasting (Nova York, 1918), Vol. II, pp. 693-695; International Standard Bible Encyclopedia (ed. James Orr; Grand Rapids ed. 1957), Vol. V, pp. 3108f; The New Bible Dictionary (IVF, Londres, 1962), pp. 1338-1340; Dictionary of Theology (Baker, Grand Rapids, 1960), p. 560.

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