sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Norman Douty: A Oferta Universal do Evangelho

O ensino e exemplo do Novo Testamento claramente autorizam a oferta de salvação a todos os homens sem distinção – tão claramente que a maioria (se não todos) dos defensores de uma expiação restrita se sentem obrigados a pregar o Evangelho livremente a todos. Alguns deles se esforçam para provar que não há nenhuma inconsistência entre as duas coisas; destes o escocês George Smeaton (c. 1869) e o americano Louis Berkhof são exemplos.[16]

Mas outros confessam que há um problema aqui; entre estes podem ser mencionados os estudiosos escoceses Thomas J. Crawford, Professor de Teologia na Universidade de Edinburgo, William Cunningham, Professor de História Eclesiástica em New College, Edinburgo, e Robert T. Candlish, Diretor (desde 1862) do New College.


Crawford, cuja ótima obra sobre A Expiação tem sido tão elogiada, diz:

“Não pode ser questionado que Seu (de Deus) comportamento é de uma figura paterna em relação à toda raça caída de Adão sem distinção, quando O percebemos dando Seu único Filho com uma propiciação suficiente para os pecados de todo o mundo.”[17]

Cunningham sinceramente diz:

“Completamente admitimos que nas Escrituras, os homens, sem distinção e sem exceção, têm a salvação, e tudo que leva a ela, oferecida ou ofertada a eles – que eles são convidados a vir para Cristo e receber o perdão, - e assegurados que todos que aceitam a oferta, e cederem ao convite, receberão tudo necessário para o seu bem-estar eterno."

"Completamente admitimos que Deus na Bíblia faz tudo isto, e autoriza e requer que façamos o mesmo ao lidarmos com nossos pares.... Deus comandou que o Evangelho seja pregado a toda criatura; Ele requer de nós que proclamamos aos nossos pares, sem qualquer distinção, e em todas as variedades de circunstâncias, as boas novas de grande alegria, - para oferecer a eles, em Seu nome, perdão e aceitação através do sangue da expiação, - para convidá-los a vir para Cristo, e recebê-los, - e participar de tudo isto com a certeza de que “quem quer que for a Ele, de maneira nenhuma será lançará fora.”

Ao mesmo tempo, o Professor reconhece que não “entende completamente todos os motivos e razões” dos comandos de Deus a Seus mensageiros.[18] Em resumo, ele não é capaz de explicar como é que a salvação deve ser oferecida àqueles por quem ela não foi proporcionada.

Candlish declara:

“Que a morte de Cristo tem uma certa referência a todos os homens universalmente – que ela tem uma certa relação até sobre os perdidos – devemos defender e manter, pois sustentamos que ela lança as bases para a oferta do Evangelho a todos os homens universalmente, e lança as bases para que a oferta seja honesta e livre da parte de Deus. Isto não poderia ser, sem alguma espécie de relação existente entre a morte de Cristo e todo homem impenitente e descrente que é chamado para receber o Evangelho.”[19]

De fato há um problema, e um descomunal demais para ser resolvido mesmo com várias palavras. Pois é impossível explicar por que somos comandados a pregar o Evangelho (Boas Novas) a todos, se Cristo não morreu por todos, e isto não requer nenhum advogado da Filadélfia para mostrar isso. Qualquer um pode ver isto por si mesmo.

John Macpherson, um teólogo presbiteriano escocês, não mede as palavras sobre esta questão. Ele diz claramente:

“Apesar dos elaborados argumentos e alegações daqueles que favorecem a concepção mais restrita, parece impossível sugerir qualquer argumento inteligível ou apresentar qualquer razão satisfatória para a oferta universal da salvação, exceto assumindo que na morte de Cristo houve uma expiação para o pecado que satisfez a Deus, para que aquele que crê descubra que a obra feita por Ele em quem ele crê – a morte que Ele sofreu – é para ele perante Deus uma válida satisfação objetiva, e que Cristo morreu por todos, para que todos que crer possam ser salvos.”[20]

Em outro lugar, Macpherson, um homem que cuidadosamente pesava suas palavras, não se conteve de dizer:

“Nós... sentimos completamente autorizados a intitular a doutrina de nossos Padrões de, não modificado, mas Calvinismo moderado... A Confissão de Westminster, em resumo, apresenta um Calvinismo puro e simples, desimpedido pelas opiniões particulares e conceitos favoritos de calvinistas individuais.”[21]

Outro famoso escocês, William L. Alexander, membro da comissão de Revisão do Velho Testamento desde sua fundação em 1870, declarou com a mesma força:

“Nesta suposição, os convites e promessas gerais do Evangelho são sem base adequada, e parecem como uma mera zombaria; uma oferta, em resumo, do que não foi proporcionado. Não serviria dizer, em resposta a isto, que como estes convites são realmente dados, somos autorizados, pela autoridade da Palavra de Deus, a incitá-los, e justificados em aceitá-los; pois isto é mera evasão.”[22]

Tal é a justificativa fútil de Cunningham.

Até Charles Hodge se sente obrigado a confessar:

“Ele morreu por todos... para que Ele pudesse lançar as bases para a oferta de perdão e reconciliação com Deus, sob a condição da fé e o arrependimento.”[23]

Ao fazer esta confissão inesperada, o teólogo americano do século dezenove estava apenas repetindo a declaração de Zanchius, o reformador europeu do século dezesseis:

“Não é falso que Cristo morreu por todos os homens: pois a paixão de Cristo é oferecida a todos no Evangelho.”[24]

Estas duas idéias, da Expiação Limitada e Oferta Universal, criam uma tensão grande demais para o mais hábil dos homens da Redenção Particular aliviar. Pois, como Deus pode autorizar Seus servos a oferecer perdão aos não-eleitos se Cristo não o comprou para eles? Este é um problema que não incomoda aqueles que acreditam numa Redenção Geral, pois é mais razoável proclamar o Evangelho a todos se Cristo morreu por todos.

Os defensores da Expiação Limitada atribuem o problema a Deus, Que, eles dizem, disse a eles em Sua Palavra que Cristo morreu somente pelos eleitos, e todavia que eles devem oferecer salvação a todos. Eles honram a Ele por humildemente acreditar em ambos, sem qualquer tentativa de reconciliá-los. Nós, por outro lado, atribuímos o problema a eles, que, nós dizemos, têm interpretado incorretamente as Escrituras quanto à extensão da Expiação. Nós, de nossa parte, honramos a Deus por negar que Ele tenha proferido revelações mutuamente exclusivas.

Disto podemos estar seguros: que embora todas as aparentes contradições são harmonizadas na mente divina, nenhuma contradição real é. As mesmas coisas que são contrárias ao senso comum na mente do homem são também contrárias ao modo de pensar de Deus, pois o homem foi feito à Sua imagem. É contrário ao senso comum pensar que a mesma pessoa seja como Cristo e como Satanás; que uma figura geométrica particular seja de três e quatro lados ao mesmo tempo; que Colombo descobriu a América em 1492 e em 1942. Igualmente, é irracional sustentar que Deus oferece salvação a todos se Ele não proporcionou salvação a todos, pois as duas idéias estão basicamente se contradizendo. Elas não constituem uma aparente contradição, mas uma contradição real.

Aqueles que negam a Redenção Geral não podem dizer a qualquer pecador, “Cristo morreu por você,” visto que ele pode ser um dos não-eleitos. Todavia a história do evangelismo é rica de exemplos de pecadores insensíveis que se desmancharam sob tal pregação. De fato, os resultados não autenticam a mensagem, mas esses resultados devem provocar hesitação da parte daqueles que a criticam.

Notas:

[16] Smeaton, Doctrine of the Atonement (1868; reimpresso pela Grand Rapids, 1953), p. 374d; Berkhof, Systematic Theology (1941; ed. rev. 1946), pp. 397d-398.

[17] Crawford, The Fatherhood of God (Edinburgo, 1868), p. 137. Veja também pp. 365-370 Nota K, “A Suficiência da Expiação para todos os pecadores.”

[18] Cunningham, Historical Theology (1862; ed. Banner of Truth, 1960), Vol. II, Cap. XXIV, Sec. X, pp. 343-48.

[19] Candlish, The Atonement: its Reality, Completeness and Extent (2a. ed., Edinburgo), p. 137.

[20] Macpherson, Christian Dogmatics (Edinburgo, 1898), p. 367.

[21] Macpherson, The Confession of Faith, p. 26.

[22] Alexander, A System of Biblical Theology (1888), Vol. II, p. 111.

[23] Hodge, Systematic Theology (Nova York, 1871; ed. Grand Rapids, 1946), Vol. II, p. 558.

[24] Zanchius, Miscellanea Tract. De Praed. Sanct., p. 14. Citado por Davenant, The Death of Christ (1650; no Vol. II de sua On the Colossians, ed. Allport, Londres, 1832), p. 548.

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