Alguns homens da Redenção Geral, incluindo o bispo Davenant, têm defendido, não apenas que Cristo morreu com uma dupla intenção – para tornar a salvação possível a todos e certa a alguns – mas também que, por Sua morte, Ele fez uma dupla transação, comprando algumas coisas para alguns, e alguns extras para os eleitos. Entre estes extras eles listam a fé, por meio da qual a salvação proporcionada para todos é infalivemente aplicada em alguns. (Todos os homens da Expiação Limitada defendem que a fé dos eleitos foi comprada para eles.)
Agora, de fato, parece razoável acreditar que, visto que todos os benefícios recebidos pela fé foram comprados pelo sangue de Cristo, a própria fé deveria ser considerada como comprada também. Os frutos seriam comprados, mas não a raiz? Entretanto, se a fé foi comprada, é o único benefício comprado não recebido pelo ato de crer, pois, obviamente, não obtemos a fé pela fé. Não, neste caso, obtemos a raiz sem fé, e seus frutos pela fé. A fé é nossa simplesmente por uma doação soberana graciosa, e não por compra.
Sei que é argumentado que a fé deve ser um benefício comprado, pois (é dito) os pecadores não podem ter nenhum benefício quaisquer que sejam a menos que sejam comprados. Mas este argumento é infundado. O próprio primeiro passo na real provisão de nossa salvação foi a Santa Conceição, na qual a humanidade do Filho de Deus foi derivado da Virgem Maria, que foi um membro da raça caída de Adão. Owen, em seu magnífico tratamento da relação do Espírito Santo com essa humanidade, mantém que ela foi purificada de sua depravação pelo Espírito no instante em que foi assumida pelo Filho e feita uma parte integral de Sua Pessoa.[8] Mas Owen não diz nada sobre esta santificação da natureza humana de Cristo sendo comprada, embora nós, em nossa regeneração, somos feitos participantes desta mesma santidade. Devemos acreditar que Cristo, por Seu sofrimento subseqüente, comprou a santidade com a qual Sua humanidade tinha sido dotada em Seu ato da encarnação anos antes? Em outras palavras, Cristo redimiu Sua própria humanidade? Nenhum cristão ortodoxo ousaria dizer que sim.
O próprio último passo na real provisão de nossa salvação foi o Sacrifício Expiador, no qual a humanidade purificada de Cristo foi livremente oferecida aos homens pecadores. Este grande ato foi completamente imerecido da parte deles. Foi, por essa razão, um benefício comprado para eles, ou simplesmente uma provisão soberana graciosa ao seu favor? O último, obviamente, pois a cruz não foi algo resultante de compra, mas puramente da própria vontade bondosa de Deus. Agora, visto que tanto o primeiro quanto o último passo na real provisão de nossa salvação foram benefícios para os pecadores que não foram comprados, mas foram somente soberanamente concedidos, o argumento que a fé deve ter sido comprada é invalidado. Deus, tendo na eternidade passada determinado que certas pessoas devessem ser salvas, meramente confere fé a estas pessoas quando bem entender.
Quando pedimos razões textuais para ver a fé como um benefício comprado, o único texto citado é, creio, Fp 1.29: “Vos foi concedido, por amor de Cristo, não somente o crer nele, mas também o padecer por ele.” A preposição (huper) é usada duas vezes, e ambas as vezes em relação a Cristo. É por Ele que os filipenses sofreram perseguição, e por Ele que eles criam nele. Tanto crer quando sofrer foram em benefícios dele. Deus concedeu a eles estes altos privilégios por causa de Cristo. Assim, o verso não diz nada sobre a fé deles ser algo de Cristo, mas algo para Ele.
Nós, por isso, diferimos dos defensores da Expiação Limitada em sua alegação que a transação do Calvário foi uma dupla transação, sendo uma para os eleitos e uma outra, mais exígua, para os não-eleitos. Mantemos que houve uma dupla intenção em uma única transação, de acordo com a qual a provisão da salvação para todos foi pretendida ser eficazmente aplicada nos eleitos, mas não aos não-eleitos. Uma única transação com uma dupla intenção esclarece, propomos, toda afirmação bíblica sobre este vasto assunto.
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